quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capitulo XIV - Percy






O INTERIOR DO SENADO parecia uma sala de aula do colegial. Havia um semicírculo de assentos enfileirados diante de um trono com um pódio e mais duas cadeiras. As cadeiras estavam vazias, mas em uma havia um pequeno pacote de veludo no assento.
Percy, Hazel e Frank sentaram no lado esquerdo do semicírculo. Os dez senadores e Nico di Angelo ocuparam o resto da fila da frente. As fileiras superiores foram ocupadas por vários convidados e alguns antigos veteranos da cidade, todos em togas formais. Octavian ficou na frente com uma faca e um leãozinho de pelúcia, apenas para o caso de alguém precisar consultar o deus das fofuras colecionáveis. Reyna andou até o pódio e levantou a mão para chamar a atenção de todos.
— Certo, essa é uma reunião de emergência — disse ela. — Não vamos ficar em formalidades.
— Eu amo formalidades! — um fantasma reclamou.
Reyna lhe lançou um olhar cortante.
— Primeiro de tudo — ela continuou. — Não estamos aqui para votar na missão em si. A busca foi emitida por Marte Ultor, padroeiro de Roma. Vamos obedecer a seus desejos. Também não estamos aqui para debater a escolha dos companheiros de Frank Zhang.
— Todos os três da Quinta Coorte? — perguntou Hank da Terceira Coorte. — Isso não é justo.
— E não muito inteligente — disse o rapaz ao lado dele. — Nós sabemos que a Quinta vai atrapalhar. Eles devem ter alguém bom.
Dakota levantou-se tão rápido que derramou Kool-Aid de seu frasco.
— Fomos muito bem ontem à noite quando chicoteamos seu traseiro, Larry!
— Basta, Dakota — disse Reyna. — Vamos deixar o traseiro de Larry fora disso. Como líder da busca, Frank tem o direito de escolher seus companheiros. Ele escolheu Percy Jackson e Hazel Levesque.
Um fantasma da segunda fileira gritou:
— Absurdus! Frank Zhang não é nem mesmo um membro pleno da legião! Ele está em probatio. Deve ser liderado por alguém do centurião ou superior. Isto é completamente...
— Cato — Reyna vociferou. — É preciso obedecer à vontade de Marte Ultor. O que necessitam de certos... ajustes.
Reyna bateu palmas, e Octavian veio para frente. Ele abaixou sua faca e a pelúcia, pegando o pacote de veludo da cadeira.
— Frank Zhang — ele disse. — Apresente-se.
Frank olhou nervosamente para Percy. Então ele se levantou e aproximou-se do agoureiro.
— É um... prazer meu — disse Octavian, forçando para fora as últimas palavras. — Conferir-lhe a Coroa Mural por ser o primeiro sobre as muralhas na guerra de cerco — Octavian entregou-lhe uma placa de bronze com a forma de uma coroa de louros. — Além disso, por ordem da Pretora Reyna, você está promovido ao posto de centurião.
Ele entregou a Frank outra placa, um crescente de bronze, e o senado explodiu em protestos.
— Ele ainda é um novato! — um gritou.
— Impossível! — disse outro.
— Canhão d’água no meu nariz! — gritou um terceiro.
— Silêncio! — a voz de Octavian soou muito mais autoritária do que na noite anterior no campo de batalha. — Nossa Pretora reconhece que ninguém abaixo do posto de centurião pode conduzir uma busca. Para o bem ou para o mal, Frank deve conduzir esta missão – então nossa Pretora decretou que Frank Zhang deve se tornar centurião.
De repente, Percy entendeu o que um orador eficaz como Octavian fazia. Ele parecia sensato e solidário, mas sua expressão era de dor. Ele elaborava cuidadosamente suas palavras para colocar toda a responsabilidade sobre Reyna. Foi ideia dela, ele parecia dizer.
Se desse errado, Reyna seria a culpada. Se apenas Octavian fosse o responsável, as coisas seriam feitas com mais sensatez. Mas, infelizmente, ele não tinha outra escolha a não ser apoiar Reyna, porque Octavian era um soldado romano leal.
Octavian conseguiu transmitir tudo isso dizendo aquilo, simultaneamente acalmando o senado e simpatizando com eles. Pela primeira vez, Percy percebeu que essa esquelética criança de engraçado olhar de espantalho poderia ser um inimigo perigoso.
Reyna deve ter percebido isso também. Um olhar de irritação passou pelo seu rosto.
— Há uma vaga para centurião — disse ela. — Um dos nossos diretores, também um senador, decidiu renunciar. Depois de dez anos na legião, ela vai retirar-se para a cidade e frequentar a universidade. Gwen da Quinta Coorte, obrigada por seu serviço.
Todos se viraram para Gwen, que conseguiu dar um sorriso valente. Ela parecia cansada da prova da noite anterior, mas também aliviada. Percy não podia culpá-la. Comparado a ser espetada com um pilo, faculdade soava muito bem.
— Como pretora — Reyna continuou — tenho o direito de substituir os ofícios. Admito que é incomum para um campista em probatio, subir diretamente para o posto de centurião, mas acho que podemos concordar que... ontem à noite foi incomum. Frank Zhang, seu ID, por favor.
Frank retirou a placa que estava em torno do seu pescoço e entregou a Octavian.
— Seu braço — disse Octavian.
Frank levantou o antebraço. Octavian levantou as mãos para os céus.
— Aceitamos Frank Zhang, Filho de Marte, para a Duodécima Segunda Legião Fulminata por seu primeiro ano de serviço. Você promete comprometer sua vida com o senado e com povo de Roma?
Frank murmurou algo como:
— Ee-pomet. — Então ele limpou a garganta e conseguiu dizer: — Eu prometo.
Os senadores gritaram:
— Senatus Populusque Romanus !
Fogo flamejou no braço de Frank. Por um momento seus olhos se encheram de terror, e Percy ficou com medo de que seu amigo pudesse desmaiar. Em seguida, a fumaça e as chamas morreram e tatuagens foram marcadas a ferro na pele de Frank: SPQR, uma imagem de lanças cruzadas, e uma única faixa, representando o primeiro ano de serviço.
— Você já pode se sentar — Octavian olhou para o público como se dissesse: Isto não foi ideia minha, pessoal.
— Agora — disse Reyna. — Devemos discutir a missão.
Os senadores se viraram e começaram a murmurar quando Frank voltou para seu lugar.
— Doeu? — Percy sussurrou.
Frank olhou para o antebraço, que ainda estava fumegando.
— Sim. Bastante — ele parecia encantado pelos emblemas na sua mão – a marca do centurião e a Coroa Mural – como se não soubesse o que fazer com eles.
— Aqui — os olhos de Hazel brilhavam de orgulho. — Eu arrumo.
Ela prendeu as medalhas na camisa de Frank.
Percy sorriu. Ele só conhecia Frank há um dia, mas sentia orgulho dele também.
— Você merece isso, cara. O que você fez na noite passada? Liderança nata.
Frank fez uma careta.
— Mas centurião...
— Centurião Zhang — chamou Octavian. — Você ouviu a pergunta?
Frank piscou.
— Hmm... desculpe. O quê?
Octavian se virou para o senado e sorriu tolamente, como O que eu lhes disse?
— Eu estava perguntando — Octavian disse como se estivesse falando com alguém de três anos de idade. — Se você tem um plano para a missão. Você sabe mesmo para onde está indo?
— Hum...
Hazel colocou a mão no ombro de Frank e se levantou.
— Você não estava ouvindo noite passada, Octavian? Marte foi muito claro. Estamos indo para as terras além dos deuses: Alasca.
Os senadores se contorceram em suas togas. Alguns dos fantasmas brilharam e desapareceram. Até mesmo os cães de metal de Reyna rolaram de costas e choramingaram.
Finalmente o Senador Larry se levantou.
— Eu sei o que Marte disse, mas isso é loucura. O Alasca é amaldiçoado! Eles o chamam de as terras além dos deuses por uma razão. É tão distante no norte, que os deuses romanos não têm poder lá. O lugar é cheio de monstros. Nenhum semideus tem voltado de lá vivo desde...
— Desde que você perdeu sua águia — Percy disse.
Larry ficou tão assustado, que caiu para trás em cima de seu traseiro.
— Olha — Percy continuou. — Eu sei que sou novo aqui. Sei que vocês não gostam de mencionar o massacre da década de oitenta...
— Ele mencionou aquilo! — Um dos fantasmas choramingou.
— ...mas vocês não entenderam? — Percy continuou. — A Quinta Coorte que conduziu a expedição. Nós falhamos e temos que ser responsáveis para fazer as coisas certas. É por isso que Marte está nos enviando. Esse gigante, filho de Gaia... foi aquele que derrotou suas forças trinta anos atrás. Tenho certeza disso. Agora ele está sentado lá no Alasca com um deus da morte acorrentado e com todos os seus armamentos antigos. Ele está reunindo seus exércitos e enviando-os para o sul para atacar este acampamento.
— Sério? — Octavian disse. — Você parece saber bastante sobre planos do nosso inimigo, Percy Jackson.
Percy poderia se livrar da maioria dos insultos – como ser chamado de fraco ou estúpido ou de qualquer outra coisa. Mas ficou claro para ele que Octavian estava o chamando de espião - um traidor. Essa foi uma ideia tão estranha para Percy, tão o que ele não era, que ele quase não pôde processar o insulto. Quando conseguiu, seus ombros ficaram tensos. Ele ficou tentado a bater na cabeça de Octavian de novo, mas percebeu que Octavian estava o atraindo, tentando fazê-lo parecer instável.
Percy respirou fundo.
— Nós vamos enfrentar esse filho de Gaia — ele continuou, conseguindo manter a compostura. — Vamos pegar de volta sua águia e libertar esse deus... — Ele olhou para Hazel. — Tânatos, certo?
Ela concordou.
— Letus, em Roma. Mas seu antigo nome grego é Tânatos. Quando se trata da Morte... ficamos felizes em deixá-lo em grego.
Octavian suspirou, exasperado.
— Bem, tanto faz como você o chama... como você espera fazer tudo isso e voltar para Festa da Fortuna? Que é na tarde do dia 24. É dia 20 agora. Você sabe por onde procurar? Você pelo menos sabe qual é filho de Gaia?
— Sim — Hazel falou com tanta certeza que até mesmo Percy ficou surpreso. — Eu não sei exatamente onde procurar, mas eu tenho uma boa ideia. O nome do gigante é Alcioneu.
O nome parecia ter abaixado a temperatura da sala em cinquenta graus. Os senadores estremeceram.
Reyna agarrou-se ao pódio.
— Como você sabe? — disse à Hazel. — Porque você é filha de Plutão?
Nico di Angelo estava tão quieto, Percy tinha quase esquecido que ele estava lá. Agora ele se levantou em sua toga negra.
— Pretora, se eu puder... Hazel e eu... nós aprendemos um pouco sobre os gigantes com nosso pai. Cada gigante foi criado especificamente para se opor a um dos doze deuses olimpianos... para roubar o domínio dos deuses. O rei dos gigantes era Porfírion, o anti-Júpiter. Mas o gigante mais velho era Alcioneu. Ele nasceu para se opor a Plutão. É por isso que nós sabemos desse particularmente.
Reyna franziu a testa.
— Verdade? Você parece bastante familiarizado com ele.
Nico pegou na borda de sua toga.
— De qualquer forma... os gigantes eram difíceis de matar. De acordo com a profecia, só poderiam ser derrotados por deuses e semideuses trabalhando juntos.
Dakota arrotou.
— Desculpe, você disse deuses e semideuses... lutando lado a lado? Isso nunca poderia acontecer!
— Isso já aconteceu — Nico disse. — Na primeira guerra contra um gigante, os deuses chamaram os heróis para se juntar a eles. Se isso vai acontecer de novo, eu não sei. Mas com Alcioneu... ele era diferente. Era completamente imortal, impossível de ser morto por um deus ou semideus, desde que permanecesse em sua terra natal – o lugar onde ele nasceu.
Nico pausou para deixar o que disse afundar.
— E se Alcioneu renasceu no Alasca...
— Então não pode ser derrotado lá — Hazel terminou. — Nunca. Por qualquer meio que seja. Foi por isso que a nossa expedição da década de oitenta foi um fracasso.
Outra rodada de discussões e gritos estourou.
— A missão é impossível! — gritou um senador.
— Estamos condenados! — choramingou um fantasma.
— Mais Kool-Aid! — gritou Dakota.
— Silêncio! — Reyna chamou. — Senadores, devemos agir como romanos. Marte nos deu esta missão e nós temos que acreditar que é possível. Estes três semideuses devem viajar para o Alasca. Eles devem libertar Tânatos e voltar antes da Festa da Fortuna. Se conseguirem recuperar a águia perdida no processo, ainda melhor. Tudo que podemos fazer é aconselhá-los e garantir que tenham um plano. — Reyna olhou para Percy sem muita esperança. — Você tem um plano?
Percy queria dar um passo á frente bravamente e dizer: Não, eu não tenho.
Essa era a verdade, mas olhando ao redor para todos os rostos nervosos, Percy sabia que não podia dizer isso.
— Primeiro, eu preciso entender algumas coisas. — Ele se virou para Nico. — Eu pensava que Plutão fosse o deus dos mortos. Agora ouço sobre esse outro cara, Tânatos, e as Portas da Morte daquela profecia... a Profecia dos Sete. O que tudo isso significa?
Nico tomou fôlego.
— Okay, Plutão é o deus do Mundo Inferior, mas o verdadeiro deus da morte, aquele que é responsável por garantir a ida das almas para a vida após a morte e ficarem lá... é o tenente de Plutão, Tânatos. Ele é como... bem, imagine que a Vida e a Morte são dois países diferentes. Todo mundo gostaria de estar na Vida, certo? Então, há uma fronteira guardada para impedir as pessoas de atravessar para o outro lado sem permissão. Mas é uma grande fronteira, com vários buracos na cerca que as divide. Plutão tenta fechar essas brechas, mas novas se formam o tempo todo. É por isso que ele depende de Tânatos, que é como a patrulha da fronteira, a polícia.
— Tânatos captura as almas — Percy traduziu. — E as deporta de volta ao Mundo Inferior.
— Exato — Nico disse. — Mas agora Tânatos foi capturado, acorrentado.
Frank levantou a mão.
— Hum...como você captura a Morte?
— Isso já foi feito antes — Nico respondeu. — Antigamente, um cara chamado Sísifo enganou a Morte e o amarrou. Outra vez, Hércules o derrubou no chão.
— E agora um gigante o capturou — Percy disse. — Então, se nós conseguirmos libertar Tânatos, os mortos vão continuar mortos? — ele olhou para Gwen. — Hum... sem ofensas.
— É mais complicado que isso — Nico disse.
Octavian revirou os olhos.
— Por que isso não me surpreende?
— Você quer dizer que as Portas da Morte — disse Reyna, ignorando Octavian. — Elas são mencionadas na Profecia dos Sete, que enviou a primeira expedição ao Alasca...
Cato, o fantasma, bufou.
— Todos nós sabemos como isso acabou! Nós, lares, lembramos!
Os outros fantasmas resmungaram em acordo.
Nico colocou o dedo nos lábios. De repente, todos os lares ficaram em silêncio. Alguns olharam alarmados, como se suas bocas tivessem sido coladas. Percy desejava que ele tivesse esse poder sobre certas pessoas vivas... como Octavian, por exemplo.
— Tânatos é apenas parte da solução — Nico explicou. — As Portas da Morte... bem, isso é um conceito que nem mesmo eu entendo completamente. Existem muitos caminhos para o Mundo Inferior: o rio Estige, a Porta de Orfeu... além de pequenas rotas de fuga que se abrem de tempos em tempos. Com Tânatos preso, todas aquelas saídas serão mais fáceis de usar. Às vezes, elas podem trabalhar ao nosso favor e deixar que uma alma amiga volte... como Gwen aqui. Mas frequentemente irá beneficiar as almas do mal e os monstros, os sorrateiros que estão à procura de escapar. Agora, as Portas da Morte... estas são as portas pessoais de Tânatos, sua via rápida entre a Vida e a Morte. Apenas Tânatos deveria saber onde elas estão, e sua localização muda ao longo dos tempos. Se entendi corretamente, as Portas da Morte tem sido forçadas a se abrir. Os servos de Gaia assumiram controle delas...
— O que significa que é Gaia que controla quem pode voltar ou não dos mortos — Percy adivinhou.
Nico concordou.
— Ela pode selecionar e escolher quem vai para fora: os piores monstros, as almas mais malvadas. Se nós resgatarmos Tânatos, significa que pelo menos ele pode pegar almas de novo e enviá-las para baixo. Monstros irão morrer quando nós os matarmos, como antigamente, e vamos conseguir um pequeno espaço para respirar. Mas a menos que sejamos capazes de retomar as Portas da Morte, nossos inimigos não irão ficar lá embaixo por muito tempo. Eles têm uma maneira fácil de voltar ao mundo dos vivos.
— Então poderemos pegá-los e matá-los — resumiu Percy. — Mas eles simplesmente continuarão voltando.
— Em poucas palavras, deprimentes, sim — disse Nico.
Frank coçou a cabeça.
— Tânatos sabe onde as portas estão, certo? Se nós o libertarmos, ele pode retomá-las.
— Eu acho que não — Nico disse. — Não sozinho. Ele não é páreo para Gaia. Isso precisaria de uma missão enorme... um exército dos melhores semideuses.
— Inimigos com armas às Portas da Morte afinal — Reyna disse. — Essa é a Profecia dos Sete... — ela olhou para Percy, e por um momento ele pôde ver como ela estava com medo. Ela fez um bom trabalho em esconder isso, mas Percy se perguntou se ela tinha tido pesadelos com Gaia também – se ela tivesse tido visões do que aconteceria quando o acampamento fosse invadido por monstros que não podiam ser mortos. — Se isso inicia a antiga profecia, não temos recursos para enviar um exército para essas Portas da Morte e proteger o acampamento. Eu não consigo nem mesmo imaginar poupar sete semideuses...
— Coisas importantes primeiro — Percy tentou soar confiante, embora ele pudesse sentir o nível de pânico crescente na sala. — Eu não sei quem são os sete, ou o que significa a antiga profecia, exatamente. Mas primeiro temos que libertar Tânatos. Marte nos disse que só precisaríamos de três pessoas para a missão no Alasca. Vamos nos concentrar em ter sucesso com isso e voltar antes da Festa da Fortuna. Então poderemos nos preocupar com as Portas da Morte.
— Sim — Frank disse em voz baixa. — Isso provavelmente é suficiente por uma semana.
— Então você tem um plano? — Octavian perguntou cético.
Percy olhou para seus companheiros.
— Nós vamos para o Alasca o mais rápido possível...
— E nós improvisamos — Hazel completou.
— Bastante — acrescentou Frank.
Reyna os estudou. Ela parecia como se estivesse escrevendo mentalmente seu próprio obituário.
— Muito bem — disse ela. — Nada nos resta a não ser votar em que tipo de apoio poderemos dar para a missão – transporte, dinheiro, magia, armas.
— Pretora, se eu puder — disse Octavian.
— Oh, ótimo — murmurou Percy. — Lá vem ele.
— O acampamento está em grave perigo — disse Octavian. — Dois deuses nos advertiram que seremos atacados em quatro dias a partir de agora. Não devemos dividir nossos recursos tão escassos, especialmente para financiar projetos que têm uma pequena chance de sucesso — Octavian olhou para os três com piedade, como se dissesse, Coitadinhos. — Marte escolheu claramente os candidatos menos prováveis para esta missão. Talvez seja porque ele os considere os mais dispensáveis. Talvez Marte esteja jogando com vantagem o tempo todo. Qualquer que seja o caso, ele sabiamente não ordenou uma expedição maciça, nem nos pediu para financiar sua aventura. Eu digo para manter nossos recursos aqui e defendermos o acampamento. Este é o lugar onde a batalha vai ser perdida ou ganha. Se esses três forem bem sucedidos, maravilha! Mas devem fazê-lo com suas próprias habilidades.
Um murmúrio inquieto passou no meio da multidão. Frank pulou de seu assento. Antes que pudesse começar uma briga, Percy disse:
— Tudo bem! Sem problemas. Mas pelo menos nos deem transporte. Gaia é a deusa da terra, certo? Indo por terra, através da terra... suponho que devemos evitar isso. Além disso, assim vai ser muito lento.
Octavian riu.
— Você gostaria que fretássemos um avião?
A ideia provocou náuseas em Percy.
— Não. Viagens aéreas... Eu tenho uma impressão de que não seria bom, também. Mas um barco. Você pode pelo menos pode nos dar um barco?
Hazel soltou grunhido. Percy olhou para ela. Ela balançou a cabeça e murmurou, Bem. eu estou bem.
— Um barco! — Octavian virou-se para os senadores. — O filho de Netuno quer um barco. Viagens marítimas nunca foram um jeito romano, mas ele não é muito romano!
— Octavian — Reyna disse severamente. — Um barco é pequeno o suficiente para se pedir. E desde que não haja outro auxílio, parece bastante...
— Tradicional — Octavian exclamou. — É muito tradicional. Vamos ver se estes aventureiros têm a força para sobreviver sem ajuda, como romanos de verdade!
Mais murmúrios encheram a câmara. Os olhos dos senadores se mudavam de um lado para o outro entre Octavian e Reyna, assistindo o teste de vontades.
Reyna endireitou na cadeira.
— Muito bem — disse ela com firmeza. — Vamos colocá-lo em votação. Senadores, a proposta é a seguinte: A missão deve ir para o Alasca. O Senado deve fornecer acesso completo para a marinha romana ancorada na Alameda. Nenhum outro auxílio futuro. Os três aventureiros irão sobreviver ou não por seus próprios méritos. Todos a favor?
As mãos de cada senador subiram.
— A proposta foi aceita — Reyna virou-se para Frank. — Centurião, seu grupo está dispensado. O Senado tem outros assuntos para discutir. E, Octavian, se eu puder conversar com você por um momento.

Percy estava incrivelmente feliz em ver a luz do sol. Naquele corredor escuro, com todos aqueles olhos sobre ele, sentia como se o mundo estivesse sobre seus ombros e tinha certeza que tivera essa experiência antes. Ele encheu seus pulmões com ar fresco.
Hazel pegou uma grande esmeralda do caminho e colocou-a no bolso.
— Então... que tal um brinde?
Frank balançou a cabeça miseravelmente.
— Se qualquer um de vocês quiser voltar atrás, eu não os culparei.
— Você está brincando? — Hazel disse. — E ficar no posto de sentinela o resto da semana?
Frank conseguiu dar um sorriso. Ele se virou para Percy.
Percy olhou através do fórum. Fique parado, Annabeth havia dito em seu sonho. Mas se ficasse parado, este acampamento seria destruído. Ele olhou para as colinas, e imaginou o rosto de Gaia sorrindo nas sombras e nas cristas. Você não pode ganhar, pequeno semideus, ela parecia dizer. Me servirá ficando ou me servirá indo.
Percy fez um voto silencioso: Depois da Festa da Fortuna, ele iria encontrar Annabeth. Mas por agora, tinha que agir. Não podia deixar Gaia ganhar.
— Estou com você — ele disse para Frank. — Além disso, quero verificar a marinha romana.
Eles estavam apenas do outro lado do fórum quando alguém chamou:
— Jackson! — Percy se virou e viu Octavian correndo na direção deles.
— O que você quer? — Percy perguntou.
Octavian sorriu.
— Já decidiu que eu sou o seu inimigo? Isso é uma escolha imprudente, Percy. Sou um romano leal.
Frank rosnou.
— Seu traiçoeiro, viscoso... — ambos, Percy e Hazel, tiveram que segurá-lo.
— Oh, querido — disse Octavian. — Dificilmente esse é o comportamento certo para um novo centurião. Jackson, eu só o segui porque Reyna me confiou uma mensagem. Ela quer que você se reporte à principia sem seus... hã... dois lacaios aqui. Reyna irá encontrá-lo lá após o recesso do Senado. Ela gostaria de ter uma conversa em particular com você antes de sair em sua busca.
— Sobre o quê?
— Tenha certeza de que não sei — Octavian sorriu maliciosamente. — A última pessoa com quem ela teve uma conversa privada foi com Jason Grace. E essa foi a ultima vez que eu o vi. Boa sorte e adeus, Percy Jackson.

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