quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capitulo XV - Percy






PERCY FICOU CONTENTE POR CONTRACORRENTE ter retornado ao seu bolso. A julgar pela expressão de Reyna, pensou que poderia precisar defender-se.
Ela invadiu a principia com seu manto púrpura ondulante, seus galgos a seus pés. Percy estava sentado em uma das cadeiras de pretor, a qual ele tinha puxado para o lado do visitante, o que talvez não fosse a coisa certa a fazer. Ele começou a se levantar.
— Fique sentado — rosnou Reyna. — Você sai depois do almoço. Temos muito a discutir.
Ela jogou sua adaga para baixo com tanta força que a tigela de gelatinas chacoalhou. Aurum e Argentum tomaram seus lugares em sua esquerda e direita e seus olhos de rubi se fixaram em Percy.
— O que eu fiz de errado? — Percy perguntou. — Se é sobre a cadeira...
— Não é você — Reyna fez uma careta. — Eu odeio reuniões do Senado. Quando Octavian fica falando...
Percy assentiu.
— Você é uma guerreira. Octavian é um locutor. Coloque-o na frente do Senado, e de repente ele se torna o poderoso.
Ela estreitou os olhos.
— Você é mais esperto do que parece.
— Puxa, obrigado. Ouvi que Octavian pode ser eleito pretor, assumindo que o acampamento sobreviva tempo suficiente.
— O que nos leva ao tema do dia do juízo final — Reyna disse — e como você pode ajudar a preveni-lo. Mas antes de eu colocar o destino do Acampamento Júpiter em suas mãos, precisamos deixar algumas coisas claras.
Ela se sentou e colocou um anel na mesa – um elo de prata gravado com um desenho de espada e tocha, como a tatuagem de Reyna.
— Você sabe o que é isto?
— O símbolo da sua mãe — disse Percy. — A... hum, a deusa da guerra. — Ele tentou lembrar o nome, não queria errar. — Alguma coisa como Bolonhesa. Ou salame?
— Belona, sim — Reyna examinou-o cuidadosamente. — Você não se lembra onde viu este anel antes? Você realmente não se lembra de mim ou da minha irmã, Hylla?
Percy balançou a cabeça.
— Sinto muito.
— Teria sido há quatro anos.
— Pouco antes de você vir para o acampamento.
Reyna franziu a testa.
— Como você...?
— Você tem quatro listras em sua tatuagem. Quatro anos.
Reyna olhou para seu antebraço.
— É claro. Parece há muito tempo. Suponho que você não se lembraria de mim mesmo se você tivesse sua memória. Eu era apenas uma menina... uma atendente entre tantas outras no spa. Mas você falou com minha irmã, pouco antes de você e aquela outra, Annabeth, destruírem a nossa casa.
Percy tentou se lembrar. Ele realmente fez isso. Por alguma razão, Annabeth e ele tinham visitado um spa e decidido destruí-lo. Ele não podia imaginar por quê. Talvez eles não tivessem gostado da massagem? Talvez tenham recebido manicures ruins?
— É um espaço em branco — disse ele. — Desde que seus cães não estão me atacando, espero que você acredite em mim. Eu estou dizendo a verdade.
Aurum e Argentum rosnaram. Percy teve a sensação de que eles estavam pensando, Por favor, minta. Por favor, minta.
Reyna bateu de leve no anel de prata.
— Acredito que você esteja sendo sincero. Mas nem todos no acampamento acreditam. Octavian acha que você é um espião. Acha que você foi enviado aqui por Gaia para encontrar nossas fraquezas e nos distrair. Ele acredita nas antigas lendas sobre os gregos.
— Antigas lendas?
A mão de Reyna descansava a meio caminho entre sua adaga e a tigela de gelatinas. Percy teve a sensação de que se ela fizesse um movimento repentino, não seria para pegar os doces.
— Alguns acreditam que semideuses gregos ainda existem. Heróis que seguem as formas mais antigas dos deuses. Há lendas de batalhas entre heróis romanos e gregos em tempos relativamente modernos... a Guerra Civil Americana, por exemplo. Eu não tenho nenhuma prova disso, e se os nossos lares sabem qualquer coisa, se recusam a dizer. Mas Octavian acredita que os gregos ainda estão por aí, planejando nossa queda, trabalhando com as forças de Gaia. E acha que você é um deles.
— É nisso que você acredita?
— Eu acredito que você veio de algum lugar. Você é importante, e perigoso. Dois deuses tomaram um interesse especial em você desde que chegou, então não posso acreditar que você trabalha contra o Olimpo... ou Roma — ela deu de ombros. — É claro, eu poderia estar errada. Talvez os deuses tenham o enviado aqui para testar o meu juízo. Mas acredito... acredito que você foi mandado aqui para compensar a perda de Jason.
Jason... Percy não podia ir muito longe neste acampamento, sem ouvir esse nome.
— A maneira como você fala dele... — Percy disse. — Vocês dois eram um casal?
Reyna olhou aborrecida para ele – com os olhos de um lobo faminto. Percy tinha visto lobos famintos o suficiente para saber.
— Nós poderíamos ter sido — Reyna disse — se tivesse dado tempo. Pretores trabalham em conjunto. É comum que eles tornem-se romanticamente envolvidos. Mas Jason foi pretor por apenas alguns meses antes do seu desaparecimento. Desde então Octavian tem insistido comigo, agitando para novas eleições. Eu tenho resistido. Preciso de um parceiro no poder, mas prefiro alguém como Jason. Um guerreiro, não um conspirador.
Ela esperou. Percy percebeu que ela estava enviando-lhe um convite silencioso. Sua garganta ficou seca.
— Oh... você quer dizer... oh.
— Eu acredito que os deuses lhe enviaram para me ajudar — disse Reyna. — Eu não entendo de onde você veio, mais do que eu entendi há quatro anos. Mas acho que sua chegada é algum tipo de reembolso. Você destruiu minha casa uma vez. Agora foi enviado para salvar a minha casa. Eu não guardo rancor contra você pelo passado, Percy. Minha irmã te odeia ainda, é verdade, mas o destino me trouxe aqui para o Acampamento Júpiter. Eu fiz bem. Tudo o que peço é que você trabalhe comigo no futuro. Tenho a intenção de salvar este acampamento.
Os cães de metal olharam para ele, suas bocas congeladas no modo de rosnado. Percy encontrou os olhos Reyna, ficou muito mais difícil de aceitar.
— Olha, eu vou ajudar — prometeu. — Mas eu sou novo aqui. Você tem um monte de gente boa que conhece sobre o Acampamento melhor do que eu. Se tivermos sucesso nesta busca, Hazel e Frank serão heróis. Você poderia pedir a um deles...
— Por favor — disse Reyna. — Ninguém vai seguir um filho de Plutão. Há algo sobre essa garota... rumores sobre de onde ela veio... Não, ela não. Quanto a Frank Zhang, ele tem um bom coração, mas é irremediavelmente ingênuo e inexperiente. Além disso, se os outros descobrirem sobre a história de sua família nesse acampamento...
— História da família?
— O ponto é, Percy, que você é o verdadeiro comando nessa missão. Você é um veterano. Eu vi o que você pode fazer. Um filho de Netuno não seria minha primeira escolha, mas se retornar com sucesso desta missão, a legião pode ser salva. A pretoria será sua por mérito. Juntos, você e eu podemos expandir o poder de Roma. Nós poderíamos levantar um exército e encontrar as Portas da Morte, esmagar as forças de Gaia de uma vez por todas. Você iria se tornar para mim um... amigo muito útil.
Ela disse essa palavra como se pudesse ter vários significados, e ele pudesse escolher qual deles. O pé de Percy começou a bater no chão, ansioso para correr.
— Reyna... Sinto-me honrado, e tudo mais. Sério. Mas eu tenho uma namorada. E eu não quero poder, ou uma pretoria.
Percy temeu que ele a deixasse furiosa. Ao contrário, ela apenas ergueu as sobrancelhas.
— Um homem que recusa o poder? — disse. — Isso não é muito romano. Basta pensar nisso. Em quatro dias, eu tenho que fazer uma escolha. Se lutarmos contra uma invasão, nós precisamos ter dois pretores fortes. Eu prefiro você, mas se você falhar em sua missão, ou não voltar, ou se recusar a minha oferta... Bem, eu irei trabalhar com Octavian. Quero dizer, para salvar este acampamento, Percy Jackson. As coisas estão piores do que você imagina.
Percy se lembrou do que Frank disse sobre os ataques de monstros cada vez mais frequentes.
— Quão ruins?
As unhas de Reyna escavaram a mesa.
— Mesmo o Senado não sabe toda a verdade. Eu pedi para Octavian não compartilhar seus presságios, ou teríamos pânico em massa. Ele previu um grande exército marchando para o sul, mais do que podemos possivelmente derrotar. Eles são liderados por um gigante...
— Alcioneu?
— Acho que não. Se ele é verdadeiramente invulnerável no Alasca, seria tolo de vir aqui. Deve ser um de seus irmãos.
— Ótimo — disse Percy. — Então, temos dois gigantes com que se preocupar.
A pretora assentiu.
— Lupa e seus lobos estão tentando atrasá-los, mas isso é demais até para eles. O inimigo estará aqui em breve... na Festa da Fortuna, ou antes.
Percy estremeceu. Ele tinha visto Lupa em ação. Ele sabia tudo sobre a deusa lobo e seu bando. Se esse inimigo era poderoso demais para Lupa, o Acampamento Júpiter não tinha chance.
Reyna leu sua expressão.
— Sim, é ruim, mas não sem esperança. Se você conseguir trazer de volta a nossa águia, se libertar a morte para que possamos realmente matar nossos inimigos, então nós temos uma chance. E há mais uma possibilidade...
Reyna deslizou o anel de prata sobre a mesa.
— Eu não posso te dar muita ajuda, mas sua jornada vai levá-lo para perto de Seattle. Eu estou lhe pedindo um favor, que também pode ajudá-lo. Encontre a minha irmã Hylla.
— Sua irmã... a que me odeia?
— Oh, sim — concordou Reyna. — Ela adoraria te matar. Mas mostre a ela o anel com o meu símbolo, e pode ser que ela te ajude.
— Pode ser?
— Eu não posso falar por ela. Na verdade... — Reyna franziu a testa. — Na verdade eu não falo com ela por semanas. Ela está em silêncio. Com esse exército passando...
— Você quer que eu dê uma olhada nela — disse Percy, adivinhando. — Tipo ter certeza de que ela está bem.
— Parcialmente, sim. Eu não posso imaginar que ela foi superada. Minha irmã tem uma força poderosa. Seu território é bem defendido. Mas se puder encontrá-la, ela poderia oferecer-lhe uma valiosa ajuda. Isso pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso em sua missão. E se contar a ela o que está acontecendo aqui...
— Ela poderia enviar ajuda? — Percy perguntou.
Reyna não respondeu, mas Percy pôde ver o desespero em seus olhos. Ela estava aterrorizada, agarrando qualquer coisa que pudesse salvar seu acampamento. Não era à toa que ela queria a ajuda de Percy. Ela era a única pretora. A defesa do acampamento repousava sobre os seus ombros sozinha.
Percy pegou o anel.
— Vou encontrá-la. Onde ela está? Que tipo de força ela tem?
— Não se preocupe. Basta ir a Seattle. Ela vai te encontrar.
Isso não soou encorajador, mas Percy colocou o anel em seu colar de couro com suas contas e sua placa de probatio.
— Deseje-me sorte.
— Lute bem, Percy Jackson — disse Reyna. — E obrigada.
Ele pôde dizer que a audiência tinha acabado. Reyna estava tendo problemas para manter-se firme, manter a imagem de comandante confiante. Precisava de algum tempo para si mesma. Mas na porta da principia, Percy não pôde resistir e voltou.
— Como é que nós destruímos sua casa... aquele spa onde você viveu?
Os galgos de metal rosnaram. Reyna estalou os dedos para silenciá-los.
— Você destruiu o poder da nossa soberana. Libertou alguns presos, que se vingaram de todos nós que vivíamos na ilha. Minha irmã e eu... bem, nós sobrevivemos. Foi difícil. Mas a longo prazo, acho que estamos em melhor situação longe daquele lugar.
— Ainda assim, sinto muito — disse Percy. — Se eu te machuquei, me desculpe.
Reyna olhou para ele por um longo tempo, como se tentasse traduzir suas palavras.
— Um pedido de desculpas? Não muito romano, Percy Jackson. Você seria um pretor interessante. Espero que pense sobre a minha oferta. 

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