sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A Batalha do labirinto - capitulo 1




                                Eu enfrento líderes de torcida

A última coisa que eu queria fazer nas minhas férias de verão era explodir outra escola. Mas ali eu estava segunda-feira de manhã, na primeira semana de junho, sentado no carro da minha mãe em frente à Goode High School, na rua 81 Leste.

Goode ficava em um grande edifício de pedra avermelhada com vista para o East River. Um monte de BMW's e Lincoln Towns estava estacionado em frente. Olhando para o elegante arco de pedra, eu me perguntava quanto tempo levaria para que eu fosse expulso desse lugar.

– Apenas relaxe. – Minha mãe não parecia relaxada. – É apenas um tour de orientação. E lembre-se, querido, essa é a escola de Paul. Então tente não... você sabe.

– Destruí-la?

– Sim.

Paul Blofis, o namorado da minha mãe, estava em frente à escola, recebendo futuros alunos do primeiro ano conforme eles subiam os degraus. Com seu cabelo grisalho, roupas de brim, e jaqueta de couro, ele me lembrava um ator de TV, mas ele era apenas um professor de inglês. Ele conseguiu convencer a Goode High School a me aceitar para o primeiro ano, apesar do fato de eu ter sido expulso de todas as escolas que frequentei. Eu tentei avisá-lo que não era uma boa ideia, mas ele não me deu ouvidos.

Eu olhei para minha mãe.

– Você não contou a ele a verdade sobre mim, não é?

Ela tamborilou os dedos nervosamente no volante. Ela estava vestida para uma entrevista de emprego – o seu melhor vestido azul e sapatos de salto alto.

– Pensei que deveríamos esperar – ela admitiu.

– Assim não o assustamos.

– Tenho certeza que a orientação correrá bem, Percy. É apenas uma manhã.

– Ótimo – resmunguei. – Eu posso ser expulso antes de começar o ano letivo.

– Pense positivo. Amanhã você vai para o acampamento! Depois da orientação, você tem seu encontro–

– Não é um encontro! – protestei. – É simplesmente Annabeth, mãe! Caramba!

– Ela está vindo do acampamento até aqui para encontrar você.

– Bem, sim.

– Vocês vão ao cinema.

– É.

– Só vocês dois.

– Mãe!

Ela ergueu suas mãos desistindo, mas eu podia dizer que ela estava se esforçando para não sorrir.

– Seria melhor você entrar, querido. Vejo você à noite.

Eu estava prestes a sair do carro quando olhei para os degraus da escola. Paul Blofis estava cumprimentando uma menina com cabelos crespos vermelhos. Ela usava uma camiseta grená e jeans rotos decorados com desenhos de marca-texto. Quando ela se virou, eu peguei um vislumbre de seu rosto e os pelos em meu braço se arrepiaram.

– Percy? – minha mãe perguntou. – O que está errado?

– N-nada – gaguejei. – A escola tem uma entrada lateral?

– Depois do bloco do lado direito. Por quê?

– Vejo você mais tarde.

Minha mãe começou a dizer algo, mas eu saí do carro e corri, esperando que a menina ruiva não me visse. O que ela estava fazendo aqui? Nem mesmo a minha sorte poderia ser tão ruim. É, certo. Eu estava prestes a descobrir que minha sorte poderia ser muito pior.



Entrar às escondidas na orientação não funcionou muito bem. Duas líderes de torcida em uniformes roxo e branco estavam de pé na entrada lateral, esperando para emboscar calouros.

– Oi!

Elas sorriram, o que eu presumi que seria a primeira e última vez que qualquer líder de torcida seria amigável assim comigo. Uma delas era loira com frios olhos azuis. A outra era afro-americana com cabelo escuro encaracolado como o da Medusa (e acredite, eu sei do que estou falando). Ambas tinham seus nomes costurados em letra cursiva no uniforme, mas com minha dislexia, as palavras pareciam um espaguete sem sentido.

– Bem-vindo à Goode – disse a garota loira. – Você vai adorar isso aqui!

Mas conforme ela me olhou de cima a baixo, a sua expressão disse algo mais como, Eca, quem é esse perdedor?

A outra menina se aproximou desconfortavelmente de mim. Eu estudei a costura em seu uniforme e li Kelly. Ela cheirava como rosas e algo mais que reconheci das aulas de equitação no acampamento – o cheiro de cavalos recém lavados. Era um cheiro estranho para uma líder de torcida. Talvez ela tenha um cavalo ou algo assim. Enfim, ela ficou tão perto que eu tive a sensação que ela iria tentar me empurrar pelas escadas.

– Qual é seu nome, calo?

– Calo?

– Calouro.

– Uh, Percy.

As meninas trocaram olhares.

– Oh, Percy Jackson – disse a loira. – Nós estávamos esperando por você.

Isso enviou um tremendo arrepio Uh-oh pelas minhas costas. Elas estavam bloqueando a entrada, sorrindo de uma maneira não muito amigável. Minha mão foi instintivamente em direção a meu bolso, onde guardo minha letal caneta esferográfica, Contracorrente. Então outra voz veio do interior do edifício.

– Percy? – Era Paul Blofis, em algum lugar no corredor. Eu nunca estive tão feliz em ouvir sua voz.

As líderes de torcida se afastaram. Eu estava tão ansioso para passar por elas que acidentalmente dei uma joelhada na coxa de Kelly.

Clang.

Sua perna fez um som oco, metálico, como se eu tivesse batido num mastro de bandeira.

– Ei – ela murmurou. – Cuidado, calo.

Eu olhei para baixo, mas a perna dela parecia uma perna normal. Eu estava muito assustado para fazer perguntas. Eu deslizei para o corredor, as líderes de torcida rindo atrás de mim.

– Aí está você! – Paul me falou. – Bem-vindo à Goode!

– Ei, Paul - hã, Sr. Blofis. – Eu olhei para trás, mas as esquisitas líderes de torcida tinham desaparecido.

– Percy, você parece que viu um fantasma.

– É, hã–

Paul me deu palmadas nas costas.

– Ouça, eu sei que você está nervoso, mas não se preocupe. Nós temos uma porção de garotos com TDAH e dislexia aqui. Os professores sabem como ajudar.

Eu quase quis rir. Como se apenas o TDAH e a dislexia fossem minhas maiores preocupações. Quer dizer, eu sabia que Paul estava tentando ajudar, mas se eu contasse a ele a verdade sobre mim, ele pensaria que eu estava louco ou sairia correndo gritando.

Aquelas líderes de torcida, por exemplo. Eu tinha um mau pressentimento sobre elas... Então eu olhei para o fundo do corredor, e me lembrei que tinha outro problema. A garota ruiva que eu vira nos degraus da frente estava passando pela entrada principal.

Não me note, rezei.

Ela me notou. Os olhos dela se arregalaram.

– Onde é a orientação? – perguntei ao Paul.

– No ginásio. Por aqui. Mas–

– Tchau.

– Percy? – ele chamou, mas eu já estava correndo.



Eu pensei que a tinha despistado.

Um monte de garotos e garotas estava indo para o ginásio, e logo eu era apenas um entre os trezentos adolescentes de quatorze anos de idade enchendo as arquibancadas.

Uma banda marcial tocou uma canção de luta fora do tom que soou como se alguém estivesse batendo num saco de gatos com um taco de beisebol de metal. Garotos mais velhos, provavelmente estudantes membros do conselho estudantil, estavam de pé na frente apresentando o uniforme da escola Goode e olhando para todos, Ei, nós somos o máximo. Professores circulavam em volta, sorrindo e apertando mãos de alunos. As paredes do ginásio eram cobertas com cartazes roxos e brancos que diziam BEM-VINDOS FUTUROS CALOUROS ou A GOODE É LEGAL ou ainda SOMOS TODOS UMA FAMÍLIA, e vários outros slogans alegres que me fizeram querer vomitar.

Nenhum dos outros calouros parecia excitado por estar aqui, também. Quer dizer, vir à orientação em junho, quando a escola sequer começa antes de setembro, não é legal.

Mas na Goode, “Preparamos para a excelência cedo!” Pelo menos isso é o que o panfleto dizia.

A banda parou de tocar. Um cara em um terno de risca de giz foi até o microfone e começou a falar, mas o som ecoou ao redor do ginásio, então eu não fazia ideia sobre o que ele estava falando. Poderia ter sido um gargarejo.

Alguém agarrou meu ombro.

– O que você está fazendo aqui?

Era ela: meu pesadelo ruivo.

– Rachel Elizabeth Dare – eu disse.

Seu queixo caiu como se ela não pudesse acreditar que eu tivesse a coragem de lembrar o nome dela.

– E você é Percy alguma coisa. Eu não peguei seu nome inteiro em dezembro passado quando você tentou me matar.

– Olha, eu não estava - eu não queria - O que você está fazendo aqui?

– O mesmo que você, acho. Orientação.

– Você mora em Nova York?

– O que, você pensou que eu vivia na represa Hoover?

Isso nunca me ocorreu. Sempre que eu pensava sobre ela (e eu não estou dizendo que eu pensava sobre ela; ela só atravessava minha mente de vez em quando, ok?), eu sempre imaginei que ela vivia na área da represa Hoover, já que foi lá que eu a conheci. Tínhamos gasto talvez dez minutos juntos, e nesse tempo eu acidentalmente a golpeara com minha espada, ela salvara a minha vida, e eu tinha fugido perseguido por um bando de máquinas de matar sobrenaturais. Você sabe, um típico encontro casual.

Um cara atrás de nós sussurrou:

– Ei, calem a boca. As líderes de torcida estão falando!

– Oi, gente! – uma garota borbulhou no microfone. Era a loira que eu vira na entrada. – Meu nome é Tammi, e ela é tipo, Kelli.

Kelli deu um mortal.

Próxima a mim, Rachel ganiu como se alguém tivesse enfiado um alfinete nela. Alguns garotos olharam e riram entre dentes, mas apenas Rachel encarou as líderes de torcida com horror. Tammi não pareceu notar o acesso. Ela começou a falar sobre todas as atividades maravilhosas nas quais poderíamos nos envolver durante nosso primeiro ano.

– Corra – Rachel me falou. – Agora.

– Por quê?

Rachel não explicou. Ela abriu caminho até a beirada da arquibancada, ignorando os professores de sobrancelhas franzidas e os garotos resmungões nos quais ela estava pisoteando. Eu hesitei. Tammi estava explicando como estávamos prestes a nos separar em pequenos grupos e fazer um tour pela escola. Kelli captou meu olhar e me deu um sorriso divertido, como se ela estivesse esperando para ver o que eu ia fazer. Iria parecer ruim se eu saísse logo agora. Paul Blofis estava lá com o resto dos professores. Ele iria se perguntar o que estava errado.

Então pensei em Rachel Elizabeth Dare, e na habilidade especial que ela mostrara inverno passado na represa Hoover. Ela tinha sido capaz de ver um grupo de guardas de segurança que não eram guardas na verdade, que não eram sequer humanos. Com meu coração batendo, eu me levantei e a segui para fora do ginásio.



Eu achei Rachel na sala de música. Ela estava escondida atrás de um tambor na seção de percussão.

– Venha aqui! – ela disse. – Mantenha sua cabeça baixa!

Eu me senti muito bobo me escondendo atrás de um bando de bongôs, mas me agachei ao lado dela.

– Elas te seguiram? – Rachel perguntou.

– Você quer dizer as líderes de torcida?

Ela assentiu nervosamente.

– Eu acho que não – falei. – O que são elas? O que você viu?

Seus olhos verdes brilhavam de medo. Ela tinha um bocado de sardas no rosto, o que me lembrava constelações. Em sua camiseta grená estava escrito DEPARTAMENTO DE ARTE DE HARVAD.

– Você... você não iria acreditar em mim.

– Oh, sim, eu iria – prometi. – Eu sei que você pode ver através da Névoa.

– A o quê?

– A Névoa. É... bem, é como um véu que esconde a forma como as coisas realmente são. Alguns mortais nascem com a capacidade de ver através dela. Como você.

Ela me estudou atentamente.

– Você fez isso na represa Hoover. Você me chamou de mortal. Como se você não fosse.

Tive vontade de socar um bongô. O que eu estava pensando? Eu jamais poderia explicar. Eu não deveria sequer tentar.

– Diga-me – ela implorou. – Você sabe o que isso significa. Todas essas coisas horríveis que eu vejo?

– Olhe, isso vai parecer estranho. Você sabe alguma coisa sobre mitos gregos?

– Como... o Minotauro e a Hidra?

– É, só tente não dizer esses nomes quando estou por perto, ok?

– E as Fúrias – ela disse, animando-se. – E as sereias, e–

– Ok! – Eu olhei ao redor da sala de música, certo de que Rachel ia fazer um bando de nojentos sedentos de sangue saírem das paredes; mas nós ainda estávamos sozinhos.

Abaixo no corredor, eu ouvi uma multidão de garotos e garotas saindo do ginásio. Eles estavam começando o tour em grupos. Nós não tínhamos muito tempo para conversar.

– Todos esses monstros – falei, – todos os deuses gregos - eles são reais.

– Eu sabia!

Eu teria ficado mais confortável se ela me chamasse de mentiroso, mas Rachel demonstrava que eu só confirmara a sua pior suspeita.

– Você não sabe o quanto tem sido difícil – ela disse. – Durante anos eu pensei que estava enlouquecendo. Eu não podia dizer a ninguém. Eu não podia – os olhos dela se estreitaram. – Espere. Quem é você? Quero dizer realmente?

– Eu não sou um monstro.

– Bem, eu sei disso. Eu poderia ver se você fosse. Você parece... você. Mas você não é humano, é?

Eu engoli em seco. Mesmo tendo três anos para me habituar a quem eu era, eu nunca falara sobre isso com um mortal normal antes – quer dizer, exceto com minha mãe, mas ela já sabia. Não sei por quê, mas arrisquei.

– Eu sou um meio-sangue – disse. – Sou meio humano.

– E metade o quê?

Bem aí Tammi e Kelli entraram na sala de música. As portas bateram e fecharam atrás delas.

– Aí está você, Percy Jackson – Tammi falou. – É hora da sua orientação.



– Elas são horríveis! – Rachel arquejou.

Tammi e Kelli ainda estavam vestindo o traje roxo e branco de líderes de torcida, segurando pompons da apresentação.

– Qual a aparência real delas? – perguntei, mas Rachel parecia atordoada demais para responder.

– Oh, esqueça-a. – Tammi me deu um sorriso brilhante e começou a andar em nossa direção. Kelli ficou perto das portas, bloqueando a nossa saída.

Elas nos cercaram. Eu sabia que nós teríamos que lutar para sair, mas o sorriso de Tammi era tão deslumbrante que me distraía. Seus olhos azuis eram lindos, e a forma como seus cabelos caiam sobre seus ombros...

– Percy – Rachel alertou.

Eu disse algo realmente inteligente como, “Hããã?”

Tammi foi chegando mais perto. Ela ergueu seus pompons.

– Percy! – A voz de Rachel parecia vir de um lugar distante. – Acorde!

Precisou de toda a minha força de vontade, mas eu tirei minha caneta de dentro do meu bolso e a destampei. Contracorrente cresceu em uma espada de bronze com um metro de comprimento, sua lâmina brilhando com uma tênue luz dourada. O sorriso de Tammi ficou desdenhoso.

– Ah, vamos lá – ela protestou. – Você não precisa disso. Que tal um beijo em vez disso?

Ela cheirava a rosas e pelo de animal limpo – um cheiro estranho, mas de alguma forma intoxicante.

Rachel beliscou meu braço, com força.

– Percy, ela quer morder você! Olhe para ela!

– Ela está com inveja – Tammi olhou para Kelli. – Posso, senhora?

Kelli ainda estava bloqueando a porta, lambendo seus lábios, faminta.

– Vá em frente, Tammi. Você está indo bem.

Tammi deu outro passo a frente, mas eu nivelei a ponta da minha espada em seu peito.

– Recue.

Ela rosnou.

– Calouros – ela disse com nojo. – Esta é nossa escola, meio-sangue. Nós nos alimentamos de quem nós escolhermos.

Então ela começou a mudar. A cor foi drenada de seu rosto e braços. Sua pele se tornou branca como giz, seus olhos completamente vermelhos. Seus dentes cresceram em presas.

– Uma vampira! – eu gaguejei. Então notei suas pernas. Por baixo da sua saia de líder de torcida, sua perna esquerda era marrom e peluda com um casco de burro. Sua perna direita era moldada como uma perna humana, mas era feita de bronze. – Hum, uma vampira com–

– Não mencione as pernas! – Tammi cortou. – É rude fazer piada!

Ela avançou nas suas estranhas, incompatíveis pernas. Ela parecia totalmente bizarra, especialmente com os pompons, mas eu não podia rir – não encarando aqueles olhos vermelhos e presas afiadas.

– Uma vampira, você disse? – Kelli riu. – Aquela lenda boba foi baseada em nós, seu idiota. Nós somos empousas, servas de Hécate.

– Mmmm. – Tammi chegou mais perto de mim. – Magia negra nos formou a partir de animais, bronze, e fantasma! Nós existimos para nos alimentarmos do sangue de jovens homens. Agora venha e me dê aquele beijo!

Ela arreganhou suas presas. Eu estava tão paralisado que não pude me mexer, mas Rachel jogou um tambor na cabeça da empousa.

O demônio silvou e rebateu o tambor para longe. Ele foi rolando ao longo do corredor entre os suportes das partituras, suas molas batendo contra o couro. Rachel jogou um xilofone, mas o demônio só o jogou de lado também.

– Eu não costumo matar meninas – Tammi rosnou. – Mas para você, mortal, eu farei uma exceção. Sua visão é boa demais!

Ela investiu contra Rachel.

– Não! – eu cortei com Contracorrente. Tammi tentou se desviar da minha lâmina, mas eu a fatiei direto através do seu uniforme de líder de torcida, e com um grito horrível ela explodiu em poeira sobre Rachel.

Rachel tossiu. Ela parecia que acabara de ter um saco de farinha despejado sobre cabeça dela.

– Que nojo!

– Monstros fazem isso – eu disse. – Desculpe.

– Você matou minha estagiária! – Kelli gritou. – Você precisa de uma lição sobre espírito escolar, meio-sangue!

Então ela também começou a mudar. Seu cabelo crespo se tornou chamas cintilantes. Seus olhos se tornaram vermelhos. Suas presas cresceram. Ela se voltou para nós, seu pé de bronze e sua pata galoPãdo desigualmente no chão da sala da banda.

– Eu sou a empousa mais velha – ela rosnou. – Nenhum herói me derrotou em mil anos.

– É? – eu disse. – Então você passou da hora!

Kelli era muito mais rápida que Tammi. Ela se esquivou do meu primeiro golpe e rolou para a seção dos metais, derrubando uma fileira de trombones com um tremendo estrondo. Rachel saiu do caminho. Eu me coloquei entre ela e a empousa. Kelli nos circundou, os olhos dela indo de mim para a espada.

– Uma espada tão bonita – ela falou. – Que pena que está entre nós.

Sua forma tremeluziu – algumas vezes um demônio, outras uma bonita líder de torcida. Eu tentei manter minha mente focada, mas aquilo era realmente uma distração.

– Pobre querido. – Kelli riu. – Você nem sabe o que está acontecendo, sabe? Logo, seu lindo acampamentozinho estará em chamas, seus amigos serão escravos do Senhor do Tempo, e não há nada que você possa fazer para impedir. Seria misericordioso terminar sua vida agora, antes que você tenha que ver isso.

Do corredor, eu ouvi vozes. Um grupo do tour estava se aproximando. Um homem estava dizendo alguma coisa sobre combinações de armários.

Os olhos da empousa se iluminaram.

– Excelente! Estamos prestes a ter companhia!

Ela pegou uma tuba e jogou em mim. Rachel e eu nos abaixamos. A tuba passou por cima de nossas cabeças e quebrou o vidro da janela.

As vozes no corredor morreram.

– Percy! – Kelli gritou, fingindo estar com medo, – por que você jogou aquilo?

Fiquei muito surpreso para responder. Kelli pegou um stand de música e golpeou uma fila de clarinetes e flautas. Cadeiras e instrumentos musicais caíram no chão.

– Pare! – falei.

As pessoas estavam correndo pelo corredor agora, vindo em nossa direção.

– Hora de cumprimentar nossos visitantes! – Kelli arreganhou suas presas e foi correndo para a porta. Eu fui atrás dela com Contracorrente. Eu tinha que impedi-la de machucar os mortais.

– Percy, não! – Rachel gritou. Mas eu não percebi o que Kelli ia fazer até que fosse tarde demais.

Kelli se arremessou abrindo as portas. Paul Blofis e um bando de calouros deram um passo pra trás em choque. Levantei minha espada. No último segundo, a empousa se virou para mim como uma pobre vítima.

– Oh não, por favor! – ela chorou. Eu não pude parar minha lâmina. Já estava em movimento. Pouco antes do bronze celestial atingi-la, Kelli explodiu em chamas como um coquetel molotov. Ondas de fogo espirraram sobre tudo. Eu nunca vira um monstro fazer aquilo antes, mas eu não tive tempo de pensar sobre isso. Eu voltei para dentro da sala da banda conforme as chamas engoliram a porta.

– Percy? – Paul Blofis parecia completamente atordoado, olhando para mim através do fogo. – O que você fez?

Garotos gritavam e corriam pelo corredor. O alarme de incêndio disparou. Os regadores do teto ganharam vida. No caos, Rachel puxou a minha manga.

– Você tem que sair daqui!

Ela tinha razão. A escola estava em chamas e eu seria responsabilizado. Mortais não podem ver através da Névoa corretamente. Para eles iria parecer que eu acabara de atacar uma indefesa líder de torcida na frente de um grupo de testemunhas. De forma alguma eu conseguiria explicar isso. Eu me afastei de Paul e corri para a janela quebrada da sala de música.



Eu irrompi para fora do beco na 81 leste e dei de cara com Annabeth.

– Ei, você saiu mais cedo! – ela riu, agarrando meus ombros para evitar que eu caísse na rua. – Olhe pra onde você está indo, Cabeça de Alga.

Por meio segundo ela estava de bom humor e tudo estava bem. Ela estava vestindo jeans e uma camiseta laranja do Acampamento e seu colar de contas de argila. Seu cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo. Seus olhos cinzentos brilhavam. Ela parecia que estava pronta para assistir a um filme, ter uma tarde legal saindo juntos. Então Rachel Elizabeth Dare, ainda coberta de poeira de monstro, saiu do beco exigindo, gritando:

– Percy, espere!

O sorriso de Annabeth derreteu. Ela encarou Rachel, e depois a escola. Pela primeira vez, ela pareceu notar a fumaça preta e o toque do alarme de incêndio.

Ela franziu as sobrancelhas para mim.

– O que você fez desta vez? E quem é essa?

– Ah, Rachel... Annabeth. Annabeth... Rachel. Hum, ela é uma amiga, eu acho.

Eu não tinha certeza do que chamar Rachel. Quer dizer, eu mal a conhecia, mas depois de estar em duas situações de vida ou morte juntos, eu não podia simplesmente dizer que era ninguém.

– Oi – disse Rachel. Então ela se virou para mim. – Você está muito encrencado. E você ainda me deve uma explicação!

Sirenes de carros de polícia soaram na FDR Drive.

– Percy – Annabeth disse friamente. – Nós devemos ir.

– Eu quero saber mais sobre meio-sangues – Rachel insistiu. – E monstros. E esta coisa sobre os deuses. – Ela agarrou meu braço, tirando depressa um marcador permanente, e escreveu um número de telefone na minha mão. – Você vai me ligar e explicar, ok? Você me deve isso. Agora vá.

– Mas–

– Eu vou inventar alguma história – disse Rachel. – Eu vou dizer a eles que não foi sua culpa. Vá!

Ela correu de volta para a escola, deixando Annabeth e eu na rua. Annabeth me encarou por um segundo, então se virou e correu.

– Ei! – Corri atrás dela. – Havia essas duas empousas – tentei explicar. – Eram líderes de torcida, sabe, e elas disseram que o acampamento vai pegar fogo, e–

– Você disse a uma garota mortal sobre meio-sangues?

– Ela pode ver através da Névoa. Ela viu os monstros antes de mim.

– Então você lhe disse a verdade?

– Ela me reconheceu da represa Hoover, então–

– Você já a conhecia?

– Hum, do inverno passado. Mas sério, eu mal a conheço.

– Ela é bonitinha.

– E-eu nunca pensei sobre isso.

Annabeth continuou andando em direção à York Avenue.

– Eu vou lidar com a escola – prometi ansioso para mudar o assunto. – Honestamente, vai ficar tudo bem.

Annabeth nem mesmo olhava pra mim.

– Eu acho que nossa tarde já era. Melhor tirarmos você daqui, agora que a polícia irá sair a sua procura.

Atrás de nós, a fumaça ondeava da Goode High School. Nas escuras colunas de cinzas, eu achei que quase pude ver um rosto – um demônio com olhos vermelhos, rindo de mim.

Seu lindo acampamentozinho em chamas, Kelli dissera. Seus amigos transformados em escravos do Senhor do Tempo.

– Você está certa – eu falei para Annabeth, meu coração afundando. – Nós temos que ir para o Acampamento Meio-Sangue. Agora.

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