quinta-feira, 17 de outubro de 2013

XXIII - Leo






LEO MERECIA UM CHAPÉU DE BURRO.
Se ele estivesse pensando direito, teria ligado o sonar do navio logo que deixaram o porto de Charleston. Foi o que ele tinha esquecido. Ele projetou o casco para ressoar em uma frequência, que em poucos segundos, enviava ondas através da Névoa e alertava Festus de qualquer monstro nas proximidades, mas só funcionava em um modo de cada vez: água ou ar. Ele tinha sido tão abalado pelos romanos, depois pela tempestade e depois por Hazel que tinha esquecido completamente. Agora, havia um monstro bem debaixo deles.
O navio inclinou para estibordo. Hazel agarrou o cordame. Hedge gritou:
— Valdez, qual botão explode monstros? E pegue o leme!
Leo subiu ao convés inclinado e conseguiu agarrar o trilho da porta. Ele começou a escalar pela lateral em direção ao leme, mas quando viu a aparência do monstro, se esqueceu de como se mover. A coisa era do comprimento do navio. Na luz do luar, parecia um cruzamento entre um camarão gigante e uma barata, com uma concha rosa de quitina, uma cauda de lagosta plana e pernas tipo centopeia ondulando hipnoticamente enquanto o monstro raspava contra o casco do Argo II.
Sua cabeça finalmente surgiu – uma face rosa viscosa de um bagre enorme com olhos mortos vidrados, uma boca escancarada desdentada e uma floresta de tentáculos brotando de cada narina, tornando o nariz mais peludo que Leo já teve o desprazer de ver.
Leo se lembrou dos jantares de sexta-feira especiais que ele e sua mãe costumavam a compartilhar em um restaurante local de frutos do mar em Houston. Eles iam comer camarão e bagre. A ideia agora o deixou com náuseas.
— Vamos, Valdez! — Hedge gritou. — Pegue o leme para que eu possa buscar o meu taco de beisebol!
— Um taco não vai ajudar — disse Leo, mas ele começou a ir em direção ao leme.
Atrás dele, o resto de seus amigos surgiu nas escadas.
Percy gritou:
— O que está acontecendo...? Gah! Camarãozilla!
Frank correu para o lado de Hazel. Ela estava segurando o cordame, ainda tonta por causa de seu flashback, mas fez um gesto de que estava tudo bem.
O monstro bateu no navio novamente. O casco gemeu. Annabeth, Piper e Jason cambalearam a estibordo e quase caíram no mar. Leo chegou ao leme. Suas mãos voaram através dos controles. Pelo interfone, Festus estalava e clicava sobre vazamentos no convés, mas o navio não parecia estar em perigo de naufrágio – pelo menos não ainda.
Leo alternou os remos. Eles podiam se converter em lanças, o que deveria ser suficiente para afastar a criatura. Infelizmente, eles foram comprimidos. Camarãozilla deve ter batido o navio para fora do alinhamento e o monstro estava à distância de um cuspe, o que significava que Leo não poderia usar a balista sem colocar fogo no Argo II também.
— Como ele chegou tão perto? — Annabeth gritou, levantando-se de um dos parapeitos.
— Eu não sei! — Hedge resmungou.
Ele procurava seu bastão, que havia rolado pelo tombadilho.
— Eu sou estúpido! — Leo repreendeu a si mesmo. — Estúpido, estúpido! Esqueci o sonar!
O navio inclinou mais para estibordo. Ou o monstro estava tentando dar-lhes um abraço, ou estava prestes a virá-los.
— Sonar? — Hedge exigia. — Pelas flautas de Pã, Valdez! Talvez se você não tivesse ficado olhando para os olhos de Hazel, segurando as mãos por tanto tempo...
— O quê? — Frank gritou.
— Não foi desse jeito! — Hazel protestou.
— Não importa! — Piper disse. — Jason, você pode chamar alguns relâmpagos?
Jason lutou para ficar de pé.
— Eu...
Ele só conseguiu balançar a cabeça. A invocação da tempestade antes tinha tomado muito dele. Leo duvidava que o pobre rapaz pudesse sequer fazer um pequeno estalo na forma que ele estava.
— Percy! — Annabeth disse. — Você pode falar com essa coisa? Você sabe o que é?
O filho do deus do mar balançou a cabeça, claramente confuso.
— Talvez esteja apenas curioso sobre o navio. Talvez.
Os tentáculos do monstro açoitaram através do convés tão rápido, que Leo não teve sequer tempo de gritar, Cuidado!
Um bateu no peito de Percy e o jogou escada abaixo. Outro se envolveu ao redor das pernas de Piper e arrastou-a, gritando, em direção ao parapeito. Dezenas de tentáculos se enrolaram em torno dos mastros, cercando as bestas e quebrando o equipamento.
— Ataque de monstro! — Hedge pegou seu bastão e entrou em ação, mas seus ataques atingiram inutilmente os tentáculos.
Jason sacou a espada. Ele tentou livrar Piper, mas ainda estava fraco. Sua lâmina de ouro cortou através dos tentáculos sem nenhum problema, mas mais rápido do que ele poderia cortar outros tomavam seu lugar.
Annabeth desembainhou sua adaga. Ela correu pela floresta de tentáculos, esquivando-se e esfaqueamento em qualquer alvo que pudesse encontrar. Frank tirou seu arco. Ele atirou na lateral do corpo da criatura, alojando as setas nas fendas da concha, porém elas pareciam só incomodar o monstro. Ele gritou e balançou o navio. O mastro rangeu como se fosse quebrar.
Eles precisavam de mais poder de fogo, mas eles não podiam usar balistas. Eles precisavam de uma explosão que não destruísse o navio. Mas como...?
Os olhos de Leo fixaram em uma caixa de suprimentos ao lado dos pés de Hazel.
— Hazel — ele gritou. — A caixa! Abra!
Ela hesitou, então viu a caixa que ele quis dizer. Na etiqueta estava escrito AVISO. NÃO ABRA.
— Abra! — Leo gritou novamente. — Treinador, pegue o leme! Vire-nos para o monstro ou nós vamos virar.
Hedge dançou através dos tentáculos com seus ágeis cascos de cabra, saindo com gosto. Ele saltou para frente e tomou o controle.
— Espero que você tenha um plano — ele gritou.
— Um ruim — Leo correu em direção ao mastro.
O monstro chocou-se contra o Argo II. O convés inclinou a 45 graus. Apesar dos esforços de todos, havia muitos tentáculos para lutar. Eles pareciam capazes de se esticar tanto quanto quisessem. Logo o Argo II seria completamente enredado. Percy não tinha aparecido ainda. Os outros estavam lutando por suas vidas contra o monstro.
— Frank! — Leo chamou enquanto corria em direção a Hazel. — Nos dê mais tempo! Você pode se transformar em um tubarão ou alguma coisa assim?
Frank olhou, franzindo a testa, e nesse momento um tentáculo bateu nele, derrubando-o no mar. Hazel gritou. Ela abriu a caixa de abastecimento e quase deixou cair os dois frascos de vidro que ela estava segurando.
Leo os pegou. Cada um era do tamanho de uma maçã e o líquido venenoso brilhava verde. O vidro estava quente ao toque. Leo sentiu que seu peito poderia implodir de culpa. Ele tinha apenas distraído Frank e possivelmente o matado, mas não podia pensar nisso. Ele tinha que salvar o navio.
— Vamos lá! — ele entregou um dos frascos a Hazel. — Nós podemos matar o monstro... e salvar Frank!
Ele esperava que não estivesse mentindo. Chegar ao parapeito a bombordo era mais parecido com alpinismo do que caminhada, mas finalmente, eles conseguiram.
— O que é isso? — Hazel ofegou, embalando seu frasco de vidro.
— Fogo grego!
Seus olhos se arregalaram.
— Você está louco? Se isto quebrar, vamos queimar o navio inteiro!
— Na boca! — Leo disse. — Apenas jogue na b...
De repente, Leo foi esmagado contra Hazel e o mundo virou de lado. Enquanto eram erguidos no ar,  ele percebeu que tinham sido enrolados num tentáculo. Os braços de Leo estavam livres, mas tudo o que podia fazer era segurar o frasco de fogo grego. Hazel lutou. Seus braços estavam presos, o que significava que a qualquer momento o frasco preso entre eles poderia quebrar... E que isso seria extremamente ruim para a saúde.
Eles subiram três metros, seis, nove metros acima do monstro. Leo pegou um vislumbre de seus amigos em uma batalha perdida, gritando e cortando os tentáculos do nariz do monstro. Ele viu o treinador Hedge lutando para salvar o navio do naufrágio. O mar estava escuro, mas na luz da lua ele pensou ver um objeto brilhante flutuando perto do monstro, talvez o corpo inconsciente de Frank Zhang.
— Leo — Hazel engasgou — Eu não posso... meus braços...
— Hazel — disse ele. — Você confia em mim?
— Não!
— Nem eu — Leo admitiu. — Quando essa coisa nos soltar, segure a respiração. Faça o que fizer, tente jogar o frasco o mais longe do navio quanto possível.
— Por que... por que o mosntro nos soltaria?
Leo olhou para a cabeça do monstro. Isso seria um lançamento difícil, mas ele não tinha escolha. Ele levantou o frasco na mão esquerda. Pressionou sua mão direita contra o tentáculo e convocou fogo para a palma da mão – uma explosão incandescente estritamente concentrada.
Isso chamou a atenção da criatura. Um tremor percorreu todo o caminho até o tentáculo quando a pele empolou sob o toque de Leo. O monstro levantou sua boca, gritando de dor e Leo jogou seu fogo grego garganta abaixo.
Depois disso, as coisas ficaram vagas. Leo sentiu o tentáculo liberá-los. Eles caíram. Ouviu uma explosão abafada e viu um flash de luz verde dentro do abajur rosa do corpo gigante do monstro. A água atingiu o rosto de Leo como um tijolo embrulhado numa lixa, e ele caiu na escuridão. Ele fechou a boca, tentando não respirar, mas podia sentir que estava perdendo a consciência.
Através do ardor da água salgada, pensou ter visto a silhueta vaga do casco do navio acima – uma forma oval escura cercada por um halo verde de fogo, mas não poderia dizer se o navio estava realmente pegando fogo.
Morto por um camarão gigante, Leo pensou amargamente. Pelo menos deixe o Argo II sobreviver. Que meus amigos estejam bem.
Sua visão começou a escurecer. Seus pulmões queimaram.
Assim que ele estava prestes a desistir, um rosto estranho pairou sobre ele – um homem que parecia Quíron, seu treinador do Acampamento Meio-Sangue. Ele tinha o mesmo cabelo encaracolado, barba desgrenhada e olhos inteligentes – algo entre um hippie selvagem e professor paternal, exceto que a pele do homem era a cor de um feijão de lima. O homem silenciosamente levantou uma adaga. Sua expressão era triste e reprovável, como quem diz: Agora, fique quieto, ou eu não posso matá-lo corretamente.
Então ele apagou.

Quando Leo acordou, se perguntou se era um fantasma em outro flashback, porque ele estava flutuando. Seus olhos lentamente se ajustaram à luz fraca.
— Até que enfim — a voz de Frank tinha reverberado demais, como se ele estivesse falando através de várias camadas de plástico.
Leo sentou-se... Ou melhor, ele ficou na vertical. Ele estava sob a água, numa caverna do tamanho de uma garagem com capacidade de dois carros. Musgo fosforescente cobria o teto, banhando o quarto em um brilho azul-esverdeado. O chão era um tapete de ouriços do mar, o que teria sido desconfortável para andar, então Leo estava feliz que estivesse flutuando. Ele não entendia como podia estar respirando sem ar.
Frank levitava nas proximidades, em posição de meditação. Com o rosto gordinho e sua expressão mal-humorada, parecia um Buda que havia atingido a iluminação e não estava feliz com isso.
A única saída para a caverna estava bloqueada por uma concha enorme com sua superfície perolada brilhando em rosa e turquesa. Se esta caverna era uma prisão, pelo menos tinha uma porta incrível.
— Onde estamos? — Leo perguntou. — Onde está todo mundo?
— Todo mundo? — Frank resmungou. — Eu não sei. Tanto quanto eu posso dizer, é só você, eu e Hazel que estamos aqui. Os caras peixe-cavalo levaram Hazel há cerca de uma hora, deixando-me com você.
O tom de Frank tornou óbvio que ele não aprovava esse arranjo. Ele não parecia ferido, mas Leo percebeu que não tinha mais o seu arco ou aljava. Em pânico, Leo deu um tapinha na cintura. Seu cinto de ferramentas se foi.
— Eles nos revistaram — disse Frank. — Levaram tudo o que poderia ser uma arma.
— Quem? — Leo exigiu. — Quem são estes peixes-cavalo?
— Caras peixe-cavalo — Frank esclareceu, o que não era muito claro. — Eles nos pegaram quando caímos no oceano e nos arrastaram para... Onde quer que isso seja.
Leo lembrou a última coisa que ele viu antes de desmaiar – uma face verde-limão do homem barbado com a adaga.
— O monstro de camarão. O Argo II... o navio está bem?
— Eu não sei — Frank respondeu sombriamente. — Os outros podem estar com problemas, machucados ou pior. Mas acho que você se preocupa mais com o seu navio do que com seus amigos.
Leo sentiu como se tivesse caído na água gelada novamente.
— Que tipo de coisa idiota...?
Então ele percebeu por que Frank estava com tanta raiva: o flashback. As coisas tinham acontecido tão rápidas com o ataque do monstro, que Leo tinha quase esquecido. O treinador Hedge tinha feito aquele comentário estúpido sobre Leo e Hazel de mãos dadas e olhando nos olhos um do outro. Provavelmente não havia ajudado que Leo tinha feito Frank ser jogado ao mar logo depois.
De repente, Leo achou difícil encontrar o olhar de Frank.
— Olha cara... Sinto muito por ter nos colocado nesta confusão. Eu baguncei as coisas.
Ele tomou uma respiração profunda, o que foi surpreendentemente normal, considerando que ele estava debaixo d'água.
— Eu e Hazel segurando as mãos... Não é o que você pensa. Ela estava me mostrando esse flashback de seu passado, tentando descobrir a minha ligação com Sammy.
A expressão de raiva de Frank começou a sumir, substituída por curiosidade.
— Será que ela... vocês descobriram?
— Sim — disse Leo. — Bem, mais ou menos. Nós não tivemos a chance de falar sobre isso por causa do Camarãozilla, mas Sammy era meu bisavô.
Ele contou a Frank o que tinham visto. A estranheza não estava totalmente registrada ainda, mas agora, tentando explicá-lo em voz alta, Leo mal podia acreditar. Hazel tinha sido doce com seu bisavô, um cara que tinha morrido quando Leo era um bebê. Leo não tinha feito a conexão antes, mas tinha uma vaga memória dos membros mais velhos da família chamando seu avô de Sam Junior. O que significava que Sam Sênior foi Sammy, bisavô de Leo. Em algum momento, Tía Callida/Hera tinha falado com Sammy, consolando-o e dando-lhe um vislumbre do futuro, o que significava que Hera tinha moldado gerações da família de Leo antes de ele nascer. Se Hazel tivesse ficado na década de 1940, se ela tivesse se casado com Sammy, Leo poderia ter sido seu bisneto.
— Oh, cara — Leo disse quando ele terminou a história. — Eu não me sinto muito bem. Mas eu juro pelo Estige, que é o que nós vimos.
Frank tinha a mesma expressão do monstro com cabeça de bagre – grandes olhos vidrados e uma boca aberta.
— Hazel... Hazel gostava do seu bisavô? É por isso que ela gosta de você?
— Frank, eu sei que isso é estranho. Acredite em mim. Mas eu não gosto de Hazel... não dessa forma. Eu não estou dando em cima da sua garota.
Frank levantou suas sobrancelhas.
— Não?
Leo esperava que ele não estivesse corando. Sinceramente, não tinha ideia de como ele se sentia sobre Hazel. Ela era impressionante e bonita e Leo tinha uma fraqueza por meninas impressionantes e bonitas. Mas o flashback complicou muito seus sentimentos. Além disso, seu navio estava em apuros.
Eu acho que você se preocupa mais com o seu navio do que com seus amigos, Frank disse. Isso não era verdade, era? O pai de Leo, Hefesto, admitiu uma vez que ele não era bom com formas de vida orgânicas. E, sim, Leo tinha sempre se sentido mais confortável com máquinas do que pessoas. Ele se importava com seus amigos, no entanto. Piper e Jason... Eles eram os mais antigos, porém os outros eram importantes para ele também. Mesmo Frank.
Eles eram como uma família.
O problema era que havia tanto tempo desde que Leo teve uma família, que ele não conseguia nem mesmo se lembrar como era. Claro, no último inverno ele se tornou conselheiro-chefe do chalé de Hefesto, mas a maior parte do tempo foi gasto na construção do navio. Leo gostava de seus companheiros de chalé, sabia como trabalhar com eles, mas realmente os conhecia?
Se Leo tivesse uma família, seria os semideuses do Argo II e talvez o Treinador Hedge, o que Leo nunca admitiria em voz alta.
Você sempre será o estranho, advertiu a voz de Nêmesis, mas Leo tentou empurrar o pensamento de lado.
— Certo, então... — ele olhou em volta. — Precisamos fazer um plano. Como estamos respirando? Se estamos sob o oceano, não deveríamos ter sido esmagados pela pressão da água?
Frank encolheu os ombros.
— Mágica dos peixe-cavalo, eu acho. Lembro-me do cara verde tocar minha cabeça com a ponta de uma adaga. Então eu podia respirar.
Leo estudou a porta abalone.
— Você pode nos soltar? Transformar em um tubarão-martelo ou alguma coisa?
Frank balançou a cabeça com tristeza.
— Não consigo mudar de forma. Não sei por quê. Talvez eles me amaldiçoaram ou talvez eu esteja muito abalado para me concentrar.
— Hazel pode estar em apuros — disse Leo. — Temos que sair daqui.
Leo nadou até a porta e correu os dedos ao longo do abalone. Ele não conseguia sentir qualquer tipo de trava ou outro mecanismo. A porta só podia ser aberta por força mágica ou força pura – nenhum dos quais era a especialidade de Leo.
— Eu já tentei — disse Frank. — Mesmo se sairmos, não temos armas.
— Hmm... — Leo levantou a mão. — Será...
Ele se concentrou, e o fogo cintilou sobre seus dedos. Por uma fração de segundo, Leo estava animado, porque ele não esperava que funcionasse debaixo d'água. Então seu plano começou a ficar um pouco bem demais. Fogo correu até seu braço e sobre o seu corpo, até que ele estava completamente envolta em um fino véu de chamas. Ele tentou respirar, mas estava inalando calor puro.
— Leo! — Frank se debateu para trás como se estivesse caindo de um banco do bar.
Em vez de correr para ajudar Leo, ele abraçou a parede para chegar o mais longe possível.
Leo se obrigou a manter a calma. Ele entendeu o que estava acontecendo. O fogo em si não podia machucá-lo. Ele desejou que as chamas acabassem e contou até cinco. Tomou uma respiração superficial. Ele tinha oxigênio novamente.
Frank parou de tentar se fundir com a parede da caverna.
— Você... Você está bem?
— Sim — Leo resmungou. — Obrigado pela ajuda.
— Eu... me desculpe. — Frank parecia tão horrorizado e envergonhado que era difícil para Leo continuar bravo com ele. — Eu só... O que aconteceu?
— Mágica inteligente — disse Leo. — Há uma fina camada de oxigênio em torno de nós, como uma pele extra. Se autorregenera. É assim que estamos respirando e por isso estamos secos. O oxigênio deu combustível ao fogo – exceto que o fogo também me sufocou.
— Eu realmente não sabia... — Frank engoliu em seco. — Eu não gosto do seu poder de invocar fogo.
Ele começou a aconchegar-se com a parede de novo.
Leo não queria, mas não podia deixar de rir.
— Cara, eu não vou atacá-lo.
— Fogo — repetiu Frank, como que uma palavra explica tudo.
Leo se lembrou do que Hazel havia dito que o fogo faz Frank ficar nervoso. Ele tinha visto o desconforto no rosto de Frank antes, mas Leo não tinha levado a sério. Frank parecia muito mais poderoso e assustador do que Leo era.
Agora, ocorreu-lhe que Frank poderia ter tido uma má experiência com o fogo. A própria mãe de Leo tinha morrido em um incêndio numa oficina mecânica. Leo tinha sido culpado por isso. Ele cresceu sendo chamado de uma aberração, um incendiário, porque sempre que ele ficava com raiva, as coisas queimavam.
— Desculpe por ter rido — ele falou, e realmente quis dizer isso. — Minha mãe morreu em um incêndio. Eu entendo ter medo do fogo. Será que, uh... Que algo assim aconteceu com você?
Frank parecia estar pesando como dizer.
— Minha casa... A casa da minha avó. Ela queimou. Mas é mais do que isso... — ele olhou para os ouriços do mar no chão — Annabeth disse que eu poderia confiar na equipe. Mesmo você.
— Mesmo eu, hein? — Leo se perguntou como que ele virou o assunto na conversa — uau, um grande elogio.
— Minha fraqueza... — Frank começou, como se as palavras cortassem sua boca. — Há um pedaço de lenha.
A porta de concha abriu rolando.
Leo virou-se e viu-se cara-a-cara com um homem cor de lima, que não era realmente um homem. Agora que Leo podia vê-lo claramente, o cara era de longe a mais estranha criatura que ele já conheceu e isso já era uma grande coisa.
Da cintura para cima, era mais ou menos humano – um cara magro, sem camisa com um punhal no cinto e um bando de conchas amarradas em seu peito como uma bandoleira. Sua pele era verde, a barba castanha desgrenhada e seu cabelo comprido estava preso em uma bandana de algas. Um par de garras de lagostas estava preso na sua cabeça como chifres, girando e batendo aleatoriamente.
Leo decidiu que ele não se parecia tanto com Quíron. Ele parecia mais com o cartaz que a mãe de Leo usava no trabalho – aquele velho bandido mexicano Pancho Villa, exceto que com conchas e chifres de lagosta.
Da cintura para baixo, o cara era mais complicado. Ele tinha as patas dianteiras de um cavalo azul-esverdeado, como uma espécie de centauro, mas para a parte traseira, seu corpo de cavalo se transformava em um rabo de peixe longo com cerca de dez metros de comprimento, com uma cauda em forma de V com cor de arco-íris.
Agora Leo entendeu o que Frank quis dizer sobre caras peixe-cavalo.
— Eu sou Bythos — disse o homem verde. — Vou interrogar Frank Zhang.
Sua voz era calma e firme, não deixando espaço para debate.
— Por que você nos capturou? — Leo exigiu. — Onde está Hazel?
Bythos estreitou os olhos. Sua expressão parecia dizer: Essa pequena criatura acabou de falar comigo?
— Você, Leo Valdez, vai com o meu irmão.
— Seu irmão?
Leo percebeu que uma figura muito maior pairava atrás de Bythos, com uma sombra tão grande que encheu a entrada da caverna inteira.
— Sim — Bythos disse com um sorriso seco. — Tente não enfurecer Aphros.

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