terça-feira, 15 de outubro de 2013

Capitulo IX - Frank






ENQUANTO MARCHAVA PARA OS JOGOS DE GUERRA, Frank relembrava o dia em sua mente. Ele não podia acreditar no quão perto ele chegou da morte.
Naquela manhã, de sentinela, antes de Percy aparecer, Frank quase tinha dito seu segredo à Hazel. Os dois haviam ficado parados por horas na neblina fria, observando o tráfego suburbano na autoestrada. Hazel estava reclamando do frio.
— Eu daria tudo para estar quente — disse ela, seus dentes rangendo. — Eu gostaria que tivéssemos uma fogueira.
Mesmo com sua armadura, ela parecia ótima. Frank gostava da forma como o seu cabelo cor de café torrado se enrolava em torno das bordas de seu capacete e do modo como covinhas se formavam no seu queixo quando ela franzia a testa. Ela era pequena em comparação à Frank, o que o fazia se sentir como um boi grande e desajeitado. Ele queria colocar seus braços em volta dela para aquecê-la, mas nunca faria isso. Ela provavelmente lhe bateria, e ele perderia a única amiga que tinha no acampamento.
Eu poderia fazer uma fogueira realmente impressionante, pensou. É claro, iria apenas queimar por alguns minutos, e então eu morreria...
Mesmo considerar isso era assustador. Hazel tinha esse efeito sobre ele. Sempre que ela queria algo, ele tinha o desejo irracional de lhe fornecer. Ele queria ser o cavaleiro à moda antiga cavalgando para resgatá-la, o que era estúpido, já que ela era muito mais capaz em tudo do que ele.
Imaginou o que sua avó diria: Frank Zhang cavalgando para o resgate? Há! Ele iria cair de seu cavalo e quebrar o pescoço.
Difícil de acreditar que apenas seis semanas tinham se passado desde que deixou a casa de sua avó – seis semanas desde o funeral de sua mãe.
Tudo tinha acontecido desde então: lobos chegando na porta de sua avó, a viagem até o Acampamento Júpiter, as semanas que passara na Quinta Coorte tentando não ser um completo fracasso. Por tudo isso, ele manteve a peça de lenha meio-queimada envolta em um pano no bolso do casaco.
Mantenha-a por perto, a sua avó tinha avisado. Enquanto isso estiver seguro, você está seguro.
O problema era que ela queimava tão facilmente. Ele se lembrou da viagem do sul de Vancouver. Quando a temperatura caiu abaixo de zero perto do Monte Hood, Frank trouxe o pedaço de estopa e segurou-o em suas mãos, imaginando como seria bom ter algum fogo. Imediatamente, o resto de carvão brilhou com uma chama amarela ardente. Aquilo iluminou a noite e aqueceu Frank até os ossos, mas ele podia sentir a sua vida indo embora, como se ele estivesse sendo consumido ao invés da madeira. Ele empurrou a chama em um banco de neve. Por um momento horrível, ela se manteve acesa. Quando finalmente apagou, Frank controlou seu pânico. Enrolou o pedaço de madeira e colocou-o de volta no bolso do casaco, determinado a não tirá-lo novamente. Mas não pôde esquecer isso.
Era como se alguém tivesse dito: “Faça o que fizer, não pense nesse graveto explodindo em chamas!” Então, é claro, era tudo o que ele pensava.
De sentinela com Hazel, tentava tirar isso de sua mente. Ele adorava passar o tempo com ela. Lhe perguntou sobre sua infância em Nova Orleans, mas ela ficou nervosa com suas perguntas, então, ao invés disso, ficaram de conversa fiada. Apenas por diversão, tentaram falar francês um com o outro. Hazel tinha um pouco de sangue francês pelo lado de sua mãe. Frank tinha tido francês na escola. Nenhum deles era muito fluente, e o francês de Louisiana era tão diferente do francês canadense que era quase impossível conversar. Quando Frank perguntou a Hazel como seu bife estava hoje, e ela respondeu que seu sapato era verde, eles decidiram desistir.
Então Percy Jackson chegou.
Claro, Frank tinha visto monstros lutando com crianças antes. Ele havia lutado com muitos deles em sua viagem de Vancouver. Mas nunca tinha visto górgonas. Ele nunca tinha visto uma deusa em pessoa. E a maneira como Percy havia controlado o Pequeno Tibre – Nossa! Frank desejava ter poderes assim.
Ele ainda podia sentir as garras das górgonas pressionando seus braços e o cheiro de sua respiração ofídica – como ratos mortos e veneno. Se não fosse por Percy, aquelas megeras grotescas o teriam levado. Ele seria uma pilha de ossos na parte de trás do Mercado Bargain agora. Depois do incidente no rio, Reyna mandou Frank para o arsenal, o que lhe tinha dado tempo demais para pensar.
Enquanto polia espadas, lembrou-se de Juno, alertando-os para libertar a Morte. Infelizmente Frank tinha uma boa ideia do que a deusa queria dizer. Ele tentou esconder seu choque quando Juno apareceu, mas ela parecia exatamente como sua avó a havia descrito – perfeitamente, até a capa de pele de cabra.
Ela escolheu o seu caminho anos atrás, a avó tinha lhe dito. E não vai ser fácil.
Frank olhou para seu arco no canto do arsenal. Ele teria se sentido melhor se Apolo o reclamasse como filho. Frank tinha certeza que seu pai divino falaria até seu décimo sexto aniversário, o que tinha passado há duas semanas.
Dezesseis anos era um marco importante para os romanos. Tinha sido o primeiro aniversário de Frank no acampamento. Mas nada aconteceu. Agora Frank esperava ser reivindicado na Festa da Fortuna, apesar do que Juno tinha dito, eles estariam em uma batalha por suas vidas nesse dia.
Seu pai tinha que ser Apolo. Tiro com arco era a única coisa em que Frank era bom. Anos atrás, sua mãe havia lhe dito que seu nome de família, Zhang, significa “mestre de arcos” em chinês. Isso deve ter sido uma dica sobre seu pai.
Frank derrubou seus panos de polimento. Ele olhou para o teto.
— Por favor, Apolo, se você é meu pai, me diga. Eu quero ser um arqueiro como você.
— Não, você não é — uma voz resmungou.
Frank pulou da sua cadeira. Vitellius, o lar da Quinta Coorte, estava brilhando atrás dele. Seu nome completo era Gaius Vitellius Reticulus, mas as outras Coortes o chamavam de Vitellius, o ridículo.
— Hazel Levesque me enviou para verificar você — disse Vitellius, caminhando até o cinto da sua espada. — Boa coisa, também. Examinar o estado desta armadura!
Vitellius não era alguém para conversar. Sua toga era larga, sua túnica mal cabia sobre sua barriga, e a espada caia do seu cinto a cada três segundos, mas Frank não se incomodou em apontar isso.
— Quanto aos arqueiros — o fantasma disse — eles são fracos! Na minha época, tiro com arco era um trabalho de bárbaros. Um bom romano deve estar na briga, eviscerar seu inimigo com lança e espada como um homem civilizado! É assim que nós fizemos nas Guerras Púnicas. Se aproxime dos romanos, garoto!
Frank suspirou.
— Eu pensei que você esteve no exército de César.
— Eu estive!
— Vitellius, César foi centenas de anos após as Guerras Púnicas. Você não pode ter estado vivo por tanto tempo.
— Questionando a minha honra? — Vitellius parecia tão furioso, sua aura roxa brilhava. Ele sacou seu gládio fantasmagórico e gritou: — Tome isso!
Ele passou a espada, o que foi quase tão mortal quanto um laser, através do peito de Frank algumas vezes.
— Ai! — Frank disse, apenas para ser agradável.
Vitellius pareceu satisfeito e afastou sua espada.
— Talvez você pense duas vezes antes de duvidar dos mais velhos da próxima vez! Agora... foi o seu décimo sexto aniversário recentemente, não foi?
Frank assentiu. Ele não tinha certeza de como Vitellius sabia disso, já que Frank não tinha contado a ninguém, exceto a Hazel, mas fantasmas tinham formas de descobrir segredos. Escutar enquanto invisível provavelmente era um delas.
— Então é por isso que você está como um gladiador rabugento — o lar falou. — Compreensível. O décimo sexto aniversário é seu dia de masculinidade! Seu pai divino deveria ter reivindicado você, nenhuma dúvida sobre isso, mesmo com apenas um pequeno prenúncio. Talvez ele pensou que você fosse mais jovem. Você parece mais jovem, você sabe, com essa cara de bebê rechonchudo.
— Obrigado por me lembrar — Frank murmurou.
— Sim, eu lembro do meu décimo sexto — Vitellius disse alegremente. — Presságio maravilhoso! Uma galinha na minha cueca.
— Hein?
Vitellius se encheu de orgulho.
— É isso mesmo! Eu estava no rio mudando de roupa para o meu Liberalia, rito de passagem para a idade adulta, você sabe. Nós fazíamos as coisas corretamente na época. Eu tinha levado a minha toga de infância e fui lavar-me para vestir a de adulto. De repente, uma galinha branca correu para fora do nada, furtou a minha tanga e fugiu com ela. Eu não estava usando-a na hora.
— Certo. E eu posso apenas dizer: muita informação?
— Mmm — Vitellius não estava escutando. — Esse foi o sinal que eu descendia de Esculápio, o deus da medicina. Eu tomei meu cognome, meu terceiro nome, Reticulus, porque significava roupa íntima, para me lembrar do dia abençoado que uma galinha roubou minha tanga.
— Então... o seu nome significa Sr. Roupa Íntima?
— Louvados sejam os deuses! Tornei-me um cirurgião na legião, e o resto é história — ele abriu os braços generosamente. — Não desista, rapaz. Talvez seu pai esteja atrasado. A maioria dos agouros não são tão dramáticos quanto uma galinha, é claro. Eu conheci um colega que, uma vez teve um estrume de besouro...
— Obrigada, Vitellius — disse Frank. — Mas eu tenho que terminar de polir esta armadura...
— E o sangue da górgona?
Frank congelou. Ele não tinha contado a ninguém sobre isso. Tanto quanto ele sabia, só Percy tinha visto ele colocar no bolso os frascos no rio, e eles não tinham tido a oportunidade de falar sobre isso.
— Venha agora — Vitellius repreendeu. — Eu sou um curandeiro. Eu conheço as lendas sobre o sangue de górgona. Mostre-me os frascos.
Relutantemente, Frank tirou os dois frascos de cerâmica que ele tinha recuperado do Pequeno Tibre. Despojos de guerra eram muitas vezes deixados para trás quando um monstro se dissolvia – às vezes um dente, uma arma ou mesmo a cabeça inteira do monstro. Frank soube o que os dois frascos eram imediatamente. Por tradição eles pertenciam a Percy, que havia matado as górgonas, mas Frank não podia deixar de pensar, e se eu pudesse usá-los ?
— Sim — Vitellius estudou os frascos com aprovação. — Sangue retirado do lado direito do corpo de uma górgona pode curar qualquer doença, até mesmo trazer os mortos de volta à vida. A deusa Minerva deu uma vez um frasco disso para meu ancestral divino, Esculápio. Mas o sangue retirado do lado esquerdo de uma górgona... instantaneamente fatal. Então, qual é qual?
Frank olhou para os frascos.
— Eu não sei. Eles são idênticos.
— Há! Mas você está esperando que o frasco certo poderia resolver seu problema com a lenha queimada, hein? Talvez quebrar sua maldição?
Frank estava tão atordoado, não conseguia falar.
— Oh, não se preocupe, rapaz — o fantasma riu. — Eu não vou contar a ninguém. Eu sou um lar, um protetor da Coorte! Eu não faria qualquer coisa para te pôr em perigo.
— Você me apunhalou no peito com sua espada.
— Confie em mim, rapaz! Eu tenho simpatia por você, carregando a maldição do Argonauta.
— O... o quê?
Vitellius afastou a questão.
— Não seja modesto. Você tem raízes antigas. Gregas, assim como romanas. Não é de admirar que Juno... — ele inclinou a cabeça, como se estivesse ouvindo uma voz. Seu rosto ficou frouxo. Sua aura toda tremulou verde. — Mas eu já disse o suficiente! De qualquer forma, eu vou deixar você descobrir para quem é o sangue da górgona. Suponho que o novato Percy poderia usá-lo também, com o seu problema de memória.
Frank se perguntou o que Vitellius estava prestes a dizer e o que lhe tinha deixado tão assustado, mas ele teve a sensação que dessa vez Vitellius ia ficar de boca fechada.
Ele olhou para os dois frascos. Ele não tinha sequer pensado que Percy precisava deles. Ele se sentiu culpado por ter tido a intenção de usar o sangue em si mesmo.
— Sim. É claro. Ele deve ter isso.
— Ah, mas se você quiser o meu conselho... — Vitellius olhou nervoso novamente. — Você deve guardar ambos os sangues de górgona. Se minhas fontes estiverem corretas, você vai precisar deles na sua busca.
— Busca?
As portas do arsenal abriram.
Reyna invadiu com seus galgos de metal. Vitellius desapareceu. Ele poderia ter gostado de galinhas, mas não gostava dos cães da pretora.
— Frank — Reyna parecia perturbada. — Isso é o suficiente com a armadura. Vá encontrar Hazel. Traga Percy Jackson aqui em baixo. Ele esteve lá em cima por muito tempo. Eu não quero que Octavian... — ela hesitou. — Basta trazer Percy aqui embaixo.
Então, Frank tinha corrido todo o caminho até o Templo da Colina. Caminhando de volta, Percy fez toneladas de perguntas sobre o irmão de Hazel, Nico, mas Frank não sabia muito.
— Ele é ok — Frank falou. — Ele não é como Hazel...
— O que você quer dizer? — Percy perguntou.
— Oh, hum... — Frank tossiu. Ele queria dizer que Hazel era de melhor aparência e mais agradável, mas ele decidiu não dizer isso. — Nico é uma espécie de mistério. Ele deixa todo mundo nervoso, sendo filho de Plutão, e tudo.
— Mas você não?
Frank deu de ombros.
— Plutão é legal. Não é sua culpa que ele dirige o Submundo. Ele só teve má sorte quando os deuses estavam dividindo o mundo, sabe? Júpiter tem o céu, Netuno tem o mar, e Plutão tem o Mundo Inferior.
— A morte não te assusta?
Frank quase teve vontade de rir. Nem um pouco! Em vez disso, ele disse:
— Volte aos velhos tempos, como os tempos gregos, quando Plutão era chamado de Hades, ele não era mais que um deus da morte. Quando ele se tornou romano, se tornou mais... eu não sei, respeitável. Se tornou o deus da riqueza, também. Tudo sob a terra pertence a ele. Então eu não penso nele como sendo realmente assustador.
Percy coçou a cabeça.
— Como se torna um deus romano? Se ele era grego, ele não deveria se manter grego?
Frank caminhou alguns passos, pensando nisso. Vitellius teria dado a Percy uma palestra de uma hora sobre o assunto, provavelmente com uma apresentação do PowerPoint, mas Frank fez a sua melhor tentativa:
— A forma como os romanos viam isso, eles adotaram o material grego e aperfeiçoaram.
Percy fez uma cara azeda.
— Aperfeiçoaram? Como se houvesse algo de errado com eles?
Frank se lembrou do que Vitellius tinha dito: Você tem raízes antigas. gregas, assim como romanas. Sua avó tinha dito algo semelhante.
— Não sei — ele admitiu. — Roma era mais bem sucedida do que a Grécia. Eles fizeram esse império imenso. Os deuses se tornaram um grande negócio nos tempos romanos, mais poderosos e amplamente conhecidos. É por isso que ainda estão por aí hoje. Então, muitas civilizações se baseiam em Roma. Os deuses mudaram para Roma porque era onde o centro do poder estava. Júpiter era... bem, mais responsável como um deus romano do que ele foi quando ele era Zeus. Marte tornou-se muito mais importante e disciplinado.
— E Juno se tornou uma senhora com bolsa hippie — Percy observou. — Então você está dizendo que os antigos deuses gregos mudaram permanentemente para romanos? Não sobrou nada dos gregos?
— Uh... — Frank olhou em volta para se certificar de que não haviam campistas ou lares nas proximidades, mas os portões principais ainda estavam a cem metros de distância. — Esse é um tópico delicado. Algumas pessoas dizem que a influência grega ainda está ao redor, como se ainda fosse uma parte da personalidade dos deuses. Eu já ouvi histórias de semideuses, ocasionalmente, fora do Acampamento Júpiter. Eles rejeitam a formação romana e tentam seguir o estilo mais antigo, como o grego, sendo heróis individuais em vez de trabalhar como uma equipe, da forma como a legião faz. E de volta aos dias antigos, quando Roma caiu, a metade oriental do império sobreviveu – a metade grega.
Percy olhou para ele.
— Eu não sabia disso.
— Era chamado Bizâncio — Frank gostava de dizer essa palavra. Isso soava legal. — O Império Oriental durou mais mil anos, mas foi sempre mais grego do que romano. Para aqueles de nós que seguem o caminho romano, é uma espécie de assunto delicado. É por isso que, independentemente do país em que se estabeleça, o Acampamento Júpiter é sempre no oeste, a parte Romana do território. O leste é considerado má sorte.
— Huh — Percy franziu o cenho.
Frank não podia culpá-lo por sentir-se confuso. O negócio grego/romano também lhe dava dor de cabeça.
Eles chegaram aos portões.
— Vou levá-lo para as casas de banho para você se limpar — disse Frank. — Mas primeiro... sobre aqueles frascos que eu encontrei no rio.
— Sangue de Górgona — disse Percy. — Um frasco cura. O outro é veneno mortal.
Os olhos de Frank se arregalaram.
— Você sabe sobre isso? Ouça, eu não ia ficar com eles. Eu só...
— Eu sei por que você fez isso, Frank.
— Você sabe?
— Sim — Percy sorriu. — Se eu entrasse no Acampamento carregando um frasco de veneno, isso teria parecido ruim. Você estava tentando me proteger.
— Oh... certo — Frank limpou o suor da palma das mãos. — Mas se pudéssemos descobrir qual é qual frasco, poderia curar a sua memória.
O sorriso de Percy desapareceu. Ele olhou através das colinas.
— Talvez... eu acho. Mas você deve guardar os frascos agora. Há uma batalha vindo. Podemos precisar deles para salvar vidas.
Frank olhou para ele, um pouco espantado. Percy teve a chance de recuperar a sua memória, e estava disposto a esperar no caso de alguém mais precisar do frasco? Romanos deveriam ser generosos e ajudar os seus companheiros, mas Frank não tinha certeza de ninguém no acampamento que teria feito essa escolha.
— Então você não se lembra de nada? — Frank perguntou. — Família, amigos?
Percy dedilhou as contas de argila em volta de seu pescoço.
— Só vislumbres. Coisas obscuras. Uma namorada... Eu pensei que ela estaria no acampamento — ele olhou para Frank com cuidado, como se tomasse uma decisão. — O nome dela era Annabeth. Você não a conhece, não é?
Frank balançou a cabeça.
— Eu conheço todos no acampamento, mas não Annabeth. E a sua família? A sua mãe é mortal?
— Eu acho que sim... ela provavelmente está fora de si com preocupação. Sua mãe consegue te ver bastante?
Frank parou na entrada da casa de banho. Ele pegou algumas toalhas no galpão de abastecimento.
— Ela morreu.
Percy franziu a testa.
— Como?
Normalmente Frank mentiria. Ele diria um acidente e interromperia a conversa. Caso contrário, suas emoções ficavam fora de controle. Ele não podia chorar no Acampamento Júpiter. Ele não podia mostrar fraqueza. Mas, com Percy, Frank achava mais fácil falar.
— Ela morreu na guerra — disse ele. — Afeganistão.
— Ela estava no exército?
— Canadense. Sim.
— Canadá? Eu não sabia.
— A maioria dos americanos não sabe — Frank suspirou. — Mas sim, o Canadá tem tropas lá. Minha mãe era capitã. Ela foi uma das primeiras mulheres a morrer em combate. Ela salvou alguns soldados que foram derrubados por fogo inimigo. O funeral estava certo antes de eu vir para cá.
Percy assentiu. Ele não pediu mais detalhes, o que Frank apreciou.
Ele não disse que sentia muito, ou fez qualquer um dos comentários bem-intencionados que Frank sempre odiou: Oh, pobre garoto. Deve ser tão difícil para você. Você tem as minhas mais profundas condolências.
Era como se Percy tivesse enfrentado a morte antes, como se ele soubesse sobre dor. O que importava era ouvir. Você não precisa dizer que sente muito. A única coisa que ajudava era prosseguir – seguir adiante.
 — Que tal você me mostrar as casas de banho agora? — Percy sugeriu. — Estou sujo.
Frank conseguiu dar um sorriso.
— Sim. Você meio que está.
Enquanto caminhavam para a sala de vapor, Frank pensou em sua avó, sua mãe e sua maldita infância, graças a Juno e seu pedaço de lenha. Ele quase desejou poder esquecer seu passado, da forma como Percy esqueceu.

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