sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Jogos vorazes - capitulo 26




Cuspo as bagas da minha boca, limpando a língua com a ponta da camisa para ter certeza de que nenhum suco permaneça. Peeta me puxa para o lago onde nós dois limpamos nossas bocas com água, e então caímos um nos braços do outro.— Você não engoliu nada?  pergunto a ele.Ele balança a cabeça.— Você?— Acho que estaria morta agora se tivesse  digo.Posso ver seus lábios se movendo em resposta, mas não posso escutá-lo acima do rugido da multidão da Capital que está tocando ao vivo pelos autofalantes.O aerobarco se materializa acima de nossas cabeças e duas escadas caem, só que não há chance de eu deixar Peeta. Eu mantenho um braço ao redor dele enquanto o ajudo a subir, e nós dois colocamos um pé no primeiro degrau da escada. A corrente elétrica nos congela no lugar, e dessa vez estou satisfeita porque não tenho certeza de que Peeta pode subir o resto da escada. E visto que meus olhos estão olhando para baixo, posso ver que enquanto nossos músculos estão imóveis, nada está impedindo que o sangue seja drenado da perna de Peeta. Como previsto, no minuto em que a porta se fecha atrás de nós e a corrente para, ele cai no chão inconsciente.Meus dedos ainda estão agarrando a parte de trás de sua jaqueta são fortemente que quando o levam fica um punhado de tecido preto na minha mão. Médicos num branco estéril, com máscaras e luvas, já preparados para operar, entram em ação.Peeta está tão pálido e imóvel na mesa de prata, tubos e fios brotam dele de todas as maneiras. Por um momento, me esqueço de que estamos fora dos Jogos e vejo os médicos como mais uma ameaça, mais um grupo de mutts designados a matá-lo. Petrificada, eu corro até ele, mas sou pega e jogada em outro quarto, e uma porta de vidro se fecha entre nós. Eu bato o vidro, gritando. Todos me ignoram exceto um atendente da Capital que aparece atrás de mim e me oferece uma bebida.Eu caio no chão, meu rosto contra a porta, encarando sem compreender a taça na minha mão. Suco gelado de laranja, com um canudo enfeitado. Quão errado parece na minha mão suja e cheia de sangue com unhas imundas e cicatrizes. Fico com água na boca com o cheiro, mas o coloco cuidadosamente no chão, não confiando em algo tão limpo e bonito.Através do vidro, vejo os médicos trabalhando com ardor em Peeta, seus rostos vincados em concentração. Vejo o fluxo de líquidos, extraídos pelos tubos, observo a parede de indicadores e luzes que significam nada para mim. Não estou certa, mas acho que o coração dele parou duas vezes.É como estar em casa de novo, quando eles trazem uma pessoa irremediavelmente mutilada de uma explosão da mina, ou uma mulher em seu terceiro dia de trabalho de parto, ou uma criança faminta lutando contra a pneumonia e minha mãe e Prim, elas usam essa mesma expressão em seus rostos. Agora é a hora de correr para a floresta, para se esconder nos bosques até que o paciente tenha ido há algum tempo e em outra parte da Costura os carpinteiros fazem o caixão. Mas estou presa aqui tanto pelas paredes do aerobarco como pela mesma força que mantém os entes queridos da morte. Quantas vezes eu os vi, andando ao redor da nossa mesa da cozinha e eu pensava, “Por que eles não vão embora? Por que eles ficam para assistir?”E agora eu sei. É porque você não tem escolha.Eu me assusto quando pego alguém me encarando a apenas alguns centímetros de distância e então percebo que é meu próprio rosto sendo refletido pelo vidro. Olhos selvagens, bochechas encovadas, meu cabelo emaranhado. Violenta. Selvagem. Louca. Sem dúvidas todos estão a uma distância segura de mim.A próxima coisa que sei é que estamos pousando no teto do Centro de Treinamento e eles estão levando Peeta, mas me deixando atrás da porta. Eu começo a me atirar contra o vidro, gritando e eu acho que pego um relance se um cabelo rosa – deve ser Effie, tem de ser Effie vindo me resgatar – quando sou picada por uma agulha pelas costas.Quando acordo, temo me mover a princípio. Todo o teto brilha com uma luz amarela suave, permitindo que eu veja que estou num quanto que contem apenas minha cama. Sem portas, sem janelas visíveis. O ar tem um odor picante e antisséptico. Meu braço direito tem alguns tubos que se estendem através da parede atrás de mim. Estou nua, mas as roupas de cama são suaves contra minha pele.Eu temporariamente levanto minha mão esquerda acima da coberta. Não foi apenas limpa, minhas unhas estão perfeitamente ovais, as cicatrizes de queimaduras estão menos proeminentes. Toco minha bochecha, meus lábios, a cicatriz enrugada acima da minha sobrancelha, e estou apenas correndo meus dedos através do meu cabelo sedoso quando congelo. Com apreensão, despenteio o cabelo acima de meu ouvido esquerdo. Não, não foi uma ilusão. Posso ouvir novamente.Tento me sentar, mas algum tipo de larga tira de retenção ao redor da minha cintura me impede de me levantar mais que alguns centímetros. O confinamento físico me deixa em pânico e tento me levantar e livrar meus quadris através da tira quando uma porção de parede se abre e entra a Avox ruiva carregando uma bandeja. Vê-la me acalma e paro de tentar escapar. Quero fazer a ela um milhão de perguntas, mas temo que alguma familiaridade cause algum dano a ela. Obviamente estou sendo monitorada de perto.Ela coloca a bandeja sobre minhas coxas e pressiona algo que me eleva para a posição sentada. Enquanto ela ajusta meus travesseiros, arisco uma pergunta. Digo alto, tão claro quanto minha voz enferrujada permite, assim nada parece ser um código.— Peeta conseguiu?Ela assente para mim, e quando desliza uma colher na minha mão, sinto uma pressão de amizade.Acho que ela não queria que eu morresse, apesar de tudo. E Peeta conseguiu. Claro que conseguiu. Com todos esses equipamentos caros aqui. Ainda assim, não tinha certeza até agora.Quando a Avox sai, a porta se fecha silenciosamente atrás dela e me viro faminta para a bandeja. Uma tigela de caldo, uma pequena porção de maçã e um copo de água.É isso? Penso, irritada. Meu jantar de retorno a casa não deveria ser um pouco mais espetacular? Mas descubro que é um esforço terminar a refeição ante a mim. Meu estômago parece ter uma contração do tamanho de um cavalo, e tenho de imaginar quanto tempo estive fora, porque não tive problemas em comer um café da manhã de um tamanho razoável naquela última manhã na arena.Há geralmente um intervalo de poucos dias entre o fim da competição e a apresentação do vencedor, para que eles possam colocar a pessoa faminta, ferida e acabada de volta ao normal. Em algum lugar, Cinna e Portia estarão criando nossas vestes para as aparições públicas. Haymitch e Effie estarão arranjando o banquete para nossos patrocinadores, revisando as perguntas para nossa entrevista final. De volta a casa, o Distrito 12 provavelmente está um caos enquanto eles tentam organizar celebrações de boas vindas para mim e para Peeta, dado que a última celebração desse tipo foi há quase trinta anos.Casa! Prim e minha mãe! Gale! Até a lembrança do gato velho e imundo de Prim me traz um sorriso. Em breve estarei em casa!Quero sair dessa cama. Para ver Peeta e Cinna, para descobrir mais sobre o que está acontecendo. E por que eu não deveria? Estou bem. Mas quando tento começar meu caminho fora da tira, sinto um líquido frio entrando na minha veia de um dos tubos e quase imediatamente perco a consciência.Isso continua a acontecer por uma quantia indeterminada de tempo. Eu acordando, comendo, e, embora resista ao impulso de tentar escapar da cama, sendo nocauteada novamente. Pareço estar num crepúsculo contínuo e estranho. Registrando apenas algumas coisas. A Avox ruiva que não retornou desde a alimentação, minhas cicatrizes desaparecendo... e eu estou imaginando ou realmente ouço a voz de um homem gritando? Não com o sotaque da Capital, mas com o ritmo áspero de casa. E não posso evitar ter uma vaga e confortante sensação de que alguém está cuidando de mim.Então finalmente, a hora chega quando eu acordo e não há nada enviado no meu braço direito. A restrição ao redor da minha cintura foi retirada e estou livre para me mover. Começo a me sentar, mas estou presa pela visão das minhas mãos. A perfeição da pele, macia e brilhante. Não só as cicatrizes da arena se foram, como também aquelas que foram acumuladas ao longo dos anos caçando tinham sumido sem deixar rastro. Minha testa parecia cetim, e quando tento encontrar a queimadura na minha panturrilha, não há nada.Deslizo minhas pernas para fora da cama, nervosa por não saber se elas iriam suportar meu peso, mas elas estão fortes e firmes. Situado ao pé da cama há um traje que me faz hesitar. É o que todos nós, tributos, usamos na arena. Olho para ele como se ele tivesse dentes até eu me lembrar de que, é claro, isso é o que vou usar para cumprimentar minha equipe.Estou vestida em menos de um minuto e inquieta defronte a parede onde sei que há uma porta, mesmo que eu não possa vê-la, quando de repente ela se abre. Entro num corredor amplo e deserto que não parecia ter portas. Mas deve ter. E atrás de uma delas deve estar Peeta. Agora que estou consciente e me movendo, fico mais e mais ansiosa por causa dele. Ele deve estar bem ou então a Avox não teria dito aquilo. Mas preciso vê-lo por mim mesma.— Peeta!  grito, já que não há ninguém para perguntar.Ouço meu nome em resposta, mas não é a voz dele. É uma voz que me provoca primeiro irritação e depois entusiasmo. Effie.Eu me viro e vejo todos eles esperando numa grande sala ao fim do corredor – Effie, Haymitch e Cinna. Meus pés se movem sem hesitação. Talvez um vencedor devesse mostrar mais moderação, mais superioridade, especialmente quando ela sabe que isso estará na gravação, mas não me importo. Corro para eles e me surpreendo quando me lanço nos braços do Haymitch primeiro. Quando ele sussurra no meu ouvido, “Bom trabalho, querida,” não soa sarcástico. Effie está à beira das lágrimas e fica tocando no meu cabelo e falando sobre como ela disse para todos que nós éramos pérolas. Cinna apenas me abraça com força e não fiz nada. Então percebo que Portia está ausente e sento um mal pressentimento.— Onde está Portia? Ela está com Peeta? Ele está bem, não está? Quero dizer, ele está vivo? — falo sem pensar.— Ele está ótimo. Só que querem que vocês se encontrem apenas na cerimônia — diz Haymitch.— Ah. É isso — digo. O momento terrível pensando na morte de Peeta passa. — Acho que queria vê-lo por mim mesma.— Vá com Cinna. Ele tem de te deixar pronta  diz Haymitch.É um alívio estar sozinha com Cinna, sentir meu braço protetor ao redor dos meus ombros quando ele me leva para longe das câmeras, por algumas passagens e para um elevador que vai até o corredor do Centro de Treinamento.O hospital é muito mais abaixo, até abaixo do ginásio onde os tributos praticaram amarrando cordas e atirando lanças. As janelas do corredor estão escuras, e um punhado de guardas está em serviço. Ninguém mais está lá para nos ver entrar no elevador dos tributos. Nossos passos ecoam no vazio. E quando subimos para o décimo segundo andar, os rosto de todos os tributos que nunca retornarão passam pela minha cabeça e há um peso no meu peito.Quando as portas do elevador se abrem, Venia, Flavius e Octavia me engolem, falando tão rapidamente e com êxtase que não posso acompanhar suas palavras. O sentimento está claro, porém. Eles estão verdadeiramente excitados por me ver e estou feliz por vê-los, também, embora não como eu estava quando vi Cinna. É mais na forma como alguém ficaria feliz de ver um trio de animaizinhos ao fim de um dia particularmente difícil.Eles me levaram a uma sala de jantar e tive uma refeição de verdade – bife assado, ervilhas e pãezinhos – embora minhas porções ainda estivessem sendo bem controladas. Porque quando eu pedi o segundo prato, levei um não.— Não, não, não. Eles não querem que você vomite tudo no palco  Octavia responde, mas secretamente ela desliza um pãozinho extra sob a mesa para eu saber que ela estava do meu lado.Voltamos para o meu quarto e Cinna desaparece por um momento enquanto a equipe me deixa pronta.— Ah, eles cuidaram do seu corpo inteiro  diz Flavius com inveja. — Nem uma falha foi deixada na sua pele.Mas quando olho para meu corpo nu refletido no espelho, tudo que posso ver é o quão magra estou. Quero dizer, tenho certeza de que eu estava pior quando saí da arena, mas posso facilmente contar minhas costelas.Eles cuidam das configurações do chuveiro para mim e vão trabalhar no meu cabelo, unhas e maquiagem quando termino o banho. Eles tagarelam tão continuamente que quase não tenho de responder, o que é bom, visto que não sou muito faladora. É divertido, porque embora eles estejam falando sobre os Jogos, é só sobre onde eles estavam ou o que eles estavam fazendo ou como eles se sentiram quando um evento específico aconteceu. “Eu ainda estava na cama!” “Eu tinha acabado de pintar o meu cabelo!” “Juro que eu quase desmaiei!” Tudo é sobre eles, não sobre garotos e garotas morrendo na arena.Nós não chafurdamos em torno dos Jogos dessa maneira no Distrito 12. Nós cerramos nossos dentes e assistimos porque devemos, e tentamos voltar para nosso trabalho logo que eles acabam. Para não odiar a minha equipe, ignoro a maioria das coisas que eles dizem.Cinna volta com o que parece ser um despretensioso vestido amarelo nos braços.— Você desistiu de toda aquela coisa de “garota em chamas”?  pergunto.— De fato  ele diz, e o desliza pela minha cabeça.Imediatamente percebo o enchimento sobre meus seios, acrescentando curvas que a fome roubou do meu corpo. Minhas mãos vão ao meu peito e eu franzo as sobrancelhas.— Eu sei  Cinna diz antes que eu possa falar algo. — Mas os Gamemakers queriam alterar você cirurgicamente. Haymitch fez uma grande briga para evitar isso. Esse foi o prometido. Ele me para antes que eu olhe para meu reflexo. — Espere, não se esqueça dos sapatos.Venia me ajuda a colocar um par de sandálias de couro baixas e me viro para o espelho.Eu ainda sou a garota em chamas. O tecido brilha suavemente. Até o movimento de ar mais leve ondula pelo meu corpo. Em comparação, o traje da carruagem parece extravagante, o vestido da entrevista muito artificial. Nesse vestido, dou a ilusão de estar vestida à luz de velas.— O que você acha? Cinna pergunta.— Acho que é o melhor  digo.Quando conseguido tirar meus olhos do tecido brilhante, tenho um choque. Meu cabelo está frouxo, preso num simples elástico. A maquiagem arredonda e preenche os ângulos magros do meu rosto. Um esmalte claro sobre minhas unhas. O vestido sem mangas se agarra às minhas costelas, e não à minha cintura, eliminando em grande quantidade a necessidade de enchimento no meu corpo. A bainha cai até meus joelhos. Sem saltos, você pode ser minha estatura. Eu pareço muito simples, como uma garota. Uma garota jovem. Quatorze anos, no máximo. Inocente. Inofensiva. Sim, é um choque que Cinna tenha imaginado isso quando você se lembra de que eu acabei de ganhar os Jogos.Essa é uma aparência bem calculada. Nada que Cinna desenha é arbitrário. Mordo meu lábio tentando imaginar sua motivação.— Pensei que seria algo mais... sofisticado  digo.— Eu achei que Peeta gostaria mais disso  ele responde cuidadosamente.Peeta? Isso não tem nada a ver com Peeta. Tem a ver com a Capital, os Gamemakers e a audiência. Embora eu ainda não tenha entendido a ideia de Cinna, é um lembrete de que os Jogos ainda não terminaram. E debaixo da sua resposta agradável, sinto um aviso. De algo que ele não pode nem mencionar em frente a nossa própria equipe.Tomamos o elevador para o nível onde fomos treinados. É costumeiro o vencedor e seu time de suporte subir de debaixo do palco. Primeiro a equipe, seguida pela escolta, o estilista, o mentor e finalmente o vencedor.Apenas nesse ano, com dois vencedores que dividem a mesma escolta e o mesmo mentor, toda a coisa tem de ser repensada. Eu me encontro numa área pouco iluminada debaixo do palco. Uma nova placa de metal foi instalada para nos levar para cima. Você ainda pode ver pequenas pilhas de serragem, cheirar a pintura fresca. Cinna e a equipe vestem seus próprios trajes e tomam suas posições, deixando-me sozinha. Na escuridão, vejo uma parece improvisada a uns dez metros e assumo que Peeta está do outro lado.O barulho da multidão é alto, por isso não percebo Haymitch até ele me tocar no ombro. Dou um pulo, assustada, ainda meio na arena, acho.— Calma, sou só eu. Deixe-me dar uma olhada em você  Haymitch diz. Estendo meus braços e dou uma volta. — Bom o bastante.Isso não é muito um elogio.Mas o quê?  digo.Haymitch olha em volta do espaço mofado, e parece tomar uma decisão.— Mas nada. Que tal um abraço para dar sorte?Ok, esse é um pedido estranho para Haymitch, mas, depois de tudo, somos vencedores. Talvez um abraço para dar sorte seja regular. Mas, quando coloco meus braços ao redor do seu pescoço, encontro-me emboscada em seu abraço. Ele começa a falar, muito rápido, bem baixinho no meu ouvido, meu cabelo ocultando seus lábios.— Escute. Vocês estão com problemas. Dizem que a Capital está furiosa por vocês terem enganado-a na arena. A única coisa que eles não podem suportar é ser alvo de piada por toda a Panem  diz Haymitch.Sinto medo me percorrer, mas dou uma risada como se Haymitch estivesse dizendo algo completamente deleitoso porque nada está cobrindo minha boca.— E agora?— A única defesa de vocês é que vocês estavam completamente apaixonados e não eram responsáveis pelos seus atos  Haymitch se afasta e ajusta minha liga de cabelo.— Entendeu, querida?Ele poderia estar falando sobre qualquer coisa agora.— Sim  digo. — Você disse isso a Peeta?— Eu não tenho de dizer  Haymitch responde. — Ele já está.— Mas você acha que eu não estou?  digo, tomando a oportunidade para ajustar a brilhante gravata vermelha que Cinna deve tê-lo forçado a usar.— Desde quando importa o que eu acho? Melhor tomar nossos lugares.  Ele me leva até o círculo metálico. — Essa é a sua noite, querida. Aproveite.Ele beija minha testa e desaparece na escuridão.Agarro minha saia, querendo que ela seja mais longa, querendo que ela cubra o tremor do meu joelho. Então percebo que é inútil. Todo o meu corpo está tremendo como uma folha. Esperançosamente, deve ser por causa da minha excitação. Afinal, essa é a minha noite.O cheiro úmido e mofado ameaça me sufocar debaixo do palco. Um suor frio e pegajoso brota da minha pele e não posso evitar sentir que as tábuas acima da minha cabeça vão desabar, enterrar-me viva sob o entulho. Quando deixei a arena, quando as trombetas tocaram, eu deveria estar salva. A partir de então. Pelo resto da minha vida. Mas se o que Haymitch falou é verdade, e ele não tem razão para mentir, eu nunca estive em um lugar tão perigoso na minha vida.É bem pior que ser caçada na arena. Ali, eu poderia apenas morrer. Fim da história. Mas aqui fora, Prim, minha mãe, Gale, as pessoas do Distrito 12, todo mundo com que eu me importo poderia ser punido se eu não conseguisse fingir ser a garota-completamente-apaixonada que Haymicth sugeriu.Então eu ainda tenho uma chance, entretanto. Engraçado, na arena, quando peguei aquelas bagas, eu estava apenas pensando em enganar os Gamemakers, não em como minhas ações iriam refletir na Capital. Mas os Jogos Vorazes são a arma deles e você não deveria ser capaz de derrotá-la. Então agora a Capital vai agir como se estivesse no controle o tempo todo. Como se eles tivessem orquestrado todo o evento, até o suicídio duplo. Mas isso só vai funcionar se eu fingir com eles.E Peeta... Peeta vai sofrer, também, se isso sair errado. Mas o que Haymitch disse quando eu perguntei se ele tinha contato a Peeta a situação? Que ele tinha de fingir que estava desesperadamente apaixonado?— Não tenho de dizer. Ele já está.Já pensando antes de mim nos Jogos novamente e consciente do perigo que corremos? Ou... já desesperadamente apaixonado?Não sei. Eu nem comecei a analisar meus sentimentos por Peeta. É muito complicado. O que eu fiz era parte dos Jogos. Como oposição ao que eu fiz por raiva da Capital. Ou por causa do que seria visto no Distrito 12. Ou porque, simplesmente, era a única coisa decente a ser feita. Ou porque me importava com ele.Há questões a serem solucionadas quando voltar para casa, na paz e quietude da floresta, quando ninguém está observando. Não aqui como todos os olhos sobre mim. Mas não vou ter esse luxo por sabe-se lá quanto tempo. E agora, a parte mais perigosa dos Jogos Vorazes está para começar.

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