sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A Batalha do labirinto - capitulo 8




                     Visitamos o rancho de férias do demonio

Nós finalmente paramos em uma sala cheia de cachoeiras. O chão era um grande poço, cercado por uma passarela de pedra escorregadia. A nossa volta, em todas as quatro paredes, água caía de enormes canos. A água vazava para dentro do poço, e mesmo quando iluminei com a lanterna, não consegui ver o fundo.

Briareu caiu contra a parede. Ele pegou água com uma dúzia de mãos em concha e lavou o rosto.

– Este poço vai direto para o Tártaro – ele murmurou. – Eu deveria pular e salvá-los de encrenca.

– Não fale dessa maneira – Annabeth disse a ele. – Você pode voltar para o acampamento conosco. Você pode nos ajudar nos preparativos. Você sabe mais sobre luta contra os Titãs do que qualquer um.

– Não tenho nada a oferecer – disse Briareu. – Eu perdi tudo.

– E quanto aos seus irmãos? – Tyson perguntou. – Os outros dois devem ficar altos como montanhas! Podemos levar você até eles.

A expressão de Briareu se transformou para algo ainda mais triste: luto.

– Eles não existem mais. Eles se extinguiram.

As cachoeiras relampejaram. Tyson olhou para o poço e piscou lágrimas do seu olho.

– O que exatamente você quer dizer, eles se extinguiram? – perguntei. – Eu pensei que monstros fossem imortais, como os deuses.

– Percy – disse Grover fracamente, – mesmo a imortalidade tem limites. Às vezes... às vezes monstros caem no esquecimento e perdem a vontade de permanecer imortais.

Olhando para a face de Grover, eu me perguntei se ele estava pensando em Pã. Eu me lembrei de algo que a Medusa nos dissera uma vez: como suas irmãs, as outras duas górgonas, se foram e a deixaram sozinha. Depois, no ano passado, Apolo disse algo sobre o antigo deus Helio desaparecer e deixá-lo com os deveres do deus do sol. Eu nunca pensara muito sobre isso, mas agora, olhando para Briareu, eu percebi como seria terrível ser tão velho – milhares e milhares de anos – e totalmente sozinho.

– Tenho que ir – disse Briareu.

– O exército de Cronos vai invadir o acampamento – disse Tyson. – Precisamos de ajuda.

Briareu inclinou sua cabeça.

– Não posso, ciclope.

– Você é forte.

– Não sou mais. – Briareu se levantou.

– Ei – peguei um dos seus braços e o puxei de lado, onde o barulho da água encobriria nossas palavras. – Briareu, precisamos de você. Caso você não tenha notado, Tyson acredita em você. Ele arriscou a vida por você.

Eu contei a ele sobre tudo – o plano de invasão de Luke, a entrada do labirinto no acampamento, a oficina de Dédalo, o caixão dourado de Cronos. Briareu apenas balançou a cabeça.

– Não posso, semideus. Eu não tenho um dedo revólver para ganhar este jogo. – Para provar seu argumento, ele fez cem armas com os dedos.

– Talvez seja por isso que os monstros se extinguem – falei. – Talvez não seja sobre o que os mortais acreditem. Talvez seja porque você desistiu de si mesmo.

Seus puros olhos castanhos me consideraram. Seu rosto se transformou em uma expressão que eu reconheci – vergonha. Então ele se virou e correu corredor abaixo até se perder nas sombras.

Tyson soluçou.

– Está tudo bem – Grover bateu em seu ombro de forma hesitante, o que deve ter requerido toda a sua coragem.

Tyson espirrou.

– Não está tudo bem, garoto-bode. Ele era o meu herói.

Eu queria fazer ele se sentir melhor, mas eu não estava certo do que dizer.

Finalmente Annabeth se levantou e pôs sua mochila no ombro.

– Vamos, rapazes. Este poço está me deixando nervosa. Vamos encontrar um lugar melhor para passar a noite.



Acampamos em um corredor feito de enormes blocos de mármore. Parecia que poderia ter sido parte de um túmulo grego, com várias tochas de bronze fixadas nas paredes. Tinha que ser uma parte mais antiga do labirinto, e Annabeth decidiu que isto era um bom sinal.

– Devemos estar perto da oficina de Dédalo – disse ela. – Descansem um pouco, todos. Vamos continuar pela manhã.

– Como sabemos quando é de manhã? – Grover perguntou.

– Só descansem – ela insistiu.

Grover não precisou ouvir duas vezes. Ele puxou uma pilha de palha da sua mochila, comeu uma parte dela, fez uma almofada com o resto, e estava roncando em pouco tempo. Tyson demorou mais para dormir. Ele mexeu com alguns metais do seu kit de construção por um tempo, mas seja lá o que for que ele estava fazendo, ele não estava feliz com isso. Ele continuava desmontando as peças.

– Eu sinto muito por ter perdido o escudo – disse a ele. – Você trabalhou tão duro para consertá-lo.

Tyson olhou para cima. Seu olho injetado de tanto chorar.

– Não se preocupe, irmão. Você me salvou. Você não teria que ter feito isso se Briareu tivesse ajudado.

– Ele só estava com medo – falei. – Tenho certeza que ele vai superar.

– Ele não é forte – disse Tyson. – Ele não é mais importante.

Ele soltou um grande suspiro triste e, em seguida, fechou o olho. As peças metálicas caíram da sua mão, ainda não montadas, e Tyson começou a roncar.

Tentei adormecer, mas não conseguia. Alguma coisa sobre ser perseguido por uma grande mulher-dragão com espadas envenenadas tornou muito difícil relaxar. Eu peguei meu saco de dormir e o arrastei para perto de onde Annabeth estava sentada, vigiando.

Sentei ao lado dela.

– Você devia dormir – disse ela.

– Não consigo. Você está bem?

– Claro. Primeiro dia liderando a missão. Simplesmente ótimo.

– Nós vamos chegar lá – disse. – Vamos encontrar a oficina antes de Luke.

Ela afastou o cabelo do rosto. Ela tinha uma mancha de sujeira no seu queixo, e eu imaginei como deve ter parecido quando era pequena, vagueando pelo país com Thalia e Luke. Uma vez ela os salvara da mansão do Ciclope quando tinha apenas sete anos. Mesmo quando ela parecia assustada, como agora, eu sabia que ela tinha muita coragem.

– Eu apenas queria que a missão fosse lógica – ela reclamou. – Quer dizer, nós estamos viajando, mas não temos nenhuma ideia de onde vamos acabar. Como você pode andar de Nova York até a Califórnia em um dia?

– O tempo e o espaço são diferentes no labirinto.

– Eu sei, eu sei. É só... – Ela me olhou hesitante. – Percy, eu estava me enganando. Todo aquele planejamento e leitura, eu não tenho a menor ideia para onde nós estamos indo.

– Você está indo muito bem. Além disso, nós nunca sabemos o que estamos fazendo. E sempre funciona. Lembra a ilha de Circe?

Ela bufou.

– Você foi um porquinho-da-índia fofo.

– E Aqualândia, como você conseguiu nos livrar daquele passeio?

– Eu nos livrei? Aquilo foi totalmente culpa sua!

– Viu? Vai ficar tudo bem.

Ela sorriu, o que eu estava contente de ver, mas o sorriso desvaneceu rapidamente.

– Percy, o que Hera quis dizer quando ela disse que você sabia o caminho para atravessar o labirinto?

– Eu não sei – admiti. – Sinceramente.

– Você me diria se soubesse?

– Claro. Talvez...

– Talvez o quê?

– Talvez se você me dissesse a última linha da profecia, poderia ajudar.

Annabeth tremeu.

– Não aqui. Não no escuro.

– E sobre a escolha que Jano mencionou? Hera disse–

– Pare – Annabeth me bateu. Então ela respirou instavelmente. – Me desculpe, Percy. Estou estressada. Mas eu não... Eu preciso pensar sobre isso.

Nós nos sentamos em silêncio, ouvindo estranhos barulhos e gemidos no labirinto, o eco de pedras triturando juntas conforme os túneis mudavam, cresciam, e expandiam. O escuro me fez pensar sobre as visões que vira de Nico di Angelo, e de repente, percebi uma coisa.

– Nico está aqui em algum lugar – disse. – É como ele desapareceu do acampamento. Ele encontrou o labirinto. Então ele achou um caminho que o conduziu ainda mais longe – até o Mundo Inferior. Mas agora ele está de volta ao labirinto. Ele está vindo atrás de mim.

Annabeth ficou quieta por um longo tempo.

– Percy, eu espero que você esteja errado. Mas se você estiver certo... – ela mirou sua lanterna, criando um círculo na parede de pedras. Tive a sensação de que ela estava pensando em sua profecia. Eu nunca a vira parecer tão cansada.

– Que tal eu pegar o primeiro turno de vigia? – falei. – Eu acordo você se alguma coisa acontecer.

Annabeth me olhou como se quisesse protestar, mas ela apenas assentiu, deitou em seu saco de dormir, e fechou os olhos.



Quando foi a minha vez de dormir, sonhei que estava de volta à prisão do velho homem no Labirinto.

Parecia mais como uma oficina agora. Mesas estavam cheias de instrumentos de medição. Uma forja queimava vermelho quente no canto. O garoto que eu vira no último sonho estava carregando o fole, exceto que ele era mais alto agora, quase da minha idade. Um estranho instrumento afunilado estava anexado à forja da chaminé, exalando fumaça e calor e canalizando-os através de um tubo no chão, próximo a um grande tampão bronze de bueiro.

Era dia. O céu acima era azul, mas as paredes do labirinto produziam sombras profundas pela oficina. Depois de estar em túneis por tanto tempo, achei estranho que uma parte do labirinto pudesse ser aberta para o céu. De algum jeito aquilo fez o labirinto parecer um lugar ainda mais cruel.

O velho homem parecia adoentado. Ele estava terrivelmente magro, suas mãos calejadas e vermelhas de trabalhar. Cabelo branco cobria seus olhos, e sua túnica estava manchada com graxa. Ele estava inclinado sobre uma mesa, trabalhando em algum tipo de miscelânia de metal longo – como um tipo de cota de malha. Ele pegou um delicado anel de bronze e encaixou no lugar.

– Feito – ele anunciou. – Está feito.

Ele pegou o seu projeto. Estava tão bonito, meu coração saltou – asas de metal construídas a partir de milhares de penas de bronze interligadas. Havia dois conjuntos. Um ainda estava sobre a mesa. Dédalo esticou a armação, e as asas expandiram seis metros. Parte de mim sabia que aquilo nunca poderia voar. Era muito pesado, e não havia como sair do chão. Mas o trabalho artesanal era incrível. Penas de metal captavam a luz e refletiam trinta diferentes tonalidades de dourado.

O rapaz deixou o fole e correu para ver. Ele sorriu, apesar do fato de estar sujo e suado.

– Pai, você é um gênio!

O velho homem sorriu.

– Diga-me algo que eu não saiba, Ícaro. Agora se apresse. Vai demorar pelo menos uma hora para fixá-las. Venha.

– Você primeiro – Ícaro disse.

O velho homem protestou, mas Ícaro insistiu.

– O senhor fez isso, pai. Você deveria ter a honra de usá-las primeiro.

O rapaz atou um arnês de couro no tórax de seu pai, como um equipamento de alpinismo, com tiras que corriam dos ombros até os pulsos. Então ele começou a fixar as asas, usando uma vasilha de metal que parecia um enorme revólver de cola-quente.

– O composto de cera deve segurar por várias horas – disse Dédalo nervosamente enquanto seu filho trabalhava. – Mas temos que deixá-la fixar primeiro. E faríamos bem em evitar voar muito alto ou muito baixo. O mar molharia a cera–

– E o calor do sol poderia soltá-las – o menino acabou. – Sim, pai. Nós conversamos sobre isso um milhão de vezes!

– Cuidado nunca é demais.

– Tenho total confiança nas suas invenções, pai! Ninguém jamais foi tão inteligente como você.

Os olhos do velho homem brilharam. Era óbvio que ele amava seu filho mais do que qualquer coisa no mundo.

– Agora vou colocar as suas asas, e dar às minhas chance para fixar adequadamente. Venha!

Estava indo devagar. As mãos do homem velho se atrapalhavam com as tiras. Ele tinha dificuldade em manter as asas em posição enquanto as selava. Suas próprias asas de metal pareciam pesar-lhe para baixo, atrapalhando enquanto ele tentava trabalhar.

– Muito lento – o velho homem murmurou. – Eu sou muito lento.

– Tome o seu tempo, pai – o menino disse. – Os guardas não virão até–

BOOM!

As portas da oficina tremeram. Dédalo as tinha barrado por dentro com uma tora de madeira, mas ainda elas sacudiam nas dobradiças.

– Depressa! – Ícaro disse.

BOOM! BOOM!

Algo pesado batia nas portas. A braçadeira deteve, mas uma rachadura apareceu na porta da esquerda.

Dédalo trabalhava furiosamente. Uma gota de cera quente caiu sobre o ombro de Ícaro. O rapaz estremeceu, mas não gritou. Quando a sua asa esquerda estava selada nas tiras, Dédalo começou a trabalhar na direita.

– Precisamos de mais tempo – Dédalo murmurou. – Eles estão muito adiantados! Nós precisamos de mais tempo para o selamento aguentar.

– Vai ficar tudo bem – disse Ícaro quando seu pai terminou a asa direita. – Me ajude com o bueiro–

CRASH!

As portas arrebentaram e a cabeça de um aríete de bronze emergiu através da fenda. Machados desobstruíram o restante, e dois guardas armados entraram na sala, seguidos pelo rei com coroa de ouro e barba em forma de lança.

– Bem, bem – disse o rei com um sorriso cruel. – Vai a algum lugar?

Dédalo e seu filho congelaram, suas asas metálicas brilhando em suas costas.

– Estamos indo embora, Minos – disse o velho homem.

Rei Minos abafou uma risada.

– Eu estava curioso para ver até onde você chegaria com este pequeno projeto antes que eu frustrasse as suas esperanças. Devo dizer que estou impressionado.

O rei admirou suas asas.

– Vocês se parecem frangos de metal – ele decidiu. – Talvez devêssemos depená-los e fazer uma sopa.

Os guardas riram estupidamente.

– Frangos de metal – um repetiu. – Sopa.

– Calem-se – disse o rei. Então ele se virou novamente para Dédalo. – Você deixou a minha filha escapar, velho. Você levou minha esposa à loucura. Você matou o meu monstro e me fez ser motivo de piada no Mediterrâneo. Você nunca irá escapar!

Ícaro agarrou o revólver de cera e atirou no rei, que recuou surpreso. Os guardas se apressaram a frente, mas ambos receberam um jato de cera quente na cara.

– A abertura! – Ícaro gritou para seu pai.

– Peguem-nos! – ordenou o Rei Minos.

Juntos, o velho homem e seu filho abriram a tampa do bueiro, e uma coluna de ar quente explodiu do chão. O rei assistiu, incrédulo, enquanto inventor e filho se lançavam para o céu em suas asas bronze, transportados pela corrente de ar.

– Atire neles! – o rei gritou, mas seus guardas não tinham trazido arcos. Um jogou sua espada em desespero, mas Dédalo e Ícaro já estavam fora de alcance. Eles voaram acima do labirinto e do palácio do rei, então zuniram pela cidade de Knossos e passaram pelo litoral rochoso de Creta.

Ícaro riu.

– Livre, Pai! Você fez isso.

O rapaz abriu suas asas totalmente e subiu com o vento.

– Espere! – Dédalo chamou. – Tenha cuidado!

Mas Ícaro já estava sobre o mar aberto, mirando o norte e se deliciando na boa sorte deles. Ele subiu e assustou uma águia para fora da sua trajetória de voo, então mergulhou em direção ao mar como se tivesse nascido para voar, saindo do mergulho no último segundo. Suas sandálias roçaram as ondas.

– Pare com isso! – Dédalo chamou. Mas o vento levou sua voz para longe. Seu filho estava bêbado na sua própria liberdade.

O velho homem lutava para acompanhar, planando desajeitadamente atrás de seu filho. Foram quilômetros desde Creta, ao longo do mar profundo, quando Ícaro olhou para trás e viu a expressão preocupada de seu pai.

Ícaro sorriu.

– Não se preocupe, pai! Você é um gênio! Eu confio no seu trabalho–

A primeira pena de metal se soltou de suas asas e rodopiou para longe. Depois outra. Ícaro oscilou em pleno ar. De repente ele estava soltando penas de bronze, que rodopiavam para longe dele como um bando de pássaros assustados.

– Ícaro! – seu pai gritou. – Plane! Estenda as asas. Fique o mais estável possível!

Mas Ícaro movimentou seus braços, desesperadamente tentando voltar ao controle. A asa esquerda se foi primeiro – flutuando para longe das correias.

– Pai! – Ícaro gritou. E então ele caiu, as asas despojadas para longe, até que ele era apenas um menino usando um arnês e uma túnica branca, seus braços estendidos em uma inútil tentativa de planar.

Eu acordei com um tranco, sentindo como se estivesse caindo. O corredor estava escuro. Com os constantes gemidos do labirinto, eu pensei que podia ouvir o angustiado grito de Dédalo chamando o nome do seu filho, enquanto Ícaro, sua única alegria, mergulhava em direção ao mar, mais de noventa metros abaixo.



Não havia manhã no labirinto, mas uma vez que todos acordaram e tomaram um fabuloso café da manhã com barras de granola e suco de caixinha, continuamos a viajar. Eu não mencionei o meu sonho. Algo sobre ele tinha realmente me apavorado, e eu não achava necessário que os outros soubessem disso.

Os velhos túneis de pedra mudaram para sujeira com vigas de cedro, como uma mina de ouro ou algo assim. Annabeth começou a ficar agitada.

– Isso não está certo – disse ela. – Deveria ser pedra ainda.

Viemos para uma caverna onde estalactites estavam penduradas baixas no teto. No centro do chão de terra estava uma cova retangular, como um túmulo.

Grover se arrepiou.

– Aqui cheira como o Mundo Inferior.

Então eu vi algo brilhar na beira da fenda – um papel de embrulho. Eu iluminei a fenda com minha lanterna e vi um cheeseburger comido pela metade flutuando na imundice.

– Nico – falei. – Ele estava convocando os mortos de novo.

Tyson choramingou.

– Fantasmas estiveram aqui. Eu não gosto de fantasmas.

– Nós temos que encontrá-lo. – Não sei porquê, mas estar de pé na borda daquela cova me deu uma sensação de urgência. Nico estava perto, eu podia sentir. Eu não poderia deixá-lo perambulando por aqui, sozinho exceto pelos mortos. Eu comecei a correr.

– Percy! – Annabeth chamou.

Eu mergulhei em um túnel e vi luz a frente. Quando Annabeth, Tyson, e Grover me alcançaram, eu estava olhando para a luz do dia através de um conjunto de barras acima da minha cabeça. Nós estávamos sob uma grade de aço feita com canos de metal. Eu podia ver árvores e o céu azul.

– Onde estamos? – indaguei.

Então uma sombra passou pela grade e uma vaca olhou para mim. Ela parecia uma vaca normal salvo pela cor estranha – vermelho brilhante, como uma cereja. Eu não sabia que vacas vinham nessas cores.

A vaca mugiu, pôs uma pata tentativamente nas barras, então se afastou.

– É uma guarda de rebanho – disse Grover.

– Uma o quê? – perguntei.

– Eles as colocam nas porteiras dos ranchos para que as vacas não saiam. Elas não podem andar sobre elas.

– Como você sabe disso?

Grover bufou indignado.

– Acredite em mim, se você tivesse cascos, você saberia sobre guarda de rebanho. Elas são irritantes!

Eu me virei para Annabeth.

– Hera não disse algo sobre um rancho? Nós precisamos checar isso. Nico pode estar lá.

Ela hesitou.

– Tudo bem. Mas como saímos?

Tyson resolveu esse problema ao bater na guarda de rebanho com as duas mãos. Ela estalou e saiu voando para fora do campo de visão. Ouvimos um CLANG! e um Muuu!

Tyson ficou vermelho.

– Desculpe, vaca! – ele gritou.

Então ele nos deu um impulso para fora do túnel.

Nós estávamos em um rancho, tudo bem. Colinas ondulantes se estendiam até o horizonte, pontilhadas com carvalhos e cactos e rochas. A cerca de arame farpado corria do portão para qualquer direção. Vacas cor de cereja vagueavam em volta, pastando pela grama.

– Gado vermelho – Annabeth disse. – O gado do sol.

– O quê? – perguntei.

– Elas são sagradas para Apolo.

– Vacas sagradas?

– Exatamente. Mas o que elas estão fazendo–

– Espere – disse Grover. – Ouça.

Inicialmente tudo parecia tranquilo... mas então eu ouvi: os distantes latidos de cães. O som ficou mais alto. Então a vegetação rasteira farfalhou, e dois cães apareceram. Mas não eram dois cães. Era um cão com duas cabeças. Parecia um galgo inglês, longo e sinuoso e marrom lustroso, mas o seu pescoço dividia-se em duas cabeças, ambas mordendo e rosnando e de forma geral não muito felizes em nos ver.

– Mau cachorro Jano! – Tyson gritou.

– Au! – Grover disse a ele, e levantou a mão em saudação.

O cachorro de duas cabeças mostrou seus dentes. Acho que não estava impressionado que Grover pudesse falar animalês. Então o seu dono se arrastou para fora do bosque, e eu percebi que o cão era o menor dos nossos problemas.

Ele era um cara grande com cabelo branco, um chapéu de caubói de palha, e uma barba branca emaranhada – como uma espécie de Papai do Céu, se Papai do Céu fosse caipira e totalmente musculoso. Ele estava vestindo jeans, uma camiseta NÃO MEXA COM O TEXAS, e uma jaqueta de brim com as mangas arrancadas de forma que dava pra ver seus músculos. Em seu bíceps direito havia uma tatuagem de espadas cruzadas. Ele segurava um porrete de madeira do tamanho de uma ogiva nuclear, com espinhos de quinze centímetros na ponta da coisa.

– Junto, Ortro – disse ao cão.

O cão rosnou para nós mais uma vez, só para tornar claros seus sentimentos, em seguida circulou de volta para os pés do dono. O homem nos olhou de cima em baixo, mantendo o seu porrete pronto.

– O que temos aqui? – indagou. – Ladrões de gado?

– Só viajantes – Annabeth disse. – Estamos em uma missão.

O olho do homem se contraiu.

– Meio-sangue, é?

Eu comecei a dizer:

– Como você sabe–

Mas Annabeth pôs sua mão no meu braço.

– Eu sou Annabeth, filha de Atena. Este é Percy, filho de Poseidon. Grover o sátiro. Tyson o–

– Ciclope – o homem terminou. – Sim, eu posso ver isso. – Ele olhou pra mim ameaçadoramente. – E eu conheço meio-sangues porque eu sou um, filhinho. Sou Eurítion, o vaqueiro deste rancho. Filho de Ares. Vocês vieram através do labirinto como o outro, eu presumo.

– Outro? – perguntei. – Você quer dizer Nico di Angelo?

– Recebemos uma leva de visitantes do Labirinto – disse Eurítion sombriamente. – Poucos partem.

– Uau – falei. – Eu me sinto bem-vindo.

O vaqueiro olhou para trás como se alguém estivesse olhando. Então ele abaixou a voz.

– Eu só vou dizer isso uma vez, semideuses. Voltem para o labirinto agora. Antes que seja tarde demais.

– Não voltaremos – Annabeth insistiu. – Não até vermos esse outro semideus. Por favor.

Eurítion grunhiu.

– Então você me deixa sem escolha, moça. Tenho que levar vocês para o chefe.



Eu não sentia como se fôssemos reféns ou algo assim. Eurítion caminhou ao nosso lado com o seu porrete no ombro. Ortro, o cachorro de duas cabeças, rosnou bastante e cheirou as pernas de Grover e disparou para os arbustos de vez em quando para perseguir animais, mas Eurítion o mantinha mais ou menos sob controle.

Descemos por um caminho de terra que parecia nunca terminar. Devia estar perto dos cem graus, o que era um choque depois de São Francisco. Calor tremeluzia do chão. Insetos zumbiam nas árvores. Antes que tivéssemos ido muito longe, eu estava suando como um louco. Moscas nos cercavam. Várias vezes víamos um curral cheio de vacas vermelhas ou mesmo animais ainda mais estranhos. Uma hora passamos um curral onde a cerca era revestida de amianto. No interior, uma manada de cavalos que exalavam fogo circulava. O feno no seu cocho estava queimando. O terreno fumegava em torno das suas patas, mas os cavalos pareciam bem mansos. Um grande garanhão olhou para mim e relinchou, colunas de chamas vermelhas ondeavam para fora de seus focinhos. Imaginei se machucava suas narinas.

– Eles são pra quê? – perguntei.

Eurítion fez uma carranca.

– Nós criamos animais para vários clientes. Apolo, Diomedes e... outros.

– Como quem?

– Sem mais perguntas.

Finalmente saímos do bosque. Encarrapitada numa colina acima de nós estava uma grande casa de fazenda – toda de pedra branca e madeira e grandes janelas.

– Parece uma Frank Lloyd Wright! – Annabeth disse.

Acho que ela estava falando de alguma coisa arquitetônica. Para mim só parecia o tipo de local onde poucos semideuses poderiam se meter em uma tremenda encrenca. Nós subimos até o morro.

– Não quebrem as regras – alertou Eurítion enquanto caminhávamos para o alpendre. – Sem lutas. Sem sacar armas. E não façam qualquer comentário sobre a aparência do chefe.

– Por quê? – perguntei. – Como ele se parece?

Antes que Eurítion pudesse responder, uma nova voz disse:

– Bem vindo ao Rancho Triplo G.

O homem na varanda tinha uma cabeça normal, o que foi um alívio. Seu rosto estava encharcado e moreno por causa dos anos no sol. Ele tinha cabelo preto gorduroso e um fino bigode preto como os vilões em filmes antigos. Ele sorriu para nós, mas o sorriso não era amigável; mas divertido, como Oh cara, mais pessoas para torturar!

Não considerei aquilo muito tempo, porque então eu notei seu corpo... ou corpos. Ele tinha três deles. Agora você pode achar que eu teria me acostumado com anatomias estranhas após Jano e Briareu, mas esse cara era três pessoas completas. Seu pescoço conectava com o tórax do meio normalmente, mas ele tinha mais dois tórax, um para cada lado, conectados nos ombros, com poucos centímetros entre eles. Seu braço esquerdo crescia do seu peito esquerdo, o mesmo no lado direito, de modo que ele tinha dois braços, mas quatro axilas, se isso faz algum sentido. Os peitos todos conectavam em um enorme tronco, com duas pernas normais, mas muito musculosas, e ele vestia o par de Levis mais largo que eu já vira. Cada um de seus peitos usava uma camisa de cor diferente – verde, amarelo, vermelho, como um semáforo. Imaginei como ele vestia o tórax do meio, uma vez que esse não tinha braços.

O vaqueiro Eurítion me cutucou.

– Diga olá para o Sr. Geríon.

– Olá – eu disse. – Belo tórax - hã, rancho! Belo rancho você tem.

Antes que o homem de três corpos pudesse responder, Nico di Angelo saiu das portas de vidro para o alpendre.

– Geríon, não vou esperar por–

Ele congelou quando nos viu. Então sacou sua espada. A lâmina era justamente como eu vira no meu sonho; curta, afiada, e escura como meia-noite. Geríon rosnou quando viu isso.

– Guarde isso, Sr. di Angelo. Eu não terei meus convidados se matando.

– Mas é–

– Percy Jackson – Geríon disse. – Annabeth Chase. E um par de seus amigos monstros. Sim, eu sei.

– Amigos monstros? – Grover disse indignadamente.

– Esse homem está vestindo três camisas – disse Tyson, como se tivesse acabado de perceber isso.

– Eles deixaram minha irmã morrer! – a voz de Nico tremia de raiva. – Eles estão aqui para me matar!

– Nico, não estamos aqui para matar você. – Levantei minhas mãos. – O que aconteceu com Bianca foi–

– Não fale o nome dela! Você não é digno sequer de falar sobre ela!

– Espere um minuto – Annabeth apontou para Geríon. – Como você sabe os nossos nomes?

O homem de três corpos piscou.

– Faz parte do meu negócio me manter informado, querida. Todo mundo aparece no rancho de tempos em tempos. Todo mundo precisa de algo do velho Geríon. Agora, Sr. di Angelo, ponha essa horrível espada para longe antes que eu mande Eurítion tomá-la de você.

Eurítion suspirou, mas ele levantou seu porrete cravado de espinhos. Aos seus pés, Ortro rosnou. Nico hesitou. Ele parecia mais pálido e magro do que na mensagem de Íris. Imaginei se ele tinha comido nas últimas semanas. Suas roupas pretas estavam empoeiradas de viajar no labirinto, e os seus olhos escuros estavam cheios de ódio. Ele era muito jovem para parecer tão zangado. Eu ainda me lembrava dele como o pequeno garoto alegre que brincava com cartões Mitomagia.

Relutantemente, ele embainhou sua espada.

– Se você chegar perto de mim, Percy, vou convocar ajuda. Você não quer conhecer meus subordinados, eu garanto.

– Eu acredito em você – eu disse.

Geríon bateu no ombro de Nico.

– Pronto, nós todos nos comportamos bem. Agora venham, pessoal. Vamos dar um passeio pelo rancho.



Geríon tinha um tipo de carrinho – como um desses trens infantis que te levam para passeios em jardins zoológicos. Era pintado em preto e branco em um padrão bovino. O carro do condutor tinha um conjunto de longos chifres preso ao capô, e a buzina soava como um berrante. Achei que talvez fosse assim que ele torturava as pessoas. Ele as envergonhava até a morte passeando no mugido-móvel. Nico se sentou bem atrás, provavelmente para poder manter um olho em nós.

Eurítion subiu próximo a ele com seu porrete espinhoso e puxou seu chapéu de boiadeiro sobre os olhos como se fosse tirar um cochilo. Ortro saltou no banco da frente ao lado de Geríon e começou a ladrar feliz em duas diferentes harmonias.

Annabeth, Tyson, Grover, e eu ficamos nos dois carros do meio.

– Temos uma grande operação! – Geríon alardeou enquanto o mugido-móvel balançava em frente. – Cavalos e rebanho na maioria, mas também todos os tipos de variedades exóticas, também.

Fomos ao longo de uma colina, e Annabeth arquejou.

– Hipaléctrions? Pensei que estivessem extintos!

Na base do morro estava uma pastagem cercada com arame com uma dúzia dos animais mais estranhos que eu já vira. Cada um tinha a metade da frente de cavalo e a metade de trás era um galo. Suas patas traseiras eram enormes garras amarelas. Tinham caudas emplumadas e asas vermelhas. Enquanto eu olhava, dois deles começaram uma briga por uma pilha de sementes. Eles erguerem as asas um para o outro até que o menor galopou para longe, suas pernas traseiras de pássaro pulando ao caminhar.

– Pôneis-galo – disse Tyson espantado. – Eles põem ovos?

– Uma vez por ano! – Geríon sorriu no espelho retrovisor. – Muito procurado para omeletes!

– Isso é horrível! – Annabeth disse. – Eles devem ser uma espécie em perigo de extinção!

Geríon acenou sua mão.

– Ouro é ouro, querida. E você ainda não provou os omeletes.

– Isso não é certo – Grover murmurou, mas Geríon apenas se manteve narrando o tour.

– Agora, aqui – disse ele, – nós temos nossos cavalos-que-exalam-fogo, os quais vocês devem ter visto no caminho. Eles são criados para a guerra, naturalmente.

– Que guerra? – perguntei.

Geríon sorriu astutamente.

– Oh, qualquer uma que vier. E mais além, naturalmente, as nossas vacas vermelhas premiadas.

Claro o suficiente, centenas de vacas-cor-de-cereja do rebanho estavam pastando do lado da colina.

– Tantas – disse Grover.

– Sim, bem, Apolo está muito ocupado para vê-las – Geríon explicou, – então ele subcontrata para nós. Nós as criamos vigorosamente por que há muita demanda.

– Para quê? – perguntei.

Geríon levantou uma sobrancelha.

– Carne, claro! Exércitos têm de comer.

– Você mata as vacas sagradas do deus do sol para hambúrguer de carne? – Grover disse. – Isso é contra as leis antigas!

– Oh, não fique nervoso, sátiro. Eles são apenas animais.

– Apenas animais!

– Sim, e se Apolo se importasse, tenho certeza que ele nos diria.

– Se ele soubesse – murmurei.

Nico se sentou mais a frente.

– Eu não ligo para nada disso, Geríon. Temos negócios a discutir, e isso não faz parte!

– Tudo a seu tempo, Sr. di Angelo. Olhe por aqui, alguns de meus jogos exóticos.

O próximo campo era rodeado de arame farpado. Toda a área estava lotada de escorpiões gigantes.

– Rancho Triplo G – falei, lembrando de repente. – Sua marca estava nas caixas no acampamento. Quintus arranjou os escorpiões com você.

– Quintus... – Geríon pensou. – Cabelo cinza curto, musculoso, espadachim?

– É.

– Nunca ouvi falar dele – disse Geríon. – Agora, aqui estão meus estábulos premiados! Vocês precisam vê-los.

Eu não precisei vê-los, porque logo que estávamos a trezentos metros de distância eu comecei a sentir o cheiro deles. Perto das margens de um rio verde havia um estábulo do tamanho de um campo de futebol. Cocheiras se alinhavam de um dos lados. Cerca de cem cavalos estavam na imundície – e quando digo imundice, eu quero dizer cocô de cavalo. Foi a coisa mais repugnante que eu já tinha visto, como se uma nevasca de cocô tivesse vindo e despejado mais de um metro da coisa durante a noite. Os cavalos estavam realmente nojentos por vadearem por ali, e os estábulos estavam tão ruins quanto. Você não acreditaria em como cheirava – pior que os barcos de lixo no rio East.

Mesmo Nico engasgou.

– O que é isso?

– Meus estábulos! – Geríon disse. – Bem, na verdade eles pertencem a Aegas, mas nós cuidamos deles por uma pequena taxa mensal. Eles não são adoráveis?

– Eles são nojentos! – Annabeth disse.

– Um monte de cocô – observou Tyson.

– Como você pode manter animais desse jeito? – Grover lastimou.

– Vocês estão todos me dando nos nervos – disse Geríon. – Esses são cavalos-comedores-de-carne, vê? Eles gostam dessas condições.

– Além disso, você é muito muquirana pra mandar limpá-los – Eurítion murmurou debaixo do seu chapéu.

– Quieto! – Geríon cortou. – Tudo bem, talvez os estábulos sejam um desafio para limpar. Talvez eles me deixem enjoado quando o vento sopra pro lado errado. Mas e daí? Meus clientes continuam me pagando bem.

– Que clientes? – exigi.

– Ah, você ficaria surpreso com quantas pessoas pagariam por um cavalo-comedor-de-carne. Eles dão excelentes trituradores de lixo. Maravilhosa maneira de amedrontar seus inimigos. Ótimos em festas de aniversário! Nós os alugamos o tempo todo.

– Você é um monstro – Annabeth decidiu.

Geríon parou o mugido-móvel e se virou para olhar pra ela.

– O que me entregou? Foram os três corpos?

– Você tem que deixar estes animais irem – disse Grover. – Isso não é certo!

– E os clientes de quem vocês falam – Annabeth falou. – Um deles é Cronos, não é? Você está suprindo seu exército com cavalos, alimento, seja o que for que eles precisem.

Geríon deu de os ombros, o que foi muito estranho, pois ele tinha três conjuntos de ombros. Parecia que ele estava fazendo uma ola toda sozinho.

– Eu trabalho para qualquer um com ouro, jovenzinha. Eu sou um empresário. E eu vendo a eles qualquer coisa que eu tenha a oferecer.

Ele desceu do mugido-móvel e caminhou para os estábulos como se estivesse desfrutando o ar fresco. Teria sido uma bela vista, com o rio e as árvores e colinas e tal, exceto pelo atoleiro de imundice de cavalo.

Nico saiu da parte de trás do carro e se lançou até Geríon. O vaqueiro Eurítion não estava tão adormecido quanto parecia. Ele avaliou o peso do seu porrete e foi atrás de

Nico.

– Eu vim aqui para negociar, Geríon – disse Nico. – E você não me respondeu.

– Hmmm. – Geríon analisou um cacto. Seu braço esquerdo se esticou e coçou seu peito do meio. – Sim, você terá um acordo, tudo bem.

– Meu fantasma me disse que você poderia ajudar. Ele disse que você poderia nos guiar até a alma de que precisamos.

– Espere um segundo – falei. – Achei que eu era a alma que você queria.

Nico me olhou como se eu fosse louco.

– Você? Por que eu iria querer você? A alma de Bianca vale mil vezes a sua! Agora, você pode me ajudar, Geríon, ou não?

– Ah, imagino que possa – disse o fazendeiro. – Seu amigo fantasma, a propósito, onde está ele?

Nico parecia desconfortável.

– Ele não pode aparecer em pleno dia. É difícil para ele. Mas ele está em algum lugar por aí.

Geríon sorriu.

– Tenho certeza. Minos gosta de desaparecer quando as coisas ficam... difíceis.

– Minos? – Eu me lembrava do homem que vira nos meus sonhos, com a coroa de ouro, a barba pontuda e os cruéis olhos. – Você quer dizer aquele rei maligno? Esse é o fantasma que tem lhe dado conselhos?

– Não é da sua conta, Percy! – Nico se voltou para Geríon. – E o que você quer dizer sobre coisas ficando difíceis?

O homem de três corpos suspirou.

– Bem, você vê, Nico - eu posso te chamar de Nico?

– Não.

– Você vê, Nico, Luke Castellan está oferecendo muito dinheiro por meio-sangues. Especialmente meio-sangues poderosos. E tenho certeza que quando ele descobrir seu segredinho, quem você realmente é, ele vai pagar muito, muito bem.

Nico sacou sua espada, mas Eurítion a golpeou para fora de sua mão. Antes que eu pudesse levantar, Ortro avançou no meu peito e rosnou, suas faces a centímetros da minha.

– Eu ficaria no vagão, todos vocês – advertiu Geríon. – Ou Ortro cortará a garganta do Sr. Jackson. Agora, Eurítion, seja gentil, segure Nico.

O vaqueiro cuspiu na grama.

– Tenho que fazer isso?

– Sim, idiota!

Eurítion pareceu aborrecido, mas ele envolveu um enorme braço em volta de Nico e o levantou como um lutador.

– Pegue a espada, também – disse Geríon com repugnância. – Não há nada que eu deteste mais que aço do Estígio.

Eurítion pegou a espada, tomando cuidado para não tocar na lâmina.

– Agora – Geríon falou alegremente, – tivemos o tour. Vamos voltar para a casa, almoçar, e enviar uma mensagem de Íris aos nossos amigos do exército Titã.

– Seu demônio! – Annabeth gritou.

Geríon sorriu para ela.

– Não se preocupe, minha cara. Depois de ter entregado o Sr. di Angelo, você e seus amigos podem ir. Eu não interfiro em missões. Além disso, fui bem pago para dar a vocês passagem segura, o que não inclui, temo, o Sr. Di Angelo.

– Pago por quem? – Annabeth disse. – O que você quer dizer?

– Não importa, querida. Vamos embora, vamos?

– Espere! – falei, e Ortro rosnou. Fiquei perfeitamente parado para que ele não rasgasse a minha garganta. – Geríon, você disse que é um homem de negócios. Faça um acordo comigo.

Geríon estreitou os olhos.

– Que tipo de acordo? Você tem ouro?

– Eu tenho algo melhor. Uma troca.

– Mas Sr. Jackson, você não tem nada.

– Você poderia fazê-lo limpar os estábulos – sugeriu Eurítion inocentemente.

– Eu farei isso! – disse. – Se eu falhar, você fica com todos nós. Pode negociar todos nós com Luke por ouro.

– Se os cavalos não comerem você – Geríon observou.

– De qualquer forma, você obtém os meus amigos – falei. – Mas se eu tiver êxito, você tem que deixar todos nós irmos, incluindo Nico.

– Não! – Nico gritou. – Não me faça favores, Percy. Eu não quero sua ajuda!

Geríon riu.

– Percy Jackson, aqueles estábulos não têm sido limpos em mil anos... mas é verdade que eu poderia vender mais espaço nas cocheiras se todo aquele cocô for retirado.

– Então o que tem a perder?

O fazendeiro hesitou.

– Tudo bem, eu vou aceitar sua oferta, mas você tem que fazê-lo até o pôr do sol. Se você falhar, seus amigos serão vendidos, e eu ficarei rico.

– Fechado.

Ele assentiu.

– Ficarei com seus amigos, de volta para a casa. Nós vamos esperar por você lá.

Eurítion me deu um olhar engraçado. Poderia ter sido simpatia. Ele assobiou, e o cão pulou de cima de mim para o colo de Annabeth. Ela ganiu. Eu sabia que Tyson e Grover nunca tentariam algo enquanto Annabeth estivesse refém. Eu saí do vagão e fixei os olhos nela.

– Espero que saiba o que está fazendo – disse ela calmamente.

– Espero que sim, também.

Geríon foi para trás do volante. Eurítion rebocou Nico para o banco de trás.

– Pôr do sol – lembrou-me Geríon. – Sem atraso.

Ele riu de mim mais uma vez, soou a sua buzina berrante, e o mugido-móvel se deslocou ruidosamente trilha abaixo.

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