sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 2





                             Encontro alguns parentes peixes    

  Os sonhos de um semideus são péssimos.

O negócio é que eles nunca são apenas sonhos. Eles acabam sendo visões, agouros, e todas aquelas outras coisas místicas que fazem o meu cérebro doer. Eu sonhei que estava em um palácio negro no topo de uma montanha. Infelizmente, eu o reconheci: o palácio dos titãs no topo do monte Otris, também conhecido como monte Tamalpais, na Califórnia. O pavilhão principal estava aberto para a noite, cercado de colunas gregas pretas e estátuas dos Titãs. A luz de tochas brilhava contra o chão de mármore preto. No centro da sala, um gigante com armadura lutava contra o peso agitado de uma nuvem negra – Atlas, segurando o céu.

Dois outros homens gigantes estavam por perto observando um braseiro de bronze, estudando as imagens nas chamas.

– Foi uma explosão considerável – disse um deles.

Ele usava uma armadura negra com botões de prata, como uma noite estrelada. Seu rosto estava coberto com um elmo de batalha com aríetes, como chifres de cada lado. – Isso não importa – o outro respondeu.

Esse titã estava vestido com vestes douradas, com olhos dourados como Cronos. Todo seu corpo brilhava. Ele me lembrava a Apolo, Deus do Sol, exceto que a luz do Titã era mais dura, e sua expressão mais cruel.

– Os deuses responderam ao desafio. Logo serão destruídos.

As imagens no fogo eram difíceis de serem compreendidas: tempestades, prédios sendo destruídos, mortais gritando em terror.

– Eu irei para o leste para conduzir nossas forças – disse o Titã dourado.

– Crio, você deve ficar e guardar o Monte Otris.

O cara com os chifres de aríetes grunhiu.

– Eu sempre fico com os trabalhos idiotas. Senhor do Sul. Senhor das constelações. Agora eu fico de babá para Atlas enquanto você fica com toda a diversão.

Debaixo do turbilhão de nuvens, Atlas berrava em agonia.

– Deixem-me sair, malditos! Eu sou seu melhor guerreiro. Fique com meu fardo para que eu possa lutar!

– Quieto! – rosnou o Titã dourado. – Você teve sua chance, Atlas. Você fracassou. Cronos quer você onde você está. Quanto a você, Crio, faça o seu trabalho.

– E se você precisar de mais guerreiros? – Crio perguntou. – Nosso traiçoeiro sobrinho de terno não irá te ajudar muito em uma luta.

O Titã dourado riu.

– Não se preocupe com ele. Além disso, os deuses mal podem aguentar nosso primeiro pequeno desafio. Eles não tem ideia de quantos outros nós temos armazenados. Marque minhas palavras, em poucos dias, o Olimpo será ruínas, e nós vamos nos encontrar aqui de novo para celebrar o amanhecer da Sexta Era!

O Titã dourado irrompeu em chamas e desapareceu.

– Oh, claro – Crio grunhiu. – Ele pode irromper em chamas. Eu posso usar esses chifres idiotas.

A cena mudou. Agora eu estava do lado de fora do pavilhão, escondido nas sombras de uma coluna grega. Um garoto estava perto de mim, bisbilhotando os titãs.

Ele tinha cabelos pretos e sedosos, pele pálida, e roupas negras – meu amigo Nico di Angelo, o filho de Hades. Ele olhou direto para mim, sua expressão severa.

– Você vê Percy? – ele sussurrou. – Você está ficando sem tempo. Realmente acha que pode vencê-los sem o meu plano?

Suas palavras passaram por mim tão frias quanto o chão do oceano, e meus sonhos escureceram.


– Percy? – chamou uma voz grave.

Parecia que a minha cabeça havia sido colocada no micro-ondas com uma folha de alumínio. Eu abri meus olhos e vi uma figura grande e sombria se inclinando sobre mim.

– Beckendorf? – Eu perguntei esperançosamente.

– Não, irmão.

Meus olhos voltaram a ganhar foco. Eu estava olhando para um ciclope – um rosto disforme, cabelo marrom maltrapilho, um grande olho marrom cheio de preocupação. 

– Tyson?

Meu irmão abriu um sorriso cheio de dentes.

– Ei! Seu cérebro funciona!

Eu não tinha tanta certeza. Meu corpo parecia sem peso e gelado. Minha voz soava errada. Eu podia ouvir Tyson, mas era mais como se eu estivesse ouvindo vibrações dentro do meu crânio, não os sons normais.

Eu me sentei, e um lençol fino flutuou para longe. Eu estava em uma cama feita de sedosas algas trançadas, em uma sala com painéis de conchas. Pérolas brilhantes do tamanho de bolas de basquete flutuavam perto do teto, fornecendo luz. Eu estava debaixo d’água.

Agora, sendo o filho de Poseidon e tudo, eu estava OK com isso. Eu posso respirar perfeitamente debaixo d’água, e minhas roupas nem ao menos se molhavam, a menos que eu quisesse. Mas ainda era meio chocante quando um tubarão cabeça de martelo passava pela janela do quarto, me cumprimentava, e depois saía calmamente pela janela oposta.

– Onde...

– No palácio do papai – disse Tyson.

Sob circunstâncias diferentes, eu estaria excitado. Eu nunca tinha visitado o reino de Poseidon, e estivera sonhando com isso por anos. Mas minha cabeça estava doendo. Minha camisa ainda estava machada com queimaduras da explosão. Meu braço e minha perna tinham se curado – só entrar no oceano pode fazer isso por mim, dado tempo suficiente – mas eu ainda sentia como se tivesse sido a bola em um jogo de futebol dos gigantes.

– Quanto tempo...

– Nós o encontramos ontem a noite – disse Tyson, – afundando na água.

– O Princesa Andrômeda?

– Fez cabum – Tyson confirmou

– Beckendorf estava a bordo. Você encontrou...

O rosto de Tyson escureceu.

– Nem sinal dele. Sinto muito, irmão.

Eu olhei pela janela para a água azul profunda. Beckendorf deveria ir para a faculdade nesse outono. Ele tinha uma namorada, muitos amigos, toda sua vida a sua frente. Ele não podia ter partido. Talvez ele tivesse conseguido sair do navio como eu saí. Talvez ele tenha pulado... E o que? Ele não podia sobreviver uma queda de trinta metros até a água como eu podia. Ele não podia ter colocado distância suficiente entre ele e a explosão.

Eu sabia no meu interior que ele estava morto. Ele tinha se sacrificado para acabar com o Princesa Andrômeda, e eu o havia abandonado.

Eu pensei sobre o meu sonho: os Titãs discutindo sobre a explosão como se ela não importasse Nico di Ângelo me alertando que eu jamais venceria Cronos sem seguir seu plano – uma ideia perigosa que eu estivera evitando por mais que um ano. Uma explosão distante sacudiu a sala. Uma luz verde resplandeceu do lado de fora, tornando todo o mar tão claro quanto o meio-dia.

– O que foi isso? – Eu perguntei.

Tyson pareceu preocupado.

– Papai irá explicar. Venha, ele está explodindo alguns monstros.



O palácio poderia ter sido a coisa mais impressionante que eu já havia visto se não estivesse a ponto de ser destruído. Nós nadamos até o fim de um longo corredor e subimos como um tiro para cima com um gêiser. Enquanto nós passávamos pelos telhados eu recuperei o fôlego – bom, se é que é possível recuperar fôlego debaixo d’água.

O palácio era tão grande quanto a cidade no monte Olimpo, com pátios grandes e abertos, jardins, e colunas de pavilhões. Os jardins eram esculpidos com colônias de coral e plantas do mar brilhantes. Vinte ou trinta construções eram feitas de abalone, branco, mas reluziam com as cores do arco-íris. Peixes e polvos entravam e saíam pelas janelas. Os caminhos estavam forrados com pérolas brilhantes como enfeites de natal.

O pátio principal estava cheio de guerreiros – tritões, com rabos de peixe da cintura para baixo e corpos humanos da cintura para cima, exceto pela pele, que era azul, o que eu nunca havia notado. Alguns estavam tratando dos feridos. Alguns estavam afiando lanças e espadas. Um deles passou por nós, nadando com pressa. Seus olhos eram de um verde brilhante, como aquele fluído que se coloca dentro daquelas pulseiras fluorescentes, e seus dentes eram como os de um tubarão. Eles não mostram coisas assim em A Pequena Sereia.

Fora do pátio principal ficavam fortificações largas – torres, paredes, e armas de anti-carco – mas a maior parte disso tinha sido transformado em ruínas. Outros estavam ardendo com uma luz verde que eu conhecia bem – fogo grego, que pode queimar mesmo debaixo d’água.

Além disso, o chão marítimo tinha sido engolido pela escuridão. Eu podia ver batalhas violentas – flashes de energia, explosões, o tremeluzir do choque entre os exércitos. Um humano normal teria achado escuro demais para enxergar. Inferno, um humano normal teria sido esmagado pela pressão e congelado pelo frio. Mesmo os meus olhos sensitivos a calor não podiam ver exatamente o que estava acontecendo.

Na ponta do complexo do palácio, um templo com teto de coral vermelho explodiu, mandando fogo e escombros em câmera lenta para os jardins mais distantes. Fora da escuridão acima, uma forma enorme apareceu – uma lula maior do que qualquer arranha-céu. Estava cercado por uma nuvem brilhante de poeira – pelo menos eu achei que fosse poeira, até que percebi que era um enxame de tritões tentando atacar o monstro. A lula desceu sobre o palácio e deu uma pancada com seus tentáculos, esmagando toda uma coluna de guerreiros. Então um arco brilhante de luz azul foi atirado do telhado de um dos prédios mais altos. A luz atingiu a lula gigante, e o monstro se dissolveu como corante na água.

– Papai – disse Tyson, apontando para o lugar de onde o raio tinha vindo.

– Ele fez isso?

De repente eu me senti mais esperançoso. Meu pai tinha poderes incríveis. Ele era o deus do mar. Ele podia lidar com esse ataque, certo? Talvez ele me deixasse ajudar.

– Você esteve na luta? – Perguntei a Tyson. – Tipo esmagando cabeças com sua impressionante força de ciclope e tudo mais?

Tyson fez uma careta, e eu imediatamente soube que eu tinha feito uma pergunta ruim.

– Eu estive... consertando armas – ele murmurou. – Venha. Vamos encontrar papai.



Eu sei que isso pode soar estranho para as pessoas com, tipo, pais normais, mas eu só tinha visto meu pai quatro ou cinco vezes na minha vida, e nunca por mais do que alguns minutos. Os deuses gregos não aparecem exatamente para ver os jogos de basquete de seus filhos. Ainda assim, eu pensei que reconheceria Poseidon de cara. Eu estava errado.

O teto do templo era um deque grande e aberto que tinha sido colocado como centro de comando. Um mosaico no chão mostrava um mapa exato das terras do palácio e o oceano em volta, mas o mosaico se mexia. Azulejos de pedra colorida representando os diferentes exércitos e monstros marinhos mudavam de lugar quando as forças mudavam de posição. Construções que desmoronavam na vida real também desmoronavam na figura.

De pé ao lado do mosaico, estudando seriamente a batalha, estava um grupo sortido de guerreiros, mas nenhum deles parecia com o meu pai. Eu estava procurando por um cara grande com um bronzeado e uma barba preta, usando bermudas e camisa havaiana.

Não tinha ninguém assim lá. Um cara era um tritão, com duas caudas ao invés de uma. Sua pele era verde e sua armadura possuía botões de pérola. Seu cabelo preto estava amarrado em um rabo de cavalo, e ele parecia ser jovem – apesar de ser difícil dizer se tratando de não humanos. Eles podiam ter centenas de anos ou três. A seu lado estava um velho com uma barba branca espessa e cabelos cinza. Sua armadura de batalha parecia ser mais pesada do que ele. Ele tinha olhos verdes e rugas de sorriso a seu redor, mas não estava sorrindo agora. Ele estava estudando o mapa e se apoiando em um grande bastão de metal. A sua direita estava uma linda mulher em armadura verde com cabelos negros e chifres estranhos como garras de caranguejo. E tinha um golfinho – apenas um golfinho normal, mas estava olhando intensamente para o mapa.

– Delfim – disse o velho. – Mande Paláimon e sua legião de tubarões a frente ocidental. Nós temos que neutralizar aqueles leviatãs.

O golfinho falou em uma voz estranha, mas pude entender em minha mente:

Sim,senhor!

E ele foi embora.

Eu olhei com receio para Tyson, depois de novo para o velho.

Não parecia possível, mas...

– Pai? – Eu perguntei.

O velho me olhou. Eu reconheci o brilho em seus olhos, mas o rosto... Ele parecia ter envelhecido quarenta anos.

– Olá, Percy.

– O que – o que aconteceu com você?

Tyson me cutucou. Ele estava sacudindo a cabeça com tanta força que eu tive medo que ela fosse cair, mas Poseidon não pareceu ofendido.

– Está tudo bem, Tyson – ele disse. – Percy, desculpe a minha aparência. A guerra tem sido dura para mim.

– Mas você é imortal – eu disse em voz baixa. – Você pode aparentar... ser o que você quiser.

– Eu retrato o estado do meu reino – ele disse. – E nesse momento esse estado é bem sério. Percy, eu deveria apresentá-lo - pena que meu tenente Delfim, Deus dos Golfinhos, tenha acabado de sair. Esta é minha, hã, esposa, Anfitrite. Minha querida...

A mulher na armadura verde olhou friamente para mim, depois cruzou os braços e disse:

– Com licença, meu senhor. Eu sou necessária na batalha.

Ela nadou para longe. Eu me senti bem estranho, mas eu acho que não podia culpá-la. Eu nunca tinha pensado muito nisso, mas meu pai tinha uma esposa imortal. Todos os seus romances com mortais, incluindo a minha mãe... Bem, Anfitrite provavelmente não gostava muito disso.

Poseidon limpou a garganta.

– Sim, bem... e este é meu filho Tritão. Hã, meu outro filho.

– Seu filho e herdeiro – o cara verde corrigiu. Sua cauda de peixe dupla farfalhava para frente e para trás. Ele sorriu para mim, mas não havia amizade em seus olhos. – Olá, Perseu Jackson. Veio ajudar, finalmente?

Ele agia como se eu estivesse atrasado ou fosse preguiçoso. Se pudesse corar debaixo d’água, eu provavelmente teria corado.

– Me diga o que fazer – eu disse.

Tritão sorriu como se essa fosse uma sugestão fofa – como se eu fosse um cachorro ligeiramente divertido que havia latido para ele ou algo assim. Ele se voltou para Poseidon.

– Eu irei para a linha de rente, Pai. Não se preocupe. Eu não falharei.

Ele assentiu educadamente para Tyson. Por que eu não ganhava esse tipo de respeito? Então ele foi embora rapidamente para mais dentro d’água. Poseidon suspirou. Ele ergueu seu bastão, e ele se transformou em sua arma normal – um tridente enorme. As pontas brilharam com uma luz azul, e a água a seu redor ferveu com a energia.

– Eu sinto muito por isso – ele me disse.

Uma serpente do mar gigante apareceu acima de nós e começou a descer em espirais até o telhado. Era laranja brilhante, com uma boca com presas grande o suficiente para engolir um ginásio.

Mal olhando para cima, Poseidon apontou seu tridente para a fera e atirou energia azul. Cabum! O monstro explodiu em um milhão de peixes dourados, todos nadaram para longe assustados.

– Minha família está ansiosa – Poseidon continuou como se nada tivesse acontecido. – A batalha contra Oceano está indo mal.

Ele apontou para a borda do mosaico. Com o cabo de seu tridente ele apontou para a imagem de um tritão maior do que os outros, com chifres de touro. Ele parecia estar dirigindo uma carruagem puxada por lagostas, e ao invés de uma espada ele bradava uma serpente viva.

– Oceano – eu disse, tentando me lembrar. – O titã do mar?

Poseidon assentiu.

– Ele se manteve neutro na primeira guerra entre deuses e titãs. Mas Cronos o convenceu a lutar. Isso é... bem, não é um bom sinal. Oceano não se comprometeria a lutar a menos que tivesse certeza que escolheria o lado vencedor.

– Ele parece ser estúpido – eu disse tentando soar otimista. – Quero dizer, quem luta com uma cobra?

– Papai vai dar vários nós nelas – disse Tyson firmemente.

Poseidon sorriu, mas ele parecia fatigado.

– Eu aprecio sua fé. Nós estamos em guerra há quase um ano agora. Meus poderes estão sendo postos a prova. E ele ainda consegue novas forças para jogar contra mim – monstros marinhos tão antigos que eu tinha me esquecido deles.

Eu ouvi uma explosão à distância. A quase um quilômetro dali, uma montanha de coral se desintegrou debaixo do peso de duas criaturas gigantes. Eu podia ver suas formas palidamente. Um era uma lagosta. O outro era um humanoide gigante como os ciclopes, mas estava cercado por uma agitação de membros. A princípio pensei que ele estivesse usando um monte de polvos gigantes, mas então percebi que eram seus próprios braços – cem braços malhando, lutando.

– Briareu! – Eu disse.

Eu estava feliz em vê-lo, mas ele parecia estar lutando pela própria vida. Ele era o último de sua raça – os centímanos, "irmãos mais velhos" dos Ciclopes. Nós o tínhamos salvado da prisão de Cronos no último verão, e eu sabia que ele tinha vindo ajudar Poseidon, mas não tinha ouvido falar dele desde então.

– Ele luta bem – disse Poseidon. – Eu queria ter todo um exército como ele, mas ele é único.

Eu observei enquanto Briareu rugia com raiva e apanhava a lagosta, que lutava e batia suas pinças. Ele a jogou na montanha de coral, e a lagosta desapareceu na escuridão. Briareu nadou atrás dele, seus cem braços girando como as pás de um barco a motor.

– Percy, nós não temos muito tempo – meu pai disse. – Conte-me de sua missão. Você viu Cronos?

Eu contei tudo para ele, apesar da minha voz ter ficado abafada quando expliquei sobre Beckendorf. Eu olhei para os pátios abaixo e vi centenas de tritões feridos deitados em leitos improvisados. Eu vi filas de corais que tinham virado sepulturas precipitadamente. Eu percebi que Beckendorf não era a primeira morte. Ele era apenas um de centenas, talvez milhares. Eu jamais havia me sentido tão zangado e desamparado antes.

Poseidon mexeu em sua barba.

– Percy, Beckendorf escolheu uma morte heroica. Você não tem culpa disso. O exército de Cronos se desordenará. Muitos foram destruídos.

– Mas nós não o matamos, matamos?

Enquanto dizia isso, eu sabia que era uma esperança ingênua. Nós podíamos explodir seu navio e desintegrar seus monstros, mas Titã não seria morto tão facilmente.

– Não – Poseidon admitiu. – Mas você comprou algum tempo para o nosso lado.

– Havia semideuses naquele navio – eu disse, pensando na criança que tinha visto nas escadas. De alguma forma eu tinha conseguido me concentrar só nos monstros e Cronos. Eu me convenci que não tinha problema em destruir aquele navio porque eles eram maus, eles estavam navegando para atacar minha cidade e, além do mais, eles não poderiam ser mortos permanentemente. Monstros só eram pulverizados e se reconstituíam eventualmente. Mas semideuses...

Poseidon colocou sua mão em meu ombro.

– Percy, haviam poucos guerreiros semideuses naquele navio, e todos eles tinham escolhido lutar por Cronos. Talvez alguns tenham escutado seu aviso e escaparam. Se não fizeram isso... escolheram seu próprio caminho.

– Eles sofreram lavagem cerebral! – eu disse. – Agora estão mortos e Cronos ainda está vivo. Isso deveria fazer com que eu me sentisse melhor?

Eu encarei o mosaico – pequenas explosões de azulejo destruindo monstros de azulejo. Parecia tão fácil quando era só uma figura.

Tyson pôs seu braço a minha volta. Se qualquer outra pessoa tivesse feito isso, eu a teria empurrado, mas Tyson era grande e teimoso demais. Ele me abraçava quer eu queira quer não.

– Não foi sua culpa, irmão. Cronos não explode bem. Da próxima vez vamos usar um bastão grande.

– Percy – meu pai disse. – O sacrifício de Beckendorf não foi em vão. Você dispersou a força da invasão. Nova York ficará segura por um tempo, o que libera os outros olimpianos para lidarem com a ameaça maior.

– Ameaça maior?

Eu pensei no que o Titã dourado tinha dito em meu sonho: Os deuses responderam ao desafio. Logo serão destruídos.

Uma sombra passou pelo rosto do meu pai.

– Você teve tristeza suficiente por um dia. Pergunte a Quíron quando voltar ao acampamento.

– Voltar ao acampamento? Mas você está com problemas aqui. Eu quero ajudar!

– Você não pode, Percy. Seu trabalho é em outro lugar.

Eu não pude acreditar que estava ouvindo isso. Eu olhei para Tyson para ajuda.

Meu irmão mordeu seu lábio.

– Papai... Percy pode lutar com uma espada. Ele é bom.

– Eu sei disso – disse Poseidon gentilmente.

– Pai, eu posso ajudar – eu disse. – Eu sei que posso. Você não vai se aguentar por muito mais tempo.

Uma bola de fogo foi lançada pelo céu pelas linhas inimigas. Eu pensei que Poseidon iria desviá-la ou algo assim, mas ela pousou no jardim exterior e explodiu, mandando tritões rodando pela água. Poseidon piscou como se tivesse acabado de ser esfaqueado.

– Volte ao acampamento – ele insistiu. – E diga a Quíron que está na hora.

– De que?

– Você deve ouvir a profecia. A profecia completa.

Eu não precisava perguntar a ele qual profecia. Eu estivera ouvindo sobre “A Grande Profecia” por anos, mas ninguém nunca me contava a coisa toda. Tudo que eu sabia era que eu deveria fazer uma decisão que decidiria o destino do mundo – mas sem pressão.

– E se essa for a decisão? – Eu disse. – Ficar aqui para lutar ou ir embora? E se eu partir e você...

Eu não podia dizer morrer. Deuses não deveriam morrer, mas eu já tinha visto acontecer. Mesmo se eles não morressem, eles podiam ser reduzidos a quase nada, exilados, prisioneiros nas profundezas do Tártaro como Cronos tinha sido.

– Percy, você deve ir – Poseidon insistiu. – Eu não sei qual será sua decisão final, mas sua luta está no mundo acima. E por motivo algum você deve falar para seus amigos no acampamento. Cronos sabia seus planos. Vocês têm um espião. Nós vamos aguentar aqui. Não temos opção.

Tyson agarrou minha mão desesperadamente.

– Sentirei sua falta, irmão!

Nós olhamos nosso pai parecer envelhecer outros dez anos.

– Tyson, você também tem um trabalho a fazer, meu filho. Eles precisam de você na sala de armas.

Tyson fez outra careta.

– Eu irei. – Ele fungou. Ele me abraçou com tanta força que quase quebrou minhas costelas. – Percy tome cuidado! Não deixe os monstros te matarem!

Eu tentei assentir confiantemente, mas isso era demais para o grandão. Ele chorou e nadou para longe em direção a sala de armas, onde seus primos estavam consertando lanças e espadas.

– Você deveria deixá-lo lutar – eu disse a meu pai. – Ele odeia estar preso na sala de armas. Você não percebe?

Poseidon sacudiu a cabeça.

– Já é ruim o suficiente eu ter que enviar você para o perigo. Tyson é jovem demais. Eu devo protegê-lo.

– Você deveria confiar nele – eu disse. – Não tentar protegê-lo.

Os olhos de Poseidon faiscaram. Eu pensei que tinha ido longe demais, mas então ele olhou para o mosaico e seus ombros se envergaram. Nos azulejos o tritão na carruagem de lagosta estava se aproximando do palácio.

– Oceano se aproxima... – meu pai disse. – Eu devo encontrá-lo em batalha.

Eu nunca tive medo por um deus antes, mas eu não podia ver como meu pai poderia enfrentar Oceano e vencer.

– Eu aguentarei – Poseidon prometeu. – Eu não desistirei de meu reino. Apenas me diga Percy, você ainda tem o presente de aniversário que lhe dei no verão passado?

Eu assenti e puxei meu cordão do campo. Ele tinha uma conta para cada verão que eu estive no acampamento meio-sangue, mas desde o verão passado também tinha uma bolacha de areia pendurada. Meu pai tinha me dado de presente de aniversário de quinze anos. Ele me disse que eu saberia como “gastá-lo”, mas até agora eu não tinha entendido o que ele quis dizer com isso. Tudo o que eu sabia é que não entrava nas máquinas da cantina da escola.

– O tempo está chegando – ele prometeu. – Com alguma sorte eu te verei no seu aniversário semana que vem, e nós faremos uma celebração apropriada.

Ele sorriu, e por um momento eu vi a velha luz em seus olhos. Então o mar inteiro ficou escuro na nossa frente, como se uma tempestade de tinta estivesse passando. Um trovão crepitou o que deveria ser impossível debaixo d’água. Uma enorme presença fria estava se aproximando. Eu senti uma onda de medo passar pelos exércitos abaixo de nós.

– Eu devo assumir minha forma real de Deus – disse Poseidon. – Vá, e boa sorte, meu filho.

Eu quis encorajá-lo, abraçá-lo ou algo assim, mas eu sabia que era melhor não ficar por perto. Quando um deus assume sua forma verdadeira, o poder é tão grande que qualquer mortal que olhar para ele se desintegrará.

– Adeus, pai – eu consegui dizer.

Então eu me virei. Eu pedi para as correntes marinhas que me ajudassem. A água rodopiava a minha volta, e eu estourei em direção a superfície em velocidade que fariam um humano normal explodir como um balão.

Quando eu olhei para trás, tudo o que pude ver eram flashes azuis e verdes enquanto meu pai lutava com o Titã, e o próprio mar estava dividido pelos dois exércitos.          

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