sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 5





                             Enfio minha cadela em uma arvore

A Sra. O’ Leary me viu antes de eu vê-la, o que era um truque muito bom considerando que ela é do tamanho de um caminhão de lixo. Eu entrei na arena, e uma parede de escuridão bateu em mim.

“WOOF!”
A próxima coisa que eu sabia era que estava prensado no chão com uma pata gigante no meu peito e uma língua superdimensionada lambendo a minha cara.
– Ow! – eu disse. – Hey, garota. É bom te ver também. Ow!
Levou alguns minutos para Sra. O’Leary se acalmar e sair de cima de mim. Até lá eu já estava bem encharcado de baba de cachorro. Ela queria brincar de ir buscar, então eu peguei um escudo de bronze e o joguei do outro lado da arena.
Falando nisso, Sra. O’ Leary é o único cão infernal amigável do mundo. Eu meio que tinha herdado ela quando seu dono anterior morreu. Ela morava no acampamento, mas Beckendorf...bem, Beckendorf costumava tomar conta dela quando eu estava fora. Ele tinha fundido o osso de bronze para mascar favorito de Sra. O’ Leary. Ele tinha forjado sua coleira com pequenas carinha felizes e uma etiqueta de identificação. Próximo a mim, Beckendorf era seu melhor amigo.
Pensar sobre isso me fez ficar triste de novo, mas eu joguei o escudo mais algumas vezes porque Sra. O’ Leary insistiu.
Logo ela começou a latir – um som ligeiramente mais alto do que uma artilharia de armas – como se ela precisasse sair para uma caminhada. Os outros campistas não achavam engraçado quando ela ia ao banheiro na arena – isso já tinha causado acidentes infelizes. Então eu abri os portões da arena, e ela foi direto para a floresta.
Eu corri atrás dela, não muito preocupado que ela estivesse na frente. Nada na floresta podia ameaçar Sra. O’ Leary. Mesmo os dragões e escorpiões gigantes fugiam quando ela se aproximava.
Quando eu finalmente a achei, ela não estava usando o banheiro. Ela estava em uma clareira familiar onde o conselho dos anciões uma vez tinha colocado Grover em julgamento. O lugar não parecia muito bem. A grama tinha amarelado. Os três tronos de topiário tinham perdido todas as folhas. Mas não foi isso que me surpreendeu. No meio da clareira estava o trio mais estranho que eu já havia visto: Juníper, a ninfa da árvore, Nico di Angelo, e um muito velho, muito gordo sátiro.
Nico era o único que não parecia assustado pela aparição de Sra. O’ Leary. Ele estava bastante parecido com quando o vira em meu sonho – uma jaqueta de aviação, jeans pretos, e uma camisa com esqueletos dançantes nela, como um daqueles retratos do Dia dos Mortos. Sua espada de ferro estígio estava pendurada ao seu lado. Ele tinha só doze anos, mas parecia muito mais velho e triste.
Ele cumprimentou-me quando me viu, depois voltou a coçar as orelhas de Mrs. O’Leary. Ela cheirou suas pernas como se ele fosse a coisa mais interessante desde os bifes de costeleta. Sendo o filho de Hades, ele provavelmente esteve viajado por todos os lugares que cães infernais adoravam.
O velho sátiro não parecia nem um pouco tão feliz.
– Alguém poderia - o que esta criatura do submundo está fazendo na minha floresta?
Ele sacudiu seus braços e trotou em seus cascos como se a grama estivesse quente.
– Você aí, Percy Jackson! Essa fera pertence a você?
– Desculpe-me, Leneu – eu disse. – Esse é seu nome, certo?
O sátiro revirou os olhos. Seu pelo era de uma cinza de coelho e uma teia de aranha crescia entre seus chifres. Sua barriga o teria feito um carrinho de bate-bate invencível.
– Bem, é claro que sou Leneu. Não me diga que esqueceu um membro do conselho tão rapidamente! Agora, chame a sua besta!
“WOOF!” disse Sra. O’ Leary alegremente.
O velho sátiro engoliu.
– Faça isso ir embora! Juníper, eu não irei ajudá-la sob essas circunstâncias.
Juníper se voltou para mim. Ela era bonita de um jeito dríade, com seu vestido fino roxo e seu rosto de elfo, mas seus olhos estavam tingidos com um tom de verde da clorofila, de tanto chorar.
– Percy – fungou ela. – Eu estava perguntando sobre Grover. Eu sei que alguma coisa aconteceu. Ele não ficaria longe tanto tempo se não estivesse em apuros. Eu estava esperando que Leneu...
– Eu disse a você! – O sátiro protestou. – Você está melhor sem aquele traidor.
Juníper bateu o pé.
– Ele não é um traidor! Ele é o sátiro mais corajoso do mundo, e eu quero saber onde ele está!
“WOOF!”
Os joelhos de Leneu começaram a bater.
– Eu... Eu não responderei perguntas com esse cão infernal cheirando a minha cauda!
Nico parecia estar tentando não desmaiar.
– Eu passearei com o cachorro – ele se voluntariou.
Ele assobiou, e Sra. O’ Leary foi andando atrás dele até o fim da clareira. Leneu xingou indignamente e escovou os galhos de sua camisa.
– Agora, como eu estava tentando explicar, jovem dama, seu namorado não mandou relatório algum desde que votamos para que fosse exilado.
– Você tentou votar para que fosse exilado – eu corrigi. – Quíron e Dionísio o pararam.
– Bah! Eles são membros honorários do conselho. Não foi um voto apropriadamente.
– Vou contar a Dionísio que você disse isso.
Leneu ficou pálido.
– Eu só quis dizer... Agora olhe aqui, Jackson. Isso não é problema seu.
– Grover é meu amigo – eu disse. – Ele não estava mentindo a você sobre a morte de Pã. Eu a vi eu mesmo. Você estava apenas assustado demais para aceitar a verdade.
Os lábios de Leneu tremeram.
– Não! Grover é um mentiroso e é bom se ver livre dele. Nós estamos melhor sem ele.
Eu apontei para os tronos murchos.
– Se as coisas estão indo tão bem, onde estão seus amigos? Parece que o seu conselho não tem se reunido ultimamente.
– Maron e Sileno...Eu...Eu tenho certeza que voltarão. – Disse ele, mas pude perceber medo em sua voz. – Nós estamos apenas tirando algum tempo para pensar. Tem sido um ano muito inquietante.
– Vai ficar muito mais inquietante – eu prometi.
– Leneu, nós precisamos de Grover. Tem que haver um modo de encontrá-lo com sua magia.
Os olhos do velho sátiro piscaram.
– Estou dizendo a vocês que não ouvi nada. Talvez ele esteja morto.
Juníper engoliu um soluço.
– Ele não está morto – eu disse. – Eu posso sentir isso.
– Elos empáticos – disse Leneu desdenhando. – Muito pouco confiáveis.
– Então pergunte por aí – eu insisti. – Ache-o. Tem uma guerra chegando. Grover estava preparando os espíritos da natureza.
– Sem a minha permissão! E essa guerra não é nossa.
Eu o peguei pela camisa, o que seriamente não era o meu normal, mas o bode velho estava me deixando com raiva.
– Escute, Leneu. Quando Cronos atacar, ele terá matilhas de cães infernais. Ele vai destruir tudo em seu caminho - mortais, deuses, meio-sangues. Você acha que ele vai deixar os sátiros livres? Você deveria ser um líder. Então LIDERE. Vá lá fora e veja o que está acontecendo. Ache Grover e traga algumas notícias a Juníper. Vá, AGORA!
Eu não o empurrei muito forte, mas a cabeça dele era meio pesada. Ele caiu sentado com bunda peluda, depois conseguiu se por de pé e correu com sua barriga gingando.
– Grover jamais será aceito! Ele morrerá um exilado!
Quando ele desapareceu nos arbustos, Juníper piscou seus olhos.
– Eu sinto muito, Percy. Eu não queria te envolver. Leneu ainda é um Senhor da natureza. Você não quer fazer dele um inimigo.
– Sem problemas – eu disse. – Eu tenho inimigos piores do que sátiros acima do peso.
Nico voltou até onde estávamos.
– Bom trabalho, Percy. Julgando pela trilha de pelos de bode, eu diria que você o sacudiu bastante.
Eu temia que eu soubesse o porque de Nico estar ali, mas eu tentei sorrir.
– Bem vindo de volta. Você veio aqui só para ver Juníper?
Ele corou.
– Um, não. Isso foi um acidente. Eu meio que... caí no meio da conversa deles.
– Ele nos assustou até a morte! – Disse Juníper. – Saiu direto das sombras. Mas, Nico, você é filho de Hades, e tudo. Você tem certeza de que não ouviu nada sobre Grover?
Nico mudou o peso da perna.
– Juníper, como eu tentei dizer a você... mesmo se Grover morresse, ele iria reencarnar como alguma outra coisa da natureza. Eu não posso sentir coisa assim, só almas mortais.
– Mas se você souber de algo... – ela pediu, colocando suas mãos nos braços dele. – Qualquer coisa...
As bochechas de Nico ficaram ainda mais vermelhas.
– Uh, pode apostar. Eu manterei meus ouvidos abertos.
– Nós o encontraremos, Juníper – eu prometi. – Grover está vivo, tenho certeza. Deve haver alguma razão simples para ele não ter nos contatado.
Ela assentiu sombriamente.
– Eu odeio não ser capaz de deixar a floresta. Ele pode estar em qualquer lugar, e eu estou presa aqui esperando. Oh, se aquele bode tolo tiver se machucado...
Sra. O’ Leary se voltou saltitando e se interessou pelo vestido de Juníper. Juníper uivou.
– Oh, não você não vai! Eu sei sobre cachorros e árvores. Já fui!
Ela se foi com um poof em névoa verde. Sra. O’ Leary pareceu desapontada, mas ela arrastou-se para achar outro alvo, deixando Nico e eu sozinhos.
Nico jogou sua espada no chão. Um pequeno monte de ossos de animais irrompeu do chão. Eles se uniram e se transformaram em um esqueleto de rato-do-campo, e fugiu.
– Eu senti muito ao ouvir sobre Beckendorf.
Um caroço se formou em minha garganta.
– Como você...
– Eu conversei com seu fantasma.
– Oh... Certo. – Eu nunca me acostumaria com o fato que esse garoto de doze anos de idade passasse mais tempo falando com os mortos do que com os vivos. – Ele disse alguma coisa?
– Ele não te culpa. Ele achou que você estaria se martirizando, e ele disse que você não deveria.
– Ele vai tentar renascer?
Nico sacudiu a cabeça.
– Ele vai ficar no Elísio. Disse que estava esperando por alguém. Não tenho certeza do que ele quis dizer, mas ele parece estar OK com a própria morte.
Isso não era muito reconfortante, mas era alguma coisa.
– Eu tive uma visão em que você estavam no Monte Tam – eu disse a Nico. – Isso era...
– Real – ele disse. – Eu não pretendia espionar os Titãs, mas eu estava nas redondezas.
– Fazendo o que?
Nico puxou o cinto de sua espada.
– Seguindo uma pista de... você sabe, minha família.
Eu assenti. Eu sabia que seu passado era um assunto dolorido. Até dois anos atrás, ele e sua irmã Bianca estavam congelados no tempo em um lugar chamado Lótus Hotel e Cassino. Eles tinham estado lá por tipo setenta anos. Eventualmente, um advogado misterioso os resgatou e os colocou em um internato, mas Nico não se lembrava de sua vida antes do cassino. Ele não sabia nada sobre sua mãe. Ele não sabia quem o advogado era, ou o porque eles tinham estado congelados no tempo ou permitidos a saírem. Depois que Bianca morreu e deixou Nico sozinho, ele tinha estado obsessivo por encontrar respostas.
– Então como foi? – eu perguntei. – Alguma sorte?
– Não – ele murmurou. – Mas eu talvez tenha uma nova pista em breve.
– Que pista?
Nico mordeu seu lábio.
– Isso não é importante agora. Você sabe porque estou aqui.
Uma sensação de pavor começou a se formar em meu peito. Desde que Nico me ofereceu seu plano para vencer Cronos no verão passado, eu tinha tido pesadelos sobre isso. Ele aparecia de vez em quando e me pressionava por uma resposta, mas eu continuava adiando.
– Nico, eu não sei – eu disse. – Me parece radical demais.
– Nós temos Tifão chegando em, o que... uma semana? A maior parte dos outros titãs está a solta agora e do lado de Cronos. Talvez esteja na hora de pensar radicalmente.
Eu olhei de volta para o campo. Mesmo dessa distância eu podia ouvir os chalés de Ares e Apolo brigando de novo, jogando maldições e versos ruins.
– Eles não são páreo para exército Titã – disse Nico. – Você sabe disso. Isso tem que ser entre você e Luke. E só há um modo no qual você pode vencer Luke.
Eu me lembrei da luta no Princesa Andrômeda. Eu fora irremediavelmente derrotado. Cronos quase tinha me matado com um único corte em meu braço, e eu nem pude feri-lo. Contracorrente tinha sido desviada em sua pele.
– Nós podemos te dar o mesmo poder – Nico sugeriu. – Você ouviu a Grande Profecia. A menos que queira ter sua alma arrancada por uma lâmina maldita...
Eu me perguntei como Nico sabia da grande profecia – provavelmente com algum fantasma.
– Não se pode escapar de uma profecia – eu disse.
– Mas se pode lutar contra ela. – Nico tinha uma luz estranha e faminta em seus olhos. – Você pode se tornar invencível.
– Talvez nós devêssemos esperar. Tentar lutar sem...
– Não! – Nico rosnou. – Tem que ser agora!
Eu o encarei. Eu não vi seu temperamento se incendiar assim há muito tempo.
– Hã, você tem certeza que está tudo bem?
Ele respirou profundamente.
– Percy, só o que eu quero dizer... quando a luta começar, nós não seremos capazes de fazer a jornada. Essa é nossa última chance. Sinto muito se estou pressionando demais, mas há dois anos minha irmã deu sua vida para te proteger. Eu quero honrar isso. Faça tudo o que precisar ser feito para permanecer vivo e derrotar Cronos.
Eu não gostava da ideia. Então me lembrei de Annabeth me chamando de covarde, e fiquei com raiva. Nico tinha razão. Se Cronos atacasse Nova York, os campistas não seriam páreo para suas forças. Eu tinha que fazer alguma coisa. O jeito de Nico era perigoso – talvez até mortal. Mas poderia me dar uma luta mais justa.
– Tudo bem – eu decidi. – O que faremos primeiro?
Seu sorriso frio e sinistro fez com que eu me arrependesse de ter aceitado.
– Primeiro nós vamos precisar refazer os passos de Luke. Nós precisamos saber mais sobre seu passado, sua infância.
Eu tremi pensando no retrato de Rachel em meu sonho – um sorridente Luke de nove anos de idade.
– Por que nós precisamos saber disso?
– Eu explicarei quando chegarmos lá – disse Nico. – Eu já rastreei sua mãe. Ela mora em Conneticut.
Eu o encarei. Eu nunca tinha pensado muito no progenitor mortal de Luke. Eu tinha conhecido seu pai, Hermes, mas sua mãe...
– Luke fugiu quando era realmente novo – eu disse. – Eu não achei que sua mãe estivesse viva.
– Oh, ela está viva.
O modo como disse isso me fez perguntar o que havia de errado com ela. Que tipo de pessoa horrível ela poderia ser?
– Okay... – eu disse. – Então como chegamos a Conneticut? Eu posso chamar Blackjack...
– Não. – Nico fez uma carranca. – Pégasos não gostam de mim, e o sentimento é recíproco. Mas não há necessidade de voar. – Ele assoviou e Sra. O’ Leary veio das árvores. – Sua amiga pode ajudar. – Nico coçou a cabeça dela. – Você ainda não tentou viajar nas sombras?
– Viajar nas sombras?
Nico sussurrou no ouvido de Sra. O’ Leary . Ela inclinou a cabeça, subitamente alerta.
– Suba a bordo – Nico me disse.
Eu nunca tinha considerado montar em um cachorro antes, mas Sra. O’ Leary certamente era grande o suficiente. Eu subi em seu dorso e segurei sua coleira.
– Isso a deixará muito cansada – Nico alertou, – então você não pode fazê-lo constantemente. E funciona melhor à noite. Mas todas as sombras são parte de uma mesma substância. Só há uma escuridão, e as criaturas do submundo podem usá-la como uma estrada, ou porta.
– Eu não entendo – eu disse.
– Não – disse Nico. – Eu demorei um longo tempo para aprender. Mas Sra. O’Leary sabe. Diga a ela onde ir. Diga a ela Westport, a casa de May Castellan.
– Você não vem?
– Não se preocupe – ele disse. – Encontro você lá.
Eu estava um pouco nervoso, mas eu me inclinei sobre o ouvido de Sra. O’Leary.
– Okay, garota. Uh, você pode me levar a Westport, Conneticut? A casa de May Castellan?
Sra. O’Leary cheirou o ar. Ela olhou para dentro da floresta. Então ela se inclinou para frente, direto para o oco de uma árvore. Logo antes de colidirmos, nós passamos por dentro de sombras tão frias quanto o lado escuro da lua.

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