sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A Batalha do labirinto - capitulo 18




                              Grover provoca uma debanda

A distância era mais curta no Labirinto. Ainda assim, quando Rachel nos trouxe de volta a Times Square, eu me sentia como se tivéssemos corrido o caminho todo desde o Novo México. Nós saímos pelo porão do Marriott e paramos na calçada sob a brilhante luz do dia de verão, cerrando os olhos para o trânsito e a multidão.

Eu não conseguia escolher o que parecia mais surreal – Nova York ou a caverna de cristal onde eu vira um deus morrer. Guiei nosso grupo até um beco, onde eu pudesse conseguir um bom eco. Então assoviei o mais alto que pude, cinco vezes. Um minuto depois, Rachel ofegou.

– Eles são lindos!

Um bando de pégasos desceu do céu, mergulhando entre os arranha céus. Blackjack estava na liderança, seguido por quatro de seus amigos brancos.

Ei chefe! Ele falou em minha cabeça. Você sobreviveu!

– É – eu disse a ele. – Tenho sorte nisso. Escuta, precisamos de uma carona para o acampamento, rápido.

Essa é a minha especialidade! Ah cara, você trouxe aquele Ciclope com você? Ei, Guido! Como estão suas costas hoje?

O pégaso Guido gemeu e se queixou, mas acabou concordando em levar Tyson. Todos começaram a montar – exceto Rachel.

– Bem – ela me disse. – Acho que é isso então.

Eu assenti desconfortavelmente. Ambos sabíamos que ela não poderia ir para o acampamento. Eu olhei para Annabeth, que fingia estar bastante ocupada com seu pégaso.

– Obrigado, Rachel – eu disse. – Não teríamos conseguido sem você.

– Eu não teria deixado essa passar. Quero dizer, exceto por quase ter morrido, e por Pã... – Sua voz vacilou.

– Ele disse alguma coisa sobre o seu pai – eu me lembrei. – O que ele quis dizer?

Rachel mexia nas alças de sua mochila.

– Meu pai... O trabalho do meu pai. Ele é meio que um empresário famoso.

– Você quer dizer que... você é rica?

– Bem, sou.

– Então foi assim que você conseguiu o motorista pra nos ajudar? Você só disse o nome do seu pai e–

– Sim – Rachel me cortou. – Percy... a área do meu pai é urbanismo. Ele viaja o mundo todo, procurando por pedaços de áreas não urbanizadas. – Ela tomou fôlego instavelmente. – A natureza. Ele - ele a compra. Eu odeio isso, mas ele a derruba e constrói prédios horríveis e shoppings centers. E agora que eu vi Pã... a morte de

Pã...

– Ei, você não pode se culpar por aquilo.

– Você não sabe o pior de tudo. E-eu não gosto de falar da minha família. Eu não queria que você soubesse. Me desculpe. Eu não devia ter dito nada.

– Não – eu disse. – Tudo bem. Olhe, Rachel, você foi incrível. Você nos guiou pelo labirinto. Você foi muito corajosa. Essa é a única coisa que eu vou julgar em você. Eu não me importo com o que seu pai faz.

Rachel me olhou grata.

– Bem... se você sentir vontade de dar umas voltas com uma mortal de novo... você pode me ligar ou algo assim.

– Hum, é. Claro

Suas sobrancelhas se encontraram. Eu acho que pareci desanimado ou algo assim, mas não era o que eu pretendia. Eu só não sabia o que dizer com todos os meus amigos a minha volta. E eu acho que meus sentimentos ficaram bem bagunçados nos últimos dias.

– Quero dizer... eu gostaria disso – eu disse.

– Meu número não está na lista – ela disse.

– Eu tenho.

– Ainda na sua mão? De jeito nenhum.

– Não. Eu meio que... decorei.

Seu sorriso voltou vagarosamente, mas bem mais feliz.

– Até mais, Percy Jackson. Vá salvar o mundo por mim, ok?

Ela voltou pela Sétima Avenida e desapareceu na multidão.



Quando me virei para os cavalos, Nico estava tendo problemas. Seu pégaso ficava recuando, relutante em deixá-lo montar.

Ele cheira que nem gente morta! O pégaso reclamou.

Ei, cara. Blackjack disse. Vamos, Porkpie. Um monte de semideuses cheira mal. Não é culpa deles. Oh-uh, eu não estou falando de você, chefe.

– Vão sem mim! – Nico disse. – Eu não quero voltar para aquele acampamento de qualquer forma.

– Nico – eu disse, – precisamos da sua ajuda.

Ele cruzou os braços e franziu o cenho. Então Annabeth pôs a mão em seu ombro.

– Nico – ela disse. – Por favor.

Vagarosamente, sua expressão se suavizou.

– Tudo bem – ele disse relutante. – Por você. Mas eu não vou ficar.

Eu levantei uma sobrancelha para Annabeth, tipo, Desde quando Nico te escuta? Ela mostrou a língua pra mim.

Pelo menos tínhamos todos em cima dos pégasos. Disparamos para o ar, e logo estávamos sobrevoando o rio East com Long Island se espalhando a nossa frente.



Nós descemos no meio da área dos chalés e imediatamente fomos encontrados por Quíron, pelo barrigudo sátiro Sileno, e um grupo de arqueiros do chalé de Apolo. Quíron levantou uma sobrancelha quando viu Nico, mas se eu esperava que ele ficasse surpreso com nossas últimas notícias, sobre Quintus ser Dédalo e a volta de Cronos, eu estava enganado.

– Eu temia isso – Quíron disse. – Devemos nos apressar. Espero que vocês tenham atrasado o Senhor dos Titãs, mas sua vanguarda ainda continuará avançando. Eles estarão ansiosos por sangue. A maioria de nossas defesas já está posicionada. Venham!

– Só um momento – Sileno exigiu. – E quanto à procura por Pã? Você está quase duas semanas atrasado, Grover Underwood! Sua licença de buscador está revogada!

Grover respirou fundo. Ele ficou ereto e olhou nos olhos de Sileno.

– Licenças de buscador não importam mais. O grande deus Pã está morto. Ele se foi e nos deixou seu espírito.

– O quê? – O rosto de Sileno ficou vermelho vivo. – Profanações e mentiras! Grover Underwood, terei que exilar você por falar isso!

– É a verdade – eu disse. – Estávamos lá quando ele morreu. Todos nós.

– Impossível! Vocês são todos mentirosos! Destruidores da natureza!

Quíron estudou o rosto de Grover.

– Falaremos disso mais tarde.

– Falaremos disso agora! – disse Sileno. – Devemos lidar com isso–

– Sileno – Quíron o cortou. – Meu acampamento está sob ataque. A questão Pã tem esperado por dois mil anos. Temo que tenha que esperar mais um pouco. Presumindo que estaremos aqui esta noite.

E com essa observação feliz, ele se curvou e galopou na direção do bosque, deixando-nos para segui-lo o melhor que pudéssemos.



Era a maior operação militar que eu já tinha visto no acampamento. Todos estavam na clareira, vestidos com armaduras de combate completas, mas desta vez não era para capturar a bandeira. O chalé de Hefesto tinha colocado armadilhas em volta da entrada do Labirinto – arame farpado, fossos preenchidos com potes de fogo grego, fileiras de estacas afiadas para desviar golpes. Beckendorf estava manejando duas grandes catapultas do tamanho de caminhões, já armadas e apontadas para o Punho de Zeus. O chalé de Ares estava na linha de frente, organizados em falanges com Clarisse dando ordens. Os chalés de Hermes e Apolo estavam espalhados pela floresta com arcos preparados. Muitos se posicionaram nas árvores. Até as dríades estavam armadas com arcos, e os sátiros trotavam em volta com bastões de madeira e escudos feitos de cascas de árvores resistentes.

Annabeth foi juntar-se aos seus irmãos do chalé de Atena, que tinha montado uma tenda de comando e estava dirigindo as operações. Uma bandeira cinza com uma coruja rodopiava do lado de fora da tenda. Nosso chefe de segurança, Argos, estava de guarda na entrada. As crianças de Afrodite estavam correndo endireitando as armaduras de todos à volta e oferecendo-se para pentear a crina embaraçada dos cavalos. Até as crianças de Dioniso tinham arrumado o que fazer. O próprio deus ainda não estava à vista, mas seus filhos, os gêmeos loiros, estavam correndo, providenciando garrafas de água e caixas de suco para os guerreiros suados.

Parecia um bom começo, mas Quíron murmurou perto de mim:

– Não é o suficiente.

Pensei no que tinha visto no Labirinto, todos os monstros na arena de Anteu, e o poder de Cronos que senti no Monte Tam. Meu coração afundou. Quíron tinha razão, mas esse era o máximo que podíamos reunir. Pela primeira vez desejei que Dioniso estivesse aqui, mas mesmo que ele estivesse, eu não sabia se ele poderia fazer muita coisa.

Quando se tratava de guerra, os deuses eram proibidos de interferir diretamente. Aparentemente os Titãs não ligavam muito para restrições como essa. Mais pra extremidade da clareira, Grover estava falando com Juníper. Ele segurava suas mãos enquanto ele contava nossa história. Lágrimas esverdeadas formaram-se em seus olhos quando ela ouviu as notícias sobre Pã.

Tyson ajudou as crianças de Hefesto a preparar as defesas. Ele pegou rochas e as empilhou perto das catapultas como munição.

– Fique comigo, Percy – Quíron disse. – Quando a luta começar, eu quero que você espere até sabermos com o que estamos lidando. Você deve ir para onde precisarmos de mais reforços.

– Eu vi Cronos – eu disse, ainda atordoado pelo fato. – Eu olhei direto nos olhos dele. Era Luke... mas também não era.

Quíron correu seu dedo ao longo da corda do seu arco.

– Ele tinha olhos dourados, imagino. E na sua presença, o tempo parecia tornar-se líquido.

Assenti.

– Como ele conseguiu tomar um corpo mortal?

– Eu não sei, Percy. Deuses têm assumido a forma de mortais por eras, mas realmente se tornar um... fundir a forma divina com a mortal. Não sei como isso pôde ser feito sem que Luke virasse cinzas.

– Cronos disse que seu corpo havia sido preparado.

– Eu sinto calafrios só de pensar o que isso quer dizer. Mas talvez isso vá limitar o poder de Cronos. Por um tempo, pelo menos, ele está confinado à forma humana. Ela os mantém juntos. Com sorte ela também irá restringi-lo.

– Quíron, se ele liderar o ataque–

– Eu acho que não, meu rapaz. Eu sentiria se ele estivesse por perto. Não tenho dúvidas que é isso que ele planejava, mas acredito que você criou inconveniências para ele, quando você pôs abaixo sua sala do trono em cima dele. – Ele olhou para mim reprovadoramente. – Você e seu amigo Nico, filho de Hades.

Um bolo se formou na minha garganta.

– Sinto muito, Quíron. Eu sei que devia contado. É só que–

Quíron levantou sua mão.

– Eu entendo porque você não contou, Percy. Você se sentiu responsável. Tentou protegê-lo. Mas, meu rapaz, para sobrevivermos a esta guerra, devemos confiar uns nos outros. Devemos...

Sua voz vacilou. O chão abaixo de nós estava tremendo. Todos na clareira pararam o que estavam fazendo. Clarisse vociferou uma única ordem.

– Juntar escudos!

Então o exército do Senhor dos Titãs explodiu do Labirinto.



Eu já estive em lutas antes, mas essa era uma batalha em escala completa. A primeira coisa que vi foi uma dúzia de lestrigões saindo do chão, gritando tão alto que minhas orelhas pareciam que iam explodir. Eles carregavam escudos que eram carros achatados, e bastões que eram troncos de árvores com espinhos na ponta. Um dos gigantes berrou para a falange de Ares, esmagando-a pelo lado com seu bastão, e o chalé inteiro foi arremessado, uma dúzia de guerreiros jogados para o ar como bonecas de trapo.

– Fogo! – Beckendorf gritou.

As catapultas entraram em ação. Duas pedras foram arremessadas na direção dos gigantes. Uma foi desviada por um escudo deixando apenas um amassado, já a outra pegou um Lestrigão no peito, e o gigante caiu. Os arqueiros de Apolo atiraram uma saraivada, dúzias de flechas que ficaram espetadas nas armaduras dos gigantes como porcos-espinhos. Várias encontraram frestas nas armaduras, e alguns gigantes vaporizaram com o toque do bronze celestial.

Mas quando parecia que os Lestrigões estavam para ser derrotados, uma nova massa surgiu do labirinto: trinta, talvez quarenta dracaenae em armaduras de combate completas, segurando lanças e redes. Elas se dispersaram em todas as direções. Algumas atingiram as armadilhas que o chalé de Hefesto havia deixado. Uma ficou presa nas estacas, tornando-se um alvo fácil para os arqueiros. Outras caíram na armadilha de arame, e potes de fogo grego explodiram em chamas verdes, engolindo várias das mulheres cobra. Mas muitas continuavam se aproximando. Os guerreiros de Atena e Argos correram ao seu encontro. Eu vi Annabeth sacar sua espada e atacar uma delas. Perto dali, Tyson estava montado em um gigante. De algum jeito ele conseguira subir nas costas do gigante e estava batendo em sua cabeça com um escudo de bronze BONG!BONG!BONG!

Quíron atirava flecha após flecha calmamente, derrubando um monstro a cada tiro. Mas mais inimigos continuavam a vir do labirinto. Finalmente um cachorro infernal – que não era a Sra. O’Leary – saltou do túnel e seguiu direto para os sátiros.

– VÁ! – Quíron gritou para mim.

Eu destampei Contracorrente e ataquei.

Enquanto eu corria pelo campo de batalha, eu vi coisas horríveis. Um meio-sangue inimigo lutava contra um filho de Dioniso, mas não era bem uma disputa. O inimigo o apunhalou no braço e bateu no topo de sua cabeça com o punho da espada, e o filho de Dioniso caiu. Outro guerreiro inimigo atirava flechas chamejantes nas árvores, deixando nossos arqueiros e as dríades em pânico.

Uma dúzia de dracaenae saiu da briga principal de repente e rastejaram pelo caminho que levava para o acampamento, como se elas soubessem aonde estavam indo. Se elas conseguissem, iriam pôr fogo no acampamento inteiro, completamente sem oposição.

A pessoa mais próxima era Nico di Angelo. Ele apunhalou um telequine, e sua lâmina preta estigiana absorveu a essência do monstro, sugando sua energia até não sobrar nada além de poeira.

– Nico! – gritei.

Ele olhou para onde eu estava apontando, viu as mulheres serpentes, e entendeu imediatamente.

Ele respirou fundo e ergueu sua espada preta.

– Sirvam-me – ele chamou.

A terra tremeu. Uma fissura abriu na frente das dracaenae, e uma dúzia de guerreiros zumbis saiu da terra – cadáveres horríveis em roupas militares de todas as épocas – revolucionários americanos, centuriões romanos, cavalaria napoleônica em cavalos esqueleto. Como se fossem um, eles sacaram suas espadas e atacaram as dracaenae.

Nico caiu de joelhos, mas eu não tinha tempo para me assegurar se ele estava bem. Eu me aproximei do cachorro infernal, que estava empurrando os sátiros para dentro da floresta. A fera atacou um sátiro, que saiu de seu caminho, mas acertou outro que era muito lento. O escudo de madeira do sátiro se partiu quando ele caiu.

– Ei! – eu gritei.

O cão infernal se virou. Ele grunhiu e saltou. Ele teria me rasgado em pedaços, mas enquanto eu caia, meus dedos se fecharam em uma jarra de argila – um dos potes de fogo grego de Beckendorf. Eu joguei a jarra no estômago do cachorro infernal, e a criatura se foi em chamas. Eu me afastei, ofegando.

O sátiro que tinha sido atacado não estava se mexendo. Eu fui até ele para checar, mas então ouvi a voz de Grover:

– Percy!

A floresta tinha começado a pegar fogo. Chamas rugiam a três metros da árvore de Juníper, e Grover e Juníper estavam ficando loucos tentando salvá-la. Grover tocava uma música da chuva em sua flauta. Juníper tentava desesperadamente apagar o fogo batendo nele com seu xale, mas isso só estava piorando as coisas.

Eu corri na direção deles, pulando lutas, passando por baixo de pernas de gigantes. A água mais próxima era o riacho, a meio quilômetro de distância... mas eu tinha que fazer alguma coisa. Eu me concentrei. Houve um puxão nas minhas entranhas, um ruído em meus ouvidos. Então uma onda de água veio avançando entre as árvores. Ela extinguiu o fogo, molhando Juníper, Grover e praticamente todos os outros.

Grover cuspiu um bocado de água.

– Valeu, Percy!

– Sem problema!

Eu corri de volta para a batalha, e Grover e Juníper me seguiram. Grover tinha um bastão nas mãos, e Juníper uma vara – como um chicote antigo. Ela parecia muito irritada, como se ela fosse açoitar as costas de alguém. Bem quando pareceu que a batalha tinha se equilibrado de novo – como se pudéssemos ter uma chance – um grito agudo e sobrenatural ecoou do Labirinto, um som que eu já ouvira antes.

Campe se atirou para o céu, suas asas de morcego totalmente estendidas. Ela pousou no topo do Punho de Zeus e analisou a carnificina. Seu rosto estava repleto com uma alegria sombria. As cabeças de animais mutantes grunhiram em sua cintura. Cobras sibilavam e se enrolavam em volta das suas pernas. Em sua mão direita ela segurava uma bola de fios brilhantes – o fio de Ariadne – mas ela o colocou na boca de um leão em sua cintura e puxou suas espadas curvas. As lâminas brilhavam em um tom de verde com veneno. Campe berrou em triunfo, e alguns dos campistas gritaram. Outros tentaram correr e foram pisoteados por cachorros infernais ou gigantes.

– Di Immortales! – Quíron gritou.

Ele mirou uma flecha rapidamente, mas Campe pareceu sentir sua presença. Ela alçou voou com uma velocidade incrível, e a flecha de Quíron passou inofensivamente por sua cabeça.

Tyson se soltou do gigante que ele tinha batido até deixar inconsciente. Ele correu para as nossas linhas, gritando:

– Fiquem! Não corram dela! Lutem!

Mas então um cachorro infernal pulou sobre ele, e Tyson e o cachorro saíram rolando. Campe pousou na tenda de comando de Atena, achatando-a. Eu corri até ela e encontrei Annabeth a meu lado, acompanhando-me, com sua espada na mão.

– Então é isso – ela disse.

– Provavelmente.

– Foi bom lutar com você, Cabeça de Alga.

– Idem.

Juntos nos lançamos no caminho do monstro. Campe sibilou e golpeou em nossa direção. Eu desviei, tentando distraí-la, enquanto Annabeth ia para o ataque, mas o monstro parecia capaz de lutar com ambas as mãos independentemente. Ela bloqueou a espada de Annabeth, e Annabeth teve que pular para trás para desviar da nuvem de veneno. Só de estar perto da coisa era como se estivéssemos em uma neblina ácida. Meus olhos queimavam. Meus pulmões não conseguiam ar suficiente. Eu sabia que não conseguiríamos manter nossa posição por mais que alguns segundos.

– Venham! – eu gritei. – Precisamos de ajuda!

Mas nenhuma ajuda veio. Todos estavam caídos, ou lutando por suas vidas, ou assustados demais para se aproximarem. Três das flechas de Quíron brotaram no peito de Campe, mas ela só rugiu mais alto.

– Agora! – Annabeth disse.

Juntos nós atacamos, desviando dos ataques do monstro, entrando na sua guarda, e quase... quase conseguimos apunhalar Campe no peito, mas uma grande cabeça de urso atacou de sua cintura, e tivemos que pular para trás para evitar sermos mordidos.

Slam!

Minha vista escureceu. Depois só sabia que eu e Annabeth estávamos no chão. O monstro tinha seus pés em nossos peitos, nos prendendo. Centenas de cobras deslizavam acima de mim, sibilando como se fossem risadas. Campe levantou sua espada esverdeada, e eu sabia que eu e Annabeth estávamos sem opções.

Então, atrás de mim, algo uivou. Uma parede de escuridão atingiu Campe, mandando o monstro para o lado. E a Sra O’Leary estava parada a nossa frente, rosnando ferozmente para Campe.

– Boa garota! – disse uma voz familiar.

Dédalo estava lutando por sua saída do Labirinto, jogando monstros para esquerda e para direita, como se ele estivesse abrindo caminho em nossa direção. Perto dele, havia outra pessoa – um gigante familiar, muito maior do que os Lestrigões, com centenas de braços ondulando, cada um segurando um grande pedaço de pedra.

– Briareu! – Tyson gritou admirado.

– Salve, irmãozinho! – Briareu berrou. – Fique firme!

E enquanto a Sra O’Leary saía do caminho, o centímano atirou uma rajada de rochas em Campe. As pedras pareciam aumentar de tamanho quando deixavam a mão de Briareu. Havia tantas, que era como se metade da terra tivesse aprendido a voar.

BOOOOOM!

Onde momentos antes estivera Campe, encontrava-se uma montanha de pedras, quase tão alta quanto o Punho de Zeus. O único sinal de que o monstro já existira eram duas pontas de espada verde saindo das fendas.

Vivas vieram dos campistas, mas nossos inimigos ainda não estavam derrotados. Uma das dracaenae gritou:

– Masssssacrem elessss! Matem a todossss ou Cronosss vai esssfolar vocêsss vivossss!

Aparentemente, aquela ameaça era mais assustadora do que nós. Os gigantes avançaram numa última tentativa desesperada. Um surpreendeu Quíron com uma rajada de vento em suas pernas traseiras, e ele cambaleou e caiu. Seis gigantes gritaram com alegria e avançaram.

– Não! – gritei, mas eu estava muito longe para ajudar.

Então aconteceu. Grover abriu sua boca, e o som mais horrível que eu jamais ouvira saiu dela. Era como se o som de uma trombeta de cobre tivesse sido aumentado mil vezes - o som de puro medo.

Como se fossem um, as tropas de Cronos derrubaram suas armas e correram por suas vidas. Os gigantes passaram por cima das dracaenae tentando chegar ao labirinto primeiro. Telequines e cachorros infernais e meio-sangues inimigos disputavam para ir logo atrás deles. O túnel se fechou, e a batalha estava acabada. A clareira estava quieta, exceto pelo fogo nas árvores, e o choro dos feridos.

Eu ajudei Annabeth a se levantar. Corremos até Quíron.

– Você está bem? – perguntei.

Ele estava deitado de lado, tentando em vão se levantar.

– Que embaraçoso – ele murmurou. – Acho que ficarei bem. Felizmente, não atiramos em centauros com pernas... ai! ... pernas quebradas.

– Você precisa de ajuda – Annabeth disse. – Eu vou trazer um médico do chalé de Apolo.

– Não – Quíron insistiu. – Há feridos mais graves para atender agora. Vão! Estou bem. Mas, Grover... mais tarde teremos que conversar sobre como você fez aquilo.

– Aquilo foi incrível – concordei.

Grover corou.

– Eu não sei de onde veio aquilo.

Juníper o abraçou firmemente.

– Eu sei!

Antes que ela pudesse dizer mais, Tyson chamou:

– Percy, rápido! É Nico!



Havia fumaça ondulando de suas roupas pretas. Seus dedos estavam fechados, e a grama ao seu redor havia se tornado amarela e morrido.

Eu o virei o mais suavemente que pude e coloquei minha mão gentilmente sobre seu peito. Seu coração estava batendo devagar.

– Pegue um pouco de néctar! – eu gritei.

Um dos campistas de Ares veio mancando e me entregou um cantil. Eu derramei um pouco da bebida mágica na boca de Nico. Ele se engasgou e gaguejou, mas suas pálpebras se abriram.

– Nico, o que aconteceu? – perguntei. – Você pode falar?

Ele concordou fracamente.

– Nunca tentei convocar tantos antes. E-eu ficarei bem.

Nós o ajudamos a sentar e demos a ele mais um pouco de néctar. Ele piscou para todos nós, como se ele estivesse tentando se lembrar quem éramos, e então ele focou em alguém atrás de mim.

– Dédalo – ele sussurrou.

– Sim, meu rapaz – o inventor disse. – Eu cometi um erro terrível. E vim corrigi-lo.

Dédalo tinha uns poucos arranhões que estavam sangrando um óleo dourado, mas ele parecia melhor do que muitos de nós. Aparentemente seu corpo autômato curava-se rapidamente. Sra. O’Leary estava atrás dele, lambendo as feridas da cabeça de seu dono, então o cabelo de Dédalo estava engraçado. Briareu estava em pé ao seu lado, cercado por um grupo de sátiros e campistas admirados. Ele parecia um pouco envergonhado, mas estava dando autógrafos em armaduras, escudos e camisetas.

– Eu encontrei o centímano enquanto vinha pelo labirinto – Dédalo explicou. – Parece que ele teve a mesma ideia, vir ajudar, mas ele estava perdido. Então nós nos juntamos. Ambos viemos acertar as coisas.

– ÊÊÊ! – Tyson pulava pra cima e pra baixo. – Briareu! Eu sabia que você viria!

– Eu não sabia – o centímano disse. – Mas você me fez lembrar quem eu sou, Ciclope. Você é o herói.

Tyson corou, mas eu dei umas palmadinhas em suas costas.

– Eu sei disso há muito tempo – falei. – Mas, Dédalo... o exército Titã ainda está lá embaixo. Mesmo sem o fio, eles voltarão. Eles encontrarão um jeito mais cedo ou mais tarde, com Cronos liderando.

Dédalo guardou sua espada.

– Você tem razão. Enquanto o Labirinto existir, seus inimigos poderão usá-lo. E é por isso que o Labirinto não pode existir mais.

Annabeth o fitou.

– Mas você disse que o labirinto está ligado à sua força vital! Enquanto você estiver vivo–

– Sim, minha jovem arquiteta – Dédalo concordou. – Quando eu morrer, o labirinto morrerá também. Então eu tenho um presente para você.

Ele puxou uma mochila de couro de suas costas, abriu-a, e tirou um laptop prata – um dos que eu tinha visto na oficina. Na parte de cima havia o símbolo Δ azul.

– Todo o meu trabalho está aqui – ele disse. – Foi tudo o que consegui salvar do fogo. Anotações de projetos que eu nunca comecei. Alguns dos meus projetos favoritos. Eu não pude desenvolvê-los nos últimos milênios. Eu não ousei revelá-los para o mundo mortal. Mas talvez você os ache interessantes.

Ele estendeu o laptop para Annabeth, que o olhava como se fosse ouro sólido.

– Você está me dando isso? Mas é inestimável! Ele vale... eu nem sei quanto!

– Uma pequena compensação pelo modo como agi – Dédalo disse. – Você estava certa, Annabeth, sobre as crianças de Atena. Devemos ser sábios, e eu não fui. Um dia você será uma arquiteta melhor do que eu jamais fui. Pegue minhas ideias e as aperfeiçoe. É o mínimo que posso fazer antes de morrer.

– Ei – eu disse. – Morrer? Mas você não pode simplesmente se matar. Isso é errado.

Ele balançou sua cabeça.

– Não tão errado quanto me esconder dos meus crimes por dois mil anos. Genialidade não é desculpa para o mal, Percy. Minha hora chegou. Eu devo encarar meu castigo.

– Você não conseguirá um julgamento justo – Annabeth disse. – O espírito de Minos vai estar no julgamento...

– Eu aceitarei o que vier – ele disse. – E confiarei na justiça do Mundo Inferior, como ela é. É tudo que podemos fazer, não é?

Ele olhou direto para Nico, e o rosto de Nico escureceu.

– Sim – ele disse.

– Você levará minha alma como compensação, então? – Dédalo perguntou. – Você poderia usá-la para reclamar sua irmã.

– Não – Nico disse. – Eu o ajudarei a libertar seu espírito. Mas Bianca morreu. Ela deve permanecer onde está.

Dédalo assentiu.

– Muito bem, filho de Hades. Você está se tornando sábio.

Então ele se virou para mim.

– Um último favor, Percy Jackson. Eu não posso deixar a Sra. O’Leary sozinha. E ela não deseja voltar ao Mundo Inferior. Você cuidará dela?

Eu olhei para a enorme cadela negra, que choramingava tristemente, ainda lambendo o cabelo de Dédalo. Eu estava pensando que o apartamento da minha mãe não permitia cachorros, especialmente cachorros maiores que o apartamento, mas eu disse:

– Sim, é claro que vou.

– Então eu estou pronto para ver meu filho... e Perdiz – ele disse. – Eu devo dizer a eles o quanto eu me arrependo.

Annabeth tinha lágrimas em seus olhos.

Dédalo se virou para Nico, que sacou sua espada. De início fiquei com medo que Nico fosse matar o velho inventor, mas ele simplesmente disse:

– Sua hora chegou há muito tempo. Fique livre e descanse.

Um sorriso de alívio surgiu no rosto de Dédalo. Ele congelou feito uma estátua. Sua pele ficou transparente, revelando as engrenagens de bronze e os maquinários zumbindo dentro de seu corpo. Então a estátua virou cinzas e se desintegrou.

Sra. O’leary ganiu. Eu acariciei sua cabeça, tentando confortá-la o melhor que eu podia. A terra tremeu – um terremoto que provavelmente podia ser sentido em todas as maiores cidades pelo país – conforme o labirinto desmoronava. Em algum lugar, eu esperava, os remanescentes da força de ataque Titã foram enterrados.

Eu olhei em volta para o massacre na clareira, e para os rostos cansados de meus amigos.

– Venham – eu disse a eles. – Temos trabalho a fazer.

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