sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 19





                                     Destruímos a cidade eterna

A ponte para o Olimpo estava dissolvendo. Nós saímos do elevador para o caminho de mármore, e imediatamente rachaduras apareceram em nossos pés.

– Pulem! – Grover disse, e isso era fácil para ele, já que ele era parte bode montanhês.

Ele saltou para a próxima tábua de pedra enquanto as nossas se inclinavam perigosamente.

– Deuses, eu odeio altura! – Thalia gritou quando eu e ela pulamos. 

Annabeth, porém, não estava em condições de pular. Ela tropeçou e gritou:

– Percy!

Eu agarrei a sua mão e o pavimento caiu, ruiu até virar poeira. Por um segundo eu pensei que ela puxaria nós dois para baixo. Os pés dela balançaram no ar. Sua mão começou a escorregar até que eu a segurasse somente pelos dedos. Então Grover e Thalia agarraram minhas pernas, e eu encontrei força extra. Annabeth não iria cair.

Eu a puxei para cima e nós nos deitamos tremendo no pavimento. Eu não tinha percebido que nós estávamos abraçados até que ela retesou.

– Hã, obrigada – ela murmurou.

Eu tentei dizer Não há de que, mas saiu algo como, “Uh, dã.”

– Continuem se movendo! – Grover me arrastou pelo ombro.

Nós nos soltamos e corremos através da ponte no céu enquanto mais pedras se desintegravam e caíam na escuridão. Nós chegamos à beirada da montanha assim que o último trecho ruiu.

Annabeth olhou para trás até o elevador, que estava agora totalmente fora de alcance – um conjunto de portas de metal polido em suspensão no ar, atado ao nada, seiscentos andares acima de Manhattan.

– Nós estamos isolados – ela disse. – Por nossa própria conta.

– Bé-é-é – Grover disse. – A conexão entre Olimpo e América está dissolvendo. Se falhar...

– Os deuses não vão estar se mudando para outro país dessa vez – Thalia disse. – Esse será o fim do Olimpo. O fim mesmo.

Nós corremos por ruas. Mansões estavam queimando. Estátuas tinham sido derrubadas. Árvores nos parques tinham sido destruídas até só sobrarem farpas. Parecia que alguém tinha atacado a cidade com um cortador de grama gigante.

– A foice de Cronos – eu disse.

Nós seguimos o tortuoso caminho até o palácio dos deuses. Eu não me lembrava que a estrada fosse tão longa. Talvez Cronos estivesse fazendo tempo ir mais devagar, ou talvez fosse só o pavor que me retardava. Todo o topo da montanha estava em ruínas – tantos prédios e jardins bonitos tinham desaparecido.

Alguns deuses menores e espíritos da natureza tinham tentado parar Cronos. O que sobrou deles estava espalhado ao longo da estrada: armaduras amassadas, roupas rasgadas, lanças e espadas quebradas ao meio.

Algum lugar a nossa frente, a voz de Cronos rosnou:

– Tijolo por tijolo! Essa foi minha promessa. Derrubar TIJOLO POR TIJOLO!

Um templo com uma cúpula dourada de repente explodiu. A cúpula subiu como uma tampa de bule e destruiu-se em um bilhão de pedaços, fazendo chover entulho por toda a cidade.

– Aquilo era um santuário para Ártemis – Thalia resmungou. – Ele vai pagar por isso.

Nós estávamos correndo debaixo do arco de mármore com estátuas gigantes de Zeus e Hera quando toda a montanha gemeu, balançando de lado exatamente como um barco numa tempestade.

– Cuidado! – Grover ganiu.

O arco se desintegrou. Eu olhei para cima em tempo de ver uma carrancuda Hera de vinte toneladas vir para cima de nós. Annabeth e eu teríamos sido esmagados, mas Thalia nos empurrou por trás e nós caímos no chão, fora de perigo.

– Thalia! – Grover chorou.

Quando a poeira baixou e a montanha parou de balançar, nós a encontramos ainda viva, mas com as pernas presas debaixo da estátua.

Nós tentamos desesperadamente movê-la, mas isso teriam sido necessários vários ciclopes para isso.

Quando nós tentamos puxar Thalia, ela gritou de dor.

– Eu sobrevivi a todas essas batalhas – ela resmungou – e sou derrotada por um estúpido pedaço de pedra!

– É Hera – Annabeth disse em ultraje. – Ela tem feito isso durante todo o ano. A estátua dela teria me matado se você não nos tivesse tirado do caminho.

Thalia fez uma careta.

– Bem, não fiquem aí! Eu vou ficar bem. Vão!

Nós não queríamos deixá-la, mas eu podia ouvir Cronos rindo enquanto ele se aproximava do hall dos deuses. Mais prédios explodiram.

– Nós voltaremos – eu prometi.

– Eu não vou a lugar nenhum – Thalia gemeu.

Uma bola de fogo irrompeu no lado da montanha, bem perto de onde os portões para o palácio ficavam.

– Nós temos que correr – eu disse.

– Eu não acho que você quis dizer fugir – Grover murmurou esperançosamente.

Eu corri na direção do palácio, Annabeth logo atrás de mim.

– Eu estava com medo disso – Grover suspirou, e trotou atrás de nós.



As portas do palácio eram grandes o suficiente para deixarem um navio de cruzeiro cruzá-las, mas elas tinham sido tiradas de suas dobradiças e esmagadas como se não pesassem nada. Nós tivemos de escalar uma grande pilha de pedras quebradas e metais retorcidos para entrarmos.

Cronos estava no meio da sala do trono, seus braços abertos, olhando para o céu estrelado como se estivesse roubando-o. A risada dele ecoou ainda mais alto do que tinha sido no abismo do Tártaro.

– Finalmente! – ele berrou. – O Conselho Olimpiano - tão orgulhoso e poderoso. Qual assento de poder eu devo destruir primeiro?

Ethan Nakamura estava em um lado, tentando sair do caminho da foice de se mestre. A lareira estava quase apagada, só algumas brasas brilhando profundamente nas cinzas. Héstia não estava em lugar nenhum para ser vista. Nem Rachel. Eu esperava que ela estivesse bem, mas eu vira tanta destruição que eu estava com medo de pensar sobre isso. O Ofiotauro nadou na sua esfera de água na esquina mais distante da sala, sabiamente não fazendo barulho, mas não demoraria muito até que Cronos o notasse.

Annabeth, Grover e eu demos um passo à frente dentro da iluminação das tochas. Ethan nos viu primeiro.

– Meu Senhor – ele avisou.

Cronos se virou e sorriu através do rosto de Luke. Exceto por seus olhos dourados, ele parecia exatamente como ele era quatro anos atrás quando me dera as boas-vindas ao Chalé de Hermes. Annabeth fez um som de dor na parte traseira de sua garganta, como se algum otário a tivesse socado.

– Eu devo destruí-lo primeiro, Jackson? – Cronos perguntou. – É essa escolha que você fará - lutar comigo e morrer ao invés de se curvar? Profecias nunca terminam bem, você sabe.

– Luke lutaria com uma espada – eu disse. – Mas eu acho que você não tem a habilidade dele.

Cronos fungou. Sua foice começou a mudar, até que ele segurava a velha espada de Luke, Mordecostas, que é metade aço, metade bronze celestial. Próxima a mim, Annabeth engasgou como se ela tivesse acabado de ter uma ideia.

– Percy, a lâmina! – Ela desembainhou sua faca. – E alma do herói, a lâmina maldita ceifará.

Eu não entendi porque ela estava me relembrando dessa linha da profecia naquele momento. Não era exatamente um apoio moral, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Cronos levantou sua espada.

– Espere! – Annabeth gritou.

Cronos veio até mim como um tornado.

Meus instintos me dominaram. Eu me esquivei e cortei e ataquei, mas eu senti que era como lutar com uma centena de espadachins. Ethan se abaixou para um lado, tentando ficar atrás de mim até que Annabeth o interceptou. Eles começaram a lutar, mas eu não pude me concentrar em como ela estava se saindo. Eu estava vagamente ciente de Grover tocando suas flautas de bambu. O som me encheu de calor e coragem – pensamentos sobre luz do sol e um céu azul e uma calma clareira, algum lugar bem distante da guerra.

Cronos me encurralou no trono de Hefesto – uma imensa estrutura mecânica reclinável coberta por engrenagens de bronze e prata. Cronos investiu e eu saltei para o assento. O trono tremeu e começou a emitir sons, vindos dos mecanismos secretos. Modo de defesa, avisou ele. Modo de defesa.

Isso não podia ser bom. Pulei por sobre a cabeça de Cronos quando o trono disparou ondas elétricas em todas as direções. Uma acertou Cronos no rosto, fazendo-o arquear seu corpo e sua espada.

– ARGH! – Ele ficou sobre os joelhos e soltou Mordecostas.

Annabeth viu sua chance. Ela chutou Ethan para fora do caminho e avançou contra Cronos.

– Luke, escute!

Eu queria gritar com ela, dizer a ela que era louca por tentar chamar Cronos à razão, mas não havia tempo. Cronos a atingiu com força. Annabeth voou para trás, batendo no trono da mãe dela e deslizando até o chão.

– Annabeth! – eu gritei.

Ethan Nakamura se ergueu. Ele agora estava entre Annabeth e eu. Eu não poderia lutar com ele sem virar minhas costas para Cronos. A música de Grover assumiu um tom mais urgente. Ele se moveu na direção de Annabeth, mas ele não podia se mover com mais rapidez e continuar a música.

Pequenas raízes cresceram entre as rachaduras das pedras de mármore. Cronos apoiou-se em um joelho. O cabelo dele queimava lentamente. O rosto dele estava coberto com queimaduras de eletricidade. Ele estendeu a mão para sua espada, mas dessa vez ela não voou para suas mãos.

– Nakamura! – ele gritou. – Hora de se pôr a prova. Você conhece a fraqueza de Jackson. Mate-o, e você terá recompensas além do imaginado.

Os olhos de Ethan se dirigiram para a parte inferior do meu tronco, e eu tinha certeza de que ele sabia. Mesmo que ele não pudesse me matar, tudo o que ele tinha de fazer era contar a Cronos. Eu não poderia me defender para sempre.

– Olhe ao seu redor, Ethan – eu disse. – O fim do mundo. É essa recompensa que você quer? Você realmente quer tudo destruído - o bem com o mal? Tudo?

Grover estava quase com Annabeth agora. A grama crescia no chão. As folhas estavam com quase três centímetros de comprimento, como um monte de bigodes.

– Não há um trono para Nêmesis – Ethan murmurou. – Sem trono para minha mãe.

– Isso é verdade! – Cronos tentou se levantar, mas cambaleou. Acima da sua orelha esquerda, um pouco de cabelo loiro ainda queimava. – Derrube-os! Eles merecem sofrer.

– Você disse que sua mãe era a deusa do equilíbrio – lembrei-lhe. – Os deuses menores merecem algo melhor, Ethan, mas destruição total não é equilíbrio. Cronos não constrói. Ele só destrói.

Ethan olhou para o trono crepitante de Hefesto. A música de Grover ainda soava, e Ethan vacilou ao ouvi-la, como se a música estivesse enchendo-o com nostalgia – o desejo de ver um belo dia, de estar em qualquer lugar menos aqui. Seu olho bom piscou.

E então ele investiu... mas não contra mim.

Enquanto Cronos ainda estava de joelhos, Ethan baixou sua espada contra o pescoço do Senhor Titã. Deveria tê-lo matado instantaneamente, mas a lâmina se despedaçou. Ethan caiu para trás, segurando seu estômago. Um fragmento de sua própria lâmina ricocheteou e perfurou sua armadura.

Cronos levantou-se instável, olhando para seu servo.

– Traição – ele rosnou.

A música de Grover ainda era tocada, e a grama cresceu ao redor do corpo de Ethan. Ethan olhou para mim, seu rosto tenso de dor.

– Merecem algo melhor – ele engasgou. – Se eles somente... tivessem tronos...

Cronos pisou com força, e o chão se rompeu ao redor de Ethan Nakamura. O filho de Nêmesis caiu por uma fissura até o coração da montanha – direto à céu aberto.

– Foi demais para ele – Cronos pegou sua espada. – E agora o resto de vocês.



Meu único pensamento era mantê-lo longe de Annabeth. Grover estava ao lado dela agora. Ele tinha parado de tocar e estava alimentando-a com ambrosia.

Em todo lugar que Cronos pisava, as folhas enrolavam-se ao redor de seus pés, mas Grover parara sua mágica cedo de mais. As folhas não eram fortes ou grossas o suficiente para fazer algo além do que irritar o titã.

Atravessamos o braseiro lutando, chutando brasas e faíscas. Cronos arrancou um descanso de braço do trono de Ares, o que para mim não havia nenhum problema, mas então ele se virou para o trono do meu pai.

– Oh, sim – Cronos disse. – Esse aqui vai dar uma ótima lenha para a minha nova lareira!

Nossas lâminas fizeram uma chuva de faíscas. Ele era mais forte que eu, mas por um momento eu senti o poder do oceano em meus braços. Eu o empurrei para trás e ataquei de novo – cortando com Contracorrente com tanta força que cortei um pedaço da couraça da armadura dele.

Ele bateu os pés de novo e o tempo abrandou. Eu tentei atacar, mas eu estava me movendo na velocidade de uma geleira. Cronos recuou calmamente, recuperando seu fôlego. Ele examinou o talho em sua armadura enquanto eu me debatia, amaldiçoando-o em silêncio. Ele poderia tomar todas as pausas que desejasse. Ele poderia me congelar no lugar conforme quisesse. Minha única esperança era que o esforço o drenasse. Se eu pudesse derrotá-lo...

– É tarde demais, Percy Jackson – ele disse. – Comporte-se.

Ele apontou para a lareira, e as brasas brilharam. Uma folha de fumaça cinza surgiu do fogo, formando imagens como numa mensagem de Íris. Eu vi Nico e meus pais na Quinta Avenida, lutando uma batalha desesperada, cercado por inimigos. No fundo, Hades lutava na sua carruagem negra, convocando onda após onda de zumbis do subterrâneo, mas as forças do Titã pareciam ser igualmente sem fim. Enquanto isso, Manhattan estava sendo destruída. Mortais, agora completamente acordados, estavam correndo em terror. Carros derrapavam e batiam.

A cena mudou, e eu vi algo ainda mais assustador.

Uma coluna de tempestade estava se aproximando do Rio Hudson, movendo-se com velocidade através da costa de Jersey. Carruagens circundavam-na, envolvidas em combate com a criatura na nuvem.

Os deuses atacaram. Relâmpagos apareceram. Flechas de ouro e prata foram arremessadas na direção da nuvem como se fossem foguetes e explodiram. Devagar, a nuvem se dispersou e eu vi Tifão claramente pela primeira vez.

Eu sabia que por todo o tempo que vivesse (que poderia nem ser tão longo assim) eu nunca seria capaz de tirar a imagem da minha cabeça. A cabeça de Tifão mudava com frequência. A cada momento ele era um monstro diferente, cada um mais horrível que o outro. Olhar para seu rosto me deixaria louco, então eu me concentrei no corpo dele, o que não era muito melhor. Ele era humanoide, mas a sua pele me lembrou um sanduíche de carne que ficou no armário de alguém durante todo o ano. Ele era verde malhado com bolhas do tamanho de prédios, e com marcas enegrecidas por ter ficado eras preso em um vulcão. As mãos dele eram humanas, mas com garras, como as de uma águia. Suas pernas eram escamosas e reptilianas.

– Os Olimpianos estão dando seu último esforço – riu Cronos. – Que patético.

Zeus jogou um raio de sua carruagem. A explosão levantou o mundo. Eu podia sentir o choque do Olimpo, mas quando a poeira assentou, Tifão ainda estava de pé. Ele cambaleou um pouco, com uma cratera fumarenta no topo de sua cabeça sem forma, mas ele rosnou de raiva e continuou avançando.

Meus membros voltaram a se mexer. Cronos não pareceu notar. Sua atenção estava concentrada na luta e em sua vitória final. Se eu pudesse me manter por alguns segundos, e meu pai mantivesse sua palavra...

Tifão pisou no Rio Hudson e mal afundou seu tornozelo.

Agora, eu pensei, implorando para a imagem na fumaça. Por favor, tem que acontecer agora.

Como um milagre, uma trombeta de concha soou vindo da figura nevoenta. O chamado do oceano. O chamado de Poseidon.

Ao redor de Tifão, o Rio Hudson entrou em erupção, tremendo com ondas de doze metros. Fora da coluna de água, uma nova carruagem apareceu – essa era puxada por imensos cavalos-marinhos, que nadavam no ar com a mesma facilidade do que na água. Meu pai, brilhando com uma aura azulada de poder, fez um círculo ao redor das pernas do gigante. Poseidon não era mais um homem velho. Ele parecia consigo mesmo novamente – bronzeado e forte com uma barba escura. No que ele balançou seu tridente, o rio respondeu, formando um funil de nuvens ao redor do monstro.

– Não! – Cronos berrou depois de um momento de silêncio chocado. – NÃO!

– AGORA, MEUS IRMÃOS! – A voz de Poseidon estava tão alta que eu não tinha certeza que a ouvia pela imagem de fumaça ou se ela cruzara toda a cidade. – LUTEM PELO OLIMPO!

Guerreiros surgiram do rio, guiando, nas ondas, tubarões gigantes, dragões e cavalos marinhos. Era uma legião de ciclopes, e liderando-os batalha adentro estava...

– Tyson! – Eu gritei.

Eu sabia que ele não poderia me ouvir, mas eu olhei para ele com admiração. Ele tinha magicamente crescido. Ele tinha de ter 9 metros, tão grande quanto seus primos mais velhos, e pela primeira vez ele estava vestindo uma armadura de batalha completa. Galopando atrás dele estava Briareu, o centímano.

Todos os ciclopes seguravam imensas extensões de correntes de ferro negras – grandes o suficiente para ancorar um navio de batalha – com ganchos no final. Eles as giraram como cordas e começaram a aprisionar Tifão, arremessando cordas ao redor das pernas e braços da criatura, usando a maré para continuarem circundando-o, prendendo o monstro. Tifão chacoalhou, rosnou e atacou as correntes, empurrando alguns ciclopes para fora de suas montarias, mas havia correntes demais. O grande peso do batalhão de ciclopes começou a trazer Tifão para baixo. Poseidon jogou seu tridente e atingiu o monstro na garganta.O icor dourado imortal jorrou do ferimento, criando uma cachoeira maior do que um arranha-céu. O tridente voou de volta para a mão de Poseidon.

Os outros deuses investiram com força renovada. Ares se levantou e atingiu Tifão no nariz. Ártemis atirou no monstro uma dúzia de flechas prateadas direto no olho. Apolo atirou uma saraivada de flechas em chamas no monstro. E Zeus continuou acertando Tifão com raios, até que finalmente, devagar, a água se ergueu, envolvendo Tifão como se fosse um casulo, e ele começou a afundar com o peso das correntes. Tifão gritou em agonia, batendo com tanta força que as ondas varreram a costa de Jersey, alagando prédios de cinco andares e derrubando a Ponte George Washington – mas abaixaram conforme meu pai abriu um túnel especial para ele – um redemoinho de água sem fim que o levaria diretamente ao Tártaro. A cabeça do gigante afundou num espiral fervente, e ele fora embora.

– AH! – Cronos gritou. Ele passou sua espada através da fumaça, dissipando a imagem.

– Eles estão vindo para cá – eu disse. – Você perdeu.

– Eu ainda nem comecei.

Ele avançou numa velocidade ofuscante. Grover – o sátiro corajoso e estúpido – tentou me proteger, mas Cronos o empurrou ele de lado como se fosse uma boneca de pano.

Eu pisei de lado e investi debaixo da guarda de Cronos. Era um bom truque. Infelizmente, Luke o conhecia. Ele amorteceu o impacto e me desarmou usando um dos primeiros movimentos que me ensinara. Minha espada deslizou pelo chão e caiu diretamente na fissura aberta.

– PARE! – Annabeth surgiu do nada.

Cronos se virou para encará-la e atacou com Mordecostas, mas de algum jeito Annabeth aparou o impacto com o punho de sua faca. Era um movimento que somente o mais rápido e habilidoso lutador de faca poderia realizar. Não me pergunte onde ela achou força, mas ela pisou mais próximo dele, as lâminas se cruzando, e por um momento ela ficou cara-a-cara com o Senhor Titã, segurando-o quieto.

– Luke – ela disse cerrando os dentes. – Eu entendo agora. Você tem que confiar em mim.

Cronos rosnou em ultraje.

– Luke Castellan está morto! O corpo dele vai se queimar assim que eu assumir minha forma verdadeira!

Eu tentei me mexer, mas meu corpo congelou de novo. Como podia Annabeth, machucada e quase morta de exaustão, ter a força para lutar com um titã como Cronos?

Cronos investiu contra ela, tentando mover sua lâmina, mas ela o segurou, os braços dela tremendo no que ele forçava a espada na direção do pescoço dela.

– Sua mãe – Annabeth rosnou. – Ela viu o seu destino.

– Servir a Cronos! – O titã gritou. – Esse é o meu destino.

– Não! – Annabeth insistiu. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas, mas eu não sabia se eram lágrimas de dor ou tristeza. – Esse não é o fim, Luke. A profecia: ela viu o que você faria. É sobre você!

– Eu vou te esmagar, criança! – Cronos berrou.

– Você não vai – Annabeth disse. – Você prometeu. Você está segurando Cronos até agora.

– MENTIRAS! – Cronos empurrou de novo, e dessa vez Annabeth perdeu o equilíbrio. Com sua mão livre, Cronos esbofeteou seu rosto, e ela deslizou para trás. Eu convoquei toda a minha força. Eu tentei me levantar, mas era como segurar o peso do céu de novo.

Cronos passou por Annabeth, sua espada levantada.

Sangue escorria pelo canto da boca dela.

– Família, Luke. Você prometeu.

Eu dei um doloroso passo à frente. Grover estava novamente de pé, perto do trono de Hera, mas ele parecia vacilar ao andar também. Antes de que qualquer um de nós conseguíssemos chegar perto de Annabeth, Cronos parou.

Ele olhou para a faca nas mãos de Annabeth, o sangue em seu rosto.

– Promessa.

Então ele engasgou como se não pudesse respirar.

– Annabeth... – Mas não era a voz do titã. Era a voz de Luke. Ele cambaleou para frente, como se não pudesse controlar o próprio corpo. – Você está sangrando...

– Minha faca. – Annabeth tentou erguer a adaga, mas escapou de sua mão. Seu braço estava estendido num ângulo engraçado. Ela olhou para mim, implorando. – Percy, por favor...

Eu podia me mover de novo.

Eu andei adiante e peguei a faca dela. Eu bati Mordecostas para fora das mãos de Luke, e a joguei na lareira. Luke quase não prestou atenção em mim. Ele avançou na direção de Annabeth, mas eu me pus entre ele e ela.

– Não toque nela – eu disse.

Raiva passou pelo rosto dele. A voz de Cronos murmurou:

– Jackson... – Era a minha imaginação, ou todo o corpo dele estava brilhando, virando ouro?

Ele engasgou de novo. A voz de Luke:

– Ele está mudando. Ajudem. Ele... ele está quase pronto. Ele não precisará mais do meu corpo. Por favor...

– NÃO! – Cronos berrou.

Ele procurou por sua espada, mas estava na lareira, brilhando entre as brasas.

Ele cambaleou na direção dela. Tentei impedi-lo, mas ele me empurrou com tanta força que eu aterrissei perto de Annabeth e bati minha cabeça na base do trono de Atena.

– A faca, Percy – Annabeth sussurrou. Sua respiração estava fraca. – Herói... lâmina maldita...

Quando minha visão voltou a foco, eu vi Cronos pescando sua espada. Então ele berrou de dor e derrubou-a. Suas mãos fumegavam, queimadas. O fogo da lareira cresceu em vermelho-vivo, como se a foice não fosse compatível com ele. Eu vi a imagem de Héstia tremulante nas cinzas, olhando para Cronos com desaprovação.

Luke se virou e desmoronou, agarrando suas mãos arruinadas.

– Por favor, Percy...

Consegui ficar de pé. Eu andei na direção dele com a faca. Esse era o plano. Luke pareceu saber o que eu estava pensando. Ele torceu os lábios.

– Você não pode... não pode fazer por si mesmo. Ele vai quebrar o meu controle. Ele vai se defender. Só a minha mão. Eu sei onde. Eu posso... posso mantê-lo sob controle.

Ele estava definitivamente brilhando agora, sua pele começando a soltar fumaça. Eu levantei a faca para atacar. Então eu olhei para Annabeth, Grover segurando-a em seus braços, tentando protegê-la. E eu finalmente entendi o que ela estava tentando me dizer.

Você não é o herói, Rachel tinha dito. Isso vai influenciar o que você fizer.

– Por favor – Luke rosnou. – Sem tempo.

Se Cronos revelasse sua forma verdadeira, não haveria como pará-lo. Ele faria Tifão parecer um valentão de playground.

A linha da grande profecia ecoou em minha cabeça: E a alma do herói, a lâmina maldita ceifará. Todo o meu mundo ficou de cabeça para baixo e eu entreguei a faca a Luke.

Grover ganiu.

– Percy? Você está... hã...

Louco. Insano. Fora do meu juízo perfeito. Provavelmente.

Mas observei Luke agarrar o punho.

Eu fiquei na frente dele – indefeso.

Ele soltou as tiras da armadura, expondo um pequeno pedaço da sua pele logo abaixo do seu braço esquerdo, um lugar que seria bem difícil de atingir. Com dificuldade, ele se esfaqueou.

Não era um corte profundo, mas Luke uivou. Os olhos dele brilharam como lava. A sala do trono tremeu, me fazendo perder o equilíbrio e cair. Uma aura de energia cercou Luke, ficando cada vez mais e mais brilhante. Eu fechei meus olhos e senti a força de algo como uma explosão nuclear pinicar minha pele e rachar meus lábios.

Fez-se silêncio por um longo tempo.

Quando abri meus olhos, eu vi Luke estendido na lareira. No chão ao seu redor estava um círculo enegrecido de cinzas. A foice de Cronos tinha se liquefeito em metal líquido e estava brilhando entre as brasas da lareira, que agora brilhavam como um forno de ferreiro.

O lado esquerdo de Luke estava sangrando. Os olhos dele estavam abertos – olhos azuis, do jeito que eles costumavam ser. Sua respiração arquejou profundamente.

– Boa... lâmina – gemeu ele.

Eu me ajoelhei ao seu lado. Annabeth veio até nós apoiando-se em Grover. Os dois tinham lágrimas nos olhos.

Luke olhou para Annabeth.

– Você sabia. Eu quase matei você, mas você sabia...

– Shhh. – A voz dela tremeu. – Você foi um herói no final, Luke. Você irá para o Elísio.

Ele balançou a cabeça fracamente.

– Pensando... renascer. Tentar três vezes. Ilha dos Abençoados.

Annabeth fungou.

– Você sempre exigiu demais de si mesmo.

Ele levantou a mão queimada. Annabeth tocou a ponta de seus dedos.

– Você... – Luke tossiu e seus lábios tingiram-se de vermelho. – Você me amava?

Annabeth enxugou as lágrimas.

– Houve um tempo em que eu pensei que... bem, eu pensava... – Ela olhou para mim, como se ela estivesse fascinada pelo fato de eu estar ali. E eu percebi que fazia a mesma coisa. O mundo estava desmoronando, e a única coisa com que realmente importava para mim era que Annabeth estava viva. – Você era como um irmão para mim, Luke – ela disse suavemente. – Mas eu não o amava.

Ele concordou, como se ele esperasse aquilo. Ele estremeceu de dor.

– Nós podemos pegar ambrosia – Grover disse. – Nós podemos...

– Grover – Luke engoliu. – Você é o sátiro mais valente que eu já conheci. Mas não. Não há cura...

Outra tosse.

Ele agarrou a manga da minha camisa, e eu pude sentir o calor de sua pele como se fosse fogo.

– Ethan. Eu. Todos os indeterminados. Não deixe... Não deixe acontecer de novo.

Seus olhos estavam raivosos, mas suplicantes também.

– Não deixarei – eu disse. – Eu prometo.

Luke assentiu e sua mão se soltou, flácida.

Os deuses apareceram alguns minutos depois em todas as suas regalias de guerra, trovejando sala do trono adentro e esperando uma batalha.

O que eles encontraram foram Annabeth, Grover e eu estagnados ao redor do corpo quebrado de um meio-sangue, na indistinta e quente luz da lareira.

– Percy – meu pai me chamou, receio em sua voz. – O que... o que é isso?

Eu me virei e encarei os Olimpianos.

– Nós precisamos de uma mortalha – eu anunciei, minha voz embargada. – Uma mortalha para o filho de Hermes.

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