sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 23





                                  Dizemos adeus, ou quase isso

O período no acampamento se estendeu naquele verão. Durou mais duas semanas, exatamente no começo do novo ano letivo, e eu tenho que admitir que foram as melhores duas semanas da minha vida.
É claro, Annabeth me mataria se eu dissesse algo diferente, mas também tinha um bocado de outras coisas legais acontecendo. Grover tinha assumido o controle dos sátiros buscadores e estava mandando eles pelo mundo para encontrar meio-sangues não reivindicados.
Até agora, os deuses tinham mantido a promessa. Novos semideuses estavam pipocando em todos os lugares – não só nos Estados Unidos, mas em vários outros países também.
– Nós mal conseguimos acompanhar – Grover admitiu numa tarde enquanto estávamos no intervalo perto do lago. – Vamos precisar de um maior orçamento de viagens, e eu poderia usar mais uma centena de sátiros.
– É, mas os sátiros que você tem estão trabalhando duro – eu disse. – Acho que eles estão com medo de você.
Grover enrubesceu.
– Isso é bobagem. Eu não sou assustador.
– Você é um Senhor da Natureza, cara. O escolhido de Pã. Um membro do Conselho do...
– Para com isso! – Protestou Grover. – Você é tão mau quanto Juníper. Eu acho que ela quer que eu concorra à presidência depois disso.
Ele mastigou uma lata de alumínio enquanto nós olhávamos por cima do lago para a fileira de novos chalés em construção. O formato de U brevemente seria um círculo completo, e os semideuses tinham realmente pegado a nova tarefa com prazer.
Nico tinha alguns construtores mortos-vivos trabalhando no chalé de Hades. Ainda que ele fosse a única criança lá, estava ficando bem legal: paredes sólidas de obsidiana com uma caveira acima da porta e tochas que ardiam com fogo verde vinte e quatro horas por dia. Ao lado dele estavam os chalés de Íris, Nêmesis, Hécate e diversos outros que eu não reconhecia. A cada dia acrescentavam um novo ao projeto. Estavam indo tão bem que Annabeth e Quíron estavam falando sobre incluir uma ala inteiramente nova de chalés para que houvesse espaço suficiente.
O chalé de Hermes estava bem menos lotado agora, porque muitas das crianças não reivindicadas tinham recebido sinais de seus pais divinos. Acontecia quase toda noite, e toda noite mais semideuses cruzavam as fronteiras da propriedade com guias sátiros, geralmente perseguidos por alguns monstros nojentos, mas quase todos eles conseguiram entrar.
– Vai ser muito diferente no próximo verão – eu disse. – Quíron espera que nós tenhamos o dobro de campistas.
– É – concordou Grover – mas ainda vai ser o mesmo velho lugar.
Ele suspirou contente.
Eu observei Tyson liderar um grupo de ciclopes construtores. Eles estavam içando enormes rochas para o chalé de Hécate, e eu sabia que era um trabalho delicado. Cada pedra estava gravada com uma escrita mágica, e se eles deixassem uma delas cair, ou iria explodir ou transformar todos no raio de meio quilômetro em árvores. Achei que ninguém além de Grover iria gostar disso.
– Eu viajarei bastante – avisou Grover – protegendo a natureza e encontrando meio-sangues. Eu não devo ver você tanto assim.
– Não vai mudar nada – eu disse. – Você ainda é meu melhor amigo.
Ele sorriu.
– Tirando Annabeth.
– Isso é diferente.
– É – ele concordou. – Com certeza.


No fim da tarde, eu estava dando uma última caminhada ao longo da praia quando uma voz familiar disse:
– Bom dia para pescar.
Meu pai, Poseidon, estava parado na rebentação com a água batendo em seus joelhos, vestindo sua típica bermuda, boné surrado, e uma camisa havaiana rosa e verde. Ele tinha uma vara para pescar no alto mar em suas mãos e lançou a linha muito longe – tipo lá no meio do Estreito de Long Island.
– Ei, pai – eu disse. – O que traz você aqui?
Ele piscou.
– Nunca consigo falar em particular com você no Olimpo. Queria lhe agradecer.
– Agradecer a mim? Você veio para o resgate.
– Sim, e tive meu palácio destruído no processo, mas você sabe, palácios podem ser reconstruídos. Eu recebi tantos cartões de agradecimento dos outros deuses. Até Ares escreveu um, ainda que eu ache que Hera o forçou. É meio gratificante. Então, obrigado. Suponho que até os deuses podem aprender uns novos truques.
O mar começou a ferver ao final da frase do meu pai, e uma enorme serpente marinha verde emergiu da água. Ela se debatia e lutava, mas Poseidon apenas suspirou. Segurando sua vara de pescar com uma mão, ele sacou sua faca e cortou a linha. O monstro afundou abaixo da superfície.
– Não é um tamanho bom para comer – ele reclamou. – Eu tenho que soltar esses pequenos ou os guarda-caças vão ficar atrás de mim.
– Pequenos?
Ele sorriu.
– Você está se saindo bem com esses novos chalés, a propósito. Suponho que isso signifique que tenho que reivindicar todos os meus outros filhos e filhas e mandar alguns irmãos para você no próximo verão.
– Há-há.
Poseidon enrolou de volta sua linha vazia.
Eu joguei o peso para o outro pé.
– Hum, você estava brincando, certo?
Poseidon me deu uma de suas piscadelas, e eu ainda não sabia se ele tinha falado sério ou não.
– Vejo você em breve, Percy. E lembre quais são os peixes grandes o bastante para fisgar, hein?
Com isso ele se dissolveu em brisa marinha, deixando uma vara de pescar deitada na areia.


Aquela noite seria a última no acampamento – a cerimônia das contas. O chalé de Hefesto tinha feito o desenho da conta desse ano. Mostrava o Empire State Building, e gravado em minúsculas letras gregas, espiralando em torno da imagem, estavam os nomes de todos os heróis que tinham morrido defendendo o Olimpo. Eram nomes demais, mas eu estava orgulhoso de usar a conta. Eu a botei no meu colar do acampamento – quatro contas agora. Me senti como um veterano. Pensei sobre a primeira fogueira do acampamento que eu tinha comparecido, de volta quando tinha doze anos, e o quanto eu me senti tão em casa. Isso pelo menos não tinha mudado.
– Nunca se esqueçam desse verão! – Quíron falou para nós. Ele tinha se recuperado notavelmente bem, mas ele ainda trotava na frente da fogueira mancando levemente. – Nós descobrimos bravura e amizade neste verão. Nós defendemos a honra do acampamento.
Ele sorriu para mim, e todos aplaudiram. Enquanto eu olhava para a fogueira, eu vi uma garotinha de vestido marrom cuidando das chamas. Ela piscou para mim com brilhantes olhos vermelhos. Ninguém parecia notá-la, mas percebi que talvez ela preferisse assim.
– E agora – Quíron disse – cedo para cama! Lembrem-se, vocês devem desocupar seus chalés até amanhã ao meio-dia a menos que tenham combinado de passar o ano conosco. As harpias da limpeza vão comer qualquer atrasadinho, e eu odiaria terminar o verão com um incidente desses!


Na manhã seguinte, Annabeth e eu estávamos no topo da Colina Meio-Sangue. Nós observamos os trens e vans se afastando, levando a maioria dos campistas de volta para o mundo real. Poucos veteranos estavam ficando para trás, e alguns dos novatos, mas eu estava indo de volta para o Colégio Goode para o segundo ano – a primeira vez na minha vida que eu estaria cursando dois anos na mesma escola.
– Tchau – Rachel disse para nós enquanto botava a sacola no ombro.
Ela parecia bem nervosa, mas estava mantendo a promessa com seu pai e indo para a Academia Clarion em New Hampshire. Somente no próximo verão teríamos o nosso Oráculo de volta.
– Você vai se sair bem – Annabeth abraçou ela.
Engraçado, agora elas pareciam se dar bem.
Rachel mordeu os lábios.
– Espero que você esteja certa. Estou um pouco preocupada. E se alguém me perguntar o que vai cair no próximo teste de matemática e eu começar a despejar uma profecia no meio da aula de geometria? O teorema de Pitágoras deve ser a segunda questão... Deuses, isso seria vergonhoso.
Annabeth riu, e para meu alívio, isso fez Rachel sorrir.
– Bem – ela disse – vocês dois se comportem.
Vai entender, mas ela olhou para mim como se eu como se eu fosse algum tipo de delinquente. Antes que eu pudesse protestar, Rachel se despediu e correu colina abaixo para pegar sua carona.
Annabeth, graças a Deus, iria permanecer em Nova York. Ele obteve permissão de seus pais para frequentar um internato na cidade de forma que ela pudesse ficar perto do Olimpo e supervisionar os trabalhos da reconstrução.
– E perto de mim? – eu perguntei.
– Bem, alguém está ficando muito convencido.
Mas ela entrelaçou seus dedos entre os meus. Lembrei do que ela tinha me dito em Nova York, sobre construir algo permanente, e eu pensei que... talvez... estivéssemos a caminho de um bom começo.
O dragão de guarda Peleu se enroscou contente em volta do pinheiro debaixo do Velocino de Ouro e começou a roncar, soprando vapor a cada respiração.
– Você esteve pensando sobre a profecia de Rachel? – perguntei para Annabeth.
Ela franziu a sobrancelha.
– Como você sabia?
– Porque eu conheço você.
Ele me bateu com o ombro.
– Ok, eu pensei. Sete meio-sangues responderão ao chamado. Imagino quem serão eles. Nós vamos ter tantas caras novas no próximo verão.
– Sim – eu concordei. – E toda aquela coisa sobre o mundo acabar em tempestade ou fogo.
Ela mordeu os lábios.
– E inimigos nas Portas da Morte. Eu não sei, Percy, mas não gosto disso. Pensei que... bem, talvez nós tivéssemos um pouco de paz em troca.
– Não seria o Acampamento Meio-Sangue se fosse pacífico – eu disse.
– Acho que você tem razão... Ou talvez a profecia não aconteça por anos.
– Poderia ser um problema para outra geração de semideuses – eu concordei. – Então podemos chutar tudo pro alto e aproveitar.
Ela assentiu, ainda que continuasse parecendo inquieta. Eu não a culpava, mas era difícil se sentir chateado num dia agradável, com ela ao meu lado, sabendo que eu não estava realmente dizendo adeus. Nós tínhamos um bocado de tempo.
– Uma corrida até a estrada? – eu disse.
– Você vai perder feio.
Ela Colina Meio-Sangue abaixo e eu corri atrás dela.
Pela primeira vez, eu não olhei para trás.

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