quinta-feira, 17 de outubro de 2013

XXX - Percy






O CORAÇÃO DE PERCY FEZ POLICHINELOS enquanto Crisaor andava de um lado para o outro, inspecionando-os como se fossem um rebanho valioso. Uma dúzia de seus homens-golfinhos guerreiros ficaram em um arco em volta deles, lanças na altura do peito de Percy, enquanto outras dúzias saqueavam o navio, trombando e quebrando coisas em baixo do convés. Um subiu pela escada com uma caixa de ambrosia. Outro carregava um braço cheio de dardos de balista e uma cesta de fogo grego.
— Cuidado com isso! — Annabeth avisou. — Isso pode explodir ambos os navios.
— Há! — Crisaor disse. — Sabemos tudo sobre fogo grego, garota. Não se preocupe. Temos roubado e saqueado navios no Mare Nostrum por éons.
— Seu sotaque é familiar — Percy disse. — Já nos conhecemos?
— Eu não tive o prazer — a máscara de górgona dourada de Crisaor rosnou para ele, no entanto era impossível dizer como seria sua real expressão em baixo da máscara — mas ouvi tudo sobre você, Percy Jackson. Ah, sim, o jovem que salvou o Olimpo. E sua fiel ajudante Annabeth Chase.
— Não sou ajudante de ninguém — Annabeth rosnou. — E, Percy, o sotaque dele parece familiar porque nós matamos a mãe dele em Nova Jersey.
Percy franziu o rosto.
— Tenho certeza de que esse sotaque não é de Nova Jersey. Quem é a...? Aah.
Tudo se encaixou. O Empório de Anões de Jardim da Tia Eme – o covil da Medusa. Ela havia falado com aquele mesmo sotaque, pelo menos até que Percy cortou fora sua cabeça.
— Medusa é a sua mãe? — ele perguntou. — Cara, que droga hein?
Julgando pelo som da garganta de Crisaor, agora ele estava rosnando em baixo da máscara, também.
— Você é tão arrogante quanto o primeiro Perseu — Crisaor disse. — Mas, sim, Percy Jackson. Poseidon era meu pai. Medusa era minha mãe. Depois que Medusa foi transformada em um monstro por aquela tal de deusa da sabedoria... — a máscara dourada virou para Annabeth. — Essa seria sua mãe, acredito... Os dois filhos de Medusa ficaram presos dentro dela, incapazes de nascer. Quando o Perseu original cortou a cabeça da Medusa...
— Dois filhos saíram — Annabeth lembrou. — Pégaso e você.
Percy piscou.
— Então seu irmão é um cavalo alado. Mas você também é meu meio-irmão, o que significa que todos os cavalos alados são meus... Quer saber? Vamos deixar isso pra lá.
Ele aprendeu há alguns anos atrás que era melhor não insistir muito em quem era parente de quem no lado divino das coisas. Depois que Tyson, o ciclope, o adotou como irmão, Percy decidiu que aquilo era o limite ao qual ele queria aumentar sua família.
— Mas se você é filho da Medusa, por que não ouvi nada sobre você?
Crisaor suspirou irritado.
— Quando seu irmão é o Pégaso, você se acostuma em ser esquecido. Ah, veja, um cavalo alado! Alguém liga pra mim? Não! — Ele levantou a ponta da sua espada para o olho de Percy. — Mas não me subestime. Meu nome significa Espada Dourada por um motivo.
— Ouro Imperial? — Percy chutou.
— Baah! Ouro Encantado, sim. Mais tarde, os romanos o chamaram de Ouro Imperial, porém eu fui o primeiro a empunhar tal lâmina. Eu deveria ter sido o herói mais famoso de todos os tempos! Desde que os contadores de lendas decidiram me ignorar, me tornei um vilão, como alternativa. Decidi colocar minha linhagem para trabalhar. Como filho da Medusa, eu iria inspirar o horror. Como filho de Poseidon, eu comandaria os mares!
— Você virou um pirata — Annabeth resumiu.
Crisaor abriu os braços, o que era bom para Percy, uma vez que a espada estava agora apontada para longe de seus olhos.
— O melhor pirata — Crisaor corrigiu — eu naveguei essas águas por séculos, surpreendendo qualquer semideus tolo o suficiente para explorar o Mare Nostrum. Esse é o meu território agora. E tudo que vocês têm é meu.
Um dos golfinhos guerreiros trouxe o Treinador Hedge, arrastando-o lá de baixo.
— Me solta, seu atum! — Hedge berrou.
Ele tentou chutar o guerreiro, mas seu casco bateu na armadura do seu captor. Julgando pelas marcas em forma de cascos no peitoral e capacete do golfinho, o treinador já havia feito várias tentativas.
— Ah, um sátiro — Crisaor disse, tendo um devaneio. — Um pouco velho e fibroso, mas os ciclopes pagarão bem por um pedaço como ele. Acorrentem-no.
— Não sou carne de bode de ninguém! — Hedge protestou.
— Amordacem-no também — Crisaor decidiu.
— Seu filho dourado de... — o insulto de Hedge foi interrompido quando o golfinho colocou um enorme maço de lonas na sua boca. Logo o treinador estava amarrado como um novilho de rodeio e largado junto dos demais saques – cestas de comida, armas extras, até mesmo o baú de gelo mágico do refeitório.
— Você não pode fazer isso! — Annabeth gritou.
A risada de Crisaor ecoou em sua máscara dourada. Percy se perguntou se ele era terrivelmente desfigurado por trás dela ou se seu olhar podia petrificar as pessoas como o da sua mãe.
— Posso fazer o que eu quiser! — disse Crisaor. — Meus guerreiros foram treinados para a perfeição. Eles são perversos, cortadores de gargantas...
— E golfinhos — Percy observou.
Crisaor encolheu os ombros.
— Sim, e dai? Eles tiveram uma má sorte há um milênio atrás, quando sequestraram a pessoa errada. Alguns da tripulação se transformaram completamente em golfinhos. Outros enlouqueceram. Mas esses... esses sobreviveram como criaturas híbridas. Quando os encontrei no fundo do mar e os ofereci uma nova vida, eles se tornaram minha tripulação leal. Não temem nada!
Um dos guerreiros falou com ele nervosamente.
— Sim, sim — Crisaor rosnou. — Eles temem uma coisa, mas isso dificilmente vem ao caso. Ele não está aqui.
Uma ideia começou a fazer cócegas no fundo da mente de Percy. Antes que ele pudesse segui-la, mais golfinhos subiram as escadas, trazendo o resto de seus amigos. Jason estava inconsciente. Julgando pelos ferimentos em seu rosto, ele havia tentado lutar. Hazel e Piper estavam algemadas, com as mãos amarradas aos pés. Piper tinha uma mordaça em sua boca, então parecia que os golfinhos haviam descoberto seu charme.
Frank era o único que estava faltando, no entanto, dois dos golfinhos tinham ferroadas de abelha na cara. Frank podia realmente virar um enxame de abelhas? Percy esperava que sim. Se ele estava livre em algum lugar dentro do navio, podia ser uma vantagem, isso se Percy conseguisse contatá-lo.
— Excelente! — Crisaor regozijou.
Ele ordenou que seus guerreiros largassem Jason perto das bestas. Então examinou as garotas como se fossem presentes de natal, o que fez Percy ranger os dentes.
— O garoto não me serve para nada — Crisaor disse. — Mas nós temos um acordo com a feiticeira Circe. Ela vai comprar as mulheres... como escravas ou aprendizes, dependendo das habilidades delas. Mas você não, amável Annabeth.
Annabeth recuou.
— Você não vai me levar pra lugar nenhum.
A mão de Percy se arrastou para seu bolso. Sua caneta havia reaparecido no seu jeans. Ele só precisava de um momento de distração para sacar sua espada. Talvez se conseguisse derrubar Crisaor rapidamente, sua tripulação entraria em pânico. Queria saber alguma coisa sobre a fraqueza de Crisaor. Normalmente Annabeth lhe dava esses tipos de informações, mas aparentemente Crisaor não tinha nenhuma lenda, então estavam ambos no escuro.
O guerreiro dourado disse impaciente:
— Ah, infelizmente, Annabeth, você não vai ficar comigo. Eu adoraria . Mas você e seu amigo Percy estão prometidos a alguém. Uma certa deusa está pagando uma alta recompensa por sua captura... viva, se possível, mas ela não disse que tinha que ser ilesa.
Naquele momento, Piper causou a confusão que ele precisava. Ela gemeu tão alto que pôde ser ouvida pela sua mordaça. Então ela desmaiou, caindo contra o guarda mais próximo, o derrubando. Hazel teve a ideia de se jogar no convés, chutando suas pernas e se contorcendo com se tivesse tendo um colapso.
Percy sacou a Contracorrente e partiu para o ataque. A lâmina deveria ter ido direto para a garganta de Crisaor, mas o guerreiro dourado era inacreditavelmente rápido. Ele desviou e aparou o golpe enquanto os golfinhos guerreiros o ajudavam, vigiando os outros cativos ao mesmo tempo em que davam espaço para seu capitão batalhar. Eles falaram e esganiçaram, incitando-o, e Percy teve profunda suspeita de que a tripulação estava acostumada com esse tipo de entretenimento. Eles não achavam que seu líder estava em algum tipo de perigo.
Percy não havia cruzado espadas com um oponente assim desde... Bem, desde que lutou com o deus da guerra Ares. Crisaor era bom daquele tanto. Muito dos poderes de Percy haviam ficado mais fortes ao longo dos anos, mas agora, tardiamente, Percy percebeu que esgrima não tinha sido um deles.
Ele estava enferrujado – pelo menos contra um adversário como Crisaor. Eles lutaram caminhando para frente e para trás, atacando e aparando golpes. Sem querer, Percy ouviu a voz de Luke Castellan, seu primeiro mentor em esgrima no Acampamento Meio-Sangue, lhe dando sugestões. Mas não ajudou.
A máscara de górgona dourada era desencorajadora. A neblina morna, as pranchas lisas do convés, o bate-papo dos guerreiros – nada disso o ajudou. E pelo canto do olho, Percy podia ver um dos homens-golfinho segurando uma faca na garganta de Annabeth, para o caso de ele tentar algum truque.
Ele fintou e atacou as vísceras de Crisaor, mas Crisaor antecipou o movimento. Desarmou Percy mais uma vez e novamente Contracorrente voou para o mar. Crisaor deu um sorriso fácil. Ele não estava nem um pouco exausto. Ele pressionou a ponta de sua espada dourada contra o esterno de Percy.
— Bela tentativa — disse o pirata. — Mas agora vocês vão ser acorrentados e levados para os criados de Gaia. Eles estão um tanto quanto ansiosos para derramar seu sangue e acordar a deusa.






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