sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 15





                                        Quiron da uma festa 

O centro da cidade era uma zona de guerra. Voávamos sobre pequenas batalhas, que estavam espalhadas por toda parte. Um gigante arrancava árvores em Bryant Park com tanta violência que as dríades eram atiradas longe como nozes. Fora do Waldorf Astoria, uma estátua de bronze de Benjamin Franklin foi fatiada por um enorme cão infernal como se fosse um rolo de jornal. Um trio de campistas de Hefesto combatia um esquadrão de dracaenae no meio do Rockfeller Center.

Eu fiquei tentado em parar e ajudar, mas soube que a partir da fumaça e do barulho, a verdadeira ação tinha se deslocado mais para o Sul. As nossas defesas estavam desmoronando. O inimigo estava nos cercando ao redor do Empire State Building.

Fizemos uma rápida varredura ao redor daquela área. As Caçadoras tinham criado uma linha defensiva na Rua 37, apenas três quadras ao norte do Olimpo. A leste da Park Avenue, Jake Mason e alguns outros campistas de Hefesto, levavam um exército de estátuas contra o inimigo. Para o oeste, os campistas de Demeter e os espíritos da natureza liderados por Grover, haviam transformado a Sexta Avenida em uma floresta atrasando um esquadrão de semideuses de Cronos. O sul estava limpo por enquanto, mas os flancos do exército inimigo já estavam se movimentando para lá. Em alguns minutos estaríamos totalmente cercados.

– Temos que descer onde eles mais precisarem de nós – eu murmurei.

Isso significa em qualquer lugar, chefe.

Na Rua 33 com o túnel da Park Avenue, eu avistei um estandarte com uma familiar coruja de prata no meio de uma feroz batalha. Annabeth e dois de seus irmãos estavam travando uma luta com um gigante do norte.

– Lá! – Eu falei para Blackjack.

Ele mergulhou em direção da batalha. Eu saltei de suas costas e aterrissei na cabeça do gigante. Quando o gigante olhou para cima, eu deslizei pelo seu rosto, rasgando seu nariz no caminho para baixo com contracorrente.

– RÁÁÁÁÁÁÁ! – O gigante recuou, sangue azul escorria de suas narinas.

Eu caí no pavimento e corri. O gigante soprou uma nuvem branca de neblina, e a temperatura caiu. O local onde eu havia caído há poucos segundos estava revestido de gelo, e eu estava coberto por flocos brancos como uma rosquinha de açúcar.

– Ei, feioso! – Annabeth gritou.

Eu esperava que fosse para o gigante e não pra mim. O hiperbóreo gritou e virou na direção dela, expondo as partes desprotegidas de suas pernas. Eu avancei e o espetei bem atrás do joelho.

– AAAAH! – O hiperbóreo vergou para a frente.

Esperei que virasse para mim, mas ele congelou. Quero dizer, ele literalmente virou um bloco sólido de gelo. Eu o acertei novamente, e apareceram fissuras em seu corpo. Elas foram ficando maiores até que o gigante se despedaçou em uma enorme montanha de cacos azuis.

– Obrigada – Annabeth contraiu-se, tentando tomar fôlego. – A porca?

– Virou costeleta – eu disse.

– Ótimo. – Ela flexionou seu ombro. Obviamente, a ferida ainda a estava incomodando, mas ela levantou seus olhos e disse. – Eu estou bem, Percy. Vamos lá! Ainda restam muitos inimigos!



Ela tinha razão. A próxima hora foi um borrão. Lutei como nunca antes havia lutado, atravessei legiões de dracaenae, matando dúzias de telquines em cada ataque, destruindo empousas e batendo em montes de semideuses inimigos. Não importavam quantos eu vencia, mais deles tomavam seu lugar.

Annabeth e eu corremos de quadra para quadra, tentando nos certificar de nossas defesas ainda estavam lá. Muitos de nossos amigos estavam caídos e feridos nas calçadas. E muitos haviam desaparecido.

Com o cair da noite a lua ficou mais alta, nós fomos obrigados a recuar metro após metro, até que restava apenas uma quadra de distância em qualquer direção para chegar ao Empire State Building. Em certo ponto Grover estava próximo de mim, golpeando as mulheres cobras na cabeça com sua clava. Em seguida, ele desapareceu no meio da multidão, e desta vez era Thalia, fazendo os monstros recuarem com o poder da magia de seu escudo. Sra. O’leary corria para todo o lugar, pegando um Lestrigão gigante em sua boca, e lançando para cima como se fosse um Frisbee. Annabeth usou seu boné de invisibilidade para se colocar atrás das linhas inimigas. Havia sempre um monstro com um olhar surpreso e desintegrando-se em seguida sem razão aparente, eu sabia que tinha sido Annabeth. Mas ainda não era suficiente.

– Mantenham suas posições! – Katie Gardner gritou, em algum lugar da minha esquerda.

O problema era que havia muito poucos de nós para deter tantos inimigos. A entrada para o Olimpo estava a uns sete metros atrás de mim. Um anel de semideuses corajosos, Caçadoras e espíritos da natureza guardavam as portas. Eu bati, cortei e destruí tudo que estava em meu caminho, estava muito cansado, não poderia estar em todo lugar ao mesmo tempo.

Atrás das tropas inimigas, a poucos quarteirões a leste, uma luz começou a brilhar. Eu pensei que era o nascer do sol.

Percebi que era Cronos avançando em nossa direção em uma carruagem dourada. Uma dezena de Lestrigões gigantes seguravam tochas à sua frente. Dois gigantes do norte carregavam estandartes preto e roxo.

O senhor Titã parecia forte e descansado, os seus poderes estavam em plena força. Ele avançava devagar, deixando-nos para desgastar cada vez mais. Annabeth apareceu ao meu lado.

– Temos recuar para a entrada. E defendê-la a todo custo!

Ela tinha razão. Eu estava prestes a dar a ordem quando ouvi uma trombeta de caça. Ele soou através dos ruídos da batalha como um alarme de incêndio. Um coro de trombetas responderam ao redor de nós, ecoando em todos os prédios de Manhattan.

Eu dei uma olhada para Thalia, mas ela amarrou a cara.

– Não são as caçadoras – ela assegurou-me. – Estamos todas aqui.

– Então, quem?

O som das trombetas aumentou. Eu não sabia de onde vinha por causa do eco, mas soou como se um exército inteiro se aproximasse.

Fiquei com medo, poderia ser mais inimigos, mas as forças de Cronos pareciam tão confusas quanto nós. Os gigantes abaixaram suas clavas. As dracaenae sibilaram. Mesmo Cronos e sua guarda de honra pareciam desconfortáveis.

Então, em nossa esquerda, uns cem monstros gritaram de uma só vez. O flanco norte inteiro de Cronos marchou em nossa direção. Pensei que estávamos condenados, mas não atacaram. Eles passaram por nós e se juntaram aos aliados do Sul. Novos toques de trombetas chacoalharam a noite. O ar tremulou. Em um borrão de movimentos, surgiu toda uma cavalaria que parecia ter chegado na velocidade da luz.

– Yeah, baby! – uma voz gritou. – Festa!

Uma chuva de setas passou por cima de nossas cabeças e encontraram nossos inimigos, vaporizando centenas de demônios. Mas estas não eram setas normais. Eles faziam um zumbido enquanto voavam tipo WHEEEEEE! Algumas tinham um cata-vento preso a elas. Outras tinham luvas de boxe ao invés de pontas.

– Centauros! – Annabeth gritou.

O exército dos Pôneis de Festa explodiu no meio de nós com uma confusão de cores: Camisas tingidas de arco-íris, perucas afro, enormes óculos escuros e caras pintadas para a guerra. Alguns tinham slogans escritos em suas costas como CAVALOS ARRASAM ou CRONOS É UM BOBALHÃO.

Centenas deles encheram o quarteirão. Meu cérebro não conseguia processar tudo ao mesmo tempo, mas eu sabia que se eu fosse o inimigo, estaria correndo.

– Percy! – Quíron gritou através daquele mar de centauros selvagens.

Ele estava vestido de armadura da cintura para cima, com seu arco nas mãos, abriu um sorriso de satisfação.

– Desculpe pelo atraso!

– CARAS! – Outro centauro gritou – conversem mais tarde. HORA DE DETONAR OS MONSTROS!

Ele engatilhou e apontou uma arma de paintball de cano duplo, atirando em seguida algo brilhante e rosa explodindo um cão infernal. A bala de tinta devia ter alguma mistura de bronze celestial, porque logo que o cachorro do inferno foi atingido, ele gritou e se dissolveu em uma poça rosa e preta.

– PÔNEIS DE FESTA! – um centauro gritou. – SUL DA FLÓRIDA!

Do outro lado do campo de batalha, uma segunda voz fanhosa gritou de volta:

– TEXAS, DIVISÃO CENTRAL!

– O HAVAÍ ARRASA! – uma terceira gritou.

Foi a coisa mais linda que eu já vi. Todo o exército dos Titãs virou e fugiu, empurrados para trás por uma avalanche de tiros de paintball, setas, espadas, e tacos de baseball. Os centauros pisavam em tudo no seu caminho.

– Parem de correr, seus idiotas! – Cronos gritou. – Fiquem e AJAAAM!

Esta última parte foi porque um hiperbóreo entrou em pânico e sentou em cima dele. O Senhor do Tempo desapareceu embaixo de uma enorme bunda azul.

Eles os empurraram por vários quarteirões até que Quíron gritou:

– Parem! Mantenham suas posições, parem!

Não foi fácil, mas finalmente a ordem chegou às últimas fileiras de centauros, e eles começaram a parar, deixando o inimigo escapar.

– Quíron é inteligente – Annabeth disse, limpando o suor de seu rosto. – Se prosseguirmos, vamos nos espalhar demais. Precisamos nos reagrupar.

– Mas os inimigos...

– Eles não estão derrotados – ela concordou. – Mas já vai amanhecer. Pelo menos ganhamos algum tempo.

Eu não gostei de ter recuado, mas eu sabia que ela estava certa. Eu assistia a dois telquines fugindo em direção ao Rio East. Depois, me virei e relutantemente voltei para o Empire State Building.



Criamos um perímetro de duas quadras, com uma tenda de comando no Empire State Building. Quíron nos informou que os Pôneis de Festa tinham enviado divisões de quase todos os estados: Quarenta da Califórnia, dois de Rhode Island, trinta de Illinois... Cerca de quinhentos no total tinham respondido ao convite e mesmo com tantos, não poderíamos defender mais do algumas quadras.

– Cara – disse um centauro chamado Larry. Sua camiseta o identificava como GRANDE CHEFE SUPER LEGAL, divisão novo México. – Isso foi mais divertido do que a nossa última convenção em Las Vegas!

– Sim – disse Owen da Dakota do Sul. Ele usava uma jaqueta negra de couro e um capacete antigo da segunda guerra. – Nós acabamos com eles!

Quíron bateu nas costas de Owen.

– Você fez bem, meu amigo, mas não vamos nos descuidar. Cronos não pode ser subestimado. Agora por que você não vai visitar o restaurante na Rua 33 e toma um bom café da manhã. Eu ouvi dizer que a divisão de Delaware encontrou um estoque de root beer

– Root beer – Eles saíram no galope um quase atropelando o outro.

Quíron sorriu.

Annabeth deu-lhe um grande abraço, e Sra. O'Leary uma lambida no seu rosto.

– Argh – grunhiu ele. – Chega disso, cão. Sim, estou feliz de vê-la também.

– Quíron, obrigado – eu disse. – Por salvar o dia.

Ele encolheu os ombros.

– Lamento por termos demorado. Centauros viajam rápido, como sabem. Podemos vencer qualquer distância galopando. No entanto, reunir todos não foi tarefa fácil. Os Pôneis de Festa não são exatamente organizados.

– Como vocês conseguiram atravessar as defesas mágicas em torno da cidade? – Annabeth perguntou.

– Elas nos atrasaram um pouco – admitiu Quíron – mas eu acho que elas foram principalmente destinadas a manter os mortais de fora. Cronos não quer os fracos seres humanos no caminho de sua grande vitória.

– Então talvez outros reforços possam chegar – eu disse esperançoso.

Quíron passou a mão em sua barba.

– Talvez, mas o tempo é curto. Logo que Cronos reagrupar, ele irá atacar novamente.

Desta vez, sem o elemento surpresa de nosso lado...

Eu percebi o que ele quis dizer. Cronos não foi derrotado. Não por muito tempo. Eu meio que tinha esperança que ele havia sido achatado pela enorme bunda do gigante do norte, mas por dentro eu sabia. Ele iria voltar, no mais tardar esta noite.

– E Tifão? – Eu perguntei.

O rosto de Quíron escureceu.

– Os deuses estão cansados. Dionísio foi incapacitado ontem. Tifão abateu sua carruagem e o Deus do vinho caiu em algum lugar dos Montes Apalaches. Ninguém o viu desde então. Hefesto também está fora de ação. Ele foi jogado tão violentamente de uma batalha que acabou criando um novo lago na Virginia do Oeste. Ficará bem em breve, mas não o suficiente para ajudar. Os outros ainda lutam. Eles conseguiram atrasar a chegada de Tifão. Mas o monstro não pode ser detido. Ele vai estar em Nova York, mais ou menos nesta hora amanhã. Então ele e Cronos combinarão suas forças...

– Então que chances teremos? – Eu disse. – Nós nem podemos aguentar mais um dia.

– Teremos que aguentar – Thalia falou. – Vou providenciar para que novas armadilhas sejam instaladas para defender o perímetro.

Ela parecia exausta. Sua camisa estava untada de sujeira e pó de monstro, cambaleando um pouco, mas ainda conseguindo se manter em pé.

– Eu vou ajudá-la – Quíron decidiu. – Preciso me assegurar que meus irmãos não irão longe demais com a root beer. Pensei que "longe demais" resumia bastante os Pôneis de Festa, mas Quíron já estava a meio galope, deixando Annabeth e eu sozinhos.

Ela limpou o muco viscoso de monstro de sua faca. Eu a vi fazer isso centenas de vezes, mas eu nunca pensei sobre o porquê ela cuidava tão bem da lâmina.

– Pelo menos a sua mãe está bem – Eu falei.

– Se lutar com Tifão é estar bem... – Ela olhou bem para mim. – Percy, mesmo com os centauros ajudando, estou começando a pensar...

– Eu sei. – Tive um mau pressentimento que essa poderia ser a nossa última oportunidade de conversar, e eu senti que havia um milhão de coisas que eu não tinha dito a ela. – Escute, houve uma... uma visão que Héstia me mostrou.

– Você quer dizer sobre Luke?

Talvez tenha sido só um palpite, mas eu estava sentindo que Annabeth sabia onde eu queria chegar. Talvez ela também tenha tido sua própria visão.

– Sim – eu disse. – Você, Thalia e Luke. A primeira vez que se encontraram. E a vez que encontraram Hermes.

Annabeth colocou sua faca na bainha.

– Luke prometeu que nunca iria deixar ninguém me machucar. Ele disse... ele disse que seríamos uma nova família, e seria a melhor.

Os olhos dela me lembraram aquela menina de sete anos de idade, em um beco escuro, com medo, desesperada por um amigo.

– Thalia falou comigo hoje mais cedo – eu disse. – Ela tem medo...

– Que eu não possa enfrentar Luke – ela disse lastimosamente.

Eu assenti.

– Mas há outra coisa que você deveria saber. Ethan Nakamura achava que Luke ainda estava vivo dentro de seu corpo, talvez até lutando com Cronos por seu controle.

Annabeth tentava esconder, mas eu quase poderia vê-la analisando a possibilidade disso, talvez até começasse a ter esperanças.

– Eu não queria te contar – eu admiti. Ela olhou para o Empire State Building.

– Percy, por tanto tempo na minha vida, eu senti que tudo estava mudando, todo o tempo. Eu não tinha ninguém que podia confiar.

Eu assenti. Isso é algo que a maioria dos semideuses poderia compreender.

– Eu fugi quando eu tinha sete anos – disse ela. – Então, com Luke e Thalia, eu pensei que tinha encontrado uma família, mas fomos separados quase imediatamente. O que estou dizendo... Odeio quando as pessoas me decepcionam, quando as coisas são temporárias. Eu acho que é por isso que eu quero ser uma arquiteta.

– Para construir algo permanente – eu disse. – Um monumento para durar milhares de anos.

Ela fitou os meus olhos.

– Eu acho que isso soa como meu defeito mortal de novo.

– Anos atrás, no mar de monstros – Annabeth disse que seu maior defeito era o orgulho, pensando que poderia viver sem se fixar em nada ou a ninguém. Eu mesmo vi um vislumbre do seu desejo mais profundo, mostrado a ela pela magia das sereias. Annabeth tinha imaginado sua mãe e pai juntos, em frente de uma recém-construída Manhattan, projetado por ela. E Luke estava lá também, bom novamente e bem vindo em sua nova casa.

– Acho que eu entendo como se sente – eu disse. – Mas Thalia está certa. Luke já traiu você tantas vezes. Ele era mau antes mesmo de conhecer Cronos. Eu não quero que você se machuque novamente.

Annabeth apertou seus lábios. Eu poderia dizer que ela estava tentando não ficar furiosa.

– E você vai entender se eu te disse que ainda tenho esperanças que vocês estejam errados.

Olhei para longe. Eu senti que tinha feito o meu melhor, mesmo assim não me sentia bem com isso. Do outro lado da rua, os campistas de Apolo tinha criado um campo hospital para atender dezenas de feridos – campistas e quase todas as Caçadoras. Eu assistia ao trabalho médico, e pensava nas nossas pequenas chances de defender o Monte Olimpo...

E, de repente, eu não estava mais lá.

Eu estava parado em um bar de segunda, grande e sujo, paredes pretas, luzes de neon por todo o lado, e um monte de adultos festejando. Um banner atrás do bar dizia FELIZ ANIVERSÁRIO, BOBBY EARL. Música sertaneja tocando nos auto falantes. Grandes caras de jeans e camisas de trabalho lotavam o bar. Garçonetes levando tabuleiros de bebidas e gritando umas para as outras. Era exatamente o lugar que minha mãe nunca deixaria eu ir.

Eu estava próximo ao fundo da sala, junto aos banheiros (que não cheiravam tão bem) perto de um par de máquinas antigas de fliperama.

– Ah ótimo, você está aqui – disse o homem, na máquina de Pac-Man. – Eu vou pegar uma Coca Diet.

Ele era um homem atarracado, em uma camisa havaiana parecida com pele de leopardo, shorts roxo, tênis vermelho, meias pretas, que não faziam ele se misturar com a multidão. Seu nariz era vermelho brilhante. Uma bandagem estava em torno de sua cabeça sobre os cabelos pretos e curtos, como se ele estivesse recuperando de uma concussão.

Eu pisquei.

– Senhor D?

Ele suspirou, sem tirar os olhos do jogo.

– Realmente, Peter Johnson, quanto tempo demorou para me reconhecer?

– O tempo exato para você acertar meu nome – eu murmurei. – Onde estamos?

– O que você acha? Na festa de aniversário de Bobby Earl – disse Dionísio. – Algum adorável lugar rural da América.

– Eu pensei que Tifão tinha te abatido do céu. Eles disseram que você se arrebentou na aterrissagem.

– Sua preocupação é comovente. Me arrebentei mesmo. Muito dolorosamente. Na realidade, parte de mim ainda está enterrado sob uns cem metros de escombros em uma mina de carvão abandonada. Ainda vai levar muitas horas para eu ter força suficiente para me curar. Apesar disso, parte da minha consciência está aqui.

– Em um bar, jogando Pac-Man.

– Hora da diversão – disse Dionísio. – Certamente você já ouviu falar disso. Sempre que há uma festa, a minha presença é invocada. Por causa disto, eu posso existir em muitos locais diferentes de uma só vez. O único problema foi encontrar uma festa. Não sei se você está ciente de quão sérias as coisas estão fora de sua pequena e segura bolha em Nova York...

– Pequena bolha segura?

– ...mas acredite, os mortais aqui fora, no coração da América estão em pânico. Tifão tem aterrorizado eles. Muito poucos estão festejando. Aparentemente Bobby Earl e seu amigos, foram abençoados por um tempo. Eles ainda não descobriram que o mundo está acabando.

– Então ... eu não estou mesmo aqui?

– Não. Em um momento vou lhe enviar de volta a sua normal e insignificante vida, e será como se nada tivesse acontecido.

– E por que você me chamou?

Dionísio suspirou.

– Oh, eu não queria você em particular. Qualquer um de seus amigos heróis idiotas serviria. Até a garota Annie.

– Annabeth.

– O ponto é que – ele disse – eu trouxe você aqui para uma advertência. Estamos em perigo.

– Puxa – eu disse – Não tinha percebido ainda. Obrigado.

Ele olhou para mim e esqueceu momentaneamente o seu jogo. O Pac-Man foi comido pelo fantasma vermelhinho.

– Erre es korakas, Blinky! – praguejou Dionísio. – Eu vou ter sua alma!

– Hum, é só um jogo de vídeo game – eu disse.

– Isso não é desculpa! Você está arruinando meu jogo, Jorgenson!

– Jackson.

– Que seja! Agora ouça, a situação é mais grave do que você imagina. Se o Olimpo cair, não só os deuses que desaparecerão. Mas tudo que estiver conectado ao nosso legado também irá desaparecer! A estrutura de sua pequena e fraca civilização.

O jogo emitiu um som e o Senhor D passou para o nível 254.

– Ha! – gritou. – Tome isto, você seu pixel malvado!

– Hum, a estrutura de nossa civilização... – Eu repeti.

– Sim, sim. Sua sociedade irá se dissolver. Talvez não logo, mas marque minhas palavras, o caos dos Titãs significará o fim da civilização ocidental. Arte, Direito, degustação de vinho, música, vídeo, camisas de seda, calcinhas de veludo preto, todas as coisas que fazem a vida valer à pena irão desaparecer!

– Então, porque os deuses não vem correndo para nos ajudar? – Eu disse. – Devemos juntar nossa forças no Olimpo. Esquecer Tifão.

Ele batia os dedos impacientemente.

– Você esqueceu da minha Coca Diet.

– Deuses, você é irritante. – Consegui a atenção de uma garçonete e pedi a estúpida Coca. Coloquei na conta do Bobby Ear.

O senhor D bebeu um longo gole. Seus olhos nunca deixando o vídeo game.

– A verdade, Pierre...

– Percy .

– ... os deuses nunca irão admitir, mas realmente precisamos de vocês mortais para salvar o Olimpo. Percebe, nos somos manifestações de sua cultura. Se vocês não se importarem o suficiente para salvar o Olimpo...

– Como Pan – eu disse – dependendo dos sátiros para salvar a natureza.

– Sim, isso mesmo. Vou negar que eu te disse, naturalmente, mas os deuses precisam dos heróis. Eles sempre precisaram. Caso contrário porque nos manteríamos crianças chatas como você no acampamento?

– Eu me sinto tão querido. Obrigado.

– Use o treinamento que te ensinei.

– Que treinamento?

– Você sabe. Todas essas técnicas de herói e... Não! – Senhor D bateu no videogame. – Na pari i eychi! O último nível!

Ele olhou para mim, e um fogo púrpuro bruxuleou em seus olhos.

– Pelo que me lembro, eu previ uma vez que você iria revelar-se tão egoísta como todos os outros heróis humanos. Bem, aqui está a sua oportunidade de provar que eu estava errado.

– Certo, fazer você ficar orgulhoso está no topo de minha lista.

– Você deve salvar o Olimpo, Pedro! Deixe Tifão para os olimpianos e salve os nossos tronos. Deve ser assim!

– Ótimo. Foi uma boa conversa. Agora, se você não se importa, meus amigos estão me esperando...

– Não, ainda tem mais – O senhor D. alertou – Cronos ainda não alcançou sua força plena. O corpo do mortal era apenas uma medida temporária.

– Nós meio que presumimos isto.

– E você também deve presumir que dentro de um dia no máximo, Cronos vai queimar o corpo do mortal e assumir sua verdadeira forma de rei Titã?

– E isso significaria...

Dionísio pareceu misericordioso.

– Você conhece as verdadeiras formas dos deuses.

– Sim. Você não pode olhar para eles sem fritar.

– Cronos ficará dez vezes mais poderoso. Sua simples presença incineraria você, e uma vez que ele esteja de volta, vai dar mais poder aos outro Titãs.

– Eles estão fracos agora, em comparação com o que logo se tornarão, a menos que você possa detê-los. O mundo cairá, os deuses morrerão, e eu nunca baterei o Recorde dessa estúpida máquina.

Talvez eu devesse ter ficado petrificado, mas honestamente, já estava tão assustado quanto podia aguentar.

– Posso ir agora? – Perguntei.

– Uma última pergunta. Meu filho Pólux. Ele está vivo?

Pisquei.

– Sim, ele está.

– Eu apreciaria muito se você pudesse protegê-lo para mim. Perdi seu irmão Castor no ano passado...

– Eu me lembro.

Fiquei olhando para Dionísio com a ideia de que ele poderia ser um bom pai. Eu pensei em quantos olimpianos pensavam em seus filhos semideuses neste momento.

– Farei o meu melhor.

– O seu melhor – murmurou Dionísio. – Bem, não me conforta muito. Vá agora. Você tem algumas surpresas bastante desagradáveis pela frente, e eu preciso derrotar Blinky!

– Surpresas bastante desagradáveis?

Ele agitou a mão, e o bar desapareceu.



Eu estava de volta à Quinta Avenida. Annabeth não tinha se movido. Ela não deu nenhum sinal de que algo estranho havia acontecido.

Ela me viu olhando-a e franziu o cenho.

– O quê?

– Hã... Nada, eu acho.

Eu olhei a avenida, me perguntando o que o Senhor D. queria dizer com surpresas bastantes desagradáveis. Como é que poderia piorar?

Meus olhos pousaram sobre um carro azul arruinado. O capô estava amssado, como se alguém tivesse tentado abrir algumas crateras nele. Minha pele formigou. Porque esse carro parecia familiar? Então eu percebi que era um Prius.

O carro de Paul.

Disparei rua abaixo.

– Percy! – Annabeth falou. – O que está havendo?

Paul estava desmaiado no banco do motorista. Minha mãe ao lado dele roncando. Minha mente parecia mingau. Como eu não tinha visto isso antes? Eles deviam estar aqui, sentados no meio do trânsito por mais de um dia, e nós batalhando ao seu redor, e nem sequer notei.

– Eles... eles devem ter visto aquelas luzes azuis no céu.

Eu puxei as portas, mas estavam bloqueadas.

– Eu preciso tirá-los daí.

– Percy. – Annabeth disse suavemente.

– Não posso deixá-los aqui! – Eu parecia um louco batendo no para brisas. – Tenho que tirá-los. Eu tenho que...

– Percy, pare... pare – Annabeth acenou para Quíron, que estava conversando com alguns centauros uma quadra abaixo. – Nós podemos empurrar o carro para outra rua. Eles ficarão bem.

Minhas mãos tremiam. Depois de tudo que eu tinha passado ao longo desses últimos dias, sentindo-me tão estúpido e fraco, mas vendo meus pais ali, daquele jeito, me fez querer quebrar tudo.

Quíron galopou até nós.

– O que... Ah, puxa. Entendi.

– Eles estavam vindo nos encontrar – eu disse – minha mãe deve ter sentido que algo estava errado.

– Provavelmente – disse Quíron. – Mas, Percy, eles vão ficar bem.

– A melhor coisa que podemos fazer por eles é manter-nos concentrados em nosso trabalho.

Então, eu notei uma coisa no banco traseiro do Prius, o meu coração disparou. Afivelado com o cinto de segurança, no banco estava uma jarra grega preta e branca com cerca de três pés de altura. Sua tampa estava embrulhada em um arnês de couro.

– De jeito nenhum – eu murmurei.

Annabeth colocou sua mão na janela para enxergar melhor.

– Isto é impossível! Eu pensei que você tinha deixado no Plaza.

– Fechado em um cofre – eu concordei.

Quíron viu a jarra e arregalou os olhos.

– Isso não é...

– A jarra de Pandora.

Eu contei a ele sobre o meu encontro com Prometeu.

– Então, o jarro é seu – disse Quíron sombriamente. – Ele seguirá você e vai tentá-lo a abri-lo, não importa onde você o abandone. Ela irá aparecer quando você estiver mais fraco.

Como agora, eu pensei. Olhando para os meus pais impotentes.

Eu imaginei Prometeu rindo, tão ansioso para ajudar a nós pobres mortais. Abra mão da Esperança e eu saberei quando você estiver se rendendo. Eu prometo que Cronos será indulgente.

Subiu uma raiva dentro de mim. Puxei Contracorrente e atravessei a janela do lado do motorista como se estivesse cortando plástico.

– Vou colocar o carro em ponto morto. – Eu disse. – Vamos tirar ele da rua. E levar esta estúpida jarra para o Olimpo.

Quíron assentiu.

– Um bom plano. Mas, Percy...

Seja o que for que fosse dizer, ele hesitou. Um rufar mecânico foi crescendo à distância – o vap-vap-vap de um helicóptero.

Em uma normal segunda-feira pela manhã em Nova York, isto não teria sido grande coisa, mas após dois dias de silêncio, um helicóptero mortal, era a coisa mais esquisita que eu estava ouvindo. A poucas quadras a leste, os monstros do exército de Cronos, gritaram zombarias quando o helicóptero entrou em vista. Era um modelo civil pintado de vermelho escuro, com um logo “ED” brilhando em verde ao lado. As palavras sob o logotipo eram demasiado pequenas para ler, mas eu sabia que elas diziam: EMPREENDIMENTOS DARE.

Fiquei emudecido. Olhei Annabeth e poderia diz ela reconheceu o logotipo também. Seu rosto estava tão vermelho como o helicóptero.

– O que é que ela está fazendo aqui? – Annabeth quis saber. – Como foi que ela passou da barreira?

– Quem? – Quíron parecia confuso. – Que mortal seria louco o suficiente...

De repente, o helicóptero inclinou em nossa frente.

– O encanto de Morfeu! – Quíron disse. – O tolo piloto mortal esta dormindo.

Eu assisti com horror quando o helicóptero adernava para o lado, caindo na direção de uma fila de edifícios de escritórios. Mesmo que ele não batesse, o deus do ar provavelmente o derrubaria por estar tão perto do Empire State Building. Não sabia o que fazer, mas Annabeth assobiou, e o pégaso Guido surgiu do nada.

Você chamou um cavalo bonitão?, ele perguntou.

– Vamos, Percy – Annabeth gritou. – Temos que salvar sua amiga.

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