quinta-feira, 17 de outubro de 2013

LI - Annabeth






ANNABETH TINHA VISTO ALGUMAS COISAS ESTRANHAS ANTES, mas nunca uma chuva de carros. Quando o teto da caverna desabou, o sol a cegou. Ela teve um breve vislumbre do Argo II pairando acima. Devem ter usado suas balistas para explodir um buraco no chão.
Pedaços de asfalto grandes como portas de garagem tombadas, juntamente com seis ou sete carros italianos caíram. Um teria esmagado a Atena Partenos, mas a aura brilhante da estátua agiu como um campo de força e o carro ricocheteou. Infelizmente, o carro caiu diretamente para Annabeth.
Ela pulou para um lado, torcendo o pé ruim. Uma onda de agonia quase a fez desmaiar, mas ela virou de costas a tempo de ver um Fiat 500 de um vermelho brilhante cair na armadilha de seda da Aracne, perfurando o chão da caverna e desaparecendo com a Algema Chinesa para Aranhas.
Aracne caiu, gritando como um trem de carga em rota de colisão, mas seu choro rapidamente parou. Vários detritos caíram em torno de Annabeth, fazendo vários buracos no chão.
A Atena Partenos permaneceu intacta, embora o mármore sob seu pedestal tivesse explodido em vários pedaços. Annabeth estava coberta de teias da Aracne. Ela arrastou os fios de seda de seus braços e pernas como as cordas de uma marionete, mas de alguma forma surpreendente, nenhum dos pedaços do teto havia batido nela. Ela queria acreditar que a estátua a tinha protegido, embora suspeitasse que pudesse ter sido nada além de sorte.
O exército de aranhas tinha desaparecido. Ou fugiu de volta para a escuridão ou caíu no abismo. Quando o dia inundou a caverna, as tapeçarias feitas por Aracne ao longo das paredes se desfizeram em pó. Annabeth não podia suportar ver a tapeçaria que representava ela e Percy se desfazendo.
Mas nada disso importava quando ouviu a voz de Percy de cima:
— Annabeth!
— Aqui! — ela chorou.
Todo o terror pareceu deixá-la em um grito. Quando o Argo II desceu, ela viu Percy inclinando-se sobre o trilho. Seu sorriso era melhor do que qualquer tapeçaria que ela já tinha visto no mundo.
A sala ficava sacudindo, mas Annabeth conseguiu ficar de pé. O chão a seus pés parecia estável no momento. Sua mochila estava desaparecida, junto com laptop de Dédalo e sua faca de bronze, que ela tinha desde os sete anos, também se foi, provavelmente caída no poço. Mas Annabeth não se importava. Ela estava viva.
Ela se aproximou do buraco feito pelo Fiat 500. As paredes de pedras irregulares mergulharam na escuridão, tanto quanto Annabeth podia ver. Algumas partes se projetavam aqui e ali, mas Annabeth não via nada sobre eles – apenas os fios de seda da Aracne gotejando sobre os lados como enfeites de Natal.
Annabeth se perguntou se Aracne havia dito a verdade sobre o abismo. Tinha a aranha caído diretamente para o Tártaro? Ela tentou se sentir satisfeita com essa ideia, mas mesmo assim, continuou com aquela expressão triste. Aracne fez algumas coisas bonitas. Ela já sofreu por eras. Agora suas tapeçarias tinham desintegrado. Depois de tudo isso, cair no Tártaro parecia muito duro para um fim.
Annabeth estava vagamente consciente do Argo II pairando a uma altura de cerca de quarenta metros do chão. Uma escada de corda foi baixada, mas Annabeth estava em transe, olhando para a escuridão. Então, de repente, Percy estava ao lado dela, entrelaçando os dedos nos dela.
Ele virou-a gentilmente longe do poço e passou os braços em torno dela. Ela abraçou-o forte, encostando sua cabeça no peito de Percy, de onde as lágrimas de Annabeth rolavam.
— Está tudo bem — disse ele. — Nós estamos juntos.
Ele não disse você está bem ou estamos vivos. Afinal, eles tinham passado muito tempo longe um do outro, e ele sabia que a coisa mais importante era que eles estavam juntos. Ela o amava por dizer isso.
Seus amigos se reuniram em torno deles. Nico di Angelo estava lá, mas os pensamentos de Annabeth estavam tão confusos, não pareceu surpreendente para ela. Parecia justo que ele estivesse com eles.
— Sua perna — Piper ajoelhou-se ao lado dela e examinou. — Oh, Annabeth, o que aconteceu?
Ela começou a explicar. Falar era difícil, mas como ela estava junto de Percy, suas palavras vieram mais facilmente. Percy não soltou sua mão, o que também a fez se sentir mais confiante. Quando ela havia acabado, os rostos de seus amigos tinham expressões incrédulas.
— Deuses do Olimpo — disse Jason. — Você fez tudo isso sozinha... Com um tornozelo quebrado?
— Bem... Fiz o possível com o tornozelo quebrado.
Percy sorriu.
— Você fez Aracne tecer a sua própria armadilha? Eu sabia que você era boa, mas Santa Hera... Annabeth, você fez isso. Gerações de crianças de Atena tentaram e não conseguiram. Você encontrou a Atena Partenos!
Todo mundo olhou para a estátua.
— O que vamos fazer com a estátua? — Frank perguntou — Ela é enorme.
— Nós vamos ter que levá-la conosco para a Grécia — Annabeth respondeu. — A estátua é poderosa. Alguma coisa nela nos ajudará a deter os gigantes.
— A ruína dos gigantes se apresenta dourada e pálida — Hazel citou. — Conquistada por meio da dor de uma prisão tecida.
Ela olhou para Annabeth com admiração.
— Era a prisão de Aracne. Você a enganou em tecê-la.
― Com muita dor — Annabeth falou.
Leo ergueu as mãos. Ele fez uma moldura com o dedo ao redor da Atena Partenos como se estivesse tomando medidas.
— Bem, isso pode levar algum rearranjo, mas acho que ela pode caber nos estábulos. Se ela se destacasse da base, eu poderia embrulhar uma bandeira ao redor de seus pés ou algo assim.
Annabeth estremeceu. Ela imaginou a Atena Partenos fora de seu pedestal, assinado em baixo: CARGA PESADA.
Depois, ela pensou sobre as outras linhas da profecia: Gêmeos ceifaram do anjo a vida, que detém a chave para a morte infinita.
— E vocês? — perguntou ela. — O que aconteceu com os gigantes?
Percy contou a ela sobre o resgate de Nico, o aparecimento de Baco na luta contra os gêmeos no Coliseu. Nico não falou muito. O pobre rapaz parecia que esteve vagando num terreno baldio por seis semanas. Percy explicou o que Nico havia descoberto sobre as Portas da Morte e como elas tinham que ser fechadas de ambos os lados. Mesmo com a luz solar entrando pelo teto, as notícias de Percy fez a caverna parecer escura novamente.
— Assim, o lado mortal é em Épiro — ela finalizou. — Pelo menos é um lugar que podemos alcançar.
Nico fez uma careta.
— Mas o outro lado é um problema. Tártaro.
A palavra parecia ecoar através da câmara. O poço atrás deles exalava uma explosão de ar frio. Foi quando Annabeth soube com certeza. O abismo realmente ia direto para o Mundo Inferior.
Percy deve ter sentido isso também. Ele guiou-a um pouco mais longe da borda. Seus braços e pernas arrastaram a seda de aranha como um véu de noiva. Ela desejou que tivesse sua adaga para cortar esse lixo fora. Quase pediu a Percy para fazer as honras com Contracorrente, mas antes que pudesse, ele disse:
— Baco mencionou algo sobre minha viagem ser mais difícil do que eu esperava. Não sei por quê.
A câmara gemeu. A Atena Partenos inclinava de um lado para outro. Sua cabeça pegou um dos cabos de suporte de Aracne, mas a fundação de mármore sob o pedestal da estátua estava desmoronando.
Náuseas incharam no peito de Annabeth. Se a estátua caísse no abismo, todo o seu trabalho seria para nada. Sua missão teria fracassado.
— Salvem-na! — Annabeth gritou.
Seus amigos compreenderam imediatamente.
— Zhang! — Leo chamou. — Leve-me ao leme, rápido! O treinador está lá em cima sozinho.
Frank transformou-se em uma águia gigante, e os dois dispararam na direção do navio. Jason passou o braço em torno de Piper. Ele se virou para Percy.
— Eu volto para buscar vocês em um segundo.
Ele convocou o vento e disparou para o ar.
— Este piso não vai durar! — Hazel advertiu. — O resto de nós deve chegar à escada.
Nuvens de poeira e teias de aranha explodiram em buracos no chão. Os cabos de suporte de seda tremiam como cordas de guitarra gigantes e começaram a estalar. Hazel avançou para a parte inferior da escada de corda e fez um gesto para Nico a seguir, mas Nico não estava em condições de correr.
Percy agarrou apertado a mão de Annabeth.
— Vai ficar tudo bem — ele murmurou.
Olhando para cima, ela viu as cordas atiradas do Argo II e enroladas em torno da estátua. Uma laçou o pescoço de Atena. Leo gritou ordens do comando, Jason e Frank voaram freneticamente de corda em corda, tentando prendê-las bem.
Nico tinha acabado de chegar à escada quando uma dor aguda subiu a perna ruim de Annabeth. Ela engasgou e tropeçou.
— O que é isso? — Percy perguntou.
Ela estava cambaleando em direção à escada. Por que ao invés disso estava se movendo para trás? Suas pernas foram varridas para o lado, presas nos fios debaixo dela, fazendo-a cair de cara.
— Seu tornozelo! — Hazel gritou da escada. — Corte-o! Corte-o!
A mente de Annabeth estava confusa da dor. Cortar o tornozelo?
Aparentemente, Percy não sabia o que significava. Então, alguma coisa puxou Annabeth para trás e arrastou-a para o poço. Percy avançou. Ele agarrou seu braço, mas o impulso o levou junto também.
— Ajudem-nos! — Hazel gritou.
Annabeth vislumbrou Nico mancando em sua direção, Hazel tentando separar sua espada da escada de corda. Seus outros amigos ainda estavam focados na estátua e o grito de Hazel estava perdido na gritaria geral e nos estrondos da caverna.
Annabeth soluçou quando bateu na borda do poço. Suas pernas foram para o lado. Tarde demais, percebeu o que estava acontecendo: ela estava presa na teia da aranha. Deveria ter cortado imediatamente. Ela tinha pensado que era apenas uma linha solta, mas com todo o piso coberto de teias de aranha, não tinha notado que um dos fios estava enrolado em seu pé e a outra extremidade direito no poço. Ele estava ligado a algo pesado lá em baixo na escuridão, algo que estava puxando-a para dentro.
— Não — Percy murmurou, a luz da aurora em seus olhos. — Minha espada...
Mas ele não podia alcançar à espada sem largar o braço de Annabeth, e força de Annabeth também se foi. Ela deslizou sobre a borda. Percy caiu com ela.
Seu corpo bateu em algo. Ela deve ter desmaiado brevemente por conta da dor. Quando pôde ver novamente, percebeu que tinha caído parcialmente no poço e ficou pendurada sobre o vazio. Percy conseguiu agarrar uma pedra, cerca de dez metros abaixo do topo do abismo. Ele estava se segurando com uma mão e segurando Annabeth com a outra, mas a tração na perna era muito forte.
Não há escapatória, disse uma voz na escuridão abaixo. Eu vou para o Tártaro e você virá também.
Annabeth não tinha certeza se ela realmente ouviu a voz da Aracne ou se foi apenas em sua mente. O poço balançou. Percy era a única coisa impedindo-a de cair. Ele mal agarrava a pequena saliência.
Nico inclinou-se sobre a borda do abismo, esticando a sua mão, mas ele estava longe demais. Hazel estava gritando para os outros, mas mesmo que eles ouvissem com todo o caos, eles nunca poderiam fazer nada a tempo.
A perna de Annabeth parecia que estava puxando o seu corpo para baixo. A dor era imensa e a força do Mundo Inferior puxou-a como a gravidade para a escuridão. Ela não tinha forças para lutar, sabia que estava longe demais para ser salva.
— Percy, deixe-me ir — ela sussurrou. — Você não pode me puxar para cima.
Seu rosto estava branco de tanto esforço. Ela podia ver em seus olhos que ele sabia que era impossível.
— Nunca — ele disse. Ele olhou para Nico, dez metros acima. — O outro lado, Nico! Vamos ver você lá. Entendeu?
Nico arregalou os olhos.
— Mas...
— Leve-os lá! — Percy gritou. — Prometa-me!
— Eu... eu prometo — Nico conseguiu dizer.
Abaixo deles, a voz riu na escuridão. Sacrifícios. Belos sacrifícios para despertar a deusa. Percy apertou o pulso de Annabeth. Seu rosto estava magro, contundido e sangrando, o seu cabelo estava polvilhado de teias de aranha, mas quando ele travou os olhos nos dela, ela pensou que nunca tinha parecido mais bonito.
— Nós vamos ficar juntos — ele prometeu. — Você não vai ficar longe de mim. Nunca mais.
Só então ela conseguiu entender o que iria acontecer. Uma viagem só de ida. Uma queda muito difícil.
— Contanto que estejamos juntos — disse ela.
Ela ouviu Nico e Hazel ainda gritando por ajuda. Ela viu a luz do sol muito, muito acima, talvez a última luz solar que iria ver. Então Percy soltou de seu pequeno ressalto e, juntos, de mãos dadas, ele e Annabeth caíram na escuridão sem fim.

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