quinta-feira, 17 de outubro de 2013

XLVIII - Percy






PERCY HAVIA LUTADO MUITAS BATALHAS. Havia lutado inclusive em algumas arenas, mas nada comparado a isso. No enorme Coliseu, com centenas de fantasmas torcendo, o deus Baco o encarando e dois gigantes de 4 metros pairando sobre ele, Percy se sentiu pequeno e insignificante como uma formiga. Também se sentiu muito irritado. Lutar contra gigantes era uma coisa. Baco transformar isso em um jogo era outra coisa.
Percy se lembrou de algo que Luke Castellan havia dito alguns anos atrás quando Percy voltou de sua primeira missão: Você não se deu conta de quão inútil tudo isso é? Todos os heróis sendo peões dos Olimpianos.
Percy estava com quase a mesma idade que Luke naquela época. Ele pôde entender agora como Luke se tornou tão rancoroso. Nos últimos cinco anos, Percy havia sido um peão vezes demais. Os Olimpianos pareciam se revezarem para usá-lo em seus planos. Talvez os deuses fossem melhores que os titãs, ou os gigantes, ou Gaia, mas isso não os fazia bons ou sábios. Isso não fazia Percy gostar dessa arena de batalha estúpida.
Infelizmente, ele não tinha muita escolha. Se quisesse salvar seus amigos, ele precisaria derrotar esses gigantes. Tinha que sobreviver para encontrar Annabeth.
Efialtes e Oto tornaram sua decisão mais fácil ao atacar. Juntos, os gigantes pegaram uma montanha de mentira tão grande quanto o apartamento de Percy em Nova York e arremessaram nos semideuses.
Percy e Jason foram rápidos. Eles mergulharam juntos na trincheira mais próxima e a montanha se despedaçou acima deles, pulverizando-os com estilhaços de gesso. Não era mortal, mas pinicava demais.
A multidão vaiava e gritava por sangue.
— Luta! Luta!
— Pego o Oto de novo? — Jason gritou por cima do barulho. — Ou você o quer dessa vez?
Percy tentou pensar. Dividir era o caminho natural – lutar contra os gigantes um contra um, mas isso não tinha funcionado bem da última vez. Ocorreu a ele que precisavam de uma estratégia diferente.
Durante toda a missão, Percy se sentiu responsável por liderar e proteger seus amigos. Ele tinha certeza que Jason se sentia do mesmo jeito. Eles tinham trabalhado em grupos pequenos, torcendo que fosse mais seguro. Lutaram sozinhos, cada semideus fazendo o que fazia de melhor. Mas Hera havia feito deles um grupo de sete por uma razão. As poucas vezes que Percy e Jason lutaram juntos, convocando a tempestade em Fort Sumter, ajudando o Argo II a escapar das Colunas de Hércules, mesmo inundando o nymphaeum – Percy havia se sentindo mais confiante, mais capaz de resolver problemas, como se ele tivesse sido um ciclope por toda a sua vida e de repente tivesse acordado com dois olhos.
— Nós atacamos juntos — ele disse. — Primeiro Oto, que é mais fraco. Acabamos com ele rápido e vamos atrás de Efialtes. Bronze e Ouro juntos... talvez isso faça com que eles demorem um pouco mais para voltar.
Jason sorriu secamente, como se tivesse acabado de descobrir que iria morrer de um jeito embaraçoso.
— Porque não? — ele concordou. — Mas Efialtes não vai ficar lá parado esperando enquanto nós matamos seu irmão. A menos...
— Bons ventos hoje — Percy ofereceu — e tem alguns canos de água correndo embaixo da arena.
Jason entendeu imediatamente. Ele riu e Percy sentiu uma faísca de amizade. Esse cara pensava como ele sobre muitas coisas.
— No três? — Jason falou.
— Porque esperar?
Eles saíram da trincheira. Como Percy suspeitava, os gêmeos haviam levantado outra montanha de gesso e estavam esperando por uma chance. Percy fez um cano de água explodir sob seus pés, estremecendo o chão. Jason enviou uma rajada de vento no peito de Efialtes. O gigante de cabelos roxos foi derrubado para trás e Oto largou a montanha, que imediatamente caiu em cima do seu irmão... Somente os pés de cobra de Efiates ficaram livres, mexendo suas cabeças para os lados, como se se perguntassem para onde o resto do seu corpo havia ido.
A multidão rugiu em aprovação, mas Percy suspeitou que Efialtes estivesse somente atordoado. Eles tinham poucos segundos, no máximo.
— Ei, Oto! — ele gritou. — O Quebra-Nozes é ruim!
— Ahhhhh!
Oto levantou sua lança e a arremessou, mas estava muito nervoso para apontar direito. Jason a desviou por sobre a cabeça de Percy para o lago.
Os semideuses moveram-se em direção a água, gritando insultos sobre ballet, o que era tipo um desafio, já que Percy não sabia muito sobre isso.
Oto foi em direção a eles de mãos vazias, antes de perceber que a) ele estava de mãos vazias e b) ir em direção a uma grande quantidade de água para lutar contra um filho de Poseidon talvez não fosse uma boa ideia.
Tarde de mais, ele tentou parar. Os semideuses rolaram para os lados e Jason invocou o vento, usando o próprio peso do gigante para empurrá-lo na água. Enquanto Oto lutava para subir, Percy e Jason atacaram como um só. Eles se lançaram sobre o gigante e trouxeram as espadas para baixo, acertando a cabeça dele.
O pobre coitado não teve nem chance de dar uma pirueta. Ele explodiu em poeira na superfície do lago como suco em pó. Percy transformou o lago em um redemoinho. A essência de Oto tentou se reformar, mas assim que sua cabeça surgia na água, Jason invocava raios e o explodia em poeira novamente.
Até agora tudo bem, mas eles não podiam manter Oto caído para sempre. Percy estava cansado das suas batalhas no subterrâneo. Seu intestino ainda doía por ter sido acertado pela haste da lança. Ele podia sentir suas forças se acabando e ainda tinham outro gigante para lidar.
Como uma deixa, a montanha de gesso explodiu atrás deles. Efialtes ficou roxo, berrando de raiva.
Percy e Jason esperaram enquanto ele se dirigia pesadamente até eles, sua lança em mãos. Aparentemente, ser achatado por uma montanha de gesso somente deu energias a ele. Seus olhos dançavam com uma luz assassina. O sol da tarde brilhava em seu cabelo trançado. Até seus pés de cobra pareciam zangados, suas presas aparecendo e assobiando.
Jason invocou outro relâmpago, mas Efialtes aparou com sua lança e desviou a explosão, derretendo uma vaca de plástico em tamanho real. Ele tirou uma coluna de pedra para fora de seu caminho como uma pilha de blocos de construção.
Percy tentou manter o lago agitado. Ele não queria Oto ressurgindo para se juntar a luta, mas quando Efialtes se aproximou, Percy precisou mudar seu foco. Jason e ele conheceram a força do gigante. Eles investiram contra Efialtes, estocando e cortando num borrão de ouro e bronze, mas o gigante segurou todos os ataques.
— Eu não irei me render! — Efialtes rosnou. — Vocês podem ter arruinado meu espetáculo, mas Gaia irá destruir o seu mundo!
Percy atacou, cortando ao meio a lança do gigante. Efialtes nem se perturbou. O gigante fez um movimento rápido usando o apoio de sua lança e derrubou Percy no chão. O semideus caiu em cima do braço da espada e Contracorrente fugiu de seu controle.
Jason tentou tirar vantagem. Ele se aproximou do gigante e espetou o seu peito, mas de algum jeito, Efialtes desviou o ataque. Ele cortou o peito de Jason com a ponta de sua lança, rasgando sua camiseta roxa. Jason tropeçou, olhando a fina linha de sangue sob seu esterno. Efialtes o chutou para trás.
Em cima, nos aposentos do imperador, Piper choramingava desesperadamente, mas sua voz se perdeu em meio ao rugido da multidão. Baco contemplou a cena com um sorriso divertido, comendo um saco de Doritos.
Efialtes se elevou sobre Percy e Jason, ambas as metades de sua lança quebrada pairando sob suas cabeças. O braço que Percy segurava a espada estava inútil. O gládio de Jason saiu deslizando pelo chão da arena. O plano tinha falhado.
Percy olhou para Baco, decidindo qual maldição final lançar no inútil deus do vinho, quando viu uma forma acima do céu do Coliseu – uma grande sombra oval descendo rapidamente.
Do lago, Oto gritava, tentando alertar o irmão, mas seu rosto quase dissolvido conseguiu apenas um:
— Uh-umh-moooo!
— Não se preocupe, irmão! — Efialtes disse, seus olhos fixos nos semideuses. — Eu farei eles sofrerem!
O Argo II apareceu no céu, mostrando suas armas, e fogo verde jorrou da balista.
— Na verdade — Percy disse. — Olhe atrás de você.
Ele e Jason rolaram para longe enquanto Efialtes berrava em descrença.
Percy se jogou dentro de uma trincheira assim que a explosão sacudiu o Coliseu. Quando escalou de volta pra fora, o Argo II estava se preparando para aterrissar. Jason colocou a cabeça para fora de seu escudo antibomba improvisado de cavalo de plástico. Efialtes estava carbonizado e gemendo no chão da arena, a areia em torno dele queimando num halo de vidro que surgia pelo calor do fogo grego. Oto estava se debatendo no lago, tentando se reformar, mas dos braços para baixo parecia um mingau de aveia.
Percy cambaleou até Jason e bateu em seu ombro. A multidão fantasmagórica os ovacionou de pé enquanto o Argo II estendia seu trem de pouso, pousando no chão da arena. O treinador Hedge dançou em volta da plataforma de tiro, agitando seus punhos no ar e gritando:
— Era disso que eu estava falando!
Percy se virou para os aposentos do imperador.
— Então? — ele gritou para Baco. — Isso foi divertido o bastante pra você, seu vinho não fermentado...
— Não há necessidade disso — de repente o deus estava parado ao seu lado na arena. Ele limpou os farelos de Doritos da sua túnica roxa. — Eu decidi que vocês são parceiros dignos para esta luta.
— Parceiros? — Jason rosnou. — Você não fez nada!
Baco andou até a beira do lago. A água instantaneamente drenou, deixando uma pilha bagunçada do que sobrou da cabeça de Oto. Baco fez seu caminho até o fundo e olhou para a multidão. Ele levantou seu tirso.
A multidão vaiou e gritou apontando seus polegares para baixo. Percy nunca teve certeza se aquilo significava viver ou morrer. Ele havia ouvido dos dois jeitos.
Baco escolheu a opção mais divertida. Ele esmagou a cabeça de Oto com seu cajado e a pilha do que sobrou de Oto se desintegrou completamente.
A multidão foi à loucura. Baco escalou para fora do lago e andou firmemente até Efialtes, que ainda estava jogado todo esparramado, bem passado e fumegando. De novo, Baco ergueu seu tirso.
— MATE! — a multidão pediu.
— NÃO FAÇA ISSO! — Efialtes gemeu.
Baco bateu no nariz do gigante e Efialtes se desintegrou em cinzas.
Os fantasmas aplaudiram e jogaram confetes espectrais ao mesmo tempo em que Baco caminhou em torno do estádio com seus braços erguidos triunfalmente, exultando para o navio de guerra. Ele sorriu para os semideuses.
— Isso, meus amigos, é um show. É óbvio que eu fiz alguma coisa. Matei dois gigantes!
Assim que os amigos de Percy desembarcaram do navio, o batalhão de fantasmas cintilou e desapareceu. Piper e Nico lutaram para descer da caixa do imperador assim que a renovação mágica do Coliseu começou a transformá-la em névoa. O chão da arena permaneceu sólido, mas de outra forma o estádio pareceria como se não tivesse sediado um massacre de gigantes por éons.
— Bem — Baco disse. — Isso foi divertido. Vocês tem minha permissão para continuar sua viagem.
— Sua permissão? — Percy rosnou.
— Sim — Baco levantou uma sobrancelha. — Embora sua viagem possa ser um pouco mais difícil do que você esperava, filho de Netuno.
— Poseidon — Percy o corrigiu automaticamente. — O que você quer dizer com a minha viagem?
— Você deveria tentar o estacionamento atrás do Emmanuel Building — Baco recomendou. — Melhor lugar para forçar sua entrada. Agora, adeus, meus amigos. E, ah, boa sorte com aquele outro pequeno problema.
O deus evaporou numa nuvem de névoa que cheirava vagamente a suco de uva. Jason correu para encontrar Piper e Nico.
O treinador Hedge trotou até Percy, com Hazel, Frank e Leo bem atrás dele.
— Aquele era Dionísio? — Hedge perguntou. — Eu adoro aquele cara.
— Vocês estão vivos! — Percy disse aos outros. — Os gigantes disserem que vocês foram capturados. O que aconteceu?
Leo encolheu os ombros.
— Oh, só mais um plano brilhante de Leo Valdez. Você ficaria impressionado com o que se pode fazer com uma esfera de Arquimedes, uma garota que pode pressentir coisas que estão embaixo da terra e uma doninha.
— Eu era a doninha — Frank disse melancolicamente.
— Basicamente — Leo explicou — eu ativei um parafuso hidráulico com o dispositivo de Arquimedes... que vai ficar demais quando eu instalá-lo no navio, em todo caso. Hazel detectou o caminho mais fácil para cavarmos para a superfície. Nós fizemos um túnel grande o suficiente para uma doninha e Frank escalou por ele com um simples transmissor que eu juntei. Depois disso, foi só uma questão de invadir o satélite de canais favorito do treinador Hedge e mandar que ele trouxesse o navio para nos resgatar. Depois que o navio chegou, achar vocês foi fácil, graças ao espetáculo de luz divina no Coliseu.
Percy entendeu somente dez por cento da história de Leo, mas ele decidiu que era o suficiente, desde que ele tinha uma pergunta mais urgente.
— Cadê a Annabeth?
Leo estremeceu.
— Yeah, sobre isso... Ela ainda está com problemas, achamos. Machucada, perna quebrada, talvez... pelo menos de acordo com a visão que Gaia nos mostrou. Resgatá-la é o nosso próximo passo.
Dois segundos antes, Percy estava à beira de um colapso. Agora outra descarga de adrenalina passou pelo seu corpo. Ele queria estrangular Leo e exigir porque o Argo II não havia velejado para salvar Annabeth antes, mas ele pensou que isso soaria um pouco mal-agradecido.
— Conte-me sobre a visão — ele disse. — Conte-me tudo.
O chão balançou. As pranchas de madeira começaram a desaparecer, derramando areia dentro das covas do hipogeu abaixo.
— Vamos conversar a bordo — Hazel sugeriu. — É melhor irmos embora enquanto ainda podemos.
Eles navegaram para fora do Coliseu e desviaram-se para o sul, acima dos telhados de Roma. Em torno de toda Piazza del Colosseo, o trânsito estava parado. Uma multidão de mortais estava reunida, provavelmente se perguntando sobre as estranhas luzes e sons que vinham das ruínas. Até onde Percy conseguia ver, nenhum dos espetaculares planos de destruição dos gigantes havia tido sucesso. A cidade parecia como antes. Ninguém parecia ter notado um navio grego subindo pelos céus.
Os semideuses se juntaram em torno do leme. Jason enfaixava o ombro torcido de Piper enquanto Hazel sentou na popa, dando um pouco de ambrósia para Nico. O filho de Hades mal podia levantar sua cabeça. Sua voz estava tão baixa que Hazel tinha que se inclinar sempre que ele falava.
Frank e Leo contaram novamente o que havia acontecido na sala das esferas de Arquimedes e a visão que Gaia havia mostrado a eles no espelho de bronze. Eles rapidamente decidiram que a melhor pista para encontrar Annabeth era o conselho criptografado que Baco havia dado: o Emmanuel Building, o que quer que ele fosse. Frank começou a digitar no computador do leme enquanto Leo batia furiosamente nos controles, balbuciando “Emmanuel Building. Emmanuel Building”. O treinador Hedge tentava ajudar lutando contra um mapa de Roma.
Percy se ajoelhou ao lado de Jason e Piper.
— Como está o ombro?
Piper sorriu.
— Eu vou me curar. Vocês dois foram o máximo.
Jason deu uma cotovelada em Percy.
— Não somos uma equipe ruim, você e eu.
— Melhor que competir num milharal do Kansas — Percy concordou.
— Ai está! — Leo falou, apontando para o seu monitor. — Frank, você é incrível! Estou arrumando o curso.
Frank deu de ombros.
— Eu só li o nome na tela. Algum turista chinês o marcou no Google Maps.
Leo sorriu para os outros.
— Ele lê chinês.
— Só um pouquinho.
— Isso não é demais? — Leo comentou.
— Gente — Hazel se intrometeu. — Eu odeio interromper sua sessão de admiração, mas vocês devem ouvir isso.
Ela ajudou Nico a se levantar. Ele sempre fora pálido, mas agora sua pele parecia leite em pó. Seus escuros olhos encovados lembravam Percy de fotos que ele havia visto de prisioneiros de guerra que foram libertados, o qual Percy suspeitava que Nico fosse, basicamente.
— Obrigado — Nico disse com a voz áspera. Seus olhos passavam nervosamente em torno do grupo. — Eu não tinha mais esperanças.
Pela última semana, mais ou menos, Percy havia imaginado muitas coisas severas que ele gostaria de dizer a Nico quando se vissem de novo, mas o cara parecia tão frágil e triste, que Percy não conseguiu ficar com muita raiva.
— Você sabia sobre os dois acampamentos o tempo todo — Percy falou. — Você poderia ter me dito quem eu era no primeiro dia em que cheguei ao Acampamento Júpiter, mas não me contou.
Nico caiu contra o leme.
— Percy, me desculpa. Eu descobri sobre o Acampamento Júpiter ano passado. Meu pai me levou até lá, apesar de eu não saber por quê. Ele me contou que os deuses mantiveram os acampamentos separados por séculos e eu não poderia contar a ninguém. Não era a hora certa. Mas ele disse que saber seria importante para mim...
Ele se dobrou ao meio, tossindo.
Hazel segurou seus ombros até que ele pudesse ficar de pé novamente.
— Eu pensava que ele tivesse feito isso por causa da Hazel — Nico continuou. — Eu precisava de um lugar seguro para levá-la. Mas agora... Acho que ele queria que eu soubesse sobre os dois acampamentos para entender o quão importante a missão de vocês era e para então procurar pelas Portas da Morte.
O ar se tornara elétrico – literalmente, quando Jason começou a soltar faíscas.
— Você encontrou as Portas? — Percy perguntou.
Nico acenou com a cabeça.
— Eu fui um idiota. Pensei que eu pudesse ir a qualquer lugar no Mundo Inferior, mas fui direto para a armadilha de Gaia. Eu também poderia ter tentado correr de um buraco negro.
— Hum... — Frank mordeu seu lábio. — De qual tipo de buraco negro você está falando?
Nico começou a falar, mas o que quer que ele fosse dizer, deveria ser muito aterrorizador. Ele se virou para Hazel. Ela pôs a mão no braço do irmão.
— Nico me contou que as Portas da Morte têm dois lados, um no mundo mortal, um no Mundo Inferior. O lado mortal do portal é na Grécia. É fortemente guardado pelas forças de Gaia. Foi de lá que eles trouxeram Nico de volta para o mundo aqui em cima. Depois, eles o transportaram para Roma.
Piper deveria estar nervosa, porque sua cornucópia cuspiu um cheeseburguer.
— Exatamente onde na Grécia fica esse portal?
Nico tomou fôlego.
— A Casa de Hades. É um templo no subsolo em Épiro. Eu posso marcá-lo no mapa, mas... mas o lado mortal do portal não é o problema. No Mundo Inferior, as Portas da Morte são no... no...
Um par de mãos frias fez um passeio pela espinha de Percy.
Um buraco negro. Uma parte inescapável do Mundo Inferior onde nem Nico di Angelo poderia ir. Por que Percy não pensou nisso antes? Ele havia estado bem perto dos limites daquele lugar. Ele ainda tinha pesadelos sobre isso.
— Tártaro — ele adivinhou. — A parte mais profunda do Mundo Inferior.
Nico acenou com a cabeça.
— Eles me empurraram até o buraco, Percy. As coisas que eu vi lá embaixo... — sua voz se quebrou.
Hazel franziu os lábios.
— Nenhum mortal já esteve no Tártaro — ela explicou. — No mínimo, ninguém nunca foi e voltou vivo. É a prisão de segurança máxima de Hades, onde os velhos titãs e outros inimigos dos deuses estão presos. É para onde todos os monstros vão quando morrem na terra. É... bem, ninguém sabe exatamente como é.
Seus olhos afastaram-se do seu irmão. O resto dela pensou que não precisaria ser falado: Ninguém a não ser Nico.
Hazel entregou a ele sua espada negra.
Nico se inclinou sobre ela como se fosse a bengala de um velho.
— Agora eu entendo porque Hades não foi capaz de fechar as portas — ela disse. — Mesmo os deuses não vão ao Tártaro. Até o deus da morte, Tânatos, não iria perto daquele lugar.
Leo deu uma olhada pela roda.
— Deixe-me adivinhar. Nós teremos que ir lá.
Nico balançou sua cabeça.
— É impossível. Eu sou o filho de Hades e mesmo eu mal sobrevivi. As forças de Gaia me subjugariam instantaneamente. Elas são tão poderosas lá embaixo... Nenhum semideus teria chance. Eu quase fiquei louco.
Os olhos de Nico pareciam vidro despedaçado. Percy se perguntou com tristeza se algo dentro dele havia se quebrado para sempre.
— Então velejamos para Épiro — Percy disse. — Nós iremos fechar os portões por este lado.
— Eu gostaria que fosse assim tão fácil — Nico repsondeu. — As portas devem ser controladas pelos dois lados para que possam ser fechadas. Como se fosse um duplo selamento. Talvez, só talvez, todos os sete trabalhando juntos poderiam derrotar as forças de Gaia do lado mortal, na Casa de Hades. Mas a não ser que você tenha um time lutando simultaneamente no lado do Tártaro, um time poderoso o suficiente para derrotar a legião de monstros no território deles.
— Precisa ter um jeito — Jason falou.
Ninguém surgiu com uma brilhante ideia.
Percy pensou que seu estômago estava afundando. Então ele percebeu que o navio inteiro estava descendo em direção a um grande prédio, como um palácio.
Annabeth. As notícias de Nico eram tão horríveis que Percy momentaneamente esqueceu que ela continuava em perigo, o que o fez sentir incrivelmente culpado.
— Nós vamos resolver o problema do Tártaro depois — ele disse. — Esse é o Emmanuel Building?
Leo balançou a cabeça.
— Baco disse alguma coisa sobre um estacionamento na parte de trás? Bem, lá está ele. E agora?
Percy se lembrou dos seus sonhos sobre a câmara negra, o zumbido da voz do monstro chamando a Sua Senhoria. Ele se lembrou do quão abalada Annabeth estava quando voltou de Fort Sumter após o seu encontro com as aranhas. Percy começou a suspeitar o que poderia ter lá embaixo naquele santuário... Literalmente, a mãe de todas as aranhas. Se ele estivesse certo e Annabeth estivesse presa lá embaixo, sozinha com aquela criatura por horas, sua perna quebrada... Nesse ponto, ele não se importava se a missão era para ser só dela ou não.
— Nós precisamos tirá-la de lá — ele disse.
— Bem, yeah — Leo concordou. — Mas, uh...
Ele parecia querer dizer, e se for tarde demais?
Sabiamente, ele mudou de rumo.
— Tem um estacionamento no caminho.
Percy olhou para o treinador Hedge.
— Baco disse alguma coisa sobre forçar a entrada. Treinador, você ainda tem munição para aquela balista?
O sátiro sorriu como uma cabra louca.
— Eu pensei que nunca perguntaria.

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