quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A Maldilção do titã - capitulo 17



                     Eu carrego alguns milhões de quilos extras

A coisa mais horrível era: eu conseguia ver a semelhança familiar. Atlas tinha a mesma expressão régia de Zöe, o mesmo aspecto orgulhoso e frio nos olhos que Zöe de vez em quando tinha quando ficava com raiva, ainda que nele parecesse cem vezes mais maligno. Ele era todas as coisas que eu originalmente não gostara em Zöe, sem nada das coisas boas que eu vim a apreciar.
– Deixa Ártemis ir – Zöe exigiu.
Atlas caminhou mais para perto da deusa acorrentada.
– Talvez você queira carregar o céu por ela, então? Fique à vontade.
Zöe abriu a boca para falar, mas Ártemis disse:
– Não! Não se ofereça, Zöe! Eu a proíbo!
Atlas sorriu afetado. Ele se ajoelhou perto de Ártemis e tentou tocar o rosto dela, mas a deusa mordeu, quase arrancando os dedos dele.
– Hoo-hoo – Atlas riu. – Você vê, filha? Lady Ártemis gosta de seu novo trabalho. Acho que terei todos os Olimpianos revezando-se para carregar meu fardo, uma vez que Lorde Cronos governe novamente, e este é o centro do nosso palácio. Isto vai ensinar àqueles fracotes um pouco de humildade.
Olhei para Annabeth. Ela estava tentando desesperadamente me contar alguma coisa. Ela acenou com a cabeça na direção de Luke. Mas tudo que eu podia fazer era encará-la. Não tinha percebido antes, mas algo nela havia mudado. Seu cabelo louro estava agora com mechas cinzas.
– De carregar o céu – Thalia murmurou, como se tivesse lido minha mente. – O peso deveria tê-la matado.
– Não entendo – eu disse. – Por que Ártemis não pode apenas largar o céu?
Atlas riu.
– Quão pouco você entende, jovem. Este é o ponto onde o céu e terra se encontraram pela primeira vez, onde Urano e Gaia deram origem aos seus poderosos filhos, os Titãs. O céu ainda anseia por abraçar a terra. Alguém deve segurar, senão desabaria sobre este lugar, achatando instantaneamente a montanha e tudo mais no raio de mais de seiscentos quilômetros. Uma vez que você tenha segurado o fardo, não há escapatória. – Atlas sorriu. – Salvo se outra pessoa o tomar de você.
Ele se aproximou de nós, estudando Thalia e a mim.
– Então estes são os melhores heróis da época, hum? Não parece desafiador.
– Lute conosco – eu disse. – E veremos.
– Os deuses não lhe ensinaram nada? Um imortal não enfrenta um mero mortal diretamente. Está abaixo da nossa dignidade. Luke irá destruí-lo em vez disso.
– Então você é mais um covarde – falei.
Os olhos de Atlas brilharam de ódio. Com dificuldade, ele desviou sua atenção para Thalia.
– Quanto a você, filha de Zeus, parece que Luke estava errado sobre você.
– Eu não estava errado – Luke afirmou. Ele parecia terrivelmente fraco, e falava cada palavra como se estivesse doendo. Se eu não o odiasse tanto, quase teria sentido pena dele. – Thalia, você ainda pode se juntar a nós. Chame o Ofiotauro. Ele virá até você. Veja!
Ele acenou com a mão, e perto de nós um tanque de água apareceu: um reservatório circundado de mármore preto, grande o suficiente para o Ofiotauro. Eu podia imaginar Bessie naquele tanque. Na verdade, quanto mais eu pensava sobre isso, mais tinha certeza de que podia ouvir Bessie mugindo.
Não pense nele! De repente a voz de Grover estava dentro da minha mente – a conexão empática. Eu podia sentir as suas emoções. Ele estava à beira do pânico. Estou perdendo Bessie. Bloqueie os pensamentos!
Tentei esvaziar minha mente. Tentei pensar em jogadores de basquete, skates, os diferentes tipos de doces da loja da minha mãe. Tudo menos Bessie.
– Thalia, chame o Ofiotauro – Luke persistiu. – E você será mais poderosa que os deuses.
– Luke... – A voz dela estava cheia de dor. – O que aconteceu com você?
– Você não se lembra de todas as vezes que conversamos? Todas aquelas vezes que amaldiçoamos os deuses? Nossos pais não fizeram nada por nós. Eles não têm o direito de governar o mundo!
Thalia balançou a cabeça.
– Liberte Annabeth. Deixe-a ir.
– Se você se juntar a mim – Luke prometeu, – pode ser como nos velhos tempos. Nós três juntos. Lutando por um mundo melhor. Por favor, Thalia, se você não concordar... – A voz dele vacilou. – É minha última chance. Ele vai usar o outro jeito se você não concordar. Por favor.
Eu não sabia o que ele queria dizer, mas o medo em sua voz pareceu bastante real. Acreditei que Luke estava em perigo. A vida dele dependia que Thalia se juntasse a sua causa. E eu estava com medo que Thalia acreditasse nisso também.
– Não, Thalia – Zöe avisou. – Devemos combatê-los.
Luke acenou com a mão novamente, e fogo apareceu. Um braseiro de bronze, como o do acampamento. Uma chama de sacrifício.
– Thalia – eu disse. – Não.
Atrás de Luke, o sarcófago dourado começou a brilhar. Enquanto isso, vi imagens na névoa a toda nossa volta: paredes de mármore preto se erguendo, as ruínas tornando-se inteiras, um terrível e bonito palácio surgindo em torno de nós, feito de medo e sombra.
– Vamos erguer o Monte Ótris aqui mesmo – Luke prometeu, numa voz tão deformada que mal parecia a dele. – Uma vez mais, será mais forte e maior que o Olimpo. Veja, Thalia. Não somos fracos.
Ele apontou na direção do oceano, e meu coração afundou. Marchando, subindo pela encosta da montanha, vindo da praia onde o Princesa Andrômeda estava atracado, havia um grande exército. Dracaenae e lestrigões, monstros e meio-sangues, cães infernais, harpias, e outras coisas que eu sequer conseguia nomear. O navio inteiro devia ter sido esvaziado, porque havia centenas, muito mais do que eu tinha visto no último verão. E eles estavam marchando em nossa direção. Em poucos minutos, estariam aqui.
– Esta é só uma prova do que está por vir – Luke disse. – Logo estaremos prontos para invadir o Acampamento Meio-Sangue. E depois disso, o próprio Olimpo. Tudo que precisamos é da sua ajuda.
Por um terrível momento, Thalia hesitou. Ela olhou fixamente para Luke, seus olhos cheios de dor, como se a única coisa que ela quisesse no mundo fosse acreditar nele. Então ela nivelou sua lança.
– Você não é Luke. Não conheço mais você.
– Sim, você conhece, Thalia – ele alegou. – Por favor. Não me faça... não o faça destruir você.
Não havia mais tempo. Se aquele exército chegasse ao topo da colina, seríamos massacrados. Encontrei novamente os olhos de Annabeth. Ela assentiu.
Olhei para Thalia e Zöe, e decidi que não seria a pior coisa do mundo morrer lutando ao lado de amigas como essas.
– Agora – eu disse.
Juntos, nós atacamos.
Thalia foi direto em Luke. O poder de seu escudo era tão grande que suas mulheres dragão guarda-costas fugiram em pânico, derrubando o caixão dourado e deixando-o sozinho. Mas apesar de sua aparência doentia, Luke ainda era rápido com sua espada.
Ele rosnou como um animal selvagem e contra-atacou. Quando sua espada,
Mordecostas, encontrou-se com o escudo de Thalia, uma esfera de relâmpagos explodiu entre eles, fritando o ar com espirais amarelas de energia.
Quanto a mim, fiz a coisa mais estúpida da minha vida, o que é dizer muito. Ataquei o Lorde Titã Atlas.
Ele gargalhou enquanto eu me aproximava. Um enorme dardo apareceu em suas mãos. Sua roupa de seda derreteu em uma completa armadura grega de batalha.
– Venha, então!
– Percy! – Zöe disse. – Cuidado!
Eu sabia sobre o que ela estava me alertando. Quíron me falara há muito tempo: Imortais são restringidos por regras antigas. Mas um herói pode ir a qualquer lugar, desafiar qualquer um, contanto que tenha ousadia. Uma vez que eu ataquei, entretanto, Atlas estava livre para atacar em resposta diretamente, com todo seu poder.
Brandi minha espada, e Atlas me jogou para o lado com a haste de seu dardo. Voei pelo ar e bati em um muro negro. Não era mais a Névoa. O palácio estava se erguendo, tijolo por tijolo. Estava se tornando real.
– Tolo! – Atlas gritou contente, golpeando para o lado uma das flechas de Zöe. – Você pensou, simplesmente porque você pôde desafiar aquele insignificante deus da guerra, que você poderia se levantar contra mim?
A menção de Ares deu um solavanco em mim. Afastei meu atordoamento e investi novamente. Se eu conseguisse chegar àquele tanque de água, poderia dobrar minha força.
A ponta do dardo golpeou em minha direção como uma foice. Levantei Contracorrente, planejando cortar a arma dele na haste, mas meu braço parecia de chumbo. Minha espada de repente pesava uma tonelada. E me lembrei do aviso de Ares, dito na praia de Los Angeles há tanto tempo atrás: Quando você mais precisar, sua espada falhará com você.
Não agora! Implorei. Mas não fez bem algum. Tentei esquivar, mas o dardo me pegou pelo peito e me mandou voando como um boneco de trapos. Bati com força no chão, minha cabeça girando. Olhei para cima e descobri que estava aos pés de Ártemis, ainda esforçando-se sob o peso do céu.
– Corra, garoto – ela me falou. – Você deve correr!
Atlas estava aproveitando seu tempo vindo em minha direção. Minha espada se fora. Ela havia escorregado pela beirada do penhasco. Deveria reaparecer no meu bolso – talvez em alguns segundos – mas isso não importava. Já estaria morto até lá. Luke e Thalia estavam lutando como demônios, relâmpagos crepitando ao redor deles.
Annabeth estava no chão, debatendo-se desesperadamente para libertar as mãos.
– Morra, pequeno herói – Atlas disse.
Ele ergueu seu dardo para me transpassar.
– Não! – exclamou Zöe, e uma saraivada de flechas brotou da fenda axilar na armadura de Atlas.
– ARGH! – Ele berrou e se virou na direção de sua filha.
Procurei e senti Contracorrente de volta em meu bolso. Eu não podia enfrentar Atlas, mesmo com uma espada. Então um calafrio desceu pelas minhas costas. Eu me lembrei das palavras da profecia: A maldição do Titã um suportará. Não tinha esperança de vencer Atlas. Mas havia outra pessoa que podia ter uma chance.
– O céu – falei para a deusa. – Entregue pra mim.
– Não, garoto – Ártemis disse. Sua testa estava banhada em suor metálico, como mercúrio. – Você não sabe o que está pedindo. Vai destruí-lo!
– Annabeth aguentou!
– Ela quase não sobreviveu. Ela teve o espírito de uma verdadeira caçadora. Você não vai durar tanto.
– Vou morrer de qualquer jeito – eu disse. – Entregue o peso do céu!
Não esperei pela resposta dela. Saquei Contracorrente e golpeei as correntes. Então dei um passo para perto dela e me dei suporte em um joelho – mantendo as mãos no alto – e toquei as geladas, pesadas nuvens. Por um momento, Ártemis e eu suportamos o peso juntos. Era a coisa mais pesada que eu já havia sentido, como se estivesse sendo esmagado embaixo de mil caminhões. Quis recuar da dor, mas respirei profundamente.
Eu posso fazer isso.
Então Ártemis deslizou de baixo do fardo, e eu o segurei sozinho.
Depois disso, tentei muitas vezes explicar qual foi a sensação. Não consegui. Todos os músculos do meu corpo queimavam. Meus ossos pareciam estar derretendo. Eu queria gritar, mas não tinha força para abrir minha boca. Comecei a afundar, cada vez mais perto do chão, o peso do céu esmagando-me.
Reaja! A voz de Grover disse dentro da minha cabeça. Não desista.
Concentrei-me na respiração. Se eu ao menos pudesse manter o céu no alto por mais alguns segundos. Pensei em Bianca, que dera sua vida para que pudéssemos estar aqui. Se ela podia fazer aquilo, eu podia carregar o céu.
Minha visão ficou borrada. Tudo estava tingido de vermelho. Eu capturava lampejos da batalha, mas não tinha certeza se estava vendo claramente. Havia Atlas numa armadura de batalha completa, golpeando com seu dardo, gargalhando insanamente enquanto lutava. E Ártemis, um borrão de prata. Ela tinha duas cruéis facas de caça, cada uma tão longa quanto seu braço, e ela golpeava o Titã com selvageria, esquivando e saltando com uma graça inacreditável. Ela parecia mudar de forma enquanto manobrava. Era um tigre, uma gazela, um urso, um falcão. Ou talvez fosse apenas meu cérebro febril. Zöe disparava flechas em seu pai, mirando nas fendas de sua armadura. Ele rugia de dor cada vez que uma achava seu lugar, mas elas o afetavam como picadas de abelha. Ele apenas ficava mais irado e continuava lutando.
Thalia e Luke continuavam lança contra espada, relâmpagos lampejando em volta deles. Thalia pressionou Luke para trás com a aura de seu escudo. Mesmo ele não era imune a isso. Ele recuou, estremecendo e rosnando de frustração.
– Renda-se! – Thalia gritou. – Você nunca conseguiu me derrotar, Luke.
Ele mostrou os dentes.
– Veremos, minha velha amiga.
Suor escorria pelo meu rosto. Minhas mãos estavam escorregadias. Meus ombros teriam gritado de agonia se pudessem. Senti como se as vértebras da minha coluna estivessem sendo soldadas por um maçarico.
Atlas avançou, pressionando Ártemis. Ela era rápida, mas a força dele era impossível de ser parada. Seu dardo atingiu o lugar onde Ártemis estivera uma fração de segundo antes, e uma rachadura se abriu nas rochas. Ele pulou a fissura e continuou a persegui-la.
Ela o estava guiando de volta em minha direção.
Prepare-se, ela disse na minha mente.
Eu estava perdendo a capacidade de pensar em meio à dor. Minha resposta foi algo como: Agggghh-owwwwwww.
– Você luta bem para uma garota – Atlas riu. – Mas você não é páreo para mim.
Ele simulou com a ponta do seu dardo e Ártemis se esquivou. Eu vi o truque chegando. O dardo de Atlas varreu em volta e arrancou as pernas de Ártemis do chão. Ela caiu, e Atlas trouxe a ponta de seu dardo para matar.
– Não! – Zöe gritou. Ela saltou entre seu pai e Ártemis e atirou uma flecha diretamente na testa do Titã, onde se fixou como um chifre de unicórnio. Atlas bradou de raiva. Ele varreu sua filha para o lado com as costas de sua mão, mandando-a voando para dentro das rochas negras.
Eu quis gritar o nome dela, correr em seu auxílio, mas não conseguia falar ou me mexer. Nem ao menos conseguia ver onde Zöe tinha aterrissado. Então Atlas se virou para Ártemis com um olhar de triunfo em seu rosto. Ártemis parecia estar ferida. Ela não se levantou.
– O primeiro sangue em uma nova guerra – Atlas se vangloriou. E ele apunhalou para baixo.
Rápida como o pensamento, Ártemis agarrou a haste de seu dardo. O objeto atingiu o chão bem ao lado dela e ela o puxou para trás, usando o dardo como uma alavanca, chutando o Lorde Titã e mandando-o voando sobre ela, eu o vi caindo em cima de mim e percebi o que aconteceria. Afrouxei minha pegada no céu, e enquanto Atlas me atingia eu não tentei segurar. Eu me deixei ser empurrado para fora do caminho e rolei com tudo.
O peso do céu recaiu sobre as costas de Atlas, quase achatando-o até que ele conseguiu se ajoelhar, debatendo-se para sair debaixo do peso esmagador do céu. Mas era tarde demais.
– Nãããooo! – ele berrou tão forte que sacudiu a montanha. – De novo não!
Atlas estava preso sob seu antigo fardo.
Tentei me levantar e caí de novo, tonto de dor. Meu corpo parecia estar queimando. Thalia acuou Luke na beira do penhasco, mas eles ainda duelavam, próximos ao caixão dourado. Thalia tinha lágrimas nos olhos. Luke tinha um corte ensanguentado em seu peito e sua face pálida reluzia com o suor.
Ele atacou Thalia e ela o acertou com o escudo. A espada de Luke girou para fora de sua mão e tilintou nas pedras. Thalia pôs a ponta de sua lança na garganta dele. Por um momento, houve silêncio.
– Bem? – Luke perguntou. Ele tentou esconder, mas eu podia escutar medo em sua voz. Thalia tremeu de fúria.
Atrás dela, Annabeth veio arrastando-se, finalmente livre de suas amarras. O rosto dela estava machucado e riscado de sujeira.
– Não o mate!
– Ele é um traidor – Thalia disse. – Um traidor!
Atordoado, percebi que Ártemis não estava mais comigo. Ela tinha corrido em direção às rochas negras onde Zöe caíra.
– Nós vamos trazer Luke de volta – Annabeth pediu. – Para o Olimpo. Ele... ele será útil.
– É isso que você quer, Thalia? – Luke zombou. – Voltar para o Olimpo triunfante? Agradar ao seu pai?
Thalia hesitou, e Luke agarrou desesperadamente a lança dela.
– Não! – Annabeth gritou. Mas era tarde demais. Sem pensar, Thalia chutou Luke para longe. Ele perdeu o equilíbrio, terror em seu rosto, e então caiu.
– Luke! – Annabeth gritou.
Corremos até a beirada do penhasco. Abaixo de nós, o exército do Princesa Andrômeda parara de espanto. Eles olhavam fixamente para a forma quebrada de Luke nas rochas.
Por mais que eu o odiasse, não aguentava ver. Queria acreditar que ele ainda estava vivo, mas era impossível. A queda era de cinco metros no mínimo, e ele não estava se mexendo.
Um dos gigantes olhou para cima e rugiu:
– Matem-nos!
Thalia estava rígida de pesar, lágrimas descendo por sua face. Eu a puxei para trás quando uma onda de dardos passou por cima de nossas cabeças. Corremos para as rochas, ignorando as maldições e ameaças de Atlas enquanto passávamos.
– Ártemis! – gritei.
A deusa olhou para cima, seu rosto quase tão arrasado de pesar quanto o de Thalia. Zöe estava deitada nos braços da deusa. Ela estava respirando. Os olhos dela estavam abertos. Mas ainda assim...
– A ferida está envenenada – Ártemis disse.
– Atlas a envenenou? – perguntei.
– Não – a deusa disse. – Não Atlas.
Ela nos mostrou a ferida no lado de Zöe. Quase tinha esquecido o arranhão do dragão Ladon. A mordida era muito pior do que Zöe demonstrara. Eu quase não conseguia olhar para o ferimento. Ela tinha investido na batalha contra seu pai com um corte horrível já extraindo suas forças.
– As estrelas – Zöe murmurou. – Não consigo vê-las.
– Néctar e ambrosia – eu disse. – Vamos! Temos que pegar um pouco pra ela.
Ninguém se mexeu. Tristeza pairava no ar. O exército de Cronos estava logo abaixo da saliência. Até mesmo Ártemis estava chocada demais para se mover. Devíamos ter encontrado nossa perdição lá, mas então escutei um estranho zumbido.
Assim que o exército de monstros subiu a colina, um Sopwith Camel desceu rapidamente do céu.
– Fiquem longe da minha filha! – Dr. Chase gritou, e suas metralhadoras explodiram com vida, salpicando o chão com buracos de bala e assustando todo o grupo de monstros num estardalhaço.
– Pai? – gritou Annabeth, incrédula.
– Corram! – ele falou de volta, sua voz ficando mais fraca enquanto o avião atacava.
Isso sacudiu Ártemis para fora de sua tristeza. Ela encarou o antigo avião, o qual estava agora fazendo a volta para outro bombardeamento.
– Um homem corajoso – Ártemis disse, aprovando de má vontade. – Vamos, devemos tirar Zöe daqui.
Ela levou seu berrante aos lábios, e seu som claro ecoou nos vales de Marin. Os olhos de Zöe estavam tremendo.
– Aguente firme! – eu disse a ela. – Vai ficar tudo bem!
O Sopwith Camel atacou de novo. Alguns gigantes jogaram dardos, e um voou diretamente entre as asas do avião, mas as metralhadoras arderam em chamas. Percebi com admiração que de algum jeito Dr. Chase obtivera bronze celestial para modelar suas balas. A primeira fileira de mulheres serpente gritou de dor quando uma saraivada da metralhadora as explodiu em poeira amarela sulfurosa.
– Esse... é meu pai! – Annabeth disse, admirada.
Não tivemos tempo para apreciar o voo dele. Os gigantes e as mulheres serpente já estavam se recuperando da surpresa. Dr. Chase logo estaria com problemas.
Bem nesse momento, o luar brilhou, e uma carruagem prateada apareceu no céu, puxada pela mais bela rena que eu já vira. Ela aterrissou bem ao nosso lado.
– Subam – Ártemis disse.
Annabeth me ajudou a colocar Thalia a bordo. Então ajudei Ártemis com Zöe.
Enrolamos Zöe em um cobertor enquanto Ártemis puxava as rédeas e a carruagem acelerava para longe da montanha, direto para o céu.
– Como o trenó do Papai Noel – murmurei, ainda atordoado de dor.
Ártemis levou um tempo para olhar de volta para mim.
– De fato, jovem meio-sangue. E de onde você acha que surgiu a lenda?
Vendo-nos ir embora em segurança, Dr. Chase virou seu bimotor e nos seguiu como uma escolta de honra. Deve ter sido uma das mais estranhas visões, mesmo para a Área da Baía: uma carruagem prateada puxada por uma rena, escoltada por um Sopwith Camel.
Atrás de nós, o exército de Cronos rugia de raiva conforme se aglomerava no topo do Monte Tamalpais, mas o som mais alto era a voz de Atlas, gritando maldições contra os deuses enquanto se debatia sob o peso do céu.

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