sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Jogos vorazes - capitulo 25




Mutações. Sem dúvidas sobre isso. Eu nunca tinha visto esses cães, mas eles não são animais nascidos naturalmente. Eles lembram lobos enormes, mas lobos se equilibram sobre as patas traseiras? Lobos acenam para o resto do bando com a pata dianteira como se tivessem um pulso? Essas coisas eu posso ver a distância. De perto, tenho certeza de que mais atributos ameaçadores serão revelados.Cato correu em linha direta para a Cornucópia, e sem perguntas eu o segui. Se ele pensa que é o lugar mais seguro, quem sou eu para discutir? Além disso, mesmo que eu conseguisse correr para a floresta, seria impossível para Peeta fazer esse caminho com aquela perna – Peeta!Minhas mãos tinham acabado de tocar o metal da Cornucópia quando eu me lembro de que sou parte de um time. Ele está uns quinze metros atrás de mim, coxeando o mais rápido que consegue, mas os cães estão se aproximando rapidamente. Atiro uma flecha no bando e um cai, mas há muitos outros para tomar seu lugar.Peeta está acenando para eu subir na Cornucópia.— Vá, Katniss! Vá!Ele está certo. Não posso proteger nenhum de nós no chão. Começo a subir, escalando a Cornucópia com minhas mãos e pés. A superfície de ouro puro foi desenhada para lembrar o chifre curvado que nós enchemos na colheita, então há pequenas pontas e fendas para conseguir se agarrar de maneira decente. Mas depois de um dia sob o sol da arena, o metal está quente o bastante para queimar minhas mãos.Cato está deitado no topo do chifre, sete metros acima do chão, lutando para recuperar o fôlego enquanto vomita . Agora é a minha chance de acabar com ele. Paro a meio caminho na subida do chifre e carrego outra flecha, mas quando estou quase deixando-a voar, ouço Peeta gritar. Eu me viro e vejo que ele acabou de alcançar a Cornucópia, e os cães estão logo em sua cola.— Suba!  grito.Peeta começa a subir, atrasado não apenas pela sua perna, mas pela faca em sua mão. Atiro uma flecha na garganta do primeiro mutante que chega ao metal. Enquanto morre, a criatura ataca, descuidadamente abrindo cortes em alguns de seus companheiros. É quando eu olho para as garras. Dez centímetros de comprimento e claramente bem afiadas.Peeta alcança meus pés e eu agarro seu braço e o puxo para cima. Então me lembro de Cato esperando no topo e me viro, mas ele está dobrado com cãibras e mais preocupado com os cães do que conosco. Ele fala algo ininteligível. O som de aspiração e rosnados vindo dos cães não está ajudando.— O quê?!  Grito para ele.— Ele disse, “Eles podem subir?”  Peeta traduz, levando a minha atenção de volta para a base do chifre.Os lobos estão começando a se reunir. Enquanto eles se juntam, levantam-se facilmente sobre suas patas traseiras, dando a eles um aspecto assustadoramente humano. Cada um tem uma pele grossa, alguns com o pelo liso, outros ondulados, e as cores variam de preto até o que posso descrever como loiro. Há algo neles, algo que faz os pelos em minha nuca se arrepiarem, mas não posso dizer o quê.Eles colocam seus focinhos no chifre, cheirando e testando o metal, colocando as patas sobre a superfície e fazendo sons agudos com a outra. Deve ser assim como eles se comunicam, porque o bando recua como se aguardasse. Então um deles, um cão de bom tamanho com pelos loiros macios e ondulados começa a correr e pula no chifre.As patas traseiras devem ser incrivelmente poderosas, porque elas alcançam três metros abaixo de nós, seus lábios rosados se repuxando para um ranger de dentes. Por um momento a coisa fica lá, e naquele momento percebo o que me deixa incomodada nessas feras. Os olhos verdes brilhando para mim não são de nenhum cão ou lobo, nenhum canino que eu tenha visto. Eles não inconfundivelmente humanos. E essa revelação mal é registrada quando percebo a coleira com o número 1 incrustado com joias e o horror daquilo me atinge. O pelo loiro, os olhos verdes, o número 1... é Glimmer.Um som agudo escapa dos meus lábios e tenho problemas para segurar a flecha no lugar. Eu estive esperando para abrir fogo, consciente do meu suprimento mínimo de flechas. Esperando para ver se as criaturas podiam, de fato, subir. Mas agora, mesmo quando o cão começou a deslizar para trás, incapaz de encontrar algum apoio no metal, mesmo quando eu posso ouvir o lento rangido das garras como unhas no quadro, eu atiro em sua garganta. O seu corpo se debate e cai no chão com uma pancada.— Katniss?Posso sentir o aperto de Peeta no meu braço.— É ela!  grito.— Quem?  Peeta pergunta.Minha cabeça gira de lado a lado enquanto examino o bando, tomando os vários tamanhos e cores. O pequeno com pele vermelha e olhos cor de âmbar... Foxface! E ali, o cabelo pálido e olhos castanho-esverdeados do garoto do Distrito 9 que morreu quando nós lutamos pela mochila! E, pior o tudo, o menor cão, com pelo preto lustroso, grandes olhos castanhos e uma coleira onde se lê 11 entalhado. Mostrando os dentes com ódio. Rue...— O que é, Katniss?  Peeta balança meu ombro.— São eles. Todos eles. Os outros. Rue e Foxface e... todos os outros tributos  eu sufoco.Ouço Peeta arfar em reconhecimento.— O que eles fizeram a eles? Você não acha... que esses podem ser os olhos deles de verdade?Os olhos deles são o que menos me preocupa. E os cérebros deles? Eles têm alguma memória dos tributos reais? Eles foram programados para odiar nossos rostos particularmente porque sobrevivemos e eles foram insensivelmente assassinados? E os que nós matamos de verdade... eles acreditam que estarão vingando suas mortes?Antes que eu consiga pensar nisso, os cães começam um novo assalto ao chifre. Eles se dividiram em dois grupos aos lados no chifre e estão usando aquelas traseiras poderosas para subirem. Um par de dentes se fecham a centímetros da minha mão e então ouço Peeta gritar, sinto o balanço do seu corpo, o peso do garoto e do cão puxando-me para o lado. Se não fosse pelo suporte do meu braço, ele estaria no chão, mas enquanto a coisa está aqui em cima, toma toda a minha força para nos manter na curva de trás do chifre. E mais tributos estão vindo.— Mate, Peeta! Mate!Estou gritando, e embora não possa ver exatamente o que está acontecendo, sei que ele deve ter esfaqueado a coisa porque o peso fica mais leve. Sou capaz de puxá-lo de volta para a Cornucópia, onde nós nos agarramos em direção ao topo, onde nos aguarda o menor de dois males.Cato ainda não está de pé, mas sua respiração está mais lenta e sei que em breve ele vai se recobrar o bastante para vir atrás de nós, para nos lançar para a morte. Eu armo meu arco, mas a flecha acaba indo para um cão que só pode ser Thresh. Quem mais pularia não alto? Sinto um momento de alívio porque finalmente estamos acima da linha dos cães e eu acabo de me virar para encarar Cato quando Peeta dá um solavanco ao meu lado. Tenho a certeza de que o bando o pegou quando seu sangue respinga no meu rosto.Cato está na minha frente, quase no extremo do chifre, segurando Peeta com uma gravata, cortando seu ar. Peeta está arranhando o braço de Cato, mas fracamente, como se estivesse confuso sobre se é mais importante respirar ou tentar conter o jorro de sangue que sai do buraco que um cão deixou em sua panturrilha.Eu miro um das minhas duas últimas flechas na cabeça de Cato, sabendo que não teria nenhum efeito se fosse no seu tronco ou nos membros, que posso ver agora que estão cobertos por uma malha cor de pele. Alguma armadura de ótima qualidade da Capital. Era isso que estava em sua mochila no banquete? Armadura para se defender contra minhas flechas? Bem, eles se esqueceram de mandar uma proteção para o rosto.Cato apenas ri.— Atire em mim e ele cai comigo.Ele está certo. Se eu atirar nele e ele cair sobre os cães, é certo de que Peeta vai morrer com ele. Chegamos a um beco sem saída. Não posso atirar em Cato sem matar Peeta, também. Ele não pode matar Peeta sem a garantia de uma flecha no seu cérebro. Ficamos parados como estátuas, procurando por uma saída.Meus músculos estão tão tensos que parecem que vão se quebrar a qualquer momento. Meus dentes estão cerrados duramente. Os cães ficaram quietos e a única coisa que posso ouvir é o sangue batendo no meu ouvido bom.Os lábios de Peeta estão ficando azuis. Se eu não fizer algo rapidamente, ele vai morrer de asfixia e então eu o perderei, e Cato provavelmente vai usar seu corpo como uma arma contra mim. Na verdade, tenho certeza de que esse é o plano de Cato, porque quando ele para de rir, seus lábios formam um sorriso triunfante.Como se fosse seu último esforço, Peeta levanta seus dedos, pingando sangue de sua perna até o braço de Cato. Em vez de tentar se livrar do aperto, seus dedos mudam de direção e fazem um deliberado X nas costas da mão de Cato. Cato percebe o significado do gesto um segundo depois de mim. Posso dizer pelo modo como seu sorriso desapareceu de seus lábios. Mas é um segundo tarde demais porque, nessa hora, minha flecha está perfurando sua mão. Ele grita e por reflexo liberta Peeta, que se joga contra ele. Por um momento terrível, penso que os dois vão cair. Eu corro para agarrar Peeta enquanto Cato perde o equilíbrio no chifre úmido de sangue e cai no chão.Nós o ouvimos cair, o ar deixando seu corpo com o impacto, e então os cães o atacam. Peeta e eu nos abraçamos, esperando pelo canhão, esperando que a competição acabe, esperando sermos libertados. Mas isso não acontece. Não ainda. Porque esse é o clímax dos Jogos Vorazes, e a audiência espera por um show.Eu não assisto, mas posso ouvir o ranger dos dentes, os rosnados, os uivos de dor tanto humano quanto de besta enquanto Cato avança sobre o bando de cães. Não posso entender como ele pode estar sobrevivendo até que me lembro da armadura protegendo-o dos tornozelos até o pescoço e percebo como a noite pode ser longa.Cato deve ter uma faca ou uma espada, também, alguma coisa que ele tenha escondido nas suas roupas, porque de vez em quando há um grito de morte de um cão ou o som de metal quando lâminas colidem com a Cornucópia dourada. O combate continua ao lado da Cornucópia, e sei que Cato deve estar tentando fazer uma manobra que pode salvar a sua vida – voltar para a cauda do chifre e se reunir a nós. Mas no final, apesar da sua força e habilidade notáveis, ele é simplesmente derrotado.Não sei quanto tempo se passa, talvez uma hora ou mais, quando Cato cai no chão e ouço os cães agarrando-o, levando-o para dentro da Cornucópia. Agora vão acabar com ele, penso. Mas ainda não há nenhum canhão.A noite cai e o hino toca, não há nenhuma imagem de Cato no céu, apenas os gemidos fracos vindo do metal debaixo de nós. O ar gelado soprando pela planície me lembra de que os Jogos não acabaram e podem não acabar por sabe-se lá quanto tempo, e ainda não há garantia de vitória.Viro minha atenção para Peeta e percebo que a perna dele está sangrando mais do que nunca. Todos os nossos suprimentos, nossas mochilas, permanecem lá embaixo, perto do lago, onde nós os abandonamos quando corremos dos cães. Não tenho bandagens, nada para parar o fluxo de sangue da sua panturrilha. Embora eu esteja tremendo com o vento cortante, tiro minha jaqueta, removo minha camiseta e fecho minha jaqueta o mais rápido possível. Aquela pequena exposição faz com que meus dentes tremam além do meu controle.O rosto de Peeta está pálido sob a luz da lua. Eu o faço deitar-se antes de sondar sua ferida. Sangue escorregadio e quente corre pelos meus dedos. Uma bandagem não é suficiente. Eu vi minha mãe amarrar um torniquete um punhado de vezes e tento replicá-lo. Corto uma manga da minha camisa, enrolo duas vezes ao redor da sua perna bem debaixo do seu joelho, e faço um nó. Eu não tenho uma vareta, então pego minha flecha e insiro no nó, girando-o o mais apertado que ouso. É um negócio arriscado – Peeta pode acabar perdendo sua perna – mas quando eu peso isso com perder sua vida, que alternativa eu tenho? Enfaixo sua ferida com o resto da minha camisa e me deito ao seu lado.— Não durma  digo a ele.Não tenho certeza se isso é exatamente um protocolo médico, mas tenho medo de que, se ele dormir, nunca irá acordar novamente.— Você está com frio?  ele pergunta.Ele abre o zíper da sua jaqueta e me pressiono contra ele quando ele o fecha ao meu redor. É um pouco mais quente, dividir o calor dos nossos corpos dentro da minha dupla camada de jaquetas, mas a noite é uma criança. A temperatura vai continuar a cair.Mesmo agora posso sentir a Cornucópia, que queimava quando eu subi pela primeira vez, lentamente virando gelo.— Cato pode ganhar essa coisa ainda  sussurro para Peeta.— Não acredite nisso  ele diz, puxando meu corpo, mas ele está tremendo mais do que eu.As horas seguintes são as piores da minha vida, o que se você pensar bem significa muita coisa. O frio pode torturar o bastante, mas o pesadelo real é escutar Cato gemendo, implorando e finalmente apenas choramingando enquanto os cães o torturam. Depois de muito pouco tempo, eu não me importo mais com quem ele é ou o que ele fez, tudo o que quero é que ele pare de sofrer.— Por que eles apenas não o matam?  pergunto a Peeta.— Você sabe por que — ele responde e me puxa mais para perto.E eu sei. Nenhum telespectador daria as costas para o show agora. Do ponto de vista dos Gamemakers, essa é a última palavra em entretenimento.E continua e continua, eventualmente consumindo completamente a minha mente, bloqueando memórias e esperanças de um amanhã, apagando tudo além do presente, que começo a acreditar que nunca vai mudar. Nunca haverá nada além de frio, medo e os sons agonizantes do garoto morrendo no chifre.Peeta começa a dormir agora, e em cada vez que o faz, eu me encontro gritando seu nome cada vez mais alto, porque se ele morrer agora, sei que provavelmente vou ficar completamente louca. Ele está lutando, provavelmente mais por mim do que por ele, e é difícil porque inconsciência seria uma forma própria de escapar. Mas a adrenalina que palpita pelo meu corpo nunca iria me permitir segui-lo, então não posso deixá-lo. Eu apenas não posso.A única indicação da passagem do tempo estava no céu, o sutil movimento da lua. Então Peeta começa a apontá-lo para mim, insistindo que sei seu progresso e às vezes, por um momento, sinto um brilho de esperança antes que a agonia da noite me engula novamente.Finalmente, ouço-o sussurrar que o sol está subindo. Abro meus olhos e encontro estrelas desaparecendo na luz pálida do amanhecer. Posso ver, também, como o rosto de Peeta se tornou pálido. Quão pouco tempo que ele tem. E sei que tenho de levá-lo de volta para a Capital.Ainda assim, o canhão não atira. Pressiono meu ouvido bom contra a Cornucópia e posso ouvir a voz dele.— Acho que ele está mais perto agora. Katniss, você pode atirar nele?  Peeta pergunta.Se ele estiver perto da boca, posso ser capaz. Seria um ato de misericórdia a esse ponto.— Minha última flecha está no seu torniquete  digo.— Faça-a valer  diz Peeta, abrindo o zíper da sua jaqueta, deixando-me livre.Então eu tiro a flecha, tentando colocar o torniquete de volta o mais apertado que meus dedos congelados são capazes. Esfrego minhas mãos, tentando ganhar circulação.Quando eu rastejo até o extremo do chifre e fico na ponta, sinto as mãos de Peeta me dando suporte. Leva alguns momentos para encontrar Cato na luz turva, no sangue. Então a massa de carne crua que costumava ser nosso inimigo faz um som, e sei onde sua boca está. E acho que o que ele está tentando dizer é "por favor".Pena, não vingança, manda a flecha até seu crânio. Peeta me puxa de volta, arco na mão, bainha vazia.— Você conseguiu?  ele sussurra.O tiro do canhão é a resposta.— Então ganhamos, Katniss  ele diz de forma vazia.— Viva para nós  solto, mas não há o prazer de vitória na minha voz.Um buraco se abre na planície como se fosse combinado, e o restante dos cães entra nele, desaparecendo quando a terra se fecha acima deles.Nós esperamos pelo aerobarco para tomar os restos de Cato, pelas trombetas da vitória que deveriam se seguir, mas nada acontece.— Hey!  grito para o ar. — O que está acontecendo?A única resposta é a vibração dos pássaros acordando.— Talvez seja o corpo. Talvez tenhamos de nos distanciar  Peeta adivinha.Tento me lembrar. Você tem de se distanciar do tributo morto na morte final? Meu cérebro está muito confuso para ter certeza, mas qual seria a outra razão para a demora?— Ok. Acha que pode conseguir chegar até o lago?— Acho que é melhor tentar.Descemos pela cauda da Cornucópia e caímos no chão. Se a rigidez dos meus membros é assim ruim, como Peeta pode se mover? Eu me levanto primeiro, balançando e curvando meus braços e pernas até que acho que posso ajudá-lo a se levantar. De alguma forma, nós chegamos ao lago. Eu dou um punhado de água gelada para Peeta e depois bebo eu mesmaUm mockingjay dá um assobio longo e baixo, e lágrimas de alívio enchem meus olhos quando o aerobarco aparece e leva o corpo de Cato. Agora eles vão nos levar. Agora podemos ir para casa.Mas novamente não há nenhuma resposta.— O que eles estão esperando?  Peeta pergunta fracamente.Entre a perda do torniquete e o esforço de andar até o lago, sua ferida se abriu novamente.— Eu não sei.Seja o que for, não posso vê-lo perder mais sangue. Eu me levanto para encontrar um pedaço de pau, mas quase imediatamente encontro a flecha que ricocheteou na armadura de Cato. Farei com outra flecha. Quando eu me inclino para pegá-la, a voz de Claudius Templesmith explode na arena.— Saudações aos finalistas do septuagésimo quarto Jogos Vorazes. A mudança anterior foi revogada. Uma análise mais atenta às regras revelou que apenas um vencedor está autorizado. Que a sorte esteja sempre ao seu favor.Há um pequeno barulho de estática e então nada mais. Eu fito Peeta com descrença enquanto a verdade começa a fazer sentido. Eles nunca tiveram a intenção de deixar nós dois vivos. Isso tudo foi planejado pelos Gamemakers para garantir o confronto mais dramático da história. E como uma tola, caí nessa.— Se você pensar bem, isso não é uma surpresa  ele diz suavemente.Observo como ele dolorosamente consegue ficar de pé. Então ele está andando na minha direção, como se fosse em câmera lenta, sua mão está puxando a faca do seu cinto...Antes que eu esteja consciente das minhas ações, meu arco está carregado com a flecha apontada para o seu coração. Peeta levanta suas sobrancelhas e vejo que a faca já não está mais em sua mão, caiu na água. Deixo minha arma cair e dou um passo para trás, meu rosto queimando com o que só pode ser vergonha.— Não — Peeta fala. — Faça.Peeta manca em minha direção e coloca a arma de volta às minhas mãos.— Não posso  digo. — Não vou.— Faça. Antes que eles mandem aqueles mutantes de volta ou algo do tipo. Não quero morrer como Cato.— Então você atira em mim  digo furiosa, empurrando a arma de volta para ele. Você atira em mim, vai para casa e vive com isso.E quando eu digo, sei que a morte agora mesmo seria mais fácil que viver com isso.— Você sabe que eu não posso  Peeta diz, jogando fora a arma. — Ótimo, vou primeiro, de qualquer forma.Ele se inclina para baixo e retira sua bandagem, eliminando a barreira final entre seu sangue e a terra.— Não, você não pode se matar.Estou de joelhos, cobrindo desesperadamente a bandagem sobre sua ferida.— Katniss. É o que eu quero.— Você não vai me deixar aqui sozinha.Porque se ele morrer, eu nunca irei para casa, não realmente. Vou passar o resto da minha vida nessa arena tentando pensar na minha saída.— Escute  ele fala, me puxando para eu ficar de pé. — Nós dois sabemos que eles precisam ter um vencedor. E só pode ser um de nós. Por favor, faça isso. Por mim.E ele começa a falar o quanto me ama, o que a vida seria sem mim, mas eu parei de escutar porque suas palavras anteriores estão presas na minha cabeça, girando desesperadamente.Nós dois sabemos que eles precisam ter um vencedor.           Sim, eles precisam ter um vencedor. Sem um vencedor, toda a coisa seria jogada na cara dos Gamemakers. Eles teriam falhado com a Capital. Possivelmente seriam executados, lenta e dolorosamente, enquanto as câmeras exibiriam cara imagem em todo o país.Se Peeta e eu morrêssemos, ou eles pensassem que iríamos morrer...Meus dedos se atrapalham com a bolsa no meu cinto, soltando-a. Peeta vê e suas mãos agarram meu pulso.— Não, não vou deixar.— Confie em mim  sussurro.Ele sustenta meu olhar por um longo tempo antes de me soltar. Eu abro a parte superior da bolsa e coloco um punhado de amoras na sua mão. Então encho a minha.— No três?Peeta se inclina para baixo e me beija uma vez, muito gentilmente.— No três — concorda.Ficamos de pé, costas contra costas, nossas mãos vazias apertando uma a do outro.— Mostre-as. Quero que todos vejam  ele fala.Eu entendo meus dedos, e as bagas escuras brilham ao sol. Dou um último aperto na mão de Peeta como um sinal, ou um adeus, e começamos a contar.— Um.Talvez eu esteja errada.— Dois.Talvez eles não se importem se nós morrêssemos.— Três!É tarde demais para mudar de ideia. Levanto minha mão para minha boca, lançando um último olhar para o mundo. As bagas acabam de passar pelos meus lábios quando as trombetas começam a tocar.A voz frenética de Claudius Templesmith grita acima delas.— Parem! Parem! Damas e cavalheiros, tenho o prazer de apresentar os vencedores dos Septuagésimo Quarto Jogos Vorazes, Katniss Everdeen e Peeta Mellark! Os tributos do Distrito Doze!

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