sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A Batalha do labirinto - capitulo 20




         Minha festa de aniversário sofre uma sombria reviravolta

O resto do verão pareceu estranho porque foi muito normal. As atividades diárias continuaram: arco e flecha, alpinismo, cavalgar pégasos. Nós jogamos captura da bandeira (apesar de todos termos evitado o Punho de Zeus). Nós cantamos na fogueira e corremos com bigas e pregamos peças nos outros chalés. Eu passei muito tempo com Tyson, brincando com a Sra. O’Leary, mas ela ainda uivava durante a noite quando se sentia solitária sem seu antigo dono. Annabeth e eu estávamos nos evitando. Eu estava feliz por estar com ela, mas isso também meio que machucava, e machucava quando eu não estava com ela também.

Eu queria falar com ela sobre Cronos, mas eu não podia fazer isso sem mencionar Luke. E esse era o assunto que eu não podia levantar. Ela me cortava sempre que eu tentava.

Julho passou, com fogos de artifício no dia 4 na praia. Agosto ficou tão quente que os morangos começaram a assar nos campos. Finalmente, o último dia de acampamento chegou. A carta padronizada de sempre apareceu em minha cama depois do café da manhã, alertando que as harpias da limpeza me devorariam se eu permanecesse lá depois do meio-dia.

Às dez horas eu estava no topo da colina Meio-Sangue, esperando pela van do acampamento que me levaria até a cidade. Eu tinha feito preparativos para deixar a Sra. O’Leary no acampamento, onde Quíron me prometera que cuidaria dela. Tyson e eu nos revezaríamos visitando-a durante o ano.

Eu tinha esperanças que Annabeth fosse comigo de van para Manhattan, mas ela apenas veio para me ver ir embora. Ela disse que tinha programado permanecer no acampamento um pouco mais. Ela ajudaria Quíron até que a perna dele estivesse totalmente recuperada, e continuaria estudando o notebook de Dédalo, que a absorveu pelos últimos dois meses. Então ela iria direto para casa do pai em São Francisco.

– Há uma escola particular lá para onde eu vou – ela disse. – Eu provavelmente vou detestar, mas... – ela deu os ombros.

– É, bem, me liga, ok?

– Claro – ela disse sem confiança. – Eu vou manter meus olhos abertos para…

Lá estava de novo. Luke. Ela não conseguia sequer dizer o nome dele sem abrir uma grande caixa de dor e preocupação e raiva.

– Annabeth – falei. – Qual era o resto da profecia?

Ela fixou o bosque à distância, mas não disse nada.

– Descerás na escuridão do labirinto infinito – eu relembrei. – O morto, o traidor, e o perdido reerguidos. Erguemos muitos mortos. Nós salvamos Ethan Nakamura, que acabou sendo um traidor. Nós erguemos o espírito de Pã, que estava perdido.

Annabeth sacudiu a cabeça como se quisesse que eu parasse.

– Ascenderás ou cairás pelas mãos do rei espectral – eu a pressionei. – Esse não era Minos, como eu tinha pensado. Era Nico. Por ter escolhido ficar ao nosso lado, ele nos salvou. Da criança de Atena, a defesa final... - esse era Dédalo.

– Percy...

– A destruição virá quando o último suspiro do herói acontecer. Isso faz sentido agora. Dédalo morreu para destruir o labirinto. Mas o qual era o último...

– E perderás um amor para algo pior que morrer.

Annabeth tinha lágrimas nos olhos.

– Este era o último verso, Percy. Você está feliz agora?

O sol parecia mais frio do que a um momento atrás.

– Ah – falei. – Então Luke–

– Percy, eu não sabia de quem a profecia estava falando. Eu-eu não sabia se… – Ela vacilou desamparadamente. – Luke e eu... por anos, ele foi o único que realmente se importou comigo. Eu pensei…

Antes que ela pudesse continuar, um lampejo de luz apareceu próximo a nós, como se alguém tivesse aberto uma cortina de ouro no ar.

– Você não tem nada pelo que se desculpar, minha querida. – De pé na colina havia uma mulher alta em um vestido branco, seus cabelos negros trançados sobre o ombro.

– Hera – Annabeth disse.

A deusa sorriu.

– Você encontrou as respostas, como eu sabia que faria. Sua missão foi um sucesso.

– Um sucesso? – Annabeth disse. – Luke se foi. Dédalo está morto. Pã está morto. Como isto é–

– Nossa família está a salvo – Hera insistiu. – Esses outros estão melhores mortos, minha querida. Estou orgulhosa de você.

Eu fechei meus punhos. Eu não podia acreditar no que ela estava dizendo.

– Foi você quem pagou Geríon para nos deixar passar pelo rancho, não foi?

Hera deu os ombros. O vestido dela brilhava nas cores do arco-íris.

– Eu queria apressá-los no seu caminho.

– Mas você não se importou com Nico. Você estava feliz em vê-lo sendo entregue para os Titãs.

– Oh, por favor – Hera balançou a mão negativamente. – O próprio filho de Hades disse. Ninguém o quer por perto. Ele não se encaixa.

– Hefesto estava certo – rosnei. – Você somente se importa com a sua família perfeita, não com pessoas reais.

Os olhos dela ficaram perigosamente brilhantes.

– Cuidado com a língua, filho de Poseidon. Eu o guiei mais do que sabe no labirinto. Eu estava do seu lado quando você enfrentou Geríon. Eu fiz sua flecha voar certeira. Eu o enviei para a ilha da Calipso. Eu abri o caminho para a montanha do Titã. Annabeth, minha querida, certamente você vê o quanto eu ajudei. Eu apreciaria um sacrifício pelos meus esforços.

Annabeth ficou parada como uma estátua. Ela poderia ter agradecido. Poderia ter prometido jogar algum churrasco no braseiro para Hera e esquecer a coisa toda. Mas ela firmou o queixo teimosamente. Ela estava como quando enfrentou a Esfinge – como se ela não fosse aceitar uma resposta fácil, mesmo que isso a colocasse em sérios problemas. Eu me dei conta de que isso era uma das coisas que eu mais gostava em Annabeth.

– Percy está certo. – Ela virou as costas para a deusa. – Você é que não pertence a esse lugar, Rainha Hera. Então na próxima vez, obrigada... mas não vamos querer nada.

O sorriso de escárnio de Hera era pior que o da empousa. Sua forma começou a brilhar.

– Você vai se arrepender por este insulto, Annabeth. Você vai se arrepender muito disso.

Eu desviei meus olhos quando a deusa se transformou em sua verdadeira forma divina e desapareceu em uma explosão de luz.

O topo da colina estava pacífico novamente. No pé do pinheiro Peleu, o dragão, cochilava embaixo do Velocino de Ouro como se nada tivesse acontecido.

– Me desculpe – Annabeth me disse. – E-eu devo voltar. Eu vou manter contato.

– Ouça, Annabeth – eu pensei sobre o Monte Santa Helena, a Ilha de Calipso, Luke e Rachel Elizabeth Dare, e sobre como de repente tudo ficara tão complicado. Eu queria falar para Annabeth que eu realmente não queria ficar tão distante dela.

Então Argo buzinou na estrada abaixo, e eu perdi minha chance.

– É melhor você ir andando – Annabeth disse. – Se cuida, Cabeça de Alga.

Ela correu colina abaixo. Eu a observei até ela alcançar os chalés. Ela não olhou para trás nem uma vez.



Dois dias depois foi meu aniversário. Eu nunca fiz propaganda da data, porque ela sempre caía exatamente depois do acampamento, então nenhum dos meus amigos de acampamento podia vir normalmente, e eu não tinha tantos amigos mortais. Além disso, ficar mais velho não parecia algo para celebrar uma vez que eu tinha sobre mim uma grande profecia que dizia que eu iria destruir ou salvar o mundo quando fizesse dezesseis. Agora eu estava fazendo quinze. Eu estava ficando sem tempo.

Minha mãe me fez uma pequena festa em nosso apartamento. Paul Blofis veio, mas tudo bem porque Quíron havia manipulado a Névoa para convencer todos na Goode High School que eu não tivera nada a ver com a explosão da sala de música. Agora Paul e as outras testemunhas estavam convencidos que Kelli fora uma louca, líder de torcida arremessadora de explosivos, enquanto eu tinha sido simplesmente um inocente espectador que havia entrado em pânico e fugido da cena. Eu ainda teria permissão para começar como calouro na Goode mês que vem. Se eu quisesse manter meu recorde de ser chutado de uma escola todos os anos, teria que tentar com mais vontade.

Tyson veio para minha festa também, e minha mãe cozinhara dois bolos azuis extras só para ele. Enquanto Tyson ajudava minha mãe a encher os balões de festa, Paul Blofis me pediu para ajudá-lo na cozinha.

Enquanto nós estávamos servindo o ponche, ele disse:

– Eu soube que sua mãe te inscreveu para aulas de direção nesse outono.

– É. Legal. Eu mal posso esperar.

Sinceramente, eu tinha andado excitado sobre conseguir minha licença, mas acho que meu coração já não estava nisso, e Paul podia perceber. De uma maneira estranha ele me lembrava Quíron às vezes, como se ele pudesse olhar para você e realmente ver seus pensamentos. Eu acho que era aquela aura de professor.

– Você teve um verão difícil – ele disse. – Imagino que você perdeu alguém importante. E... problemas com garotas?

Eu o encarei.

– Como você sabe disso? A minha mãe–

Ele levantou as mãos.

– Sua mãe não disse nada. E eu não vou me intrometer. Eu apenas sei que há algo diferente com você, Percy. Você deve ter muita coisa acontecendo que eu não consigo entender. Mas eu também já tive quinze anos, e apenas estou adivinhando pela sua expressão... Bem, você teve um tempo difícil.

Eu confirmei com a cabeça. Eu prometera a minha mãe que contaria a Paul a verdade sobre mim, mas agora não pareceu a hora. Ainda não.

– Eu perdi dois amigos no acampamento que eu vou – falei. – Quero dizer, não amigos íntimos, mesmo assim–

– Eu sinto muito.

– É. E, hã, acho que sobre essa coisa de garotas…

– Aqui. – Paul me passou um pouco de ponche. – Ao seu aniversário de quinze anos. E a um ano melhor por vir.

Nós brindamos com nossos copos de papel e bebemos.

– Percy, eu meio que me sinto mal dando mais uma coisa pra você pensar – Paul disse – mas eu queria perguntar algo.

– Sim?

– Sobre garotas.

Eu franzi a testa.

– O que você quer dizer?

– Sua mãe – Paul disse. – Eu estou pensando em propor a ela...

Eu quase derrubei meu copo.

– Você quer dizer... casar com ela? Você e ela?

– Bem, essa era a ideia geral. Isso estaria bem pra você?

– Você está pedindo minha permissão?

Paul coçou sua barba.

– Não sei se é uma permissão, mas ela é sua mãe. E sei que você está passando por muita coisa. Eu não me sentiria bem se não falasse com você sobre isso primeiro, de homem pra homem.

– De homem pra homem – repeti.

Isso soou estranho. Eu pensei sobre Paul e minha mãe, como ela sorria e ria mais quando ele estava por perto, e como Paul tinha saído de seu caminho para me colocar no ensino médio. Eu me peguei dizendo:

– Eu acho que é uma grande ideia, Paul. Vá em frente.

Ele deu um sorriso enorme.

– Saúde, Percy. Vamos nos juntar à festa.



Eu estava me preparando para assoprar as velas quando a campainha tocou. Minha mãe franziu a testa.

– Quem pode ser?

Era estranho, porque nosso novo prédio tinha um porteiro, mas ele não tinha ligado nem nada. Minha mãe abriu a porta e arquejou.

Era o meu pai. Ele estava vestindo uma bermuda e uma camisa havaiana e sandálias de couro, como ele sempre usa. Sua barba preta fora cuidadosamente aparada e seus olhos verde-mar brilhavam. Ele usava um chapéu gasto decorado com iscas de pesca. Ele dizia CHAPÉU DE PESCARIA DA SORTE DE NETUNO.

– Pos... – Minha mãe se interrompeu. Ela estava corando até a raiz dos cabelos. – Hum, olá.

– Olá, Sally – Poseidon disse. – Você parece linda como sempre. Posso entrar?

Minha mãe fez um chiado que pode ter sido tanto um “Sim” como “Ajuda.” Poseidon tomou como um sim e entrou.

Paul estava olhando de um lado para outro entre nós, tentando ler nossas expressões. Finalmente ele deu um passo à frente.

– Oi, eu sou Paul Blofis.

Poseidon levantou suas sobrancelhas enquanto eles apertavam as mãos.

– Baiacu, você disse?

– Ah, não. Blofis, na verdade.

– Ah, sim – Poseidon disse. – Uma pena. Eu que gosto de baiacu. Eu sou Poseidon.

– Poseidon? É um nome interessante.

– Sim, eu gosto dele. Eu já fui chamado de outros nomes, mas eu prefiro Poseidon.

– Como o deus dos mares.

– Bem como isso, sim.

– Bem! – minha mãe interrompeu. – Hum, nós estamos tão felizes que você pôde vir. Paul, este é o pai de Percy.

– Ah. – Paul assentiu, embora ele não parecesse muito satisfeito. – Claro.

Poseidon sorriu para mim.

– Aí está você, meu garoto. E Tyson, olá, filho!

– Papai! – Tyson pulou através da sala e deu em Poseidon um grande abraço, que quase derrubou seu chapéu de pescaria.

O queixo de Paul caiu. Ele encarou minha mãe.

– Tyson é…

– Não é meu – ela prometeu. – É uma longa história.

– Eu não podia perder a festa do décimo quinto aniversário de Percy – Poseidon disse. – Pois, se fosse em Esparta, Percy seria um homem hoje!

– Isso é verdade – Paul disse. – Eu costumava ensinar história antiga.

Os olhos de Poseidon brilharam.

– Esse sou eu. História antiga. Sally, Paul, Tyson… vocês se importariam se eu pegasse Percy emprestado por um momento?

Ele pôs seu braço em volta de mim e me dirigiu até a cozinha.



Assim que nós ficamos sozinhos, seu sorriso desapareceu.

– Você está bem, meu garoto?

– É. Eu estou bem. Acho.

– Eu ouvi histórias – Poseidon disse. – Mas eu queria ouvi-las diretamente de você. Conte-me tudo.

Então eu contei. Foi meio desconcertante, porque Poseidon ouvia tão intensamente. Seus olhos nunca deixaram minha face. Sua expressão não mudou durante todo tempo que eu falei. Quando terminei, ele assentiu devagar.

– Então Cronos realmente está de volta. Não vai demorar muito antes que a guerra esteja sobre nós.

– E sobre Luke? – perguntei. – Ele realmente se foi?

– Eu não sei, Percy. Isso é muito perturbador.

– Mas o corpo dele é mortal. Vocês não poderiam simplesmente destruí-lo?

– Mortal, talvez, mas há algo diferente em Luke, meu garoto. Eu não sei como ele foi preparado para hospedar a alma do Titã, mas ele não será morto facilmente. E ainda assim, temo que ele deva ser morto se nós formos enviar Cronos de volta ao abismo. Eu terei que pensar nisso. Infelizmente, eu tenho outros problemas para cuidar.

Eu lembrei o que Tyson me dissera no começo do verão.

– Os velhos deuses do mar?

– Correto. A batalha veio até mim antes, Percy. Na verdade, eu não posso ficar muito tempo. Mesmo agora o oceano está em guerra consigo mesmo. É tudo que eu posso fazer para impedir os furacões e tornados de destruírem seu mundo da superfície, a luta é tão intensa.

– Me deixe descer lá – falei. – Me deixe ajudar.

Os olhos de Poseidon se enrugaram quando ele sorriu.

– Ainda não, meu garoto. Eu sinto que você será necessário aqui. O que me lembra... – Ele fez surgir uma bolacha de areia e o apertou na minha mão. – Seu presente de aniversário. Gaste sabiamente.

– Hum, gastar uma bolacha de areia?

– Oh, sim. No meu tempo, você podia comprar bastante coisa com uma bolacha de areia. Penso que você irá descobrir que ele ainda compra muita coisa, se usado na situação correta.

– Que situação?

– Quando a hora chegar – Poseidon disse, – eu acho que você saberá.

Eu fechei minha mão em volta da bolacha de areia, mas algo estava realmente me incomodando.

– Pai – falei – quando eu estava no labirinto, eu conheci Anteu. Ele disse... bem, ele disse que era seu filho favorito. Ele decorou sua arena com caveiras e...

– Ele as dedicou a mim – Poseidon completou. – E você está imaginando como alguém poderia fazer algo tão horrível em meu nome.

Eu assenti desconfortavelmente.

Poseidon colocou sua mão bronzeada no meu ombro.

– Percy, seres inferiores fazem coisas horríveis em nome dos deuses. Isso não significa que nós deuses aprovamos. O modo como nossos filhos e filhas agem em nossos nomes... bem, isso geralmente diz mais sobre eles do que sobre nós. E você, Percy, é meu filho favorito.

Ele sorriu e, naquele momento, só estar ali naquela cozinha com ele foi o melhor presente que eu já ganhei. Então minha mãe me chamou da sala de estar.

– Percy? As velas estão derretendo!

– É melhor você ir – Poseidon disse. – Mas, Percy, tem uma última coisa que você deveria saber. Aquele incidente no Monte Santa Helena...

Por um segundo eu achei que ele estava falando sobre Annabeth ter me beijado, e eu corei, mas então me dei conta que ele estava falando sobre algo muito maior.

– As erupções continuam – ele disse. – Tifão está se agitando. É muito provável que logo, em alguns meses, talvez um ano no máximo, ele irá escapar de sua prisão.

– Eu sinto muito – disse. – Eu não queria...

Poseidon ergueu sua mão.

– Não é sua culpa, Percy. Teria acontecido mais cedo ou mais tarde, com Cronos acordando os monstros antigos. Mas tome cuidado, se Tifão acordar... não será como nada que você já enfrentou antes. A primeira vez que ele apareceu, todas as forças do Olimpo quase não foram suficientes para lutar contra ele. E quando ele se rebelar novamente, virá aqui, para Nova York. Ele virá diretamente para o Olimpo.

Esse era justamente o tipo de notícia maravilhosa que eu queria receber no meu aniversário, mas Poseidon deu algumas palmadinhas nas minhas costas como se tudo estivesse bem.

– Eu devo ir. Aproveite seu bolo.

E simplesmente assim ele se transformou em névoa e foi varrido através da janela por uma morna brisa marinha.



Demorou um pouco para convencer Paul que Poseidon tinha saído pela escada de incêndio, mas como pessoas não desaparecem no ar, ele não teve escolha a não ser acreditar.

Nós comemos bolo azul e sorvete até que não podíamos comer mais nada. Então jogamos uma porção de jogos de festa como charadas e Banco Imobiliário. Tyson não entendia as charadas. Ele ficava gritando a resposta que estava tentando mostrar por mímica, mas acabou que ele era muito bom em Banco Imobiliário. Ele me tirou do jogo nas primeiras cinco rodadas e começou a falir minha mãe e Paul. Eu os deixei jogando e fui para o meu quarto.

Eu deixei uma fatia de bolo azul intocada no meu criado-mudo. Depois tirei meu colar do Acampamento Meio-Sangue e deixei no parapeito. Havia três contas agora, representando meus três verões no acampamento – um tridente, o Velocino de Ouro, e o último: um intricado labirinto, simbolizando a Batalha do Labirinto, como os campistas começaram a chamá-la. Imaginei o que a conta do próximo ano seria, se eu ainda estivesse por perto para recebê-la. Se o acampamento sobrevivesse até o próximo verão.

Olhei para o telefone do lado da minha cama. Eu pensei em ligar para Rachel Elizabeth Dare. Minha mãe havia me perguntado se tinha mais alguém que eu queria convidar, e eu havia pensado na Rachel. Mas não liguei. Não sei por quê. A ideia me fez ficar quase tão nervoso quanto uma porta no Labirinto.

Eu apalpei meus bolsos e retirei minhas coisas – Contracorrente, um lenço, minha chave do apartamento. Então apalpei o bolso da minha camisa e senti um pequeno volume. Eu não tinha sequer percebido isso, mas estava usando a camisa branca de algodão que Calipso me dera em Ogígia. Eu tirei um pequeno pedaço de pano, desembrulhei, e encontrei o galho de enlace lunar. Era um pequeno ramo, murcho depois de dois meses, mas eu ainda podia sentir um leve cheiro do jardim encantado.

Isso me deixou triste.

Eu me lembrei do último pedido de Calipso para mim: Plante um jardim em Manhattan para mim, sim?

Eu abri a janela e pisei na saída de incêndio. Minha mãe mantinha um vaso para flores lá fora. Na primavera ela geralmente a enchia de flores, mas agora era tudo terra, esperando por algo novo. Estava uma noite clara. A lua estava cheia sobre a Rua Oitenta e Dois. Eu plantei o ramo seco de enlace lunar com cuidado na terra e o molhei com um pouco de néctar do meu cantil de acampamento.

No princípio nada aconteceu.

Então, diante dos meus olhos, uma pequena planta prateada germinou no solo – um pequeno enlace lunar, crescendo na morna noite de verão.

– Bela planta – uma voz disse.

Eu pulei. Nico di Angelo estava parado na saída de incêndio bem ao meu lado. Ele simplesmente apareceu lá.

– Desculpe – ele disse. – Não quis te assustar.

– Tudo - tudo bem. Quero dizer… o que você está fazendo aqui?

Ele tinha crescido um pouco nos últimos dois meses. O cabelo dele era uma grande confusão preta. Ele usava uma camiseta preta, jeans pretos, e um novo anel prateado com formato de caveira. Sua espada de aço estígio estava pendurada do seu lado.

– Eu explorei um pouco – ele disse. – Achei que você gostaria de saber, Dédalo recebeu sua punição.

– Você o viu?

Nico assentiu.

– Minos queria fervê-lo em fondue de queijo por uma eternidade, mas meu pai tinha outras ideias. Dédalo irá construir passarelas e rampas de acesso nos Campos Asfódelos por todo o tempo. Isso vai ajudar a diminuir o trânsito congestionado. Na verdade, eu acho que o velho homem está bem feliz com isso. Ele ainda está construindo. Ainda criando. E ele pode ver seu filho e Perdiz nos finais de semana.

– Isso é bom.

Nico bateu em seu anel prateado.

– Mas essa não é a verdadeira razão de eu ter vindo. Eu descobri algumas coisas. Quero lhe fazer uma oferta.

– O quê?

– O modo para vencer Luke – ele disse. – Se eu estiver certo, é a única maneira de você ter uma chance.

Eu respirei fundo.

– Ok. Estou ouvindo.

Nico olhou dentro do meu quarto. As sobrancelhas dele enrugaram.

– Aquilo é... aquilo é bolo de aniversário azul?

Ele soou faminto, talvez um pouco desejoso. Imaginei se a pobre criança alguma vez tivera uma festa de aniversário, ou se ele já fora convidado para uma.

– Entre e coma um pouco de bolo e sorvete – falei. – Parece que nós temos muito o que conversar.

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