quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capitulo XLVII - Frank







FRANK ESTAVA TÃO ATORDOADO QUE Hazel teve que gritar o nome dele uma dúzia de vezes antes que ele se desse conta de que Alcioneu esta se levantando novamente. Ele bateu com o escudo no nariz do gigante até Alcioneu começar a roncar. Enquanto isso, a geleira continuava a ruir, a borda ficando cada vez mais próxima.
Tânatos planou em direção a eles com suas asas negras, sua expressão era serena.
— Ah, sim — ele disse com satisfação. — Lá se vão algumas almas. Se afogando, se afogando. É melhor vocês se apressarem, meus amigos, ou se afogarão também.
— Mas Percy... — Frank mal conseguia falar o nome do amigo. — Ele está...?
— Muito cedo para dizer. Agora, quanto a este... — Tânatos olhou para Alcioneu com desgosto. — Vocês nunca o matarão aqui. Já sabem o que vão fazer?
Frank acenou com a cabeça.
— Eu acho que sim.
— Então, está tudo resolvido.
Frank e Hazel se entreolharam nervosos.
— Hum... — Hazel hesitou. — Quer dizer que você não... que você não vai...
— Reivindicar a sua vida? — Tânatos perguntou. — Bem, vejamos...
Ele fez surgir do ar um iPad. A Morte tocou a tela algumas vezes, e em todas Frank pensou: Por favor, que não haja um aplicativo para recolher almas.
— Você não está na lista — ele notou. — Plutão me deu ordens específicas para pegar as almas fugitivas. Por alguma razão, ele não emitiu um mandado para a sua alma. Talvez ache que a sua vida ainda não chegou ao fim, ou pode ter havido um equívoco. Se quiser posso chamá-lo e perguntar...
— Não! — Hazel gritou. — Tudo bem.
— Você tem certeza? — Ele perguntou amavelmente. — Tenho uma vídeo conferência habilitada. Tenho o endereço do Skype dele em algum lugar...
— Realmente, não. — Parecia que milhares de quilos de preocupação haviam sido retirados dos ombros de Hazel. — Obrigada.
— Ughh — Alcioneu resmungou.
Frank bateu na cabeça dele novamente.
A Morte ainda procurava algo no seu iPad.
— Quanto a você, Frank Zhang, também não chegou a sua hora, ainda. Você ainda tem um pouco de combustível para queimar. Mas não pensem que estou fazendo um favor a vocês. Nós nos encontraremos novamente em circunstâncias menos agradáveis.
O penhasco continuava a desmoronar, agora só estavam a uns seis metros da borda. Arion relinchou impaciente. Frank sabia que eles tinham que ir, mais ainda tinha uma coisa que gostaria de perguntar.
— E sobre as Portas da Morte? Onde estão? E como vamos fechá-las?
— Ah, sim. — Uma expressão de irritação perpassou o rosto de Tânatos. — As minhas Portas. Seria bom fechá-las, mas temo que isso esteja além do meu poder. Como você faria isso, não faço a menor ideia. Não posso contar exatamente onde elas estão. A localização exata não é... bem, não é um lugar completamente físico. Podem ser localizadas através de uma busca. E posso dizer que a sua busca começa em Roma. A Roma original. Você precisará de um guia especial. Apenas um tipo de semideus pode ler os sinais e por fim conduzi-lo às Minhas Portas.
Rachaduras apareceram no gelo debaixo dos seus pés. Hazel deu tapinhas no pescoço de Arion para acalmá-lo.
— E o meu irmão? — ela perguntou. — Nico está vivo?
Tânatos olhou-a estranhamente – provavelmente pena, mas isso não parecia ser uma emoção que a Morte entendesse.
— Você encontrará as respostas em Roma. E agora tenho que voar para o sul, para o seu Acampamento Júpiter. Estou sentindo que haverá muitas almas para ceifar, muito em breve. Adeus semideuses, até o nosso próximo encontro.
Tânatos dissipou-se em fumaça negra.
As rachaduras avançaram até os pés de Frank.
— Depressa! — disse Hazel a ele. — Nós temos que levar Alcioneu a cerca de 20 quilômetros ao norte!
Frank subiu no peito do gigante e Arion levou-os, correndo pelo gelo, arrastando Alcioneu como se fosse o trenó mais feio do mundo.

Foi uma viagem curta.
Arion corria pela geleira como se estivesse em uma autoestrada, zunindo pelo gelo, saltando fendas e derrapando pelas encostas de modo que causaria inveja aos praticantes de snowboard.
Frank não teve que nocautear Alcioneu muitas vezes, por que a cabeça do gigante ficava batendo sozinha no gelo. À medida que eles continuavam, o semiconsciente Garoto Dourado ficava resmungando uma música que soava como “Jingle Bells”.
Frank sentia-se atordoado. Havia se transformado em uma águia e em um urso. Ainda sentia a energia fluindo através do seu corpo, como se estivesse a meio caminho entre o estado sólido e o líquido. Não era apenas isso: ele e Hazel haviam libertado a Morte, e ambos estavam vivos. E Percy... Frank engoliu o medo. Percy havia saltado da geleira para salvá-los.
O filho de Netuno deve se afogar.
Não. Ele se recusava a acreditar que Percy estivesse morto. Eles não tinham feito todo esse caminho só para perder o amigo. Frank o encontraria... mas primeiro eles teriam que lidar com Alcioneu.
Ele visualizou o mapa que estivera estudando no trem em Anchorage. Sabia mais ou menos para onde estavam indo, mas não havia sinais ou marcas nos cumes das geleiras. Ele teria que dar o seu melhor palpite.
Finalmente Arion passou rapidamente entre duas montanhas através do vale de gelo e rochas, que lembrava uma tigela sorvete com pedaços de chocolate. O gigante de pele dourada empalideceu como se transformasse em bronze. Frank sentiu uma súbita vibração, como se pressionassem algo contra o seu peito. Ele sabia que estava entrando em território amigo, o seu território.
— Aqui! — Frank gritou.
Arion desviou para o lado. Hazel cortou a corda e Alcioneu foi derrapando. Frank saltou um pouco antes de o gigante se chocar contra uma rocha.
Imediatamente, Alcioneu saltou de pé.
— O quê? Onde? Quem?
Seu nariz estava em uma direção estranha. Seus ferimentos foram curados, mas sua pele dourada havia perdido um pouco do brilho. Ele procurou ao redor por seu bastão de ferro, que ainda estava na Geleira Hubbard. Então desistiu e bateu na rocha mais próxima com os punhos, deixando-a em pedaços.
— Vocês me levaram para um passeio de trenó? — Ele ficou tenso e cheirou o ar. — Este cheiro... almas extintas. Tânatos está livre? Bah! Isso não importa. Gaia tem o controle das Portas da Morte. Agora, porque me trouxe aqui, filho de Marte?
— Para matar você — Frank respondeu. — Mais alguma pergunta?
O gigante cerrou os olhos.
— Eu nunca conheci um filho de Marte que pudesse mudar de forma, mas isso não quer dizer que pode me derrotar. Você pensa que seu estúpido pai soldado lhe deu a força para me enfrentar em um combate um a um?
Hazel sacou sua espada.
— Que tal dois contra um?
O gigante rosnou e atacou Hazel, mas Arion agilmente desviou para fora do caminho. Hazel brandiu sua espada nas panturrilhas do gigante. Óleo negro jorrou do ferimento. Alcioneu tropeçou.
— Você não pode me matar, nem mesmo Tânatos!
Hazel fez o gesto de agarrar com a mão livre. Uma força invisível agarrou o cabelo incrustado de joias do gigante e puxou para trás. Então ela cortou-lhe a outra perna e correu antes que ele pudesse recuperar o equilíbrio.
— Pare com isso! — gritou Alcioneu. — Isto é o Alasca. Eu sou imortal na minha terra natal!
— Na verdade — Frank disse — eu tenho más notícias sobre isso. Veja, eu tenho mais do que a força do meu pai.
O gigante rosnou.
— Do que você está falando, fedelho?
— Táticas — respondeu Frank. — Este é o meu dom dado por Marte. A batalha pode ser vencida antes da luta acontecer se escolhermos o terreno certo. — Então ele apontou por cima do ombro. — Nós passamos a fronteira a poucas centenas de metros. Você não está mais no Alasca. Não pode sentir isso, Al? Se quiser chegar ao Alasca, terá que passar por mim.
Lentamente, a compreensão chegou aos olhos do gigante. Ele olhou incrédulo para baixo, para as pernas feridas. Óleo ainda escorria de suas panturrilhas tornando o gelo negro.
— Impossível! — o gigante esbravejou. — Eu vou... eu vou... Gah!
Ele virou-se para Frank, determinado a alcançar a fronteira. Por uma fração segundo, Frank duvidou do seu plano. Se não usasse seu dom novamente, se congelasse, estaria morto. Então se lembrou do que sua avó havia lhe dito: Ajuda se você conhecer bem a criatura. Checado. Ajuda também se você estiver em uma situação entre a vida e a morte, como o combate. Checado novamente.
O gigante estava se aproximando. Vinte metros. Dez metros.
— Frank? — Hazel chamou nervosamente.
Frank permaneceu firme.
— Eu posso fazer isso.
Pouco antes que Alcioneu trombasse nele, Frank transformou-se. Ele sempre se sentiu grande e desengonçado. Agora usara esse sentimento. Seu corpo aumentou de tamanho, ficou enorme. Sua pele tornou-se mais grossa. Seus braços transformaram-se em patas dianteiras. Presas surgiram de sua boca e seu nariz se alongou. Ele se tornou o animal que melhor conhecia, um que ele havia, cuidado, alimentado, dado banho e até mesmo causado certa indigestão no Acampamento Júpiter.
Alcioneu havia se chocado contra um elefante adulto de dez toneladas.
O gigante cambaleou para o lado. Ele rugiu de frustração e se chocou contra Frank novamente, mas Alcioneu estava completamente fora da sua categoria de peso. Frank deu uma cabeçada nele, tão forte que Alcioneu voou para trás e aterrissou de braços abertos no gelo.
— Você... não pode... me matar — Alcioneu gritou. — Você não pode...
Frank retornou a sua forma normal. Ele caminhou até o gigante, cujas feridas oleosas pareciam começar a soltar vapor. As gemas caíram do seu cabelo e chiavam na neve. Sua pele dourada começou a rachar, quebrando em pedaços.
Hazel desmontou e ficou próxima a Frank, com sua espada preparada.
— Posso?
Frank acenou afirmativamente. Ele olhou dentro dos olhos do gigante.
— Uma dica, Alcioneu. Da próxima vez, escolha um estado maior para sua casa, não a construa onde só tenha 15 quilômetros de extensão. Bem-vindo ao Canadá, idiota.
A espada de Hazel desceu sobre o pescoço do gigante. Alcioneu se dissolveu em uma grande pilha de pedras preciosas. Hazel e Frank permaneceram um tempo juntos, assistindo os resquícios do gigante derreterem no gelo. Frank pegou sua corda.
— Um elefante? — Hazel perguntou.
Ele coçou o pescoço.
— Sim. Achei que seria uma boa ideia.
Frank não conseguiu ler a expressão dela. Tinha medo de que tivesse feito alguma coisa tão estranha que fizesse com que ela nunca mais quisesse estar perto dele. Frank Zhang: desajeitado dos desajeitados, filho de Marte, e em parte do tempo, paquiderme.
Então ela o beijou, um beijo de verdade na boca, muito melhor do que o beijo que ela havia dado em Percy no avião.
— Você é incrível — ela disse — e faz um elefante muito bonito.
Frank sentiu-se tão perturbado que achou que suas botas poderiam derreter o gelo. Antes que pudesse dizer alguma coisa, uma voz ecoou através do vale:
Vocês não venceram.
Frank olhou para cima. Sombras estavam se modificando na montanha mais próxima, formando a face de uma mulher adormecida.
Vocês nunca chegarão à sua casa a tempo, provocou a voz de Gaia. Neste instante, Tânatos está cuidando das mortes no Acampamento Júpiter, a destruição final dos seus amigos romanos.
A montanha rugiu como se toda a terra estivesse rindo. Então as sombras desapareceram.
Hazel e Frank se entreolharam. Não disseram nem uma palavra. Montaram em Arion e voltaram rapidamente para a geleira.







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