quinta-feira, 17 de outubro de 2013

VII - Leo






— QUEM É TIA ROSA? — HAZEL PERGUNTOU.
Leo não queria falar sobre ela. As palavras de Nêmesis ainda zumbiam em suas orelhas. Seu cinto de ferramentas parecia mais pesado desde ele tinha colocado o biscoito lá – o que era impossível. Seus bolsos podiam carregar qualquer coisa e não ter peso extra. E mesmo coisas extremamente frágeis nunca iriam quebrar lá. Mesmo assim, Leo imaginou que podia senti-lo lá dentro, se arrastando, esperando ser quebrado.
— Longa história. Ela me abandonou depois que minha mãe morreu, sem nem se importar.
— Eu sinto muito.
— Sim, bem... — Leo estava ansioso para trocar de assunto. — E sobre você? O que Nêmesis disse sobre o seu irmão?
Hazel piscou como se tivesse sal em seus olhos.
— Nico... Ele me encontrou no Mundo Inferior. Ele me trouxe de volta ao mundo dos mortais e convenceu os romanos do Acampamento Júpiter a me aceitarem. Eu devo a ele minha segunda chance na vida. Se Nêmesis estiver certa e Nico está em perigo... Eu tenho que ajudá-lo.
— Claro — Leo concordou, embora a ideia o incomodasse. Ele duvidava que a deusa da vingança desse conselhos apenas por ter um coração bondoso. — E o que Nêmesis disse sobre seu irmão ter apenas seis dias de vida e sobre Roma ser destruída... Alguma ideia do que ela quis dizer?
— Nenhuma — Hazel admitiu. — Mas temo...
Seja lá o que estava pensando, ela resolveu não compartilhar. Ela subiu em uma das maiores pedras para conseguir uma visão mais ampla. Leo tentou segui-la e perdeu o equilíbrio. Hazel segurou sua mão. Ela puxou-o para cima e eles se encontraram no topo da pedra, mãos dadas, cara a cara. Os olhos castanhos de Hazel brilhavam como ouro.
Ouro é fácil, ela disse. Não parecia dessa forma para Leo – não quando ele olhou para ela. Ele quis saber quem era Sammy. Leo tinha uma suspeita de que sabia, mas não conseguia dar um nome. Quem quer que fosse, tinha tido sorte de Hazel se importar com ele.
— Hum, obrigado — soltou a mão dela, mas eles ainda estavam de pé muito perto, ele podia sentir o calor de sua respiração. Ela definitivamente não parecia uma pessoa morta.
— Quando nós estávamos conversando com Nêmesis — Hazel disse desconfortável — Suas mãos... Eu vi chamas.
— Sim — ele disse. — É um poder de Hefesto. Normalmente eu consigo mantê-lo sob controle.
— Oh — ela colocou uma mão protetoramente sobre seu casaco jeans, como se fosse fazer um juramento de lealdade. Leo teve a sensação de que ela queria se afastar dele, mas a pedra era pequena demais.
Ótimo, pensou. Outra pessoa achando que sou uma aberração assustadora.
Ele olhou para toda a ilha. A margem oposta estava a apenas algumas centenas de metros de distância. Entre elas haviam dunas e pedaços de pedras, mas nada parecido com o reflexo de uma piscina.
Você sempre será um estranho, Nêmesis tinha dito a ele. A sétima roda. Você não vai encontrar um lugar entre seus irmãos.
Ela poderia muito bem ter derramado ácido em seus ouvidos. Leo não precisava de ninguém para dizer que ele era um estranho no grupo. Passou meses sozinho no Bunker 9 no Acampamento Meio-Sangue, trabalhando no seu barco enquanto seus amigos treinavam juntos e compartilhavam refeições, jogavam Captura da bandeira, por diversão e prêmios. Até mesmo seus dois melhores amigos, Piper e Jason, muitas vezes o tratavam como intruso. Desde que eles começaram a namorar, a ideia de tempo de qualidade não incluía Leo. Seu outro único amigo, Festus, o dragão, tinha sido reduzido a uma cabeça na proa do barco, quando seu disco de controle havia sido destruído em sua última aventura. E Leo não sabia como consertá-lo.
A sétima roda. Leo tinha escutado sobre uma quinta roda – uma peça extra, inútil no equipamento. Imaginou que uma sétima roda era ainda pior. Pensou que essa missão seria um novo começo para ele. Que todo seu trabalho duro no Argo II seria recompensado. Ele teria seis bons amigos que iriam admirá-lo e apreciá-lo, eles estariam navegando pelo lago ao nascer do sol para combater gigantes.
Talvez, Leo esperava secretamente, até mesmo encontrasse uma namorada.
Faça as contas, ele se repreendeu.
Nêmesis estava certa. Ele poderia fazer parte do grupo dos sete, mas ainda estava isolado. Ele tinha disparado contra os romanos e dado nada mais que problema para os seus amigos. Você não vai encontrar um lugar entre seus irmãos.
— Leo? — Hazel chamou gentilmente. — Você não pode deixar o que Nêmesis disse chegar ao seu coração.
Ele franziu a testa.
— E se for verdade?
— Ela é a deusa da vingança — Hazel lembrou. — Talvez esteja do nosso lado, talvez não, mas ela existe para semear o ressentimento.
Leo desejou que pudesse ignorar seus sentimentos com facilidade. Ele não conseguia. Ainda assim, não era culpa de Hazel.
— Nós temos que continuar — ele falou. — Eu me pergunto o que Nêmesis quis dizer sobre terminar antes da escuridão.
Hazel olhou para o sol, que estava tocando o horizonte.
— E quem é o garoto amaldiçoado que ela mencionou?
Abaixo deles, uma voz repetiu:
— Garoto amaldiçoado que ela mencionou.
No começo, Leo não viu ninguém. Então seus olhos se adaptaram. E ele percebeu uma jovem mulher que estava em pé apenas dez metros da base da pedra. O vestido dela era uma túnica em estilo grego da mesma cor das rochas. Seu cabelo era ralo e estava entre castanho, loiro e cinza, misturado com grama seca. Ela não era invisível, exatamente, mas estava quase perfeitamente camuflada até se mover. Mesmo assim, Leo teve dificuldade para se concentrar nela. Seu rosto era bonito, mas não memorável. Na verdade, cada vez que Leo piscava não conseguia se lembrar de como ela era e ele tinha que se concentrar em achá-la de novo.
— Olá — Hazel cumprimentou. — Quem é você?
— Quem é você? — A garota perguntou.
Sua voz soava cansada, como se estivesse cansada de responder essa pergunta.
Hazel e Leo trocaram um olhar. No meio desse show de semideuses, você nunca sabia o que iria encontrar. Nove em cada dez vezes, não era bom. Uma garota ninja camuflada em tons de terra não ter atacado Leo era algo que ele teria que lidar depois.
— Você é a criança amaldiçoada que Nêmesis mencionou? — Leo perguntou. — Mas você é uma garota.
— Você é uma garota — ela repetiu.
— Desculpe-me? — Leo disse.
— Desculpe-me — ela falou.
— Você está repetindo... — Leo parou. — Ah. Espera Hazel, não tem algum mito sobre uma garota que repetia tudo?
— Eco — disse Hazel.
— Eco — a garota concordou.
Ela se mexeu, seu vestido mudando com a paisagem. Seus olhos tinham a cor da água salgada. Leo tentou descobrir qual era seu chalé analisando suas características, mas ele não conseguiu.
— Eu não me lembro do mito — admitiu. — Você foi amaldiçoada a repetir a última coisa que você escutar?
— Você escutar?
— Coitada — disse Hazel. — Se bem me lembro, uma deusa fez isso?
— Uma deusa fez isso — Eco confirmou.
Leo coçou a cabeça.
— Mas não foi a milhares de anos atrás... Oh. Você é um dos mortais que voltou a vida através das Portas da Morte. Eu realmente gostaria de parar de encontrar pessoas mortas.
— Pessoas mortas — disse Eco, como se estivesse castigando-o.
Ele percebeu que Hazel estava olhando para os seus pés.
— Uh... Desculpe — ele murmurou. — Eu não quis dizer dessa forma.
— Dessa forma — Eco apontou para a outra margem da ilha.
— Você quer nos mostrar alguma coisa? — Hazel perguntou.
Ela desceu da pedra e Leo a seguiu.
Mesmo de perto, Eco era difícil de ver. Na verdade, ela parecia ficar ainda mais invisível quanto mais ele olhava para ela.
— Tem certeza que você é real? — ele perguntou. — Quero dizer... Carne e sangue?
— Carne e sangue — ela tocou o rosto de Leo, fazendo-o recuar.
Seus dedos estavam quentes.
— Então... Você tem que repetir tudo? — perguntou.
— Tudo.
Leo não pode evitar sorrir.
— Isso poderia ser divertido.
— Divertido — disse ela infeliz.
— Elefante azul.
— Elefante azul
— Me beije, seu idiota.
— Seu idiota.
— Hey!
— Hey!
— Leo — Hazel suplicou — Não a provoque.
— Não a provoque — Eco concordou.
— Okay, okay — ele disse, mas teve que resistir ao impulso. Não era todo dia que ele conhecia alguém com um recurso interno de respostas. — Então, o que você estava apontando? Você precisa da nossa ajuda?
— Ajuda — Eco concordou enfaticamente.
Ela fez um gesto para que eles a seguissem e correu para a encosta. Leo só podia a seguir pelo movimento da grama e o brilho de sua roupa que mudou para parecer com as rochas.
— É melhor se apressar — Hazel disse. — Ou vamos perdê-la.
Eles descobriram qual era o problema – se é que se pode chamar de problema uma multidão de garotas bonitas. Eco os levou para uma campina parecida com a cratera de uma explosão, como um pequeno lago no meio. Reunidas na beira da água estavam dezenas de ninfas.
Pelo menos Leo supôs que eram ninfas. Como as do Acampamento Meio-Sangue, elas usavam vestidos, estavam descalças e tinham características élficas, sua pele tinha um tom ligeiramente esverdeado. Leo não sabia o que elas estavam fazendo, mas todas estavam amontoadas em um local em frente à lagoa e se empurravam para ver melhor. Várias levantavam celulares, tentando conseguir uma foto sobre a cabeça da outra. Leo nunca tinha visto ninfas com celular. Ele se perguntou se elas estavam olhando para o corpo de alguém morto. Se fosse isso, por que elas estavam subindo e descendo rindo animadas?
— O que elas estão olhando? — Leo perguntou.
— Olhando — Eco suspirou.
— Só tem um jeito de descobrir — Hazel marchou para frente e começou a empurrar em seu caminho através da multidão. — Desculpem-nos. Perdão.
— Hey! — uma ninfa reclamou. — Nós estávamos aqui primeiro!
— Sim — outra fungou. — Ele não vai estar interessado em você.
A segunda ninfa tinha grandes corações vermelhos pintados no rosto. Por cima do vestido ela usava uma camiseta que tinha escrito: OMG, EU <3 N!
— Uh, negócio de semideus — Leo disse, tentando parecer formal. — Abra espaço. Obrigado.
As ninfas resmungaram, mas abriram espaço para revelar um jovem ajoelhado na beira da lagoa, olhando fixamente para a água.
Leo não prestava muita atenção em como os outros caras pareciam. Ele supôs que o cara parecia com Jason – alto, loiro, robusto e basicamente tudo que Leo nunca seria.
Leo não era notado pelas garotas. Pelo menos, sabia que nunca iria conseguir uma garota por sua aparência. Esperava que sua personalidade e senso de humor conseguisse algum dia, embora isso definitivamente não tivesse funcionado ainda.
De qualquer forma, Leo não podia negar o fato de que o cara na lagoa tinha uma ótima aparência. Ele tinha um rosto esculpido, lábios e olhos em algum lugar entre um feminino lindo e masculino incrível. O cabelo escuro caía sobre a testa. Ele podia ter 17 ou 20 anos, era difícil dizer, parecia um dançarino – longos braços graciosos, pernas musculosas, postura perfeita e um ar de calma real. Ele usava uma camiseta branca e um jeans, com um arco e uma aljava nas suas costas. As armas obviamente não eram utilizadas há um bom tempo, as flechas estavam cobertas de poeira. Uma aranha tecia uma teia no topo do arco.
Quando Leo se aproximou, percebeu que o rosto do rapaz estava inacreditavelmente dourado. No pôr-do-sol, a luz ricocheteava em uma grande folha lisa de Bronze Celestial que estava no fundo da lagoa, lavando o rosto do Sr. Bonito com um brilho dourado especial.
O cara parecia fascinado com seu reflexo no metal.
Hazel respirou fundo.
— Ele é lindo.
Em volta dela, as ninfas gritaram e aplaudiram de acordo.
— Eu sou — murmurou o jovem sonhador, seus olhos fixos na água. — Eu sou lindo.
Uma ninfa mostrou a tela de seu Iphone.
— Seu mais recente vídeo no Youtube tem um milhão de acessos em tipo assim, uma hora. Eu acho que estava no meio disso!
As ninfas riram.
— Vídeo no Youtube? — Leo perguntou. — O que ele faz no vídeo? Canta?
— Não, idiota! — A ninfa repreendeu. — Ele era um príncipe e ótimo caçador e essas coisas. Mas isso não importa. Agora ele... Bem olhe! — Ela mostrou o vídeo para Leo. Era exatamente o que ele estava vendo lá – o cara se olhando no lago.
— Ele é tãoooo bonito! — disse outra garota. Sua camiseta dizia: Sra. Narciso.
— Narciso? — Leo perguntou.
— Narciso — Eco concordou tristemente.
Leo tinha esquecido que Eco estava lá. Aparentemente, nenhuma das ninfas tinha notado também.
— Oh não, você de novo!
Sra. Narciso tentou empurrar Eco para longe, mas ela mal sabia onde a menina camuflada estava e acabou empurrando outras ninfas.
— Você teve sua chance, Eco! — disse a ninfa com o Iphone. — Ele terminou com você quatro mil anos atrás! Você não é boa o suficiente para ele.
— Para ele — Eco disse amarga.
— Espere — Hazel claramente tinha problemas para tirar os olhos do cara bonito, mas ela conseguiu. — O que está acontecendo aqui? Porque a Eco nos trouxe aqui?
Uma ninfa rolou os olhos. Ela estava segurando uma caneta de autógrafo e um pôster amassado do Narciso.
— Eco era uma ninfa como nós, há muito tempo, mas ela era uma tagarela! Fofocando blá blá blá o tempo todo.
— Eu sei! — outra ninfa gritou. — Tipo, quem poderia suportar isso? Ainda outro dia Cleopeia me falou: você sabe que ela vive na pedra ao meu lado? Eu disse: Pare de fofocar ou vai acabar como Eco. Cleopeia tem uma boca grande! Você ouviu o que ela disse sobre a ninfa das nuvens e o sátiro?
— Totalmente! — respondeu a ninfa com o cartaz. — Então, de qualquer maneira, por punição pela fofoca, Hera amaldiçoou Eco para que ela pudesse apenas repetir as coisas, o que era bom para nós. Mas, então, Eco se apaixonou, pelo nosso cara lindo, Narciso... Como se ele fosse notá-la.
— Como se fosse! — disse meia dúzia de outras ninfas.
— Agora ela tem essa ideia estranha de que ele precisa ser salvo — disse a Sra. Narciso. — Ela devia apenas ir embora.
— Ir embora — Eco rosnou de volta.
— Estou tão feliz por Narciso estar vivo novamente — disse outra ninfa em um vestido cinza. Ela tinha as palavras NARCISO + LAIEA escritas de cima pra baixo nos braços com caneta preta. — Ele é tipo, o melhor! E está no meu território.
— Ah, pare com isso, Laiea — disse a amiga. — Eu sou a ninfa da lagoa. Você é apenas a ninfa da árvore.
— Bem, eu sou a ninfa da grama — outra protestou.
— Não ele veio aqui, obviamente, porque ele gosta das flores silvestres! — disse outra. — Elas são minhas!
A multidão começou a discutir enquanto Narciso olhava para o lago, ignorando-as.
— Parem! — Leo gritou. — Senhoras! Se acalmem! Eu preciso perguntar uma coisa ao Narciso.
Lentamente, as ninfas pararam e voltaram a tirar fotos. Leo se ajoelhou perto do cara bonito.
— Então Narciso. E ai?
— Você poderia ir pra lá? — Narciso perguntou distraidamente. — Está estragando a vista.
Leo olhou na água. Seu reflexo ondulava ao lado de Narciso sobre a superfície do bronze. Leo não tinha vontade de olhar pra si mesmo. Comparado com Narciso, ele parecia um troll selvagem. Mas não havia dúvida de que o metal era uma folha de Bronze Celestial, meio circular, cerca de cinco metros de diâmetro.
O que estava fazendo na lagoa, Leo não sabia. Bronze Celestial caia na terra em lugares estranhos. Ele tinha escutado falar que a maioria dos pedaços foram jogados de várias oficinas de seu pai. Hefesto perdia a paciência quando seus projetos não funcionavam e ele atirava seus restos ao mundo mortal. Esse pedaço poderia ter sido um escudo para um deus, mas não tinha dado certo. Se Leo pudesse levá-lo para o navio, seria bronze o suficiente para os reparos.
— Certo, ótima vista — Leo comentou. — Ficaria feliz em ir embora, mas se você não estiver usando, eu posso ficar com a folha de bronze?
— Não — disse Narciso. — Eu a amo. Ele é tão lindo.
Leo olhou em volta para ver se as ninfas estavam dando risada. Isso tinha de ser uma grande piada. Mas elas estavam apenas balançando a cabeça em concordância. Hazel parecia chocada. Ela torceu o nariz como se tivesse chegado a conclusão de que Narciso não cheirava como parecia.
— Cara — Leo disse para Narciso. — Você percebeu que esta olhando pra si mesmo na água, certo?
— Eu sou tão bonito — Narciso suspirou. Ele estendeu a mão saudoso para tocar a água, mas parou. — Não, eu não posso fazer ondulações. Vai arruinar a imagem. Uau... Eu sou tão bonito.
— Sim — Leo murmurou. — Mas se eu levar o bronze, você ainda vai poder se ver na água. Ou aqui... — Ele enfiou a mão no cinto de ferramentas e tirou de lá um simples espelho pequeno. — Eu vou trocar com você.
Narciso tomou o espelho, com relutância e admirava-se.
— Serio que você carrega um foto minha? Eu não culpo você. Eu sou lindo. Obrigado — ele colocou o espelho no chão e voltou a olhar para a lagoa. — Mas eu já tenho uma imagem melhor. A cor fica ótima em mim você não acha?
— Oh, deuses, sim! — uma ninfa gritou. — Case-se comigo, Narciso!
— Não, comigo! — outra chorou. — Será que você poderia autografar meu pôster?
— Não, autografa minha camiseta!
— Não, autografa minha testa!
— Não, autografa a minha.
— Parem com isso! — Hazel gritou.
— Parem com isso — Eco concordou.
Leo tinha perdido Eco de vista de novo, mas agora percebeu que ela estava ajoelhada ao lado de Narciso, passando a mão em frente ao seu rosto, como se tentando quebrar sua concentração. Narciso nem piscava.
O fã clube de ninfas tentou empurrar Hazel para fora do caminho, mas ela tirou a espada de cavalaria e as obrigou a voltar.
— Sem essa! — ela gritou.
— Ele não vai autografar a sua espada — a ninfa com o pôster reclamou.
— Ele não vai casar com você — disse a garota com o Iphone. — E você não pode levar o espelho de bronze dele! Isso é o que o mantêm aqui!
— Vocês são todas ridículas — disse Hazel. — Ele é tão cheio de si! Como vocês podem gostar dele?
— Gostar dele — Eco suspirou, ainda passando a mão na frente do rosto dele.
As outras suspiraram junto com ela.
— Eu sou tão gostoso — Narciso suspirou em simpatia.
— Narciso, ouça — Hazel manteve a espada em riste. — Eco nos trouxe aqui para o ajudar, não é Eco?
— Eco — disse Eco.
— Quem? — Narciso disse.
— A única garota que se importa com o que acontece com você, aparentemente — Hazel falou — Você se lembra de morrer?
Narciso franziu a testa.
— Eu... Não. Isso não pode estar certo. Eu sou importante demais para morrer.
— Você morreu olhando pra si mesmo — Hazel insistiu. — Eu me lembro da história agora. Nêmesis foi a deusa que o amaldiçoou, porque você quebrou muitos corações. Sua punição foi cair de amor por seu próprio reflexo.
— Eu me amo muito, muito — Narciso concordou.
— Você morreu no final — Hazel continuou. — Eu não sei qual versão da história é verdadeira. Você se afogou ou se transformou em uma flor que fica sob a água ou... Eco o que era?
— O que era? — ela disse desesperadamente.
Leo se levantou.
— Isso não importa. O ponto é que você está vivo de novo, cara. Você tem uma segunda chance. É sobre isso que Nêmesis estava falando. Você pode levantar e seguir sua vida. Eco esta tentando te salvar. Ou pode ficar aqui e olhar pra si mesmo até morrer de novo.
— Fique aqui! — todas as ninfas gritaram.
— Case-se comigo antes de morrer! — Outra gritou.
Narciso balançou a cabeça.
— Você só quer o meu reflexo. Eu não o culpo, mas você não pode ter. Eu pertenço a mim.
Hazel suspirou exasperada. Ela olhou para o sol, que estava se pondo rapidamente. Então fez um gesto com a espada na borda da cratera.
— Leo, nós podemos conversar um minuto?
— Com licença — Leo disse a Narciso. — Eco, quer vir?
— Quer vir — Eco concordou.
As ninfas se amontoaram ao redor de Narciso de novo e começaram a gravar vídeos e tirar fotos.
Hazel liderou o caminho até que não pudessem ser escutados.
— Nêmesis estava certa — disse ela. — Alguns semideuses não podem mudar sua natureza. Narciso vai ficar lá até que ele morra de novo.
— Não — disse Leo.
— Não — Eco concordou.
— Nós precisamos do bronze — disse Leo. — Se o tirarmos, poderíamos ter um chance de salvar Narciso. Eco poderia ter uma chance de salvá-lo.
— Uma chance de salvá-lo — Eco repetiu agradecida.
Hazel fincou sua espada na areia.
— Isso pode fazer dezenas de ninfas irritadas com a gente. E Narciso ainda pode disparar seu arco.
Leo ponderou. O sol estava quase se pondo. Nêmesis tinha mencionado que Narciso ficava agitado, provavelmente porque não via mais seu reflexo. Leo não queria ficar tempo o suficiente pra ver o que a deusa chamava de agitado. Ele também tinha experiência com multidões de ninfas enlouquecidas. Não estava ansioso para repetir isso.
— Hazel, seu poder com metal precioso, você só pode detectá-lo ou também pode convocar até você?
Ela franziu o cenho.
— Às vezes posso atraí-lo. Nunca tentei com um pedaço de bronze celestial tão grande antes. Eu poderia ser capaz de atraí-lo através da terra, mas teria que estar muito próxima. Seria preciso muita concentração e não será rápido.
— Não será rápido — Eco advertiu.
Leo amaldiçoou. Ele esperava que pudesse voltar ao navio e Hazel poderia teleportar o bronze celestial de uma distância segura.
— Tudo bem — ele disse. — Nós vamos ter que tentar algo arriscado. Hazel, que tal você tentar atrair o Bronze Celestial da direita? Faça-o afundar na areia em um túnel até você, então nós vamos pegá-lo e correr para o navio.
— Mas Narciso está olhando o tempo todo — disse ela.
— O tempo todo — Eco ecoou.
— Esse vai ser o meu trabalho — Leo falou, odiando seu próprio plano. — Eco e eu vamos ser as distrações.
— Distrações? — Eco perguntou.
— Eu vou explicar — Leo prometeu. — Você está disposta?
— Disposta — Eco repetiu.
— Legal — Leo disse. — Agora vamos esperar que ninguém morra.

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