quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capitulo XLVI - Frank






FRANK DESEMBRULHOU A LENHA e se ajoelhou aos pés de Tânatos.
Ele estava ciente de Percy em pé por ele, balançando a espada e gritando em desafio enquanto os fantasmas se aproximavam. Ouviu o berro do gigante e o relincho de Arion com raiva, mas não ousava olhar.
Suas mãos estavam trêmulas, ele segurou seu pedaço de lenha ao lado das correntes sobre a perna direita da Morte. Pensou em chamas, e imediatamente a madeira ardeu.
Um calor horrível se espalhou pelo corpo de Frank. O metal gelado começou a derreter, a chama tão brilhante que era mais ofuscante do que o gelo.
— Bom — Tânatos disse. — Muito bom, Frank Zhang.
Frank tinha ouvido falar sobre a vida das pessoas passando diante de seus olhos, mas agora experimentou literalmente. Viu sua mãe no dia em que partiu para o Afeganistão. Ela sorriu e abraçou-o. Ele tentou respirar seu perfume de jasmim para nunca esquecer.
Eu sempre estarei orgulhosa de você, Frank, disse ela. Algum dia, você vai viajar para ainda mais longe do que eu. Vai completar o ciclo da nossa família. Anos a partir de agora, nossos descendentes estarão contando histórias sobre o herói Frank Zhang, seu tatara, tatara, tatara...
Ela cutucava sua barriga por causa dos velhos tempos. Foi a última vez que Frank sorriu por meses.
Ele se viu no banco de piquenique em Moose Pass, observando as estrelas e as luzes do norte enquanto Hazel roncava suavemente ao lado dele, Percy dizendo, Frank, você é um líder. Nós precisamos de você. Viu Percy desaparecendo no pântano, então o mergulho de Hazel depois dele. Frank lembrou de como ele se sentiu sozinho segurando o arco, totalmente impotente. Ele apelou aos deuses do Olimpo, até mesmo Marte, para que ajudassem seus amigos, mas sabia que estavam fora do alcance dos deuses.
Com um barulho, a primeira corrente quebrou. Rapidamente, Frank golpeou a lenha na corrente da outra perna da Morte. Ele arriscou um olhar sobre seu ombro.
Percy estava lutando como um redemoinho. Na verdade... ele era um turbilhão. Um furacão em miniatura de água e vapor de gelo se agitava em torno dele enquanto combatia um inimigo, batendo fantasmas romanos para longe, desviando flechas e lanças. Desde quando ele tem esse poder?
Ele se moveu através das linhas inimigas, e mesmo que parecesse estar deixando Frank indefeso, o inimigo estava completamente focado em Percy. Frank não sabia o motivo, então ele viu objetivo de Percy. Um dos fantasmas de vapor negro estava vestindo a capa de pele de leão de um porta-estandarte e segurando um bastão com uma águia dourada, gelo congelado nas suas asas. O estandarte da legião.
Frank observou enquanto Percy deslizava através de uma linha de legionários, espalhando seus escudos com seu ciclone pessoal. Ele derrubou o porta-estandarte e agarrou a águia.
— Vocês querem isso de volta? — Ele gritou para os fantasmas. — Venham buscar!
Ele chamou-os, e Frank não pôde deixar de se intimidar por sua estratégia ousada. Tanto quanto as sombras queriam manter Tânatos acorrentado, eles eram espíritos romanos. Suas mentes estavam confusas na melhor das hipóteses, como os fantasmas que Frank tinha visto nos Asfódelos, mas se lembravam de uma coisa claramente: eles deveriam proteger sua águia.
Ainda assim, Percy não poderia lutar contra muitos inimigos para sempre. Manter uma tempestade como essa tinha que ser difícil. Apesar do frio, seu rosto já estava molhado com o suor.
Frank olhou para Hazel. Ele não podia vê-la ou o gigante.
— Cuidado com o fogo, garoto — Morte advertiu. — Você não tem nada para desperdiçar.
Frank amaldiçoou. Tinha ficado tão distraído que não tinha notado que a segunda corrente havia derretido.
Ele mudou o fogo para as algemas na mão direita do deus. O pedaço de lenha estava quase na metade agora. Frank começou a tremer. Mais imagens passaram pela sua mente. Ele viu Marte sentado na cabeceira de sua avó, olhando para Frank com aqueles olhos de explosão nuclear: Você é a arma secreta de Juno. Já descobriu o seu dom?
Ele ouviu sua mãe dizer: Você pode ser qualquer coisa.
Então viu o rosto severo da avó, sua pele fina como papel de arroz, seu cabelo branco espalhado por seu travesseiro. Sim, Fai Zhang. Sua mãe não estava simplesmente aumentando sua autoestima. Ela estava dizendo a verdade literal.
Pensou no urso pardo que sua mãe tinha interceptado na orla da floresta. Pensou no grande pássaro preto circulando sobre as chamas da mansão de sua família.
A terceira corrente estalou. Frank empurrou a lenha na última algema. Seu corpo estava dilacerado pela dor. Manchas amarelas dançaram em seus olhos.
Ele viu Percy no final da Via Principalis, adiando o exército de fantasmas. Ele virou a carruagem e destruiu várias construções, mas cada vez que afastava uma onda de atacantes com seu furacão, os fantasmas simplesmente levantavam-se e atacavam novamente. Toda vez que Percy cortava um deles com sua espada, o fantasma se reformava imediatamente. Percy tinha ido quase tão longe quanto podia ir. Atrás dele estava o portão lateral do acampamento, e cerca de seis metros além disso, a borda da geleira.
Quanto à Hazel, ela e Alcioneu conseguiram destruir a maior parte do quartel em sua batalha. Agora estavam lutando em meio aos destroços no portão principal. Arion estava jogando um jogo perigoso, rodando em torno do gigante, enquanto Alcioneu golpeava-os com seu bastão, derrubando paredes e fendendo abismos enormes no gelo. Apenas a velocidade de Arion os mantinha vivos.
Finalmente, o último elo da Morte quebrou. Com um grito desesperado, Frank espetou sua lenha em uma pilha de neve e apagou a chama. Sua dor desapareceu. Ele ainda estava vivo. Mas quando pegou o pedaço de lenha, não era mais do que um toco, menor do que uma barra de chocolate.
Tânatos levantou os braços.
— Livre — disse ele com satisfação.
— Ótimo — Frank piscou os pontos de seus olhos. — Então faça alguma coisa!
Tânatos lhe deu um sorriso calmo.
— Fazer alguma coisa? É claro. Eu vou assistir. Aqueles que morrerem nessa batalha vão permanecer mortos.
— Obrigado — Frank murmurou, deslizando sua lenha em seu casaco. — Muito útil.
— De nada — Tânatos respondeu agradavelmente.
— Percy! — Frank gritou. — Eles podem morrer agora!
Percy assentiu, mas parecia muito cansado. Seu furacão estava abrandando. Seus ataques estavam ficando mais lentos. Todo o exército fantasmagórico o havia rodeado, forçando-o gradualmente em direção à borda da geleira.
Frank tirou seu arco para ajudar. Então o deixou cair. Flechas normais de uma loja de caça em Seward não ajudariam. Frank teria que usar o seu dom.
Pensou ter entendido seus poderes finalmente. Talvez ver a madeira queimar, cheirar a fumaça estúpida de sua própria vida, o fez se sentir estranhamente confiante.
É justo sua vida queimar tão curta e clara? A Morte havia perguntado.
— Nada é justo — Frank disse a si mesmo. — Se vou morrer, deve ser bem claro.
Ele deu um passo à frente para Percy. Então, do outro lado do acampamento, Hazel gritou de dor. Arion gritava enquanto o gigante lhe dava um belo golpe com o cajado que mandou cavalo e cavaleiro deslizando no gelo, quebrando as plataformas.
— Hazel!
Frank olhou para Percy, desejando que tivesse sua lança. Se pudesse invocar Cinzento... Mas ele não podia estar em dois lugares de uma vez.
— Vá ajudá-la! — Percy gritou, segurando a águia dourada no ar. — Vou cuidar desses caras!
Percy não conseguiria. Frank sabia disso. O filho de Poseidon estava prestes a ser dilacerado, mas Frank correu em socorro de Hazel. Ela estava meio escondida em uma pilha de tijolos de neve quebrados. Arion estava sobre ela, tentando protegê-la, batendo com a cauda e dando patadas com suas patas dianteiras no gigante.
O gigante riu.
— Olá, pequeno pônei. Quer brincar?
Alcioneu ergueu o cajado congelado.
Frank estava muito longe para ajudar... Mas se imaginou correndo para frente, seus pés deixando o chão.
Seja qualquer coisa.
Ele se lembrou das águias que tinha visto sobre o passeio de trem. Seu corpo tornou-se menor e mais leve. Os braços esticaram em asas, e sua visão tornou-se mil vezes mais nítida. Ele disparou para cima, em seguida, mergulhou no gigante com suas garras afiadas estendidas, arranhando os olhos do gigante.
Alcioneu urrou de dor. Ele cambaleou para trás quando Frank pousou na frente de Hazel e voltou à sua forma normal.
— Frank... — ela olhou para ele com espanto, um quepe de neve escorrendo da sua cabeça. — O que... apenas... como é que...?
— Louco! — Alcioneu gritou. Seu rosto foi cortado, óleo preto escorria de seus olhos em vez de sangue, mas as feridas já estavam fechando. — Eu sou imortal em minha terra natal, Frank Zhang! E graças à sua amiga Hazel, minha nova pátria é o Alasca. Você não pode matar-me aqui!
— Vamos ver — disse Frank. Poder percorria seus braços e pernas. — Hazel, volte ao seu cavalo.
O gigante atacou, e Frank atacou de encontro à ele. Ele lembrou-se do urso que tinha conhecido cara a cara quando criança. Enquanto corria, seu corpo tornou-se mais pesado, mais grosso, ondulando com os músculos. Ele colidiu com o gigante como um urso adulto, meia tonelada de força pura. Ele ainda era pequeno quando comparado com Alcioneu, mas bateu no gigante com tal força que Alcioneu derrubou uma torre de gelo que desabou em cima dele.
Frank saltou na cabeça do gigante. Um golpe de sua garra era como um lutador peso pesado balançando uma motosserra. Frank bateu no rosto do gigante para frente e para trás até seus traços metálicos começarem a amassar.
— Ughh — resmungou o gigante em um estupor.
Frank mudou para sua forma regular. Sua mochila ainda estava com ele. Ele agarrou a corda que tinha comprado em Seward, rapidamente fez um laço, e prendeu-a ao redor do pé de dragão escamoso do gigante.
— Hazel, aqui! — Ele atirou-lhe a outra extremidade da corda. — Eu tenho uma ideia, mas vamos ter de...
— Matarei... uh...uh... você... — Alcioneu murmurou.
Frank correu para a cabeça do gigante, pegou o objeto pesado mais próximo que pôde encontrar – um escudo da legião e bateu no nariz do gigante.
O gigante disse:
— Ughh.
Frank olhou para Hazel.
— Até que ponto pode Arion puxar esse cara?
Hazel apenas olhou para ele.
— Você... você era um pássaro. Então, um urso. E...
— Eu vou explicar mais tarde — disse Frank. — Precisamos arrastar esse cara para o interior, mais rápido e até onde pudermos.
— Mas Percy! — Hazel disse.
Frank amaldiçoou. Como ele poderia ter esquecido? Através das ruínas ele viu Percy, de costas para a borda do penhasco. Seu furacão havia desaparecido. Ele segurava Contracorrente em uma mão e a águia dourada da legião na outra. Todo o exército de sombras avançava, suas armas eriçadas.
— Percy! — Frank gritou.
Percy olhou por cima. Ele viu o gigante caído e pareceu entender o que estava acontecendo. Ele gritou algo que ficou perdido no vento, provavelmente: Vão!
Então ele bateu Contracorrente no gelo a seus pés. A geleira inteira estremeceu. Fantasmas caíram de joelhos. Atrás de Percy, uma onda surgiu a partir da baía – uma parede de água cinza ainda mais alta que a geleira. Água tirada de abismos e fendas no gelo. Quando a onda atingiu, a metade de trás do acampamento se desintegrou. Toda a borda da geleira descolou, transbordando para o vazio – carregando edifícios, fantasmas e Percy Jackson sobre a borda.

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