terça-feira, 24 de setembro de 2013

Em chamas - capitulo 21




Minúsculas marcas de queimadura me ferem. Sempre que as gotículas de neblina tocam minha pele.— Corram! — grito para os outros. — Corram!
Finnick rapidamente desperta, levantando para combater um inimigo. Mas quando ele vê a parede de nevoeiro, ele lança uma Mags ainda dormindo em suas costas e sai correndo. Peeta está de pé, mas não está alerta. Eu agarro seu braço e começo a impulsioná-lo através da selva, depois de Finnick.— O que é isso? O que é isso? — ele pergunta, perplexo.
— Algum tipo de nevoeiro. Gás venenoso. Depressa, Peeta!
Posso dizer que por mais que ele negasse durante o dia, os efeitos colaterais de se chocar com o campo de força foram significativos. Ele está lento, muito mais lento do que o habitual. E o emaranhado de cipós e vegetação rasteira, que me desequilibram ocasionalmente, o fazem tropeçar em cada passo.Eu olho para trás, para a parede de nevoeiro que se estende em linha reta em qualquer direção que eu possa olhar. Um terrível impulso de fugir, de abandonar Peeta e me salvar, me atinge. Seria tão simples, correr a toda, talvez até mesmo subir em uma árvore acima da linha do nevoeiro, que parece acabar em cerca de dez metros. Eu lembro que fiz exatamente isso quando as mutações apareceram nos últimos Jogos. Corri e só pensei em Peeta quando cheguei à Cornucópia. Mas desta vez, eu lido com o meu terror, empurro-o para baixo, e fico ao seu lado. Desta vez a minha sobrevivência não é o objetivo. A de Peeta é. Eu imagino os olhos colados nas telas de televisão nos distritos, vendo se eu vou correr, como a Capital deseja, ou manter minha causa.Eu tranco meus dedos firmemente nos seus e digo:— Olhe meus pés. Basta tentar pisar onde eu piso.
Ajuda. Nós parecemos nos mover um pouco mais rápido, mas não o suficiente para permitir um descanso, e a neblina continua em volta dos nossos calcanhares. Gotas pulam fora da parte principal da neblina. Elas queimam, mas não como o fogo. Menos que uma sensação de calor e mais como uma dor intensa de quando os produtos químicos encontram a nossa carne, se agarram a ela, e se infiltram através das camadas de pele. Nossos macacões não ajudam em tudo. Bem poderíamos estar vestidos em papel de seda, daria a mesma proteção.Finnick, que correu inicialmente, para quando percebe que estamos tendo problemas. Mas esta não é uma coisa com a qual você possa lutar, apenas fugir. Ele manda mensagens de encorajamento, tentando nos levar junto, e o som de sua voz atua como um guia, mas só isso.A perna artificial de Peeta se prende em um nó de trepadeiras e ele cai para frente antes que eu possa pegá-lo. Quando eu o ajudo, me torno ciente de uma coisa mais assustadora do que as bolhas, mais debilitante do que as queimaduras. O lado esquerdo de seu rosto cedeu, como se cada músculo tivesse morrido. A pálpebra desfalecida, quase ocultando o seu olho. Sua boca torceu em um ângulo estranho voltada para o chão.— Peeta... — começo.
E é quando eu sinto espasmos correndo pelo meu braço.Qualquer que seja o laço da química com o nevoeiro, faz mais do que queimar – ele atinge os nervos. Um novo tipo de medo me atinge e eu puxo Peeta para frente, o que só faz com que ele tropece novamente. No momento em que eu o coloco de pé, ambos os meus braços estão se contorcendo incontrolavelmente. A névoa se movimenta em nós, o corpo dela a menos de um metro de distância. Algo está errado com as pernas de Peeta, ele está tentando andar, mas elas se movem em espasmos, como marionete.Eu o sinto guinando para frente e percebo Finnick voltando até nós e transportando Peeta junto. Eu aperto meu ombro, que ainda parece estar sob meu controle, sob o braço de Peeta e faço o meu melhor para sustentá-lo com o ritmo acelerado de Finnick. Colocamos cerca de dez metros entre nós e o nevoeiro quando Finnick para.— Isso não é bom. Vou ter que carregá-lo. Você pode pegar Mags? — Ele me pergunta.
— Sim — digo corajosamente, embora meu coração afunde.
É verdade que Mags não pode pesar mais do que cerca de trinta e cinco quilos, mas eu não sou muito grande mesmo. Ainda assim, tenho certeza que transportaria cargas mais pesadas. Se apenas os meus braços parassem de pular. Eu agacho e a posiciono sobre o meu ombro, do jeito que ela cavalgava Finnick. Eu endireito lentamente minhas pernas e, com os joelhos fechados, eu posso conduzi-la. Finnick tem Peeta pendurado em suas costas e agora vamos avançar, Finnick lidera, eu sigo na trilha de videiras rompidas.A neblina vem silenciosa, constante e plana, exceto pelas gavinhas ávidas. Embora o meu instinto seja correr diretamente para longe dela, percebo que Finnick está se movendo em uma diagonal para baixo do morro. Ele está tentando manter uma distância do gás, enquanto nos dirige para a água que circunda a Cornucópia. Sim, a água, eu penso quando as gotas de ácido me furam mais profundamente. Agora eu estou tão agradecida por não ter matado Finnick, pois como eu iria tirar Peeta daqui vivo? Tão agradecida de ter alguém ao meu lado, mesmo que seja apenas temporariamente.Não é culpa de Mags quando eu começo a cair. Ela está fazendo tudo que pode para ser uma passageira fácil, mas o fato é que há tanto peso quanto eu posso lidar. Especialmente agora que a minha perna direita parece estar rija. Nas duas primeiras vezes que eu caio no chão, consigo me por em pé, mas na terceira vez, não consigo fazer a minha perna cooperar. Quando eu me esforço para levantar, ela afrouxa e Mags rola para o chão antes de mim. Eu abano os braços em volta, tentando usar trepadeiras e troncos para me endireitar.Finnick volta para meu lado, Peeta pendurado sobre ele.— Não adianta — eu digo. — Você pode pegar os dois? Vá em frente, eu vou chegar lá.
Uma proposta um pouco duvidosa, mas falo com tanta garantia quanto posso reunir.Eu posso ver os olhos verdes de Finnick. Posso vê-los tão claramente como o dia. Quase como um gato, com uma estranha qualidade pensativa. Talvez porque eles estão brilhantes pelas lágrimas.— Não — ele responde. — Eu não posso carregar os dois. Meus braços não estão funcionando.
É verdade. Seus braços se contraem descontroladamente ao seu lado. Suas mãos estão vazias. Dos seus três tridentes, apenas um permanece, e está nas mãos do Peeta.— Sinto muito, Mags. Eu não posso fazer isso.
O que acontece depois é tão rápido, tão sem sentido, eu não posso parar. Mags se lança para cima, dá um beijo na boca de Finnick e, em seguida, manca em linha reta até o nevoeiro. Imediatamente, seu corpo é tomado por selvagens contorções e ela cai no chão em uma dança horrível.Eu quero gritar, mas minha garganta está em chamas. Eu dou um passo inútil em sua direção, quando ouço a explosão do canhão, sabendo que o coração dela parou, que ela está morta.— Finnick? — grito rouca, mas ele já se afastou da cena, já continuou a sua retirada da neblina. Arrastando minha perna inútil atrás de mim, eu cambaleio depois dele, não tendo ideia do que fazer.
Tempo e espaço perdem o significado quando o nevoeiro parece invadir o meu cérebro, atrapalhando meus pensamentos, tornando tudo irreal. Algum desejo animal pela sobrevivência profundamente enraizado me faz cambalear atrás de Finnick e Peeta, continuando a se mover, embora eu provavelmente já esteja morta. Partes de mim estão mortas ou morrendo claramente. Mags e está morta. Isso é algo que eu sei, ou talvez apenas ache que sei, porque nada mais faz sentido.Luar brilha no cabelo cor de bronze do Finnick, bolhas de dor lancinante salpicando-me, uma perna virou madeira. Eu sigo Finnick até que ele cai no chão, ainda com Peeta em cima dele. Eu pareço não ter nenhuma habilidade para parar meus próprios movimentos para frente e simplesmente me impulsiono até que eu tropeço em seus corpos propensos, apenas mais um na pilha.Este é o lugar onde, como e quando todos nós morreremos, eu penso. Mas o pensamento é abstrato e bem menos alarmante do que a atual agonia do meu corpo.
Ouço Finnick gemer e começar a conduzir-me para fora. Agora eu posso ver a parede de nevoeiro, que assumiu um caráter branco perolado. Talvez sejam os meus olhos jogando truques, ou o luar, mas o nevoeiro parece estar se transformando. Sim, ele está se tornando mais espesso, como se tivesse pressionado contra uma janela de vidro e está sendo forçada a se condensar. Eu olho melhor e perceber que os dedos já não se projetam a partir dele. Na verdade, ele parou de se mover para frente completamente. Como outros horrores que eu assisti na arena, esse chegou ao fim do seu território. Ou isso ou os Gamemakers decidiram não nos matar ainda.— Está parado — tento dizer, mas apenas um som horrível de grasnado vem da minha boca inchada. — É, parou — eu digo novamente, e desta vez deve ter sido mais claro, porque ambos Peeta e Finnick viram a cabeça para o nevoeiro.
Ele começa a erguer-se agora, como se estivesse sendo lentamente aspirado para o céu. Nós prestamos atenção até que tudo tenha sido sugado e nem o menor fragmento permaneça.Peeta rola para longe de Finnick, que se vira de costas. Nós deitamos ofegantes, contorcendo-nos, nossas mentes e órgãos invadidos pelo veneno. Depois que alguns minutos passam, Peeta vagamente gesticula para cima.— Mac-cos.
Eu olho para cima e encontro um par do que eu acho que são macacos. Eu nunca vi um macaco vivo, não há nada assim em nossas matas em casa. Mas devo ter visto uma imagem ou um nos Jogos, porque quando eu vejo as criaturas, a palavra vem à minha mente. Penso que estas têm a pele laranja, embora seja difícil dizer, e são cerca de metade do tamanho de um humano adulto. Eu considero os macacos um bom sinal. Certamente eles não se pendurariam ao redor, se o ar fosse mortal. Por um tempo, nós observamos calmamente uns aos outros, seres humanos e macacos. Então Peeta luta de joelhos e rasteja para baixo da encosta. Estamos todos rastejando, desde que ficar de pé agora parece uma proeza tão notável quanto voar, nós rastejamos até a trepadeira e nos dirigimos a uma estreita faixa de praia e a água quente que envolve a Cornucópia.Eu me sacudo para trás como se tivesse tocado uma ferida. Esfregando sal em uma ferida. Pela primeira vez eu realmente aprecio a expressão, porque o sal na água faz a dor das minhas feridas ofuscante e eu quase desmaio. Mas há outra sensação aparecendo. Eu experimento cautelosamente colocar apenas a minha mão na água. Torturante, sim, mas depois nem tanto. E através da camada de azul da água, vejo uma substância leitosa sair das feridas na minha pele. Como a brancura diminui, o mesmo acontece com a dor.Eu desato o cinto e tiro do meu macacão, que é pouco mais do que um pano perfurado. Meus sapatos e roupas estão inexplicavelmente inalterados. Pouco a pouco uma pequena porção de um membro de cada vez, eu molho o veneno das minhas feridas. Peeta parece estar fazendo o mesmo. Mas Finnick se afastou da água ao primeiro toque e ficou de bruços na areia, não querendo ou incapaz de se purificar.Finalmente, quando eu sobrevivi ao pior, abro os olhos debaixo d'água, inspirando água e cuspindo-a fora, e até mesmo gargarejo várias vezes para lavar a minha garganta, eu estou bastante funcional para ajudar Finnick.Alguma sensação voltou à minha perna, mas meus braços ainda estão cheios de espasmos. Não consigo arrastar Finnick para a água e, possivelmente, a dor iria matá-lo, de qualquer maneira. Então eu colho punhados instáveis e os esvazio em seus punhos. Desde que ele não está debaixo d'água, o veneno sai das feridas da mesma forma que entrou, em fragmentos de nevoeiro que eu tomo muito cuidado para evitar.Peeta se recupera o suficiente para me ajudar. Ele corta o macacão do Finnick. Em algum lugar ele encontra duas conchas que funcionam muito melhor do que as nossas mãos. Nós nos concentramos em molhar os braços do Finnick primeiro, desde que tenham sido danificados, e apesar de um monte de coisas brancas vazarem deles, ele não percebe. Ele só está ali, de olhos fechados, dando um ocasional gemido.Eu olho em volta com uma crescente consciência do quão perigosa é a posição que nós estamos. É noite, sim, mas essa lua emite muita luz para nos encobrir. Temos sorte de ninguém ter nos atacado ainda. Podemos vê-los próximos à Cornucópia, mas se todos os quatro Carreiristas atacarem, eles nos dominam. Se eles não nos localizaram num primeiro momento, os gemidos do Finnick nos entregariam logo.— Nós temos que colocar mais dele dentro da água — sussurro.
Mas não podemos colocá-lo com o rosto primeiro, não enquanto ele está nesta condição. Peeta acena para os pés do Finnick. Cada um de nós toma um, puxando cento e oitenta graus ao redor, e começamos a arrastá-lo para a água salgada. Apenas alguns centímetros de cada vez. Seus tornozelos. Aguardamos alguns minutos. Até o meio de sua panturrilha. Aguardamos. Seus joelhos. Nuvens de redemoinho branco saem de sua carne e ele geme. Continuamos a desintoxicá-lo, pouco a pouco. O que eu acho é que, quanto mais fico na água, melhor me sinto. Não é apenas a minha pele, mas meu cérebro e controle muscular continuam a melhorar. Eu posso ver o rosto de Peeta começar a voltar ao normal, abrindo a pálpebra, a careta deixando sua boca.Finnick lentamente começa a reviver. Seus olhos se abrem, focando em nós, e registra a consciência de que ele está sendo ajudado. Descanso a cabeça dele no meu colo e nós o deixamos absorver cerca de dez minutos com tudo imerso do pescoço para baixo. Peeta e eu trocamos um sorriso quando Finnick levanta os braços acima da água do mar.— Falta apenas sua cabeça, Finnick. Essa é a pior parte, mas você vai se sentir muito melhor depois, se você puder suportá-lo — diz Peeta.
Nós o ajudamos a se sentar e deixamos que ele pegue as mãos enquanto ele limpa os olhos, o nariz e a boca. Sua garganta ainda está muito ferida para falar.— Eu vou tentar tirar seiva de uma árvore — falo.
Meus dedos se atrapalham na minha cintura e encontro a goteira ainda pendurada em sua videira.— Deixe-me fazer o furo primeiro — Peeta fala. — Você fica com ele. Você está curada.
Isso é uma piada, eu penso. Mas eu não digo isso em voz alta, uma vez que Finnick já tem o suficiente para lidar. Ele teve o pior do nevoeiro, embora eu não saiba por quê. Talvez porque ele é o maior ou talvez porque ele teve que exercitar-se mais. E depois, claro, há Mags. Eu ainda não entendo o que aconteceu lá. Por que ele essencialmente a abandonou para levar Peeta. Porque ela não só não questionou isso, mas correu para morte sem um momento de hesitação. Foi porque ela estava tão velha que seus dias estavam contados, afinal? Será que eles pensam que Finnick teria uma chance melhor de ganhar se tivesse Peeta e eu como aliados? O olhar no rosto desfigurado de Finnick me diz que agora não é o momento para perguntar.
Em vez disso, tento me arrumar novamente. Salvei meu broche mockingjay do meu macacão arruinado e o fixei na alça da minha camiseta. O cinto de flutuação deve ser resistente aos ácidos, uma vez que parece tão bom como novo. Eu posso nadar, de modo que o cinto de flutuação não é realmente necessário, mas Brutus bloqueou minha flecha com o seu, então eu fecho ele novamente, pensando que poderia oferecer alguma proteção. Desfaço o meu cabelo e o penteio com meus dedos, ele está escasso, considerando que as gotículas de nevoeiro o danificaram. Então eu tranço de volta o que sobrou dele.Peeta encontrou uma boa árvore cerca de dez metros longe da estreita faixa de praia. Dificilmente podemos vê-lo, mas o som de sua faca contra o tronco de madeira é claro e cristalino. Eu me pergunto o que aconteceu com o furador. Mags deve ter perdido ou ficado na neblina com ela. Enfim, está perdido.Eu me movo um pouco mais longe em águas rasas, flutuando alternadamente de barriga e costas. Se a água do mar curou e Peeta e eu, parece estar transformando Finnick completamente. Ele começa a mover-se lentamente, apenas testa seus membros, e aos poucos começa a nadar. Mas não é como eu, a natação, os traços rítmicos, o mesmo ritmo. É como assistir a algum animal estranho do mar voltando à vida. Ele mergulha e volta à superfície, pulverizando água da boca, rola mais e mais em algum movimento estranho de saca-rolhas que me faz tonta mesmo de assistir. E então, quando ele está debaixo d'água por tanto tempo que estou certa de que ele se afogou, sua cabeça aparece ao meu lado e eu me assusto.— Não faça isso — eu digo.
— O quê? Aparecer do nada ou ficar abaixo?
— Igualmente. Nenhum dos dois. Qualquer que seja. Basta mergulhar na água e se comportar. Ou se você se sentir bem, vamos ajudar Peeta.
No pouco tempo que é preciso para atravessar para a borda da floresta, dou-me conta da mudança. Talvez por causa de anos de caça, ou talvez meu ouvido reconstruído funcione um pouco melhor do que qualquer um. Mas eu sinto a massa de corpos quentes posicionados acima de nós. Eles não precisam conversar ou gritar. A simples respiração de tantos é suficiente.Eu toco no braço de Finnick e ele segue o meu olhar para cima. Eu não sei como chegaram tão silenciosamente. Talvez eles não fizeram. Nós estávamos absorvidos em restaurar nossos corpos.Durante esse tempo, eles se juntaram. Não são cinco ou dez, mas dezenas de macacos pesam os membros nas árvores da selva. O casal que vimos quando escapamos do nevoeiro parece um comitê de recepção. Esta tripulação parece ameaçadora.Eu armo meu arco com duas flechas e Finnick ajusta o tridente na mão.— Peeta — chamo tão calmamente quanto possível. — Preciso de sua ajuda com uma coisa.
— Ok, só um minuto. Eu acho que quase consegui — diz ele, ainda ocupado com a árvore. — Sim, aqui. Você ainda tem a goteira?
— Eu tenho. Mas descobrimos uma coisa que é melhor você dar uma olhada — eu continuo com uma voz medida. — Apenas venha em silêncio, para que você não os assuste.
Por alguma razão, eu não quero que ele observe os macacos, ou até mesmo olhe no caminho. Há criaturas que interpretam um simples contato visual como uma agressão.Peeta se vira para nós, ofegante de seu trabalho na árvore. O tom do meu pedido é tão estranho, que o alerta para alguma irregularidade.— Tudo bem — diz ele casualmente.
Ele começa a se mover através da selva, e embora eu saiba que ele está tentando ser silencioso, este nunca foi seu forte, mesmo quando ele tinha duas pernas. Mas está tudo certo, ele está em movimento, os macacos estão mantendo suas posições. Ele está a apenas cinco metros da praia quando os percebe. Seus olhos olham para cima por apenas um segundo, mas é como se ele tivesse desencadeado uma bomba. Os macacos explodem em gritos e uma massa de pelo alaranjado converge sobre ele.Eu nunca vi qualquer movimento de animais tão rápido. Elas deslizam abaixo das videiras, como se as coisas fossem engraxadas. Saltam distâncias impossíveis de árvore em árvore. Presas à mostra, gritam, garras aparecem como canivetes. Eu posso não estar familiarizada com os macacos, mas os animais na natureza não agem assim.— Mutações — eu digo quando Finnick e eu colidimos com a vegetação.
Eu sei que cada flecha tem que valer, e elas valem. À luz estranha, trago para baixo macaco após macaco atingindo olhos, corações e pescoços, de modo que cada golpe é uma morte. Mas ainda não seria suficiente sem Finnick espetar os animais como peixes e arremessá-los de lado, Peeta cortando com a faca. Eu sinto as garras na minha perna, descendo pelas minhas costas, antes que alguém tire o atacante. O ar se torna pesado com as plantas pisoteadas, o cheiro de sangue, e o cheiro de mofo dos macacos. Peeta, Finnick e eu nos posicionamos em um triângulo, a poucos metros de distância, de costas um para o outro. Meu coração afunda quando meus dedos puxam minha última seta. Então eu me lembro que Peeta tem uma bainha, também. E ele não está atirando, ele está cortando com a faca. Minha própria faca está para fora agora, mas os macacos são mais rápidos, podem saltar para dentro e fora tão rápido que você mal consegue reagir.— Peeta! — Eu grito alto. — Suas flechas!
Peeta se vira para ver minha situação e está deslizando sua aljava quando acontece. Um macaco investe de uma árvore para seu peito. Eu não tenho nenhuma seta, jeito nenhum para atirar. Eu posso ouvir o baque do tridente de Finnick encontrando outro animal e sei que sua arma está ocupada. O braço da faca de Peeta está ocupado enquanto ele tenta remover a bainha. Eu lanço minha faca na mutação próxima, mas os saltos mortais da criatura, fogem da lâmina, e permanece em sua trajetória.Desarmada, indefesa, eu faço a única coisa que posso pensar. Eu corro para Peeta, para derrubá-lo no chão, para proteger o seu corpo com o meu, embora eu saiba que não vou chegar a tempo. Ele chega, no entanto. Se materializando do ar, ao que parece. Do nada, cambaleia para frente de Peeta. Já sangrento, a boca aberta em um grito estridente, pupilas dilatadas de modo que seus olhos parecem buracos negros.A louca usuária de morfina do Distrito Seis levanta os braços esqueléticos, como se para abraçar o macaco, e ele afunda suas presas em seu peito.

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