quinta-feira, 17 de outubro de 2013

XXXVIII - Leo






UM PROBLEMA RESOLVIDO: a escotilha acima deles fechou automaticamente, impedindo seus perseguidores. Ela também cortou toda a luz, mas Leo e Frank poderiam lidar com isso. Leo só esperava que eles não precisassem sair pelo mesmo caminho que entraram, não tinha certeza se ele poderia abrir a passagem por baixo.
Pelo menos os caras peixe-boi possuídos estavam do outro lado. Sobre a cabeça de Leo, o chão de mármore estremeceu como se os pés dos turistas gordos estivessem chutando-o.
Frank devia ter voltado à forma humana. Leo podia ouvi-lo ofegar no escuro.
— E agora? — Frank perguntou.
— Ok, não se desespere — disse Leo. — Eu vou convocar um pouco de fogo, só assim podemos ver.
— Obrigado pelo aviso.
O dedo indicador de Leo brilhou como uma vela de aniversário. Na frente deles, estendia-se um túnel de pedra com um teto baixo. Assim como Hazel havia previsto, ele se inclinava para baixo, em seguida, estabilizava e ia para o sul.
— Bem — disse Leo. — Ele vai apenas em uma direção.
— Vamos encontrar Hazel.
Leo não tinha argumento contra a sugestão. Eles fizeram o seu caminho pelo corredor, Leo indo primeiro com o fogo. Ele estava feliz por ter Frank em suas costas, grande, forte e capaz de se transformar em animais assustadores no caso dos turistas possuídos de alguma forma romperem a escotilha, se espremerem para dentro e os seguirem. Ele se perguntou se os eidolons não poderiam deixar os corpos para trás, infiltrar-se no subsolo e possuir um deles em seu lugar.
Oh, este é o meu pensamento feliz do dia! Leo repreendeu a si mesmo.
Depois de uma centena de metros ou mais, eles viraram a esquina e encontraram Hazel. À luz dourada da sua espada de cavalaria, ela estava examinando uma porta. Estava tão absorta que não os notou até que Leo disse:
— Hey.
Hazel girou, tentando balançar sua spatha. Para sorte do rosto de Leo, a lâmina era muito longa para se empunhar no corredor.
— O que você está fazendo aqui? — Hazel exigiu.
Leo engoliu em seco.
— Desculpe. Corremos de alguns turistas irritados — ele contou a ela o que tinha acontecido.
Ela sibilou em frustração.
— Eu odeio eidolons. Pensei que Piper os tinha feito prometer ficar longe.
— Ah... — Frank disse, como se ele tivesse tido seu próprio pensamento feliz do dia. — Piper fez eles prometerem ficar fora do navio e não possuir qualquer um de nós. Mas se eles nos seguiram e usaram outros corpos para nos atacar, então não estão tecnicamente quebrando sua promessa...
— Ótimo — Leo murmurou. — Eidolons que também são advogados. Agora eu realmente quero matá-los.
— Tudo bem, esqueça-os por enquanto — disse Hazel. — Esta porta está me dando dor de cabeça. Leo, você pode tentar a sua habilidade com trancas?
Leo estalou os dedos.
— Afastem-se para o mestre, por favor.
A porta era interessante, muito mais complicado do que a fechadura de combinação de numeral romano acima. Toda a porta era revestida em Ouro Imperial. Uma esfera mecânica sobre o tamanho de uma bola de boliche foi incorporada ao centro. A esfera foi construída a partir de cinco anéis concêntricos, cada uma com a inscrição de símbolos do zodíaco – o touro, o escorpião, etc – e aparentemente letras e números aleatórios.
— Essas letras estão em grego — Leo disse surpreso.
— Bem, muitos romanos falavam grego — Hazel lembrou.
— Pode ser — Leo concordou. — Mas esta mão de obra... Sem ofensa para vocês do Acampamento Júpiter, mas é complicado demais para ser romano.
Frank bufou.
— Considerando que os gregos adoram tornar as coisas complicadas.
— Hey — Leo protestou. — Tudo o que estou dizendo é que esta máquina é delicada, sofisticada. Ela me lembra de... — Leo olhou para a esfera, tentando lembrar de onde ele tinha lido ou ouvido falar sobre uma semelhante máquina antiga. — É um tipo mais avançado de fechadura — decidiu ele. — Você alinha os símbolos, os anéis diferentes na ordem certa e isso abre a porta.
— Mas qual é a ordem certa? — Hazel perguntou.
— Boa pergunta. Esferas gregas... Geometria, astronomia... — Leo teve um sentimento interior quente. — Oh, não. Eu me pergunto... Qual é o valor de pi?
Frank fez uma careta.
— Como assim?
— Ele quer dizer o número — Hazel adivinhou. — Eu aprendi na aula de matemática uma vez, mas...
— É usado para medir círculos — Leo explicou. — Esta esfera, se ela foi feita pelo cara que estou pensando...
Hazel e Frank olharam para ele fixamente.
— Não importa — disse Leo. — Tenho certeza que pi vale, uh, 3,1415 blá blá blá. O número prossegue infinitamente, mas a esfera tem apenas cinco anéis, de modo que deve ser o suficiente, se estou certo.
— E se você não estiver? — Frank perguntou.
— Bem, então, Leo cai, e feio. Vamos descobrir!
Ele virou os anéis, a começar do lado de fora e movendo-se para dentro. Ele ignorou os signos do zodíaco e as letras, revestindo os números corretos para que fazer o valor de pi. Nada aconteceu.
— Eu sou estúpido — Leo murmurou. — Pi iria expandir para fora, porque é infinito.
Ele inverteu a ordem dos números, começando no centro e trabalhando em direção à borda. Quando alinhou o último anel, algo dentro da esfera clicou. A porta se abriu. Leo sorriu para seus amigos.
— Isso, gente boa, é como fazemos as coisas no mundo do Leo. Venham!
— Eu odeio o mundo do Leo — Frank murmurou.
Hazel riu.
Dentro havia bastante material legal para manter Leo ocupado por anos. O quarto era do tamanho da forja do Acampamento Meio-Sangue, com mesas de trabalho com tampas de bronze ao longo das paredes e cestos cheios de ferramentas e metais antigos. Dezenas de esferas de bronze e de ouro parecidas com bolas de basquete movidas a vapor estavam paradas em vários estágios de desmontagem. Havia engrenagens soltas e fiação suja no chão. Cabos metálicos grossos corriam de cada mesa para o fundo da sala, onde havia um sótão fechado, como uma cabine de som de teatro. Escadas levavam até a cabine em cada lado.
Todos os cabos pareciam correr para o sótão. Ao lado das escadas, à esquerda, havia uma fileira de cubículos preenchida com cilindros de couro – provavelmente antigos estojos de pergaminhos.
Leo estava prestes a ir para as mesas quando olhou para a esquerda e quase saltou fora de seus sapatos. Ladeando a porta estavam dois manequins esqueléticos blindados parecidos com espantalhos feitos a partir de tubos de bronze, equipados com conjunto romano completo de armadura, escudo e espada.
— Cara — Leo caminhou até um. — Estes seriam incríveis se trabalhassem.
Frank ficou longe dos autômatos.
— Essas coisas vão ganhar vida e nos atacar, não é?
Leo riu.
— Sem chance. Eles não estão completos — ele bateu no pescoço do mais próximo, onde os fios de cobre soltos brotaram debaixo de sua peitoral. — Olha, a fiação da cabeça foi desconectada. E aqui, no cotovelo, o sistema de polias para este conjunto está desalinhado. Meu palpite? Os romanos estavam tentando duplicar um projeto grego, mas não tinham a habilidade necessária.
Hazel arqueou as sobrancelhas.
— Os romanos não eram bons o suficiente em coisas complicadas, eu suponho.
— Ou delicadas — acrescentou Frank. — Ou sofisticadas.
— Hey, eu só digo o que vejo — Leo balançava a cabeça do manequim, fazendo-a assentir como se concordasse com ele. — Ainda assim... Uma tentativa bastante impressionante. Já ouvi lendas que os romanos confiscaram as escrituras de Arquimedes, mas...
— Arquimedes? — Hazel olhou perplexo. — Não foi ele um matemático antigo ou algo assim?
Leo riu.
— Ele era muito mais do que isso. Foi apenas o filho de Hefesto mais famoso que já viveu.
Frank coçou a orelha.
— Eu ouvi o seu nome antes, mas como você pode ter certeza que esta manequim é o seu projeto?
— Tem que ser! — Leo disse. — Olha, eu li tudo sobre Arquimedes. Ele é um herói para o Chalé 9. O cara era grego, certo? Ele morava em uma das colônias gregas no sul da Itália, antes de Roma crescer e tomá-la. Finalmente os romanos invadiram e destruíram sua cidade. O general romano queria poupar Arquimedes, porque ele era tão valioso... tipo como o Einstein do mundo antigo... mas algum estúpido soldado romano o matou.
— Lá vai você de novo — Hazel murmurou. — Estúpido e romano nem sempre andam juntos, Leo.
Frank resmungou de acordo.
— Como você sabe de tudo isso, afinal? — ele exigiu. — Existe um guia espanhol por aqui?
— Não, cara — Leo disse. — Você não pode ser um semideus que é do ramo de construção e não saber sobre Arquimedes. O cara era seriamente da elite. Ele calculou o valor de pi. Fez todas essas coisas de matemática que nós ainda usamos para a engenharia. Ele inventou um parafuso hidráulico que poderia mover a água através de tubos.
Hazel fez uma careta.
— Um parafuso hidráulico. Desculpe-me por não saber sobre essas incríveis realizações.
— Ele também construiu um raio da morte feito de espelhos que poderiam queimar navios inimigos — disse Leo. — Isso é impressionante o suficiente para você?
— Eu vi algo sobre isso na TV — Frank admitiu. — Provaram que não funcionou.
— Ah, isso é só porque os mortais modernos não sabem como usar Bronze Celestial. Essa é a chave. Arquimedes também inventou uma garra enorme que poderia balançar em um guindaste e arrancar navios inimigos para fora da água.
— Ok, isso é legal — Frank admitiu. — Eu amo jogos de braços mecânicos com garras.
— Bem, aí está. De qualquer forma, todas as suas invenções não foram suficientes. Os romanos destruíram sua cidade. Arquimedes foi morto. Segundo a lenda, o general romano era um grande fã de seu trabalho, então ele invadiu a oficina de Arquimedes e levou um monte de suvenires de volta para Roma. Eles desapareceram da história, exceto... — Leo acenou com as mãos no material nas tabelas. — Aqui estão eles.
— Bolas basquete de metal? — Hazel perguntou.
Leo não podia acreditar que eles não apreciavam o que estavam olhando, mas ele tentou conter sua irritação.
— Gente, Arquimedes construiu esferas. Os romanos não podiam entendê-las. Pensaram que elas eram apenas para mostrar o tempo ou constelações, porque eram cobertas com imagens de estrelas e planetas. Mas isso é como encontrar um rifle e pensar que é uma bengala.
— Leo, os romanos eram excelentes engenheiros — Hazel lembrou. — Eles construíram aquedutos, estradas.
— As armas de cerco — acrescentou Frank. — Saneamento público.
— Sim, tudo bem. Mas Arquimedes estava em uma classe única. Suas esferas poderiam fazer todos os tipos de coisas, apenas ninguém tem certeza...
De repente, Leo teve uma ideia tão incrível que o nariz explodiu em chamas. Ele apalpou-o mais rapidamente possível. Cara, foi embaraçoso quando isso aconteceu.
Ele correu para a linha de cubículos e examinou as marcas do estojo de pergaminho.
— Oh, deuses. É isso!
Ele cuidadosamente retirou um dos pergaminhos. Ele não era bom em grego antigo, mas poderia dizer que a inscrição sobre o pergaminho dizia Construção de Esferas.
— Gente, este é o livro perdido! — suas mãos estavam tremendo. — Arquimedes escreveu isso, descrevendo seus métodos de construção, mas todas as cópias foram perdidas nos tempos antigos. Se eu pudesse traduzir isso...
As possibilidades eram infinitas. Para Leo, a busca já tinha tomado totalmente uma novo dimensão. Leo tinha que retirar as esferas e rolos de daqui em segurança. Tinha que proteger este material até que pudesse levá-lo para o Bunker 9 e estudá-lo.
— Os segredos de Arquimedes — ele murmurou. — Gente, isso é melhor do que laptop de Dédalo. Se houver um ataque romano no Acampamento Meio-Sangue, esses segredos poderiam salvar o acampamento. Eles podem até nos dar uma vantagem sobre Gaia e os gigantes!
Hazel e Frank entreolharam com ceticismo.
— Tudo bem — disse Hazel. — Nós não viemos aqui por um rolo, mas acho que nós podemos levá-lo conosco.
— Assumindo — acrescentou Frank — que você não se incomode em dividir seus segredos com os estúpidos e descomplicados romanos.
Naturalmente, foi quando tudo deu errado.
Na mesa ao lado de Hazel e Frank, um dos orbes clicou e zumbiu. Uma fila de pernas se estendeu rodopiando de seu centro. O orbe parou e dois cabos de bronze dispararam para fora de seu topo, batendo em Hazel e Frank como fios de um taser. Os amigos de Leo caíram no chão.
Leo pulou para ajudá-los, mas os dois manequins blindados que não podiam se mover, se moveram. Eles sacaram suas espadas e andaram em direção a Leo. O da esquerda virou seu capacete torto, que tinha a forma de uma cabeça de um lobo.
Apesar do fato de que ele não tinha rosto ou na boca, uma voz familiar e oca falou por trás da viseira.
— Você não pode escapar, Leo Valdez. Nós não gostamos de possuir máquinas, mas elas são melhores do que os turistas. Você não vai sair daqui vivo.

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